Calou-se uma das vozes mais conhecidas do Acre
Morreu na manhã desta quinta-feira, em Rio Branco, aos 67 anos de idade, o cantor e radialista Jorge Cardoso, um dos maiores nomes da música acreana. O artista e comunicador xapuriense gravou oito discos. O primeiro em 1976, numa época de difícil acesso ao mercado fonográfico, principalmente para quem morava no norte do Brasil.
Jorge Cardoso foi, junto com o cantor Sérgio Souto, o músico acreano de maior sucesso fora do Acre, tendo participado de programas de auditório em rede nacional apresentados por Chacrinha e Bolinha, na Rede Bandeirantes, ladeado por “medalhões” da música brasileira como Raul Seixas e Sidney Magal.
No rádio, se destacou apresentando dois programas, um durante a tarde: Jorge Cardoso em Ritmo Rural, na Rádio Difusora Acreana, e o outro nas manhãs dos sábados, na Gazeta FM 93,3: Jorge Cardoso e a Grande Parada Popular.
Na entrevista a seguir, concedida no ano passado ao jornalista Luciano Tavares, para o site ContilNet, ele conta como foi o início de sua carreira no rádio e na música, seu auge na década de 80, com a música “Lambada do Amapá”, a conversão à vida cristã e os planos que fazia.
ContilNet - Como o senhor conseguiu gravar seu primeiro disco numa época difícil de acesso às gravadoras musicais?
Jorge Cardoso - Foi um sonho que transformei em realidade. Eu já me apresentava em show de calouros na Rádio Novo Andirá (hoje Rádio Capital). Eu trabalhava na rádio, conheci o radialista José Lopes, aí participei do Programa Domingo Alegre Andirá. Ganhei em primeiro lugar com uma música do rei Roberto Carlos, “Aquele beijo que te dei”. Depois fui aprender a tocar violão vendo os Bárbaros (hoje Mugs). Em 74, conheci um sargento do Exército, Dorian Rodrigues, do Rio de Janeiro. Ele era cantor, tinha um compacto gravado. Ele ficava me ouvindo no rádio. Ficamos amigos, conversa vai conversa vem; carta vai, carta vem. Naquele tempo não tinha internet, acertei e gravei com o maestro Clélio Ribeiro, em 76. Ele é o mesmo maestro que gravou com o Reginaldo Rossi, José Augusto e Fernando Mendes.
ContilNet - Você cantou em programas de auditório do Chacrinha e do Bolinha. Como aconteceu esta experiência?
Jorge Cardoso – É. Eu inclusive tenho o DVD, que consegui com o pessoal da Rede Amazônica. Mas na época que eu participei do Chacrinha ele era da Bandeirantes. Logo depois ele saiu para a Globo. Fiz uns dez programas do Bolinha. Do Chacrinha, participei de dois, que foi gravado no Teatro Zaco, na Brigadeiro Luís Antônio. Naquele tempo a gente gravava na terça e o programa ia pro ar no sábado, no tempo que a Rita Cadillac era lindona. No mesmo dia cantou o Raul Seixas, o Sidney Magal, a Alcione, essa turma toda estava no estúdio. Tive o privilégio de falar com o Raul. Nessa época ele estava estourando com a música “Eu nasci há dez mil anos atrás”. No Clube do Bolinha, fui através de um amigo. No Chacrinha foi a gravadora Continental que me agendou.
ContilNet - A sua música “Forró do Amapá” é a musica mais cantada até hoje?
Jorge Cardoso - Virou quase um hino. Quando tem eventos tipo o “Boca de Mulher”, elas sempre cantam. Nos clubes e eventos como os carnavais o pessoal sempre canta, “Meu amor, vamos lá, vamos tomar sol na praia do Amapá”. Eu me sinto feliz e não tenho nada a reclamar.
ContilNet - O senhor considera que este foi o seu maior sucesso?
Jorge Cardoso - Aqui no Acre foi e ainda é. Ainda hoje eu vendo CD’s por causa dessa música.
ContilNet - Há alguma recordação de algum momento inusitado na sua carreira?
Jorge Cardoso - Eu estava em Brasília e não sabia que meu disco estava estourado lá, nesse tempo o duplo “Pensando em Você”. Tinha um programa em uma rádio, do Preguinho, um radialista que tocava minhas músicas todo dia. E eu chego a Brasília, né? Aí a gravadora me agendou no programa do Preguinho, de madrugada. Cheguei, ele me apresentou, toquei a primeira música. Ele disse gostei, daqui a pouco Jorge Cardoso canta de novo, aí tocou “Rosas com Amor” e “Pensado em Você”. Terminou o programa e convidei o Preguinho pra tomar um café numa lanchonete. Aí uma moça ligou da recepção dizendo: olha tem um monte de menina aqui atrás de você. Elas vieram num ônibus lotado de Taguatinga, querem conhecer o cantor. Eu fiquei todo besta, dando autógrafo e tudo. Foi um momento feliz pra mim. Me senti um artista. Em Teresina, no Piauí, numa banca de revista, uma moça estava ouvindo minha música. Eu ia passando e quase digo ei sou eu o cantor...
ContilNet - Em algum momento a fama prejudicou sua vida?
Jorge Cardoso - Eu não fui famoso. Fui conhecido. Mas sabe, a fama não é boa, bom mesmo é esse momento que “estou” vivendo. Andar na rua de chinelão havaiana, de bermudão, comprar a feira... Eu tenho um amigo meu que ficou muito famoso, o Amado Batista, e hoje o Amado é trancado. Não é só do Amado. A vida dos artistas é trancada. Do Hotel, em sua suíte, sozinho em uma van e palco, e depois volta. Aí, aeroporto, avião... Isso anos e anos cansa, né? Mas até hoje as pessoas me param, pedem para tirar foto comigo; pedem autógrafo.
ContilNet - O senhor deu uma pausa na carreira musical?
Jorge Cardoso - Não, sempre gravo. Gravei um CD com minhas principais músicas, em 2008. Mas agora vou me dedicar a gravar musicas gospel.
ContilNet - Como aconteceu sua conversão à vida cristã. O que lhe motivou a essa decisão?
Jorge Cardoso - Foi lendo a Bíblia. Eu estava no auge. Não fiz como alguns fazem. Não me converti por estar falido. Geralmente as pessoas vão porque estão quebradas, estão falidas. Eu não, eu “estava” no auge, no mercado da música e como empresário. Fui pelo coração mesmo. Não fui pela orelha não.
ContilNet - Qual o conselho o senhor dá aos artistas que estão começando no Acre?
Jorge Cardoso - Para ter sucesso fora, tem que sair do Acre. Estamos longe da mídia nacional. Mas também não ir para os grandes centros, tipo São Paulo, Rio de Janeiro. O Nordeste, Fortaleza, Recife, Natal é bom. O meu Acre é muito bom, mas está longe da vitrine. Aqui, ser artista é muito difícil.
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