Mensagem enviada ao blog pela presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Dercy Teles de Carvalho Cunha, em resposta ao post “Assis Monteiro sobre o manejo”, quando foi mencionada sobre o tema manejo florestal.
Caro Raimari,
Estou te escrevendo para pedir espaço em seu blog para repor a verdade ao Sr.º Assis Monteiro, que no dia 02 do corrente publicou no referido espaço um artigo dizendo que eu, Dercy, posso falar por mim e não pelo Sindicato, criticando-me por ter publicado na Avaaz.org uma petição pedindo ao Ministério Público Federal que proíba a exploração de madeira na Reserva Extrativista Chico Mendes.
Quero iniciar dizendo ao referido senhor, que tanto posso falar por mim, como pelo o sindicato:
1º - Como cidadã, a Constituição Brasileira em seu Art. 5º inciso IV me garante a liberdade de expressão do pensamento;
2º - A Reserva Extrativista Chico Mendes não é uma propriedade privada de A ou B, e sim pública; portanto cabe a mim e a qualquer cidadão defendê-la das garras da destruição, haja vista a mesma ser o resultado de muitas lutas, perda de sangue e até de vidas, como a do próprio Chico Mendes;
3º - Institucionalmente sou a representante legítima da Classe Trabalhadora Rural deste município, pois fui eleita democraticamente pelo voto da maioria dos trabalhadores e trabalhadoras que compareceram ao pleito eleitoral realizado em 30 de maio de 2009, apesar das manobras feitas pelos inimigos da democracia;
4º- Desde minha eleição para presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, em 1º de junho de 2006, até a presente data, não me consta oficialmente nenhum questionamento dos sócios ou sócias, seja oficial ou verbal, a respeito de minhas atitudes como presidente. Portanto, isso me credencia a falar também em nome do mesmo enquanto representante, porque quem pode me questionar e criticar são os sócios (as) e não os agentes do governo. Cito mais uma vez que, segundo a Constituição Federal em seu Art. 8º Inciso I, é vedado ao poder público a interferência e a intervenção nas organizações sindicais, e no Inciso VI do mesmo artigo diz que é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho, no entanto, em nossa gestão nunca fomos convidados pelos agentes do governo a fazer parte do debate sobre a exploração madeireira na RESEX;
5º - Os meus questionamentos e críticas à exploração da madeira não são por acaso. Estão fundamentados em vários artigos e literaturas ligados ao tema, que demonstram
a insustentabilidade das florestas onde ocorreu tal atividade;
6º - Mas o fator mais forte e determinante para o meu posicionamento contrário é a falta de visibilidade dessa sustentabilidade tão propagada, por isso vou citar alguns conceitos
de sustentabilidade:
A) Questão social - sem considerar a questão social não há sustentabilidade. Em primeiro lugar é preciso respeitar o ser humano, para que esse possa respeitar a natureza;
B) E do ponto de vista do ser humano. Ele próprio é a parte mais importante do meio ambiente;
7º - E para que um empreendimento humano seja considerado sustentável é preciso que seja:
ecologicamente correto; economicamente viável; socialmente justo; e culturalmente diversificado.
8º - Partindo dos conceitos acima citados vemos que o termo sustentável está longe de ser concretizado em nosso país. Quando assistimos a cada ano o empobrecimento de quem é pobre aumentar porque lhe estão sendo tiradas as poucas condições que lhes restavam, inclusive a de produzir alimentos com a proibição do uso do fogo, sem oferecer-lhes alternativas seguras;
9º - Os programas sociais Bolsa Família e Bolsa Verde, na minha avaliação não são mérito, mas o atestado de empobrecimento das famílias que são beneficiarias, bem como gerador de
outros condicionantes, como a subserviência política;
10º - Desafio aos defensores da Exploração madeireira na Resex, que abram o debate para a sociedade opinar, afinal esse patrimônio nos pertence. Democracia é isso, a sociedade decidindo o que é melhor para ela;
11º - E para fechar minha exposição, refirmo que sou contrária à exploração da madeira por ela ser uma das atividades mais nocivas as populações tradicionais. Ao contrário da seringueira e da castanheira que sofremos o mesmo processo de exploração do mercado, mas temos certeza que no dia seguinte ou no próximo ano a seringueira e castanheira estão lá à nossa disposição. E a exploração madeireira não nos transmite essa segurança.
Xapuri-Acre, 10 de agosto de 2012.
Dercy Teles de Carvalho Cunha
Presidente do Sindicato do STTR de Xapuri
3 comentários:
Seria bom abrir o debate para toda a sociedade opinar, afinal a reserva é patrimônio público. Eu particularmente sou radicalmente contra o manejo madeireiro, pelos motivos que a Dercy colocou e tantos outros mais. Queria ter a oportunidade de falar e decidir também.
acho que a exploração da madeira principalmente na RESEX teria sim que ter a aprovação da sociedade e principalmente de quem mora dentro dela e que dali tira o seu sustento haja visto que os pequenos produtores não podem derrubar ou explorar a floresta e isto é plausível mas esta lei também deveria valer pra queles que tem um maior poder aquisitivo e que acham que pode passar por cima da Lei. É isso ai Dercy não pode deixar isso barato a floresta é uma conquista e um bem de todos e não de apenas "UM" e não podemos destruir com a desculpa de "manejo florestal", pois, toda e qualquer ação contra a natureza é um mal irreversível.
(José Roques)
Amiga Dercy me solidarizo as suas indagações, acho que a floresta é um bem de todo e não de apenas alguns e não podemos deixar que usem a desculpa de "manejo florestal para a destrução da florestal" principalmente na RESEX uma parte da floresta que foi conquistada com muita luta e sangue de pessoas que decidiram morrer para defende-la. gostaria de saber se os lucros do manejo será dividido entre aqueles que moram na RESEX ou será apenas destinados as mão de poucos como muitos que ja estão ricos usando o nome de CHICO MENDES e se essa exploração tem a aprovação das famílias que moram na reserva? Se isso não acontecer tenho certeza que não é bom nem pra natureza e muito menos para quem vive dela pois as arvores que caem nunca mais levantarão.
(José Roques - sempre de olho)
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