terça-feira, 31 de março de 2009

Bênção para Rondônia



Fonte: oestadodoacre.com

Por essa ninguém esperava. O Acre, o inventor e formulador do modelo das reservas extrativistas conhecidas no mundo todo devido à luta dos seringueiros comandada por Chico Mendes, Marina Silva e companhia, acaba de sofrer um revés em Brasília ao perder o controle do Instituto Chico Mendes [ICM] em seu próprio quintal.

O Ministério do Meio Ambiente decidiu e entregou para o Estado de Rondônia, conhecidamente um dos estados de maior índice de devastação de florestas, a responsabilidade pela coordenação regional do ICM. Com a medida, o Acre fica subordinado às orientações de Rondônia quando o assunto for gestão e preservação das unidades de conservação.

Foi um nocaute no Estado que tem pelo menos 80% de seu território completamente intacto.A decisão do governo federal em dar aos rondonienses a coordenação do Instituto é um duro golpe e uma incomensurável derrota política para o Acre, atestam especialistas na área. Foi devido à luta de acreanos travada no governo Lula - Marina Silva, Sibá Machado especialmente - que a instituição foi criada há dois anos, gerando polêmica e dividindo ao meio os servidores do Ibama em todo país.

O ICM foi criado para promover a gestão das unidades de conservação e proteger a biodiversidade do Brasil. No caso do Acre, as ricas e cobiçadas áreas de conservação estão sob controle de Rondônia, Estado governado por Ivo Cassol, o empresário criador de boi e plantador de soja que tem ojeriza às questões do ambiente. Todo mundo lembra que foi ele um dos incentivadores para que o governo Lula esvaziasse os poderes da então ministra Marina Silva, no ministério do Meio Ambiente, até ela pedir demissão.

Há, no entanto, quem avalie que o prejuízo para o Acre com a perda da coordenação regional do ICM é superior e mais traumática que a perda das vilas Extrema e Nova Califórnia, na década de 90. Vencida também pelos vizinhos rondonienses, a disputa territorial pelos lugarejos às margens da BR-364 foi facilitada pela incompetência dos políticos locais da época.

Benção para Rondônia

Com a coordenação do instituto que leva o nome do acreano mais ilustre e conhecido no mundo, Rondônia vai controlar e definir políticas para aproximadamente três milhões de hectares em reservas no Acre [ Res. Chico Mendes, Serra do Divisor, Cazumbá-Iracema, Floresta Nacional do Macauã, Res. do Alto Juruá (a primeira do Brasil criada em janeiro de 1990), Res. do Rio Liberdade, Reserva do Alto Tarauacá e outras menos conhecidas].

O ICM é uma autarquia que surgiu poderosa e rica. Seu patrimônio está no mesmo nível da Petrobrás, INSS e a Receita Federal. O instituto tem cerca de 2.500 imóveis em todo o país e milhões de hectares de áreas verde que precisam ser preservados e que o planeta está de olho. Só que agora, o Acre que sonhava em coordenar esse importante patrimônio natural em sua própria cozinha, terá que se submeter às ordens e aos humores de Rondônia.

Parece mentira, mas é a mais pura verdade. Rondônia vai ‘cuidar’ das florestas da terra de Chico Mendes. E o Instituto Chico Mendes, criado por Marina, companheira de luta do líder seringueiro, terá sua sede regional em Porto Velho, quando deveria ser em Rio Branco ou mesmo na cidade de Xapuri.

Com a palavra, o ministro Carlos Minc e o presidente Lula.

O expert do Rio Xapuri

Eduardo de Souza

Ainda no lamento da morte do grande Chico Silva, quero externar também, aqui, meu pesar, pela perda do cabra de honra, (como diria meu avô lá do sertão do RN), que tive o privilégio de conhecer.

Subi e desci várias vezes o Rio Xapuri com o Chico pilotando o motor de rabeta, rio esse que ele conhecia todas as curvas, entradas e saídas, e que, às vezes, era difícil de navegar quando seco, nas corredeiras que eram duras como cruz de maçaranduba, de passar, segundo ele gostava de dizer. Aliás, "Cruz de maçaranduba" e "Se não ajuda, não atrapalha", eram expressões que ouvia muito da boca do Chico.

Homem simples, correto e ético, leal a seus princípios e aos amigos. Nunca o vi correndo da raia numa dificuldade subindo ou descendo o rio. Como um grande capitão de seu barco, era sempre o primeiro a entrar e o último a sair, depois que todos sob sua responsabilidade estivessem em segurança, na margem do rio ou qualquer outro local a que se dirigissem.

Combinar uma viagem com o Chico, era certeza de empreendimento seguro. Antes do dia amanhecer ele já podia ser visto com o barco carregado, equipado e abastecido, pronto para zarpar. Não tinha erro, o Chico era pontualmente britânico, disciplinado, tinha esse comportamento em todas as atividades.

Uma vez um casal de noruegueses, namorados, me procurou, quando eu morava em Xapuri, querendo fazer um pequena incursão pelo rio Xapuri. Eles não falavam nada de português, queriam que eu os acompanhasse, mas eu estava com muito trabalho nesse dia. Não tive dúvidas, procurei meu amigo Chico Silva, expliquei para ele a situação, ele topou de cara o desafio, e levou o casal pelo rio sem nenhum problema, apesar de não entender o que eles falavam, a linguagem universal da confiança e boa vontade fez o seu papel, tornando o Chico uma figura inesquecível para aqueles jovens estrangeiros. Eles gostaram demais do jeitão do Chico, suas brincadeiras e risadas, que nem precisaram de tradução, devem ter divertido muito os jovens, pois eles falaram maravilhas do boatman (barqueiro).

Tenho contato até hoje com aqueles enamorados, que hoje são casados e tem 3 filhos lá na Noruega. A simplicidade franca e cordial do Chico fazia essas coisas. Nas viagens que fiz a Xapuri, depois que me mudei de lá, sempre ia ver o Chico, era um papo agradável, e divertido, sempre, reencontrá-lo. Sempre vou ter um grande respeito pelo homem e pelo profissional que o Chico Silva foi, esse respeito e consideração se estende a família, que vai continuar, agora sem o pai, esposo, avô, mas na certeza que o legado que ele deixou, de responsabilidade, honestidade e honra, vão ser seguidos, e sua memória não vai ser esquecida.

Eduardo de Souza é cirurgião dentista potiguar radicado em Rio Branco há alguns anos. Antes disso, passou 12 anos em Xapuri, onde foi professor de língua inglesa, gerou sua única filha, Izadora, e bebeu água do Rio Xapuri. Não deve mais ir embora do Acre.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Mapa da perversão



Angeli, via UOL. Clique na imagem para vê-la ampliada.

Astro-rei



De magnifíca beleza, o pôr do sol anuncia a chegada da noite. Antes de se despedir do dia, foi clicado pelo fotógrafo Gleilson Miranda, da Agência de Notícias do Acre. Clique aqui para ver outras imagens do repórter fotográfico.

"Se não ajuda, não atrapalha"



No último dia 19 de março, morreu, aos 68 anos, uma das figuras mais conhecidas e folclóricas de Xapuri. Francisco Silva de Oliveira, o "Chico Silva", foi fotógrafo, pescador, vendedor ambulante e, também, locutor da Rádio Educadora 6 de Agosto, exatamente quando me iniciei nessa profissão, no ano de 1988, durante a primeira administração do ex-prefeito Vanderley Viana.

Comecei no rádio como operador de áudio de um programa apresentado por Chico Silva, cujo nome não me recordo, mas que lembro ser destinado aos ouvintes da zona rural, como acontece até hoje na emissora no caso dos programas que abrem e encerram a programação. Chico lia muito pouco, mas tinha grande facilidade de comunicação e parecia conhecer cada um dos moradores dos seringais do município.

Peemedebista convicto, foi candidato, por algumas vezes, ao cargo de vereador sem nunca ter conseguido ser eleito. Nos últimos anos de vida, dividiu seu tempo entre a função que exercia como funcionário da prefeitura e a venda de salada de frutas pelas ruas da cidade, atividade que desempenhava com orgulho, onde popularizou o bordão: "se não ajuda, não atrapalha".

Chico deixou esposa e dois filhos, Simone e César, muitas histórias engraçadas das muitas aventuras que viveu em Xapuri, e um rol também muito extenso de amizades entre as quais se coloca este blogueiro que faz registro atrasado, mas sincero, da partida do grande Chico Silva para um lugar que, espero eu, seja bem melhor que este em que continuamos até segunda ordem.

domingo, 29 de março de 2009

"Lugar bom"



Chama-se Xapuri um dos melhores restaurantes de comida mineira de Belo Horizonte, aberto há 20 anos atrás no bairro da Pampulha. No começo, o restaurante ficou conhecido pelo nome de "Atrás da Moita" por causa de uma moita na entrada do local.



O nome definitivo surgiu graças a uma viagem de um tio da dona do restaurante, Nelsa Trombino, a Xapuri. Dona Nelsa gostou muito do nome, porque na língua indígena tupi guarani, segundo explica a página do restaurante na internet, Xapuri quer dizer: “lugar bom”.



Dona Nelsa é considerada uma das melhores chefes de cozinha típica mineira do Brasil.

sábado, 28 de março de 2009

Rio Xapuri


José Augusto Fontes
Era noite
Teus cabelos negros refletiam a mata, também longa
Dentro do olhar distante
Quase perdido
Afastado do momento
Passava o rio, passava a vida
O desejo, era expectativa

Era noite
Teus olhos escuros, nada diziam
Parecia mais que pensavam
Pra lá da floresta, ali ao redor
E bem em frente, te querendo afogar
Nem nada,
Nem um dissimulado notar

Era noite, ao lado do barulho
E só a música dos bêbados tocava teu gesto
Não teus lábios, também escuros
Que só se davam à bebida
E meu querer, em viagem só de ida

Era ainda noite, quando teu olhar comprido
Passando através do estranho, quase perdido
Encantou a floresta e deixou aquele mundo
Partiu, como fosse naquele rio
Ali em frente, sendo engolido pelo outro
Sumiu, como o Rio Xapuri, dentro do Acre

Comprido teu olhar e eu tão perto
Teu gesto indo, sumindo
Partindo
Com os bêbados, com a noite.
Era dia
E o mundo perdia o encanto.
◙ José Augusto Fontes é acreano, poeta, cronista e juiz de direito com passagem por Xapuri.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Vereança

Éden Barros Mota

O vereador apareceu quando a coroa portuguesa decidiu instalar um representante em cada unidade municipal com administração própria (cidades, vilas) dos pelouros (que eram escolhidos durante uma reunião realizada pela coroa, com os moradores das cidades e das vilas tendo uma votação, em sacos chamados pelouros). Juntamente com os pelouros foi instalado um “Conselho”, que era formado por cidadãos ou vilões, dentre aqueles mais abastados e de melhor representação, surgiam os vereadores.

As funções, atribuições e deveres de um vereador nem sempre ficam muito claras ao grande público. Vamos tentar aqui resumir as mais importantes, embora haja pormenores que variam de região para região, uma vez que estados e municípios gozam de certa independência. Infelizmente, os vereadores nem sempre recebem a devida atenção. Talvez por demérito mesmo.

O vereador é um representante político que opera no domínio dos municípios, igual à forma de governo constitucional na Câmara, a nível legislativo. O vereador tem somente poder Legislativo, mas também é um fiscal, embora às vezes partilhe esta tarefa com tribunais de contas. Vejamos algumas de suas
atribuições:

Legislar sobre interesse local

Os vereadores aprovam as leis que regulamentam a vida da cidade. São os serviços de tradicional prestação pelos Municípios, como transporte coletivo, coleta de lixo, manutenção de vias públicas, fiscalização sanitária, etc. Para isso elaboram projetos de lei e outras proposituras que são votados na câmara durante as sessões ordinárias ou extraordinárias. Aprovam ou rejeitam projetos de lei, elaboram decretos legislativos, resoluções, indicações, pareceres, requerimentos, elaboram o regimento interno da câmara e participam de comissões permanentes.

Fiscalizar as contas do Executivo

O executivo (prefeito e secretários) comparece periodicamente à câmara, quando convidado, para prestar esclarecimentos aos parlamentares. Estes esclarecimentos podem ser solicitados por requerimentos. A fiscalização ocorre também, por meio da atuação nas comissões especiais e em prol do bom uso do dinheiro público, discussão e aprovação do orçamento anual e da Lei de Diretriz Orçamentária que planeja onde e como aplicar o orçamento do município e análise profunda do Plano Diretor. Essa é a função onde um vereador por si só pode fazer a diferença. A função legislativa, pela própria estrutura federativa brasileira, não lhe deixa muito espaço, como vimos, e a própria dinâmica da aprovação de uma lei faz com que ele sozinho possa não conseguir aprovar um projeto. Mas o vereador pode, por si só,
apontar erros e apurar desfalques nas contas públicas que podem levar a mudanças no Orçamento e à economia dos recursos de todos.

Representar a população local

O vereador é, ao mesmo tempo, porta voz da população, do partido que representa e de movimentos organizados. Cabe ao parlamentar não só fazer política partidária, mas organizar e conscientizar a população. A realização de seminários, debates e audiências públicas são funções dos parlamentares que contribuem neste aspecto, pois funcionam como caixa de ressonância dos interesses gerais.

Outras atribuições, não menos importantes, seriam:
  • Prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população;
  • Promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
  • Promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Algumas perguntinhas básicas as quais não posso calar. Os vereadores estão fazendo pelo menos 0,5% por cento do que acima está explicitado? Os vereadores têm conhecimento da responsabilidade que eles põem sobre os seus ombros quando são eleitos para representar uma comunidade? Os Vereadores sabem das atribuições que lhes são inerentes?

Particularmente eu acredito que não, principalmente no que tange à fiscalização do emprego de verbas públicas municipais. E quando afirmo isso, digo com muita convicção, uma vez que o próprio TCE – Tribunal de Contas do Estado, conforme divulgado em diversos meios de comunicação, reprovou as contas dos ex-prefeitos Júlio Barbosa e Vanderley Viana, sinal que fiscalização alguma foi feita.

Esta semana li no Blog “Xapuri Agora” do xapuriense Raimari Cardoso o artigo “Latifúndio (im)produtivo", tendo como pano de fundo a Câmara Municipal de Xapuri. Em seu artigo o Raimari diz que além de extremamente corporativista, assistencialista e clientelista, a instituição há muito tempo não produz nada que seja frutificante para a sociedade que representa sob o predicado de "Casa do Povo".

Não estou diretamente em Xapuri, mas acompanho de longe tudo o que acontece e vejo que o Raimari está coberto de razões. Posso até me encontrar falando uma bobagem, mas nunca vi nenhuma publicação em nenhum meio de comunicação dizendo que a Câmara Municipal de Xapuri criou alguma Lei que viesse a favorecer de qualquer forma a comunidade xapuriense.

E aí vai mais uma pergunta que os próprios vereadores deveriam fazer a si mesmo. Eu tenho condições de ser vereador? Eu estou cumprindo o meu papel de representante do povo? Eu estou fazendo alguma coisa para melhorar a vida do povo que eu represento? Se a resposta for positiva, parabéns, divulguem o que de bom têm feito. Caso contrário, comecem a mudar a forma de agir e passem a fazer da Câmara Municipal uma Instituição de valor e que preza pela função para qual foi criada.


Tem que ser mulher!

Silvânia Pinheiro

A implantação de uma CPI para investigar os supostos casos de pedofilia em Rio Branco tem tirado o sono de muitos deputados na Assembléia Legislativa do Estado (Aleac). Há alguns anos, a maioria dos deputados veteranos são testemunhas de quando o Tribunal de Justiça decidiu levar o caso até o fim.

Nesse período o que mais surgiram foram listas com nomes de empresários, jornalistas, e até políticos envolvidos com menores. Os arquivos impressos estão vivos e a memória do povo certamente sim.

Ao ver o posicionamento da deputada Naluh Gouveia esta semana sobre os abusos cometidos contra as mulheres, cheguei a conclusão de que dificilmente o Acre terá uma mulher que honre as saias que veste na Aleac como a atual conselheira do TCE.

Hoje temos deputadas sérias e comprometidas na Aleac, mas esse não é o caso. Com coragem mesmo, atualmente, só conheço Antônia Sales (PMDB) e Idalina Onofre (PPS).

Duvido que essa CPI seja mesmo implantada. Não tem uma Assembléia Legislativa preparada para o impacto que uma Comissão dessas causaria na sociedade acreana.

Não todos, mas a maior parte dos parlamentares estaduais acreanos não agüentaria um sopro contra essa idéia.

Que pena e que falta você faz Naluh!

◙ Jornalista. Assina a coluna Prisma no site agazeta.net

Os pilares

Luciano Pires

O maior prejuízo da tal crise que está aí jamais será contabilizado. Todo empreendimento, seja uma siderúrgica com vinte mil funcionários ou o carrinho de pipoca do Zé, sustenta-se sobre alguns pilares: a engenharia, a produção, o financeiro, as compras, a informática, os recursos humanos, a administração, o marketing, o comercial... Esses pilares variam conforme o tipo de negócio, mas a maioria sempre está lá. O Zé da Pipoca tem engenharia. Tem finanças. Tem recursos humanos. Tem marketing, não tem?

Pois bem. No início dos anos noventa, ao mergulhar na globalização, esperávamos ter os mercados mundiais abertos para os produtos brasileiros. Mas não imaginávamos que diante da concorrência dos japoneses, alemães, estadunidenses e chineses, nossa ineficiência, desorganização e amadorismo ficariam explícitos. Não dava pra nós.

Buscando uma solução importamos programas de qualificação como a série ISO 9000 e partimos para controlar, medir, mapear e organizar nossos processos produtivos. Melhoramos excepcionalmente, principalmente nos pilares fundados nas "exatas", como a engenharia, produção, compras e finanças, que desenvolveram métodos e indicadores capazes de mostrar com clareza sua utilidade e eficiência. Ganharam previsibilidade.
Variabilidade mínima. Controle.

Ao mesmo tempo as disciplinas "humanas" ficaram para trás. Áreas como o marketing e recursos humanos, que lidam com questões subjetivas, até tentaram utilizar indicadores, mas só conseguiram produzir "dados emocionais".

E os engenheiros e contadores riram...

Embora todos os discursos falassem da importância do foco nos pilares "humanos", eles passaram a ser duramente questionados nas reuniões de resultados. Enquanto as "exatas" exibiam suas minuciosas planilhas, as "humanas" não conseguiam nem mesmo provar que eram necessárias. Passaram então a ser rotuladas de "serviços de suporte", "prestadores de serviços" e "centros de custos". Coisas legais de fazer, mas que não são necessárias, sabe como é?

Quando vem a crise (mais uma...), dança quem não consegue provar sua utilidade, seu valor. Seu "retorno do investimento". Se uma planilha Excel não consegue mostrar para que serve ou quanto vale o trabalho que você faz, bote as barbas de molho. Você é provavelmente um "não-produtivo". O sujeito que gasta o dinheiro que os "produtivos" penam para ganhar...

E então vamos demitir. Cortar os benefícios. Parar com os treinamentos. Olha o cafezinho! Parem com as propagandas! Reduzam as páginas ou a periodicidade do jornal interno. Ou acabem com ele! É despesa! E nem pensem em festa junina, hein? Estamos em crise!

Sabe qual será a consequência? Nenhuma. Para quem toma essas decisões, o que não cabe na planilha, não existe.

Para lidar com os pilares de "humanas" é preciso mais do que competência técnica. Muito mais que um diploma de MBA. É preciso ter...
Culhões. Culhões para confiar em resultados que não podem ser apresentados numa planilha Excel. Para aceitar "dados emocionais".

Mas fala a verdade, no meio da crise quem é que tem culhões para apostar no invisível? O bom senso, o consenso e a cautela dizem: na crise, só se aposta no que é garantido. No que dá pra ver. No que é exato. No previsível. Sem subjetividades, emoções e percepções. É assim que gente sensata faz.

A crise que vivemos é uma crise de confiança, de fé. Sem fé os negócios passam a ser "fabricar, controlar e vender". Só.

O maior prejuízo da crise que está aí não pode ser contabilizado: é o predomínio dos pequenos executivos que estão derrubando os pilares de "humanas".

Essa gente não tem fé. Tem medo.


◙ Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista.

Caex suspende compra de castanha



Sem ter para quem vender, a Cooperativa Agroextrativista de Xapuri anunciou a suspensão da compra de castanha no município com cerca de dois meses de antecipação. Com 15 mil latas de castanha estocadas, a Caex vai beneficiar a produção na usina Chico Mendes para tentar escapar do prejuízo. "A castanha beneficiada tem mais procura", diz o presidente da entidade, Luiz Íris de Carvalho, o Licurgo, que luta para manter de pé a emblemática entidade.

Idealizada por Chico Mendes para eliminar a figura indesejada do atravessador da comercialização dos produtos extrativistas, principalmente a borracha e a castanha, a Cooperativa Agroextrativista de Xapuri foi considerada, junto com a Reserva Extrativista que leva o nome do seringueiro, o símbolo do fim do período de exploração dos seringueiros pelos seringalistas e um novo alento para quem vivia da floresta.

Vinte anos depois da morte do líder sindical, a Caex estrebucha sem poder garantir ao menos a compra da produção extrativista dos seus sócios. Nem de longe a entidade se assemelha com aquela que entre os anos de 1988 e 1989 atingiu a cifra de US$ 1,8 milhões em apoio e financiamentos de organismos internacionais, como: Cultural Survival Enterprise; Fundação Ford; Fundação Inter-Americana; WWF; BID e instituições brasileiras como o BNDES e Ibama.

O volume de recursos que abarrotava as contas da cooperativa despertaram a ganância e alimentaram uma série de administrações que dilapidaram o patrimônio da empresa. O maior golpe dos últimos anos para a já debilitada saúde financeira da Caex foi a perda dos recursos do Programa de Compra Antecipada da Castanha, disponibilizados pela Conab - Companhia Nacional de Abastecimento - em virtude de uma dívida não quitada de mais de R$ 1 milhão.

A atual administração da Caex, que tomou a direção da entidade há 3 anos, tenta reabilitar aquela que foi uma das mais importantes organizações de seringueiros do Acre, mas até mesmo a compra de borracha, o outro pilar da economia extrativista, também está sendo inexpressiva pela Cooperativa de Xapuri, que divide o que sobra da produção que é absorvida pela fábrica de preservativos masculinos Natex com outros compradores.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Selmo Dantas, o "rebelde"


O vereador petista Selmo Dantas (na foto de terno preto, ao lado do campanheiro de bancada na câmara de Xapuri, João Ribeiro de Freitas) é uma das figuras mais polêmicas da nossa política recente. Suplente na legislatura passada, denunciou por várias vezes a existência de manobras para que ele não assumisse o posto na ausência dos titulares, como aconteceu no intrigante caso em que todos os vereadores faltaram à sessão do dia 23 de outubro de 2007.
Segundo a versão de Selmo Dantas, naquela ocasião houvera um acordo entre as bancadas para que ninguém comparecesse à câmara e, assim, salvassem a pele do então presidente da casa, reeleito nesta legislatura, vereador Ronaldo Cosmo Ferraz, que, ausente do Estado em tratamento de saúde, faltaria ao trabalho por quatro vezes seguidas, o que, de acordo com o regimento interno da instituição, implicaria na cassação do mandato do edil.
Considerado como um dos principais responsáveis pela quebra da unidade partidária no PT após a derrota nas eleições municipais de 2004 para o ex-prefeito Vanderley Viana de Lima, fato que culminou com uma disputa entre dois candidatos petistas por Xapuri - Ermício Sena e Raimundo de Barros - por uma vaga na Assembléia Legislativa em 2006, Dantas voltou a polemizar com o partido ao lançar seu nome como oponente do atual prefeito Bira Vasconcelos na disputa pela indicação ao cargo de candidato a prefeito.
Sem o aval da cúpula do partido e com o apoio da minoria da militância petista, Selmo Dantas desistiu da pré-candidatura a prefeito, assim como o também pré-candidato José Nilberto Menezes, para se tornar o vereador mais votado no pleito passado, com 367 votos, e uma das cinco novas caras que o eleitorado xapuriense levou à desgastada e desacreditada câmara de Xapuri, numa supreendente renovação que superou os 60%.
Com pouco mais de um mês de trabalho na câmara, o estilo controverso de Selmo já começa a dar o que falar (ou fuxicar). Vice-presidente da casa, Selmo foi solicitado pelo presidente Ronaldo Ferraz a explicar na Rádio Educadora 6 de Agosto os motivos que levaram a câmara a cancelar a sessão ordinária da última terça-feira, sob o pretexto da participação de vários vereadores em um encontro do prefeito com uma comunidade rural, missão que o vereador cumpriu fiel e solenemente.
Mas como o mexerico ainda é uma das nossas marcas registradas, chegou aos ouvidos de alguns colegas de Selmo Dantas, que por sua vez foram ligeiros em retransmitir ao presidente, o boato de que o "rebelde" Selmo havia "baixado a lenha" nos responsáveis pela decisão de não realizar a sessão ordinária. De imediato, Ronaldo Ferraz telefona para este blogueiro para saber o que realmente fora dito pelo vereador na entrevista que concedeu ao programa que apresento na emissora acima citada.
Como, a exemplo da câmara, o que se diz nos microfones da emissora é devidamente gravado e arquivado, ofereci ao presidente acesso ao áudio do programa para que as devidas conclusões fossem tiradas e um fim fosse dado à polêmica boba e inútil. Dispensando a oferta, Ronaldo Ferraz explicou que a não realização da sessão não traz nenhum prejuízo para os trabalhos da câmara, uma vez que não havia nenhuma matéria importante a ser apreciada.
Por sua banalidade, o episódio explica um pouco do porquê de a câmara de Xapuri haver se tornado, com todo respeito, esse monumento à infrutuosidade, razão da indiferença e da desconfiança que a população lhe reserva. Com tanta coisa importante a ser discutida e proposta para o melhoramento da cidade, que há tantos anos está mergulhada no atraso, alguns ainda estão preocupados em combater a opinião livre e as críticas contra o corporativismo e a falta de transparência que sempre fizeram parte da imagem do chamado legislativo-mirim.

CPI da Pedofilia no Acre

Pitter Lucena

Muito boa a intenção do deputado Luiz Tchê do PMN do Acre em propor a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar denúncias da existência de uma rede de pedofilia no Estado. Tchê disse estar convicto de que os abusos sexuais e a pedofilia ocorrem em intensidade maior do que é divulgado e o Parlamento tem a responsabilidade de agir com veemência.

Vale lembrar ao nobre deputado que a Assembléia Legislativa do Acre (Aleac) criou no final de 2003, por unanimidade, uma CPI para investigar crimes de pedofilia no Acre, mas infelizmente nunca foi instalada não se sabe por quais razões. A CPI não saiu do papel, nasceu morta e sepultada pelos nobres deputados acreanos.

Em junho de 2004 uma comissão de autoridades do Acre esteve em Brasília para colaborar com a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, criada através do Requerimento nº 02/2003–CN, com a finalidade de investigar as situações de violência e redes de exploração sexual de crianças e adolescente no Brasil. Depuseram no Congresso Nacional a juíza da Infância e Juventude, Maria Tapajós, o delegado Josemar Portes, o promotor de justiça Francisco Maia Guedes e o jornalista Pitter Lucena, que vos escreve.

Veja o que disse a doutora Maria Tapajós em depoimento em Brasília:

Todos sabem que a questão da violência sexual, da prostituição, de toda essa gama que envolve as nossas crianças e adolescentes como vítimas, é muito grave no Estado do Acre.

A cada dia nos assustamos, não vou dizer nos surpreendemos, nos assustamos com o número de pessoas influentes que têm essa prática de violentar nossas crianças, a troco de um picolé, a troco de um ursinho de pelúcia e a troco de uma volta de carro, quando não de um iogurte. Estamos deduzindo que é uma rede, e uma grande rede com punhos bem grossos, e é o que nos preocupa bastante.

O que nos angustia? Acho que há pouco interesse, há pouco empenho, há pouca preocupação de muitas autoridades, de muitos organismos, da própria sociedade, que fecha os olhos, que se cala e isso nos traz muita indignação. Porque vemos... Têm coisas que acontecem no Acre a olhos nus, não precisa alguém denunciar anonimamente, ou alguma criança, ou adolescente nos procurar, não. Estamos vendo. Quer dizer, a coisa está ficando tão grave, e a nossa preocupação como Justiça, minha principalmente, não sei se é porque tenho um afeto todo especial à criança e o adolescente, é que as pessoas estão encarando, a meu ver, com certa naturalidade. Isso é o que mais me preocupa.

Preocupamo-nos com aquelas pessoas que têm mansões ou chácaras um pouco afastadas de Rio Branco e que contam sempre com um personagem ou dois que fazem a escolha das meninas para levar para essas chácaras. Lá acontece tudo que vocês possam imaginar e o que vocês não imaginam. Essas pessoas ganham muito dinheiro, e quanto mais nova for a menina e se for virgem, maior a gratificação. Isso se tornou uma prática em Rio Branco.

Todo mundo sabe que meninas de Rio Branco, de Xapuri e de Senador Guiomard também são recrutadas para ir para Cobija e têm entrada franca, apesar da existência de um termo de cooperação – isso não funciona infelizmente. Eu não sei o que podemos fazer para que a Bolívia realmente cumpra com a sua parte. Ouvimos um depoimento em que uma adolescente diz que boliviano não gosta de bolivianas, que eles só querem brasileiras, inclusive são figuras do exército, são governadores que, em algumas situações, fecham determinadas casas, obrigam as meninas a usar cocaína, tomarem uísque, fica fechado só para aquelas autoridades. Isso também, segundo informações de uma denúncia anônima que colhemos na semana passada, é costume, é uma prática em Cobija.

Os motoristas de táxi, de ônibus e caminhões também são pessoas de bastante significação nessa história. São eles que levam essas crianças e adolescentes para Cobija, para Porto Velho. E a nossa fiscalização, embora seja um Estado fronteiriço, não é rígida nas nossas estradas, porque, lógico, se fosse, eu acho que reduziria esse tipo de crime.

A juíza Maria Tapajós faleceu no dia 19 de agosto do ano passado.

Nos próximos posts (do blog do Pitter) o resumo dos depoimentos prestados em Brasília pela comissão acreana na CPI da Prostituição Infantil no Congresso Nacional.

◙ Pitter Lucena é jornalista acreano radicado em Brasília.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Pedofilia



Após a repercussão dada pela imprensa para casos e denúncias de pedofilia país afora, inclusive no Acre, alguém na Assembléia Legislativa parece ter acordado para a necessidade de se dar mais atenção a esse problema crônico da sociedade brasileira que se manifesta em todos os lugares - nos lares, nas escolas e nas ruas - sob o manto da impunidade fomentada pelo medo de se denunciar os criminosos e pela vista grossa das autoridades.

O deputado Luiz Tchê (PMN) está propondo a abertura de uma CPI - Comissão parlamentar de Inquérito - para investigar denúncias de abusos sexuais contra crianças e adolescentes em Rio Branco e nos municípios do interior do Estado, onde esses crimes hediodos vem sendo praticados como se fossem esporte. O parlamentar já havia conseguido dez assinaturas até o final da manhã desta quarta-feira, 25, segundo notícia veiculada pelo site Ac24horas.com.

Se for confirmada a CPI, os parlamentares poderão chegar a muitos adeptos do hobby da caça e do aliciamento de adolescentes, inclusive aqui em Xapuri. Muita gente sabe do que se passa, mas uma série de fatores contribui para que os criminosos ajam de forma livre e despreocupada. O simples medo de denunciar, a grande dificuldade de se apresentar provas e até mesmo um certo comodismo da parte de todos, sociedade e autoridades, são, talvez, os principais desses fatores.

Nas últimas semanas, uma série de notícias assombrosas tomaram conta dos noticiários. Da gravidez de uma menina de nove anos em Pernambuco a um pai que mantinha duas filhas como amantes em Epitaciolândia, aqui no Acre, os casos se sucedem e mostram que não somente os ataques sexuais contra crianças pequenas, mas também o aliciamento, a sedução e a exploração de menores com mais idade já se tornaram coisas banais.

Hora do Planeta



Pois é, Xapuri não precisará aderir ao movimento Hora do Planeta 2009, ato simbólico de alerta contra o aquecimento global promovido pela Rede WWF (veja no blog do Altino) e que vai ocorrer em mais de 83 países no próximo dia 28 de março, quando as luzes serão apagadas por uma hora. Na ecológica terra de Chico Mendes a Eletroacre vem apagando as luzes todos os dias e por várias vezes.

Nos últimos cinco dias, dezenas de interrupções no fornecimento de energia causaram protestos e reclamações da população. Equipamentos eletrônicos danificados e prejuízo no atendimento dos serviços públicos foram o resultado dos apagões. No setor de cadastro da prefeitura, pessoas aguardaram por horas para poder retirar notas de serviço.

Até agora nem Eletroacre nem Guascor do Brasil se preocuparam em publicar uma nota que fosse sobre os motivos das sucessivas quedas de energia na cidade. Na tarde de ontem, o corpo de bombeiros junto com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente realizaram podas de árvores nas ruas para evitar o contato dos galhos com os fios, uma das razões alegadas para os apagões.

Voltando à Hora do Planeta, o ano de 2009 é crucial para o futuro do planeta, pois os países precisam assinar um acordo internacional com medidas para que se mantenha o aquecimento global abaixo dos 2º C. Será um ano de mobilização para que os países finalmente assinem, na 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em dezembro, na Dinamarca, um acordo justo e eficiente para reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa.

No dia seguinte à Hora do Planeta, já começa a primeira etapa das negociações internacionais sobre o acordo de clima, em Bonn, Alemanha. Representantes da Rede WWF e do WWF-Brasil estarão acompanhando a reunião. Serão entregues os resultados da Hora do Planeta, numa demonstração de que centenas de milhões de pessoas em todo o mundo estão a favor de ações de combate ao aquecimento global.

No Brasil, o desmatamento – principalmente na Amazônia e Cerrado –, é responsável por 75% das emissões de CO2, o principal causador do aquecimento global. No entanto, as emissões de outras fontes, como agricultura, energia elétrica, entre outras, não devem ser menosprezadas dentro de um caminho de desenvolvimento limpo.

Qualquer pessoa, cidade ou empresa pode aderir ao movimento. Basta se cadastrar no site e apagar as luzes de 20h30 às 21h30, no dia 28 de março: www.horadoplaneta.org.br

A polêmica do 'Acriano'

Novo acordo ortográfico gera polêmica no Acre

MATHEUS PICHONELLI
da Agência Folha

Cento e seis anos após a declaração de sua independência da Bolívia, um movimento de resistência toma forma no Acre. O inimigo, desta vez, é o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que transformou os "acreanos" em "acrianos". A opção, segundo a Academia Acreana de Letras, sempre foi facultativa, mas o "i" nunca foi usado nas ruas, documentos, hino e até no nome da entidade.

"'Acriano' soa esquisito. Somos 'acreanos' há mais de cem anos, quando decidimos que não éramos bolivianos, e sim brasileiros, e conseguimos a independência. A mudança mexe nas nossas raízes históricas e cultuais", diz a deputada federal Perpétua Almeida (PC do B-AC), que lidera o movimento.

A reação conta com políticos, jornalistas e intelectuais do Estado, que prometem criar um blog para dar início ao "Fórum de Defesa da Nossa Acreanidade" _- a ser hospedado no site da Assembleia Legislativa. No espaço, as pessoas vão poder manifestar repúdio (ou apoio) à mudança ortográfica.

"As pessoas já dizem: 'na minha caneta mando eu'", diz Almeida, que promete fazer contato com acrianos famosos para "reforçar" o movimento, como a escritora Glória Perez e o jornalista Armando Nogueira.

Para evitar a mudança, a Academia Acreana de Letras terá de manifestar um posicionamento oficial sobre o assunto e apresentar recurso à ABL (Academia Brasileira de Letras).

O argumento não é dos mais simples: "O novo código misturou no mesmo saco antropônimo com topônimos", afirma Luísa Galvão Lessa, "acreana", pós-doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Universidade de Montreal (Canadá) e membro da academia acriana. Isso significa, segundo ela, que a regra valeria para nomes de pessoas, mas não para palavras referentes a localidades. Segundo Lessa, a mudança provocou "depressão". "Quando se fala 'acriano' parece que estamos falando de alienígenas, não sobre nós", conta.

Por meio da assessoria de imprensa da ABL, o coordenador da Comissão de Lexicografia e Lexicologia da ABL e um dos responsáveis pela
elaboração do vocabulário, Evanildo Bechara, diz que o sufixo "iano" é empregado para nomes terminados em "e" - um exemplo seria "açores", que vira "açoriano".

A ABL diz considerar positivas as manifestações como esta do Acre porque, assim, a sociedade pode discutir questões relacionadas à língua. Segundo a assessoria da academia, "nunca houve no país uma discussão tão rica e profícua".

terça-feira, 24 de março de 2009

Latifúndio (im)produtivo



A enciclopédia livre na internet diz que o termo 'latifúndio' deriva do latim latifundiu. Na antiguidade, era o grande domínio privado da aristocracia. Já no sentido moderno, é um regime de propriedade agrária caracterizado pela concentração desequilibrada de terras pertencentes a poucos proprietários com ou sem aproveitamento físico destas.

Faz algum tempo venho emprestando à Câmara de Xapuri a expressão latifúndio improdutivo porque, além de extremamente corporativista, assistencialista e clientelista, a instituição há muito tempo não produz nada que seja frutificante para a sociedade que representa sob o predicado de "Casa do Povo".

Em certos momentos, as decisões tomadas na surdina e, por que não dizer, as negociatas e os conchavos, urdidos no interior das desde sempre obscuras salas da câmara, deixaram transparecer mais fortemente uma impressão de domínio privado de uma aristocracia avessa aos anseios do povo do que de uma instituição representativa dos interesses coletivos.

Foi assim nas últimas legislaturas e os próprios vereadores remanescentes da renovação promovida pelos eleitores nas últimas eleições não podem negar que o legislativo-mirim padece do descrédito da população e necessita de uma reviravolta tanto na atuação individual como no resultado conjunto do trabalho para poder voltar a gozar da confiança dos munícipes.

Na manhã desta terça-feira, ventos de alguma mudança, ou pelo menos uma tentativa de demostrar transparência quanto às decisões ali tomadas. O vice-presidente da Câmara, vereador José Selmo Dantas (PT), foi à Rádio Educadora explicar os motivos que levaram a mesa diretora a cancelar a sessão ordinária desta semana.

Uma reunião do prefeito Bira Vasconcelos com produtores de uma comunidade rural foi a razão para não acontecer a reunião semanal dos vereadores. Foram convidados para participar do encontro organizado pela Secretaria de Agricultura e consideraram mais produtivo se reunir e ouvir a comunidade in loco que realizar as sempre desérticas e cansativas sessões ordinárias.

Não sei se o interesse maior do encontro, da parte dos vereadores que lá estiveram, era meramente político-eleitoreiro ou se realmente havia a intenção de atender às demandas da comunidade, mas o mais importante é que, diferentemente do episódio ocorrido no ano passado, quando inacreditavelmente nenhum vereador compareceu à câmara em um dia de sessão, desta vez as explicações foram oferecidas.

Quanto à alcunha de latifúndio improdutivo, me comprometo em abrir mão do apelido caso a câmara também assuma o compromisso com as mudanças necessárias e transmute-se em um espaço de debate produtivo e democrático. Em conversa por telefone, na tarde de hoje, o presidente Ronaldo Ferraz se colocou à disposição da imprensa local e me garantiu que a câmara manterá postura de transparência com relação a seus atos. Já não era sem tempo.

O pai do filho feio



Cem dias de arrumação da casa para depois entrar num período de efetiva e gradual transformação da atual realidade de Xapuri. Foi assim que o prefeito Bira Vasconcelos avaliou o atual momento de sua administração em entrevista concedida à Rádio Educadora 6 de Agosto, no início desta semana.

Reconhecendo que o "bicho era mais feio do que se pensava" e que já existe uma cobrança relativamente grande com relação a esperadas ações que ainda não se concretizaram, Bira lembrou dos exemplos recentes de ex-prefeitos de Xapuri sendo condenados pelo Tribunal de Contas do Estado por não observar os limites da lei.

"Temos que ter muito cuidado com as exigências da lei quanto à responsabilidade de nossas ações para não piorar a situação do município. Daremos um passo de cada vez e garanto que teremos um aniversário da cidade muito melhor no ano que vem e muito melhor ainda em 2012, ano em que estarei saindo da prefeitura".

Com os cem dias na iminência de se esgotar, o prefeito viajou a Rio Branco nesta segunda-feira para participar de um encontro de prefeitos com o governador Binho Marques cujo principal objetivo era discutir o Promunicípio, o Pacto pelo Desenvolvimento Social dos Municípios Acreanos, que vai fazer investimentos em áreas prioritárias como educação e saúde.

A expectativa é de que com o anunciado investimento do governo estadual de U$ 150 milhões para ajudar os municípios acreanos, Xapuri possa, enfim, embalar uma etapa de realizações que há muito tempo não são vistas na cidade de Chico Mendes e de tantos outros xapurienses que vivem a esperar por dias mais agradáveis e tranquilos, do ponto de vista econômico e social.

Os próximos meses não serão menos complicados que os primeiros do ano. Já em maio, Bira terá o desafio de construir um acordo com o funcionalismo que está há 4 anos sem reajustes salariais. Passivos durante a última administração, quando foram domados por Vanderley Viana, os sindicatos vão partir para descontar os atrasados nas costas da atual gestão. Já proporam algo em torno de 20% de aumento, o que a prefeitura poderá conceder.

Outro pepino que a prefeitura tem que resolver é a questão da iluminação pública, problema crônico que se arrasta por vários e vários anos sem uma solução definitiva. A população, que paga religiosamente uma contribuição para ter as ruas iluminadas, continua a andar às escuras, sem saber o que está sendo feito do dinheiro que deveria estar sendo investido nesse serviço.

Um impasse entre prefeitura e a Eletroacre, que não repassava os recursos provenientes da contribuição popular em razão de uma dívida de consumo do município, acumulada em R$ 511 mil, já foi resolvido. A prefeitura vai pagar os débitos parceladamente e a Eletroacre passará a efetuar a transferência do dinheiro destinado a iluminar as ruas.

Um fato curioso é que, atualmente, nenhum órgão da prefeitura possui linha telefônica. Estão todas bloqueadas também por motivo de calote contra a Brasiltelecom e outras operadoras de telefonia. O departamento financeiro já identificou cerca de R$ 30 mil em débitos de várias linhas fixas e móveis, utilizadas por assessores e funcionários na administração passada.

O prefeito deve, entretanto, já estar consciente de que não adianta mais remoer a desgraceira deixada pela última administração. A população começa a ficar inquieta e espera que coisas novas comecem a acontecer em curto prazo. Vanderley Viana voltou à sua cova política, de onde esperamos que nunca mais saia, e Bira é, agora, o pai do filho feio e mulambento deixado pelo ex-prefeito.

Xapuri não pode mais esperar

“A maior revolução do nosso tempo é a de que os seres humanos, ao mudarem as atitudes internas de suas mentes, podem mudar os aspectos externos de suas vidas” (William James).

Carlos Estevão Ferreira

Xapuri, que completou 104 anos no ultimo 22 de março, foi berço da revolução acreana e, por muito tempo, reconhecida com méritos como a “princesa do Acre”. Hoje, infelizmente, a “princesa virou plebéia” e os cidadãos xapurienses encontram-se em compasso de espera, novamente. Agora a espera é por “Bira”, Prefeito petista que assumiu no início de 2009. De longe, me parece que os cidadãos se acomodaram. Esqueceram o passado de lutas e, atualmente, vivem a esperar que os outros resolvam seus problemas (governos principalmente).

Eu defendo que Xapuri não pode mais esperar, por ninguém. Chega!! É preciso mudar as coisas e, para isso, o primeiro passo é modificar atitudes. Só assim o futuro dos xapurienses poderá ser reinventado. Defendo que Xapuri necessita iniciar, urgentemente, um processo de construção de sua “visão positiva de futuro”. É hora de para de reclamar, esquecer o Wanderley, o “já teve”. O momento é de iniciativa. Pena que o processo de criação de visão necessita de lideres (visionários) e Xapuri está carente dessas criaturas.

Incomodado com a situação sugerir em artigo recente, publicado no blog “Xapuri Agora”, um modelo de administração societal para a “velha princesa”. Uma maneira de administração com radical participação popular, onde as práticas comuns da gestão privada teriam pouca importância e o foco seria no cidadão, não no cliente. Infelizmente, muitos não entenderam a mensagem. Nessa maneira de gerir a “coisa pública”, inventada por teóricos ligados a partidos de esquerda (se é que existe isso), um planejamento verdadeiramente participativo seria o ponto de partida. Como seria bom se “Bira” saísse do escritório e convocasse a população para que os próprios cidadãos decidissem sobre o futuro da cidade, com certeza estariam mais comprometidos. “Bira” não pode repetir erros passados de passar a decidir sozinho (ou com poucos “iluminados”) todas as coisas pela população.

Concordo com Raimari quando sugere que seja feita mais uma revolução: “a da transformação da cidade em um lugar que corresponda minimamente à fama e à grandeza da história que possui”. Só acho que para a revolução acontecer, a população deverá ser protagonista, não os Governos.

Para reforçar o argumento, relato o seguinte caso: certa vez, um amigo nordestino que trabalha no SEBRAE/RN resolveu visitar Xapuri. Sempre sonhou em conhecer a terra de Chico Mendes, figura que ele admirava muito, principalmente pelo que tinha ouvido falar sobre o “grande líder dos seringueiros”. Após rápidas pedaladas e muito papo (convidei-o para conhecer a cidade de bicicleta), meu amigo confidenciou que a situação da “velha princesa” parecia com uma cidade nordestina que ele havia visitado.

Intrigado com a comparação solicitei que fosse mais específico, foi então que contou-me o seguinte: certa vez, visitando a trabalho duas cidades nordestinas, verificou que o grau de desenvolvimento em ambas era bastante diferente. Em uma, o comércio crescia e existiam indústrias, as famílias possuíam mais renda e o dito “desenvolvimento” parecia acontecer. A cidade até exportava frutas para a Europa. Na outra cidade, que ficava “do outro lado do rio”, a situação era completamente diferente. Pouca renda e muita pobreza, comércio fraco, indústrias nem pensar. A cidade dependia quase que exclusivamente de transferências do Governo. Para ele, a situação era intrigante principalmente porque somente um rio separava as duas localidades. O que poderia está acontecendo para graus de desenvolvimento bastante diferentes?

Investigando, meu amigo percebeu que no lado mais pobre, localizada no Estado da Bahia, todos esperavam o “painho ACM” resolver as coisas. Eram completamente dependentes do velho político. Na outra, diferentemente, os cidadãos eram os protagonistas. Sem um “painho” para resolver, tomavam a iniciativa e realizavam. Guardadas as devidas proporções, a situação pode trazer grandes lições para Xapuri.

◙ O xapuriense Carlos Estevão Ferreira é professor da Ufac e colaborador deste blog.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Calvário


Já ouvi alguém dizer que a energia elétrica no Acre é a mais cara do país. Deve ser também a mais ruim. Não bastasse a constante oscilação na tensão, que ameaça a saúde dos aparelhos eletrônicos, nos últimos dias o consumidor de Xapuri está passando por um verdadeiro calvário com o vai e vem constante da energia.

Só no domingo, dia 22, devem ter sido mais de 10 as interrupções no fornecimento. Em virtude disso, até a programação do aniversário da cidade foi prejudicada. Em casa, o cidadão pagador de impostos não podia assistir ao futebol, a um filme ou navegar na internet com tranquilidade que a "luz" apagava.

Na manhã desta segunda-feira, ouvintes do meu programa de rádio reclamavam de aparelhos queimados e outros prejuízos causados pela inconstância do fornecimento de energia. Previsto para começar a funcionar na próxima semana, o escritório do procon em Xapuri deve iniciar seu trabalho com muitas reclamações.

A gerência da Guascor - empresa espanhola que vende a energia para a Eletroacre - em Xapuri explica que a causa dos apagãos são curto-circuitos. A Eletroacre - que nos vende a peso de ouro a energia que compra da Guascor - informa que a rede de eletrificação rural é a maior responsável pelas quedas de energia na cidade. Quedas de galhos e outros incidentes mais comuns no período chuvoso são as causas dos "curtos", os vilões do apaga-apaga.

A verdade é que a despeito da alta taxa de energia que cobra dos consumidores, a Eletroacre não mantém, no município, um contingente capaz de dar conta da demanda de serviços existente. Há apenas uma equipe para atender aaos problemas da cidade e do campo. Dias atrás, um cabo de alta tensão permaneceu por mais de 40 minutos caído na rua Cel. Brandão, nas proximidades do prédio do TRE, colocando em risco a vida dos passantes.

Em breve o esforço das usinas termelétricas devem substituídas pela energia produzida pelas hidrelétricas, mais barata, dizem. Não sei qual será a vantagem para nós, pobres mortais viciados no consumo dessa droga chamada eletricidade. Será que vai melhorar a qualidade da energia? O preço vai baixar? E a alíquota do ICMS, baixa? A nós, vítimas compulsórias do sistema, resta esperar pra ver.

Territórios da Cidadania

Governo Federal investe mais R$ 124,8 milhões no Acre



O Governo Federal ampliou os investimentos e o alcance do Programa Territórios da Cidadania no Acre. Em 2009 serão destinados R$ 124,8 milhões para o desenvolvimento de ações integradas de apoio a atividades produtivas, de cidadania e acesso a direitos e de qualificação da infraestrutura nos dois Territórios da Cidadania Estado. O Programa, que em 2008 beneficiou a região do Alto Acre e Capixaba, este ano também atenderá o Território da Cidadania Vale do Juruá.

Nesta segunda-feira (23), em Salvador (BA), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lança a segunda etapa do Territórios da Cidadania. O Programa tem como objetivos promover o desenvolvimento regional e universalizar programas básicos de cidadania em regiões que mais precisam, especialmente no meio rural.

Em 2008, na primeira etapa, o Programa atendeu 60 Territórios da Cidadania em todo o País. Até 31 de dezembro, o Governo Federal destinou R$ 9,3 bilhões para o pagamento de obras e serviços realizados por meio do Programa nesses Territórios. No Acre, o volume de pagamentos totalizou R$ 43,9 milhões. Outras ações autorizadas em 2008 continuam sendo desenvolvidas no Estado.

Em 2009, o Programa foi ampliado de 60 para 120 Territórios da Cidadania, com investimentos previstos da ordem de R$ 23,5 bilhões. As ações integradas serão desenvolvidas por 22 ministérios do Governo Federal, em parceria com estados, municípios e a sociedade civil.

Representantes dos três poderes e da sociedade integram o Colegiado Territorial, responsável por definir prioridades e contribuir para enriquecer o conjunto de ações programadas pelo Governo Federal para o Território. A partir deste ano, os governos estaduais também poderão apresentar aos Colegiados Territoriais ações que planejam desenvolver nos territórios.

Investimentos nos Territórios da Cidadania do Acre em 2009:

Alto Acre e Capixaba R$ 51.021.965,45

Vale do Juruá R$ 73.801.456,38

Total R$ 124.823.421,83

◙ Com informações da Assessoria de Comunicação Social MDA/Incra.

domingo, 22 de março de 2009

Xapuri 104 anos

Cidade histórica que não se dá valor

Éden Barros Mota

Xapuri, como todos sabemos e a própria história nos diz, foi o berço da Revolução Acreana. Foi na antiga Intendência Boliviana, localizada na Rua 17 de Novembro que se iniciou a conquista do Acre para o Brasil. Além desse fato notadamente histórico, temos um outro, também ocorrido no século passado. Trata-se da figura do ex-seringalista e ex-sindicalista Francisco Alves Mendes Filho.

É bem verdade que nenhuma cidade do Acre lucrou coisa alguma com o fato histórico ligado à Revolução Acreana, uma vez que tal fato só se notabilizou para nós acreanos. Para o restante da Nação em nada contribuiu.

Em relação ao segundo fato ligado ao líder ecologista "Chico Mendes" a coisa muda de figura. Apenas quem lucra com a figura do líder sindical é a capital do Acre. São avenidas, praças, monumentos, tudo em nome do líder sindical. Ou seja, o nome do líder sindical só serve para a capital, para nós pobre filhos de Xapuri, nem a migalha do pão.

Xapuri é a cidade que todos querem conhecer. É a cidade histórica que nem mesmo os governos (falo de todos, sem exceção) deram valor à sua causa histórica. Em todos os Estados de nosso País há uma cidade onde a mesma é símbolo da história e do orgulho de um povo. Em nosso Estado a história e o orgulho é só do ouvir dizer.

O que temos para visitar em Xapuri em relação a história de Chico Mendes? o casebre no qual ele morreu e a Fundação que fica ao lado. Estou aqui na expectativa que alguém me informe outros pontos.

Não se explora absolutamente nada em relação a qualquer fato histórico. O próprio Estado ainda não se conscientizou de que Xapuri é uma porta de entrada para o turismo ecológico, fonte de renda para a população carente de nossa cidade.

Até o presente momento, nesses 104 anos de Xapuri, se vê a cidade e as pessoas agonizando. Sem investimento, sem recursos e com os cofres vazios em razão da última administração.

Antes a reposta que nos dávamos era a de que o prefeito anterior não pedia recursos ao Governo Estadual. Bom, agora essa desculpa não convence mais, mesmo porque do Prefeito ao Presidente todos remam na mesma direção.

História, essa é uma bela saída para embelezarmos nossa cidade, difundirmos nossa história, darmos vida à nossa maravilhosa cidade.

◙ Éden Barros Mota é xapuriense.



Imagens do descaso

Exposto ao sol e à chuva em uma oficina mecânica de Epitaciolândia para quem quiser ver ou fotografar. Esta é a situação de um ônibus escolar pertencente à Secretaria Municipal de Educação de Xapuri que deveria estar fazendo o transporte de alunos da rede pública de ensino.




O veículo foi completamente depenado e depois abandonado no local, onde permanece ao relento há quase dois anos. Segundo informações do proprietário da oficina, as peças foram retiradas do ônibus com autorização do ex-prefeito Vanderley Viana.

O atual prefeito de Xapuri, Bira Vasconcelos, vai mover ação civil pública contra o ex-prefeito em virtude da situação em que o patrimônio da prefeitura foi deixado. A maior parte da frota está quebrada e outros equipamentos, como informou a equipe de Vanderley Viana, sabe Deus onde estão.

Xapuri: 104 anos da cidade de Chico Mendes



A mais mundialmente conhecida cidade acreana está completando hoje seu 104º aniversário de fundação sem muitos motivos para comemorar. Dona epítetos gloriosos como "Berço da Revolução Acreana" e "Princesinha do Acre", Xapuri vive do passado. A revolução já tem mais de 100 anos e o seu melhor período de progresso e desenvolvimento, que lhe rendeu a nobre alcunha, remonta da primeira metade do século passado, talvez.





Até Chico Mendes, derradeiro de uma lista de grandes vultos que a cidade se acostumou a produzir - e este o grande responsável por toda a notoriedade que Xapuri possui no Brasil e no mundo -, já faz parte de um tempo que parece muito distante, apesar de fazer pouco mais de 20 anos, apenas, que seu corpo e seus ideais foram enterrados no longínquo dezembro de 1988.

"Terra do já teve" é outra designação, essa pessimista, da realidade de Xapuri. A cidade já teve, realmente, muita coisa que hoje já não existe. Cinema, desfile de escolas de samba, comércio esplendoroso, um futebol recheado de craques, uma das melhores instituições educacionais da região Norte - o colégio Divina Providência -, entre outras tantas que já se vêem nos dias atuais.

Assolada por sucessivas administrações que oscilaram entre o ridículo e o catastrófico, a cidade aparenta haver parado no tempo. Os visitantes, quando retornam ao lugar, sempre encontram a mesma coisa, e quando há mudanças visíveis, geralmente estas são para pior. A última administração, de Vanderley Viana, institucionalizou o caos e meteu a atual, de Bira Vasconcelos, numa camisa de onze varas.



Em pouco menos de 3 meses de trabalho, a nova gestão ainda não conseguiu se desvencilhar da herança maldita recebida junto com a faixa de prefeito. Enrolada em dívidas anteriores, algumas absurdas, como, por exemplo, R$ 30 mil em diversas linhas telefônicas usadas por assessores do ex-prefeito, a prefeitura tenta se organizar para engrenar um conjunto de ações impactantes que nudem o visual da cidade, que ainda tem a cara de Vanderley Viana.

Quando assumiu o cargo de prefeito, em janeiro deste ano, Bira Vasconcelos apregoou que Xapuri passara, já, por três revoluções: a Revolução Acreana, chefiada por Plácido de Castro; a revolução ambiental, liderada por Chico Mendes; e a revolução da ética, que teria o levado à vitória nas últimas eleições. Sugiro, então, que seja feita mais uma revolução: a da transformação da cidade em um lugar que corresponda minimamente à fama e à grandeza da história que possui.

Esse, sem dúvidas, será o grande presente que a população espera receber nos próximos aniversários da nossa cidade. Parabéns a Xapuri e à sua gente honesta e trabalhadora, que labuta todos os dias para ver tempos melhores em um futuro não muito distante. Apesar da consciência de que muitas das parasitas que sugam a vida de Xapuri continuam presentes, acredito ainda ser maioria a parcela da população que comunga desse mesmo objetivo.

sábado, 21 de março de 2009

Jarbas Passarinho e a Amazônia

Foto Paulo Santos/Interfoto
Texto: Cláudio Leal
O coronel reformado do Exército e ex-ministro da Justiça Jarbas Passarinho, 88 anos, remexe a ironia ao reclamar das dores na perna:
- Meus problemas estão todos na esquerda…
Na lista médica, além da perna, inclui ainda o joelho e o ombro esquerdos. Quando vai à fisioterapia no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, comete a delicadeza de informar:
- Doutor, não pergunte onde é. Procure na esquerda que acha!
Dados para uma teoria da predestinação ideológica. No futebol, em sua tenra juventude paraense, Passarinho era lateral… direito.
- No tempo em que eram cinco atacantes - acrescenta.
Recuemos para seu primeiro jogo na escola militar, em 1941. Um trombaço tira do eixo o futuro ministro de três governos militares. Dura dividida.
- Me arrebentaram numa disputa com a bola. Arrebentei o joelho, os ligamentos e o famoso menisco. Atrofiei um pouco a perna esquerda, mas depois recuperei. Não ficou igual. Agora que está tudo fora da garantia, tem que aguentar.
Outra dor, não exatamente física, o mobiliza nos últimos meses. Guarda em seu arquivo, “prontinho”, um livro sobre a Amazônia. Mas não consegue publicá-lo. A editora UniverCidade, do Rio de Janeiro, acertou a edição no ano passado.
- Com a crise financeira, houve um recuo. Não tenho meios financeiros para bancar - diz o ex-ministro.
Nascido em Xapuri (AC) e criado no Pará, onde foi governador durante a ditadura (1964-1966), Passarinho ocupou o Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia e realizou inúmeras viagens à fronteira.
Tornou-se um dos ideólogos da ocupação amazônica. Levou essa carga de experiência às páginas datilografadas em sua máquina Olivetti (mais tarde, transferidas para o computador). Por sugestão da primeira editora, definiu como título: “Planetarização da Amazônia?”.
- Tive o cuidado total de não ser faccioso. Coloquei fatos para serem julgados com dados concretos. Não sei se vou conseguir ainda em minha vida publicar esse livro.
Em entrevista ao Blog da Amazônia, Jarbas Passarinho oferece “um resumo apaixonado”. No cerne da obra, a tese de que a maior ameaça à soberania nacional, na Amazônia, é o “vazio militar”.
Ontem, por dez votos a um, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram pela legalidade da demarcação de forma contínua da reserva indígena Raposa/Serra do Sol e determinaram a retirada de não-índios.
- Eles [os militares] acham que, a partir do momento que há linha contínua [na demarcação de terras indígenas], e ela passa da fronteira, a soberania do Brasil está atingida. Não está, não. Eu digo que a defesa está atingida pelo vazio militar.
Essa ideia reduziu “seu Ibope” no meio verde-oliva, brinca. Mas sustenta a argumentação com um exemplo:
- Nós temos outras demarcações, de índios também, mas garantidas, porque são áreas do Sul do Brasil onde a presença militar é forte.
As imagens que ilustram essa reportagem são de um ensaio do fotógrafo Paulo Santos. Confira os principais trechos da conversa no Blog da Amazônia.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Procon chega a Xapuri



Será assinado no próximo domingo, 22, o convênio entre prefeitura e Procon Estadual que cria o órgão de defesa do consumidor em Xapuri. O Procon tem como principais atribuições orientar os consumidores, fiscalizar empresas e denunciar ocorrências de infrações, além de intermediar conflitos entre consumidores e fornecedores.

O escritório do Procon em Xapuri vai funcionar na rua Cel. Brandão, ao lado da Secretaria de Ação Social, a quem o órgão estará vinculado no município. Dois servidores da prefeitura estão sendo capacitados para operar o sistema, que também já está sendo instalado, e o atendimento à população deve começar na próxima segunda-feira.

Xapuri será o segundo município do interior do Acre a contar com o órgão, o primeiro foi Sena Madureira. Leno D'Ávila, gerente de tecnologia da informação do Procon/Acre, afirma que a população de baixa renda é a maior beneficiada com a medida. "Consumidores de baixa renda não têm como contratar assistência jurídica para defender seus direitos", diz ele.

No lançamento do Procon, que acontece no dia do aniversário de 104 anos de fundação da cidade, o órgão apresentará uma peça teatral intitulada "Não consuma o consumidor", abordando temas do Código de Defesa do Consumidor, que em setembro próximo comemora 19 anos de criação no Brasil.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Rio Branco em Roraima

Do Globoesporte.com

A Fifa publicou nesta quinta-feira, em seu site oficial, um guia com as 17 cidades brasileiras candidatas a receber jogos da Copa do Mundo de 2014. Cada cidade ganhou um texto com referências a seu histórico, tanto nos aspectos sociais como nos futebolísticos. Duas gafes, entretanto, mancharam a apresentação, que mais tarde foi corrigida.


Reprodução do site da Fifa. O 'x' em azul marca a real localização de Rio Branco (clique na imagem).

No mapa do Brasil que servia como ponto de partida para as matérias sobre as cidades, Rio Branco, a capital do Acre, foi apontada na região onde de fato está localizado o estado de Roraima. E havia mais: São Paulo, a maior cidade brasileira, foi descrita na apresentação como "San Paulo".

Na matéria sobre São Paulo, por sinal, a foto apresentada para descrever a cidade, que não tem praias, era do Forte de São Marcelo, em Salvador. A imagem mostrava embarcações navegando.

Das 17 cidades candidatas, 12 serão escolhidas para receber jogos da Copa de 2014. O anúncio oficial será feito pela Fifa no fim de maio, durante um congresso em Bahamas.

Resendemóvel



O novo ônibus do Flamengo tem placa da cidade de Resende. Nada demais, caso não tivesse sido o time da cidade do interior fluminense o responsável pela desclassificação do rubro-negro carioca na Taça Guanabara deste ano em pleno Maracanã. O urubu perdeu por 2X0 e fez a alegria da maior torcida do Brasil, a galera antiflamenguista, que sugeriu o título do post: Resendemóvel. Mas, atenção, flamenguistas: nada de resendimentos.

Os cães passam e a caravana ladra

Tomo emprestado no blog do Altino Machado esta excelente crônica de Leila Jalul:

Por motivos de força maior, felizmente uma virose nas aéreas superiores, fiquei a ver a roda do mundo girando, girando, girando, até entontecer. E, pior, entontecer sem uma única latinha da minha preferida. Já está passando e nem ladrei.

Comecei por ver o excomungador do futuro, reacionário, estúpido e malfazejo lá das bandas de Recife e Olinda. Mais um vexame da apostólica romana, despreparada, obtusa e de viseiras para a o desenvolvimento do mundo. Também pudera, seu já muito reduzido cast engloba uma porção significativa de praticantes de sexos com anjos, aqui e alhures.

Acentuando mais ainda a grande hipocrisia, lá se vai o grande mentecapto e ariano da nada Santa Sé declarar, em plena África, que o uso de camisinhas, ao contrario de evitar a contaminação da AIDS, provoca efeitos mais nocivos. Penso eu que esta prosaica declaração é resultante de pesquisas realizadas nos porões do Vaticano. Ciência sagrada, pois. Ciência sem probabilidade de erros, pois.

Felizmente a igreja católica está em vias da bancarrota. Não me causa dó. Louvo as baleias, os peixes-bois e as araras azuis. Se elas forem salvas me darei por feliz.

Ainda no repouso da afonia descubro, aqui onde moro, uma penca de pastores evangélicos que inventaram o trízimo. Não é mais dízimo. É trintão por cento do que a classe pobre e ignóbil está pagando para alimentar o condutor de ovelhas das burras e inocentes almas. Estelionatários da fé. O difícil é escolher entre o excomungador e teólogo que faz apologia do atraso da ciência e o cobrador do trízimo. Que o fogo do inferno lhes seja suave.

Hoje, já com um pouco mais de voz, nariz desentupido, leio, releio e vejo e revejo o vídeo gravado com um desabafo do meu velho amigo Abrahim Maluf Farhat, mais conhecido por Brachula ou Lhé. O meu querido Lhé, cujo único pecado é ser primo do Paulo Maluf, está albinizado pelo vitiligo.

É um lutador da causa palestina e das causas acreanas. Parece uma figurinha folclórica, jeitão de andarilho, alpercatas nos pés, quase sempre de branco. Às vezes gozado pelos intelectualóides, Lhé carrega em seu peito a vontade de ver justiça nos bairros, nas esquinas, nas ruas. Um mundo azul, digamos assim.

Amigo de Lula desde que o PT era PT, está desiludido com as mudanças de rotas. Lhé esqueceu de mudar junto, daí a desilusão. Embora não admita que o poder já corrompeu o que ele achava incorruptível, espero que Lhé passe a entender que os puristas são maçãs podres e dispensáveis na nova era.

Que sonhe com o tempo passado, de lutas e passeatas, prisões e mortes, sem perder o prumo e a constatação que o PT não é mais aquele PT e, embora com quase 30 anos, está eivado de vícios seculares, tanto quanto os outros, ou até mais. A palavra de ordem agora é outra. Os quadros novos anularam os que abriram caminhos.

Acho que foi Ruy Barbosa quem falou a seguinte frase: burro é quem pretende se manter estático diante de um mundo de constantes renovações (mais ou menos isso). Que Lhé se renove pode até ser necessário, desde que não absorva e saboreie carniças junto com os abutres.

Há gente boa no meio dessa revoada de jacus. Se tiverem inteligência, podem e devem prestar uma atençãozinha aos reclamos, resmungos, denúncias e críticas destacadas pelo velho companheiro Lhé.

Agora vou comer meu pão sírio com azeite extra virgem, zata e dois dentes de alho. Só para lembrar do Lhé e ajudar na cura da virose. E ademã que eu vou em frente. A semana foi cheia, os cães estão passando e a caravana ladrando.

◙ Leila Jalul é cronista acreana

Cheia do Rio Acre



Estive em Rio Branco nos últimos dois dias e, sem acesso à internet, não pude atualizar o blog desde a segunda-feira. Volto hoje publicando essa imagem do repórter fotográfico Gleison Gomes, da cheia do rio Acre, na área central da cidade. O rio já atingiu a cota de transbordamento e com as fortes chuvas que caíram na região de Xapuri e Brasiléia nesta quarta-feira, a tendência é de que a situação se agrave na capital. Clique na foto para ampliar.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Marolinha


Ique - JB Online

O ilusionista

Luciano Pires

Mágicos e ilusionistas me fascinam. E existe uma diferenciação entre eles. Mágicos seriam os profissionais que fazem truques usando o mínimo de auxílio externo. Ilusionistas seriam o oposto. Aqueles shows sofisticados, cheios de iluminação, fumaça, traquitanas, belas ajudantes, elefantes, caminhões e explosões são coisa de ilusionistas. Mas tanto o mágico como o ilusionista só são bem sucedidos quando conseguem comandar nossa atenção. É aí que está o truque: comandar nossa atenção. Enquanto focamos a atenção na fumaça, nos espelhos, na ajudante, no gesto largo, na capa vermelha ou na varinha mágica o ilusionista e o mágico realizam o truque que nos deixa maravilhados.

Atenção é o nome do jogo. É a partir dela que eles conseguem trabalhar nossas sensações e percepções. Quando não conseguimos prestar atenção a alguma coisa, essa coisa não fica gravada em nossa memória. E o ilusionista aproveita...

Foi o filósofo grego Platão que lançou cerca de 2500 anos atrás as bases da Epistemologia, a teoria do conhecimento. Ele disse que o que nós conhecemos não é o mundo físico, mas sua versão organizada, estruturada e categorizada por nossa mente.


Antes de perceber qualquer coisa nossas mentes precisam assimilar e interpretar os dados brutos que chegam através de nossos sentidos. É a partir do som que ouvimos, da imagem que observamos, do texto que lemos, do cheiro que sentimos, da textura apreciada por nossos dedos que nosso cérebro fará deduções. Cruzará esses dados com nossas memórias e experiências novas e passadas para colocar algum sentido nas coisas que acontecem ao nosso redor. E antes de ter alguma utilidade para nós esse processo de interpretar o mundo passa por estados de consciência e semi-consciência. Mas o mais importante: o processo depende em grande parte do que temos dentro de nossa cachola. De nosso repertório. Do que aprendemos com nossas experiências. Quanto mais repertório, experiências, cruzamentos e deduções, mais refinada será nossa interpretação do mundo.

Se você só lê a revista Caras, frequenta a baladinha e assiste o BBB, terá um limitado repertório para entender o mundo. O mesmo acontece com seu linguajar. Se você não lê, não conseguirá expressar seus argumentos naquela reunião, diante daquele cliente ou da pessoa amada.

Simples, né?

Agora imagine o mundo de hoje, repleto de "ilusionistas" (atenção: aspas!) usando cores, explosões, cheiros, luzes e formas para atrair nossa atenção. Nesse mundo, bundas vendem cerveja. Carrões vendem cigarros. Manchetes vendem remédios para aquela doença que você nem sabia que existia. E que agora sabe... Nesse mundo, quem promete o céu no futuro ganha a permissão para apagar o passado e cometer barbaridades no presente. Nesse mundo um "ilusionista" faz com que vejamos a realidade - e tomemos as decisões - que ele quiser.

Para escapar dos "ilusionistas" não existe mágica. É preciso ampliar seu repertório para fazer reflexões mais ricas, comparações mais diversificadas e julgamentos mais adequados. Caso contrário você vai continuar perplexo com planos espetaculares que não existem, se divertindo com a pomba que sumiu, com a mulher cortada ao meio e o com o coelho que saiu da cartola.

Mas jamais perceberá quando eles baterem sua carteira.

◙ Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista.