domingo, 19 de janeiro de 2014

“Renovo da fé”

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Há 8 anos em Xapuri, o padre Francisco das Chagas conduzirá nesta segunda-feira, 20, mais uma procissão de São Sebastião, o santo padroeiro da cidade. Para o sacerdote, a festa anual é sempre um momento de renovação. “É o renovo da fé”, diz ele.

sábado, 18 de janeiro de 2014

À moda dos clássicos

José Cláudio Mota Porfiro*

Para os justos e mansos de coração, como eu, na visão dos que apreciam as viagens colossais deste eu poético insano e mundano, está agora a se fechar apenas uma porta grande e pesada, bem fadada, com aldravas e dobradiças de ferro fundido, esculpido. A partir de então, abrir-se-ão outros acessos, ingressos e janelas do meu tempo de vidro temperado, blindado, travestidas em fumê azul claro como o céu da minha vidinha atrevida, mas precavida e com bastante sentido.

Deixem-me voar e não tenham pena do meu bater de asas ritmado e constante. A questão física não será o problema. Estou rijo, apesar dos janeiros corridos. Não sou louco. Não sou Ícaro. Não sou Dédalo. Não há cera a colar as minhas penas. O sol em mim nada derreterá, muito menos este juízo pachola que entra em campo, agora, mais uma vez, para ganhar a partida aos dez do primeiro tempo, de goleada, ou ainda no primeiro combate, por nocaute, sem recuar, sem cair, sem temer, como bem quis o Chico Mangabeira, meu nobre poeta do belíssimo hino dos acreanos.

Voltemos, então, no tempo. Giremos o ponteiro do relógio no sentido anti-horário. Voltas e mais voltas. Alguns bilhões delas. Inspiremo-nos nos clássicos ainda no nascedouro da filosofia.

Lembremos, sem pestanejar, uma passagem da história da civilização, quando, na antiguidade clássica, os gregos iluminaram a Terra com o seu conhecimento fantástico a propósito do mundo e sobre a vida do homem errante sobre a terra, os seus sonhos, os seus mitos, os seus medos e as suas projeções rumo ao futuro da Humanidade.

Os gregos, realmente, se tornaram o povo mais sábio da Terra no período dito clássico. Eles não tinham o que fazer, porque dispunham de escravos para a execução das tarefas mais pesadas, mais sujas, como a limpeza dos excrementos dos mais inteligentes e mais bonitos e mais pensativos e mais gays que o mundo não viu, como nunca antes ou depois. 

Não, Helena, irmã minha! Eu não atirei a minha arte no lixo e muito menos de lá ela foi tirada.

Vejo a arte, no conceito mais amplo, ser desperdiçada por dois motivos. Na primeira situação, vi o garoto Des’Acre passar dias para compor um quadro, coisa de um metro quadrado, como um Matisse. Veio a exposição e uma senhorinha futilzinha perguntou-lhe o preço da peça. Ele, em suas longas bermudas tal e qual o gato de botas, muito humilde sussurar:

- Quinhentos reais! - Ao que ela fez comentário atroz:

- Muito caro, caríssimo. Deixa por cem!

O artista ficou enfastiado e saiu sem dar respostas à gazela. O crime hediondo foi cometido quando a senhorinha regateou o custo de uma obra de arte. Gente de alguma sensibilidade não pergunta o preço da produção de um artista e muito menos faz comentários tão desairosos. Fica ou se vai, e pronto.

A minha arte se encaixa numa segunda situação. Ela simplesmente foi sufocada no berço, com um travesseiro de capim. Eu não tinha arrimo, como não tive pais ricos. Concursado, dependurei-me às comodidades do servidor público e larguei tudo em um baú velho que, felizmente, não foi levado pelas alagações do Rio Acre, ou da alma que se manteve em sã consciência e absorta nos seus afazeres de empregada federal. No meu caso, a arte foi postergada, uma vez que tempo não havia para a escrita do que quer que fosse, além de redigir ofícios calamitosos e justificar projetos cujo destino foi quase sempre não sair do papel.

Fiquei manietado pelo sistema que não ampara o artista, mas tão somente tira de perto dele qualquer vestígio que queira significar incentivo. Embora alguma melhoria hoje se desenhe no ar, este ainda não é um país construído por homens e livros, como bem queria o senhor dono do Sítio do Picapau Amarelo.

Dia desses cometi uma sandice. Por ser muito chegado à música clássica, disse à sócia ser um clássico. Ao que ela fez comentário interessante:

- Você tem algum talento, sim, com as letras, mas para a culinária, não. Jamais tente aproximar-se de um fogão. Ele pode dar choque ou até porrada mesmo.

Em verdade vos digo, minhas senhoras. Ela gostaria que eu fosse como o Vinícius, que fazia comidinhas pra depois do amor. Se eu caio nessa, aos sábados, lá estaria eu de barriguinha encostada produzindo quitutes em cozinhas repletas de utensílios sujos e condimentos exóticos demais, como o manjericão e a alfavaca. Jamais! Do episódio, então, compus poesia meiga e gentil em homenagem aos que fazem da culinária uma fonte de prazer. Fico grato.

Eis, enfim, que me é chegada a hora da aposentadoria. Os demais agentes, ainda no exercício do desiderato, vinculados às instituições públicas de ensino superior, passarão a fazer o trabalho que eu tão mediocremente fazia, ou ainda faço. Não que eles sejam cativos gregos. Eles são escravos, sim, de um regime que lhes paga uma ninharia mensal e deles, na maioria dos casos, exige muito suor, bem mais que sangue... Só de pensar em tolerar um chefe mandrião que não sabe da missa um terço, a veia literária latejante salta dos músculos ainda bastante rijos. Benza Deus!

Como querem as estatísticas mórbidas divulgadas por estudos bem fundamentados, não capitularei cinco anos depois da aposentadoria. Tenho amplo domínio das mais modernas tecnologias. Lido com o facebook e o whatsApp com grande desenvoltura, apesar da mediocridade de alguns personagens que mourejam por ambientes às vezes um tanto opacos.

Conheço os meandros do Word. Faço algumas viagens pelo Excel. Redijo alguns textos bem próximos do aceitável. Leio agora os Cinquenta tons de cinza, escrito pela senhora E. L. James.  Usando gíria antiquada, estou na crista da onda, e assim por diante.

Em outras palavras, os neurônios estão sendo bem treinados e os hormônios ainda estão aos gritos e às cambalhotas. Numa síntese frouxa e pouco apressada, não terei Alzheimer. Nem Parkinson, e pronto!

Ah, sim, bela senhora do setor de pessoal! Não me chame de inativo, não apenas pelos hormônios que ainda me são um fogaréu, mas pelo respeito que me deves pelo tanto que fiz em favor ou em desfavor da nossa Academia, mesmo em tempos bicudos, como os vividos até poucos meses.

Esqueçam que um dia vendi aulas de uma qualidade abaixo do ra-zoável, principalmente, nos últimos dez anos, quando os líderes fecham os olhos e não se permitem ver que a indisciplina domina o âmbito das escolas e deixa a grande maioria dos professores medrosos diante de comportamentos terríveis de alunos que os agridem, até fisicamente, nas salas de aula do sistema público. Vão lá. Falem mais alto com um aluno musculoso ou com uma aluna irritadiça. Sintam de perto a realidade. Busquem soluções. O barco das relações escolares afundou e a autoridade não viu. Uma pena.

Eu, agora, de uma vez por todas, tornar-me-ei um clássico, sim, à moda dos gregos, por assim dizer. Terei, enfim, tempo para meditar, para filosofar, para versejar, até que me venha a chance da volta ao redor do sol de número oitenta. Melhorarei a minha produção em formato de poesia. Publicarei o meu romance O inverno dos anjos do sol poente, agorinha mesmo a caminho da editora. Escrito também já está outro livro, o Lama poética descalça e nua. Seguirei em frente contando das minhas reminiscências em meio ao alvoroço da vida que fica, a cada dia, mais moderna e mais a jato, em uma obra pré-intitulada Lembranças ao principado. Memorial da Terra. Este, um projeto bem fluído cujo objetivo é resgatar a memória de alguns homens e mulheres do Acre que foram tão úteis à terra, mas as suas histórias, com eles, têm ido para os túmulos silenciosos. Há um outro plano, já bem esboçado, cujo título é Conexões em titânio. Neste, será travado um diálogo bem sacana a respeito de respostas a serem dadas, por homens e mulheres sem papas na língua, a perguntas escorregadias, ou cheias de sentidos dúbios. E tem muito mais destes sonhos que a Divina Providência há de me dar fôlego para tanto.

Como o Luiz Vaz de Camões, um renascentista, n’Os Lusíadas, peço, nesta hora calma, que Deus me dê força e arrojo para cumprir empreitada tão séria, em nome de alguns muitos dos meus conterrâneos que de mim esperam muito mais do que eu posso dar.

Que assim seja. Amém!

*Cronista nascido sob o sol morno de um abril qualquer do século anterior, no Principado de Xapuri.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Novenário movimenta Xapuri

São 112 anos de tradição religiosa sem que se arrefeça a fé de milhares de romeiros que chegam de vários lugares da Amazônia e do restante do Brasil para ratificar a confiança no santo padroeiro de Xapuri

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O Novenário de São Sebastião teve início no último dia 11, com abertura realizada na praça que leva o nome do santo, às margens do Rio Acre. As demais novenas, que se realizam até o dia 19, ocorrem na igreja matriz, todas as noites, a partir das 19 horas. Além das novenas, a programação da festa conta com a realização de diversos eventos culturais e os tradicionais bingos e leilões.

Para o padre Francisco das Chagas, pároco de Xapuri, a expectativa para o ponto alto da festa é sempre grande e diferente dos anos anteriores. Segundo ele, a procissão do santo padroeiro de Xapuri se fortalece a cada ano, independentemente dos fatores econômicos e sociais, como um momento de renovação da fé e da confiança de cristãos de vários lugares do Brasil em São Sebastião.

Festas dançantes e marreteiros

De maneira paralela ao desenrolar da programação religiosa, vários eventos festivos, principalmente festas dançantes, são realizados durante os dias que antecedem a grande procissão, que este ano cairá em uma segunda-feira. Outro grande destaque é a presença dos tradicionais “marreteiros”, vendedores ambulantes que transformam as principais ruas da cidade em um grande centro comercial provisório.

Até esta quarta-feira, 15, de acordo com a prefeitura, cerca de 240 lotes dos 300 que foram disponibilizados para os marreteiros já haviam sido vendidos. Apesar da opinião de muitos deles de que as vendas realizadas nos últimos anos já não foram tão boas como antigamente, a presença dessa figura típica da festa de São Sebastião em Xapuri é infalível. Eles permanecem na cidade até o dia 24 de janeiro.

Transmissão ao vivo pelo Sistema Público de Comunicação

A Procissão de São Sebastião em Xapuri, no dia 20 de janeiro, será antecedida pela Santa Missa, que será celebrada pelo Padre Francisco das Chagas, a partir das 16 horas. O Sistema Público de Comunicação do Acre, através da TV Aldeia e da Rádio Aldeia FM estará dando plena cobertura e transmitindo ao vivo pela primeira vez na história a grande festa religiosa de Xapuri.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Ausência

Vinicius de Moraes

Eu deixarei que morra em mim

o desejo de amor os teus olhos que são doces.

Porque nada te poderia dar senão a mágoa

de me veres eternamente exausto.

No entanto a tua presença

é qualquer coisa como a luz e a vida.

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto

e em minha voz a tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser

tudo estaria terminado.

Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados.

Para que eu possa levar uma gota de orvalho

nesta terra amaldiçoada. Que ficou sobre a minha carne

como uma nódoa do passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás tua face em outra face

Teus dedos enlaçarão outros dedos

e tu desabrocharás para a madrugada.

Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,

porque eu fui o grande íntimo da noite.

Porque eu encostei minha face na face da noite

e ouvia tua fala amorosa.

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa

suspensas no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.

Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.

Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu,

das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Desejos de Ano Novo

“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. 



Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente.


Para você, desejo o sonho realizado. O amor esperado. 
A esperança renovada. 



Para você, desejo todas as cores desta vida. Todas as alegrias que puder sorrir, todas as músicas que puder emocionar. 



Para você neste novo ano, desejo que os amigos sejam mais cúmplices, que sua família esteja mais unida, que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente para repassar o que realmente desejo a você. Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto, rumo à sua felicidade!” 
 


Carlos Drummond Andrade, imenso poeta brasileiro.