“Dercy Teles pode falar por ela, não pelo sindicato”
Francisco de Assis Monteiro de Oliveira, 53, é um dos defensores mais convictos da viabilidade do manejo florestal madeireiro desenvolvido atualmente nas florestas acreanas. Membro do Conselho Fiscal da Associação de Produtores do Projeto de Assentamento Extrativista Equador, Assis procurou o blog Xapuri Agora para argumentar sobre algumas opiniões contrárias ao manejo que foram emitidas neste mesmo espaço por algumas pessoas ligadas ao tema.
Discípulo de Chico Mendes, Assis Monteiro foi uma figura importante daquele momento da história a ponto de ser considerado pelo jornalista Zuenir Ventura, em seu livro-reportagem Chico Mendes – Crime e Castigo – como o herdeiro mais autêntico da obra do sindicalista assassinado em Xapuri naquele mês de dezembro de 1988. “Não no que ela tem de político, porque nesse campo cada um se julga um herdeiro, mas no que ela tem de pedagogia, de plantação de ideias”.
O seringueiro nasceu na Bolívia, seringal Marina, colocação São Francisco. Foi forjado no movimento social a partir do Projeto Seringueiro, uma das principais marcas da luta pela cidadania dos povos da floresta, onde se fez professor e agente de saúde. Foi também presidente da Cooperativa Agroextrativista de Xapuri, símbolo da libertação do seringueiro do jugo do atravessador, mas que hoje atravessa uma crise quase terminal.
Assis se considera um defensor convicto, mas não inflexível dos planos de manejo florestal concebidos sob a justificativa de proporcionar a melhoria da renda do extrativista com base na exploração racional dos recursos madeireiros. O flexível se deve, segundo ele, ao reconhecimento de que o sistema no qual se baseia o manejo necessita de aperfeiçoamento e de mais fiscalização para que não ocorram distorções com relação àquilo que se concebeu originalmente.
“O manejo florestal é, até o momento, a única maneira viável de se explorar os recursos madeireiros de maneira sustentável. E todos nós sabemos que o mundo vai continuar precisando da madeira e que de uma forma ou de outra ela vai sair da floresta. O que se tem que discutir são detalhes como se a profundidade do corte de 10m³/ha é o adequado e se o ciclo mínimo de 25 anos funciona de maneira igual para todas as espécies”, afirma.
Sobre as muitas críticas que recaem sobre o manejo praticado em Xapuri, Assis se reporta à afirmação do professor Carlos Estevão Ferreira Castelo, cuja pesquisa para o seu doutorado em História Social na USP aborda o assunto, de que os seringueiros do Projeto de Assentamento Extrativista do Seringal Cachoeira temem o manejo e se preocupam com os estragos que a exploração de madeira estaria causando naquela região, como a fuga da caça, entre outros.
“Se fosse assim, a quantidade de famílias inseridas no manejo no PAE Cachoeira não haveria aumentado de 9 para mais de 80. Quanto à fuga da caça, isso pode acontecer sim, mas em uma proporção muito inferior a outras atividades, como a própria extração da seringa, por exemplo. No manejo, ocorre a extração da madeira em um determinado ano e, pelo modelo vigente, essa área só vai ter movimentação de pessoas 25 anos depois. Na extração do látex há circulação de pessoa em uma área muito grande num período de 2 em 2 dias”, argumenta.
Mas a principal contestação de Assis se refere à presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Dercy Teles de Carvalho Cunha, cujas posições sobre o manejo florestal e a economia extrativista como um todo, especialmente na Reserva Chico Mendes são públicas e notórias. Recentemente, Dercy criou uma petição em uma Ong internacional chamada Avaaz apelando contra o projeto de exploração madeireira na Resex. Se obter 100 assinaturas, a petição de Dercy será encaminhada pela Avaaz ao Ministério Público Federal.
“A Dercy pode falar por ela, não pelo sindicato. Ela fala em nome da entidade sendo que as opiniões contrárias ao manejo que ela dissemina são restritas ao seu grupo político. Se você for ver, mais de 100 associados do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri estão inseridos ou têm interesse em participar do manejo florestal”, garante.
Vale ressaltar que o manejo florestal não é o único ponto de divergência entre Assis Monteiro e Dercy Teles. Em 2009, os dois protagonizaram uma verdadeira batalha pela direção do STRX numa eleição que extrapolou os limites da disputa sindical para se tornar uma verdadeira guerra política que foi parar nas barras da justiça. Naquela ocasião, Dercy venceu por uma diferença de 6 votos numa eleição que teve duas urnas: uma para associados em dias com as obrigações sindicais e outra para sócios inadimplentes (clique aqui para relembrar).
Com a intenção de promover o debate democrático e garantir o espaço a todos que foram citados nesta postagem, me ponho à disposição através do e-mail que está na coluna ao lado. Quero, no entanto, esclarecer, em razão de um comentário idiota recebido recentemente, que a opinião das pessoas ou instituições que aqui são publicadas, não correspondem, necessariamente, ao pensamento deste blogueiro.
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