terça-feira, 21 de agosto de 2012

Em quem votar

José Mastrangelo

Pra, no futuro, não se arrepender, o eleitor tem que tomar alguns cuidados na escolha do candidato, nas eleições do dia 7 de outubro. Cuidado com a vida regressa do candidato. A filtragem de um candidato “ficha suja” ou “ficha limpa” vale mais ao eleitor do que à Justiça Eleitoral. O único impedimento que a lei coloca ao candidato é não ter condenação transitada e julgada, ou seja, não ter sentença condenatória definitiva.

O cuidado sobre a vida regressa do candidato não se refere apenas a processos, escândalos e denúncias de corrupção, mas também a fatos nebulosos, que, por conveniências políticas, às vezes, são guardados sob o maior sigilo.

Cuidado com a atuação do candidato. Servidor público, como o são prefeito e vereador, não se faz do dia à noite. Tem que analisar se ele teve atuação comunitária, se é uma pessoa com sintomas claros de liderança e se é uma pessoa com sinais evidentes de ser solidária com as pessoas que precisam.

Cuidado com o candidato que “sai do nada”. Um bombeiro não será um bom vereador só porque salvou a vida de uma criança e virou notícia local, estadual e nacional.

O vereador precisa conhecer o funcionamento do município, o orçamento e a lei orgânica da cidade porque, além de propor e votar projetos de lei, vai aprovar e fiscalizar a aplicação do dinheiro que a cidade tem em caixa e analisar as contas do prefeito.

Apenas boas ideias não bastam para o candidato a prefeito. Quem se candidata a dirigir um município tem que ser um bom gestor; conhecer as leis, o orçamento e ter boa capacidade de avaliação e criatividade. Um mau gestor afunda o município não só por aquela gestão, mas por muitas décadas, porque os efeitos são prolongados.

Cuidado com as falsas promessas do candidato. Tem candidato, que promete ponte para a Lua. E aí o eleitor acredita, cai nessa historinha e depois se arrepende. O eleitor tem que conhecer o limite do cargo em disputa. É comum encontrar um candidato a vereador que promete fazer obras. É bom lembrar que isto não é função do vereador, mas sim do prefeito.

Cuidado com o candidato abundante. O candidato, que promete dar uma solução a todos os problemas da cidade, com certeza está exagerando e mentindo muito. O eleitor tem que descartá-lo e anulá-lo imediatamente, bem antes do dia da eleição. É uma fria.

Cuidado com o candidato “cão”. Apesar de sua aparência mansa e sorridente, morde muito. Arranca o coração do eleitor, se é preciso. Está bem aí, neste momento, na sua frente, latindo para ter o seu voto.

Cuidado com o candidato “honesto”. O eleitor passa a desconfiar do candidato que, a toda hora, repete que é “honesto”. Não precisa dizer que é honesto, pois, segundo o jargão jurídico, até que se prove o contrário, todo cidadão é honesto.

Cuidado com o candidato beijoqueiro. Geralmente, o candidato, que abusa em beijar, apertar mãos, dar tapinhas nas costas e abraçar, ao contrário do que possa aparecer, sofre desvios psíquicos crônicos, com evidência de dupla personalidade. As manifestações positivas de amor e afeto são formas compensatórias. Em verdade, escondem uma alma desumana, maldosa e perversa.

Cuidado com a propaganda. A dona de casa não compra o sabão em pó pela propaganda. A propaganda a leva a comprar. Se o sabão não presta e mancha a roupa, ela (dona de casa) não compra mais. Assim, a propaganda deve chamar atenção para o candidato e para o programa. O que a propaganda faz, na maior parte do tempo, é embelezar o produto. É preciso testar a qualidade do produto. É preciso procurar o Inmetro da política. A propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV não é uma boa forma de se avaliar um candidato.

Cuidado com o candidato fascista. Aparece tão bom na telinha, que até consegue persuadir e convencer. Em verdade, está usando uma máscara. Na realidade, à direita, ele é fascista e nazista e, à esquerda, ele é um stalinista. Em todos os casos, numa linguagem mais próxima, é autoritário, totalitário, arrogante, presunçoso, sujo e corruptor.

Em quem votar? Antes de clicar o voto, o eleitor tem que tomar esses cuidados.

O professor José Mastrangelo, filósofo e teólogo, italiano de nascimento e acreano de coração, faleceu em 2009 deixando uma enorme contribuição intelectual ao Acre. O atualíssimo texto acima ele escreveu às vésperas das eleições de 2008 para o site Ac24horas.

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