sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Intolerância

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Confesso que, apesar de não ser daqueles que andam com a Bíblia debaixo do braço, meus brios costumam ser ofendidos pela audácia de alguns que, do "alto" de sua ignorância, se põem a envergar as vestes da sabedoria suprema para condenar sumariamente ao fogo do inferno aqueles que no exercício de sua liberdade religiosa não comungam com as suas estapafúrdias ideias. Digo isso com todo respeito aos cristãos chamados evangélicos, em sua maioria pessoas sensatas e respeitadoras das boas normas de convívio em sociedade. Me dirijo apenas àqueles a quem a carapuça possa servir.
        
Tem sido cada vez mais comum que manifestações de teor altamente preconceituoso e eivadas de uma intolerância só vista nas cabeças de fanáticos religiosos do oriente médio, sejam propagadas na internet, onde circula todo o tipo de informação, desde receita de bolo a fórmulas para a fabricação de bombas sujas. O que não é normal é que pessoas instruídas, muitas vezes ocupantes de cargos públicos, o que enseja que as mesmas sejam conhecedoras das leis do país, se deem ao trabalho de fazer uso delas para ridicularizar e perseguir seus semelhantes.

Ora, sem querer iniciar aqui uma discussão religiosa e muito menos de me propor a esse tipo de debate, mas pergunto: se a Igreja Católica é a meretriz anunciada pelos nazi-fascistas do protestantismo, o que serão aquelas chamadas evangélicas se não as filhas daquela outra? Não acredito em perfeição abaixo dos céus, muito menos em pessoas que se escondem sob o manto de uma religião para a partir dali se investir de autoridade divina para pregar o preconceito e a discriminação.

A "santa" inquisição é, sem dúvidas, a grande nódoa na trajetória da igreja fundada por Pedro, mas os absurdos perpetrados pelas instituições religiosas não exclusividades do Catolicismo. O holocausto, que vitimou milhões de judeus durante a II Guerra Mundial, teve - lá atrás - o apoio de Martinho Lutero, cujas ideias influenciaram a Reforma Protestante. Os próprios pastores evangélicos alemães apoiaram o Nazismo. Vejam o que diz a história:
“Dentre os 17.000 pastores evangélicos da Alemanha, nem 1% se negaram a apoiar o regime nazista”. (Fonte: History of Christianity, de Paul Johnson).

Tudo começou quando Lutero escreveu um diabólico panfleto chamado: "Von den Juden und ihren Lügen", o que significa: “contra os judeus e suas mentiras" obra esta reproduzida na "História do Anti-semitismo", de Leon Poliakov. Dizia o raivoso Lutero contra os judeus:

“(…) Finalmente, no meu tempo, foram expulsos de Ratisbona, Magdeburgo e de muitos outros lugares… Um judeu, um coração judaico, são tão duros como a madeira, a pedra, o ferro, como o próprio diabo. Em suma, são filhos do demônio, condenados às chamas do Inferno. Os judeus são pequenos demônios destinados ao inferno.” (‘Luther’s Works,’ Pelikan, Vol. XX, pp. 2230).

"Queime suas sinagogas. Negue a eles o que disse anteriormente. Force-os a trabalhar e trate-os com toda sorte de severidade … são inúteis, devemos tratá-los como cachorros loucos, para não sermos parceiros em suas blasfêmias e vícios, e para que não recebamos a ira de Deus sobre nós. Eu estou fazendo a minha parte.” (‘About the Jews and Their Lies,’ citado em O’Hare, in ‘The Facts About Luther, TAN Books, 1987, p. 290).

Utilizo as citações acima somente para lembrar que o erro faz parte da trajetória do ser humano na terra. Protestantes ou católicos, todos estão sob a mesma condição de pequenez e desconhecimento dos grandes mistérios do mundo. Essa é a grande verdade. De bom alvitre é cada um professar sua fé de acordo com suas normas e tradições e não esquecer que, religiosos ou não, estamos todos obrigados a respeitar as leis terrenas criadas com a intenção de tornar a convivência neste mundo um tanto menos complicada.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Importante

Francisco Braga

Eu sempre fui um parasita. Nunca deitei sob um teto que não fosse de alguma pessoa que me tivesse amparado. Tenho meio século de vida, menos algumas horas. Sou egoísta, trapaceiro e mentiroso. Por ser desprovido de honra, vergonha na cara e moral suporto ofensas, agressões, desprezo e escárnio sem problemas. Tenho preguiça, sou incompetente e irresponsável. Fujo do trabalho. Sou folgado.

Rude, grosseiro, cruel esnobo quem me ama. Também nunca amei verdadeiramente pessoa alguma. Frequentemente, sem o menor remorso, desprezo minha família e exalto meus amigos por conveniência. Sou perdulário, hipócrita e dissimulado. Sou invejoso, aproveitador, cínico e covarde. Não tenho escrúpulos nem remorso quando engano, desrespeito e humilho quem não me convém.

Roubo, trapaceio, exploro e abandono qualquer pessoa. Seja mãe, irmãos, filhos, amigos. Sou ingrato, falso, perverso, infiel e insensível. Não tenho respeito por ninguém, sou inconveniente, indiscreto e mal educado. Sou orgulhoso e vingativo. Não sinto pena de ninguém. Sou destemperado, deselegante e violento. Sem controle, indisciplinado, não tenho metas, sou desastrado. Não tenho discernimento.

Sou feio, mal arrumado, fedo. Fumo, bebo, jogo. Sou pervertido. Ando mal acompanhado. Sou arruaceiro, desqualificado, detestável, tosco, doente, ordinário, insignificante. Mas, ainda assim, com todos esses atributos desprezíveis e abomináveis alguém foi maravilhosamente bondoso comigo. Me fez acreditar que sou importante, quando morreu em meu lugar, pregado numa cruz.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Francisco Braga é cartunista.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Professor Anthero Soares Bezerra

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Cemitérios sempre me despertaram um sentimento misto de medo e curiosidade. Entrar em um deles remete-me, inevitavelmente, ao pensamento que procuramos manter afastado do rol de nossas principais preocupações em vida. Salutarmente, evitamos pensar na morte mesmo sabendo ser ela a única certeza de nossa existência. Por outro lado, as necrópoles também me despertam o interesse pelas muitas histórias de vidas encerradas em seus túmulos frios e silenciosos. Como e quando viveram, como morreram, e o que fizeram por este mundo em que continuamos a dar sequência à vida - até que seja chegada a nossa vez - são alguns dos questionamentos que alimentam esse interesse.

Essa curiosidade me faz perambular quase que todos os anos por entre as antigas catacumbas e os modernos jazigos construídos pelas famílias mais abastadas financeiramente. É realmente curioso que mesmo após a morte, destino comum a todos os viventes, as pessoas continuem a ser distinguidas pela condição social e econômica que ostentaram em vida. Simples sepulturas, muitas vezes providas apenas de mera cruz de madeira, dividem o espaço mais democrático do mundo com túmulos bem ornados e capelas recobertas de caríssimas peças de mármore e belos epitáfios que denunciam a notoriedade de alguns e o anonimato de outros tantos.

Outra realidade que se nota ao visitar o cemitério São José, em Xapuri, é o abandono de vários túmulos, muitos dos quais, de tão antigos, já se encontram quase que completamente destruídos pela ação inexorável do tempo. Impossível saber ao certo a razão desse triste abandono que fatalmente culminará com o total desaparecimento daquilo que certamente representa o último vestígio material da existência e da passagem de um ser humano pela vida terrena. Famílias que deixaram a cidade para viver em locais distantes ou pessoas que vieram de outros lugares para cá e que, ao morrer, não deixarem quem zelasse de sua última morada são algumas das circunstâncias que imagino explicar o o injustificável esquecimento.

Todo esse preâmbulo teve por objetivo me permitir dizer que entre os muitos túmulos antigos e abandonados do cemitério de Xapuri, está o de um personagem ilustre da história da cidade. Trata-se do professor cearense Anthero Soares Bezerra, que relevantes serviços prestou à nossa educação no fim do século XIX e começo do século XX, motivo pelo qual dá nome a uma das principais escolas da rede estadual de ensino no município. O educador nasceu no distante ano de 1855 e faleceu em 1927, em um dia 25 de dezembro.

Certa vez, sugeri a um vereador conhecido meu que indicasse ao município a recuperação do mausoléu do professor Anthero Soares Bezerra. Seria o mínimo que se poderia fazer pela memória - quase que perdida - de uma pessoa que, além de haver contribuído sobremaneira com os esforços de progresso e desenvolvimento da cidade, nos honrou em entregar seus restos mortais a esta terra distante, que certamente adotou como sua. Minha sugestão, é claro, não foi ouvida e o tal vereador foi merecidamente sepultado politicamente nas eleições seguintes, se tornando tão justamente esquecido quão injustamente foi o ilustre professor.

Penso em voltar a sugerir a providência ao poder público. A morte deve ser razão para saudade e lembrança, mas jamais para o abandono a que muitos personagens de nossa história, anônimos ou não, estão relegados. Se pensarmos bem, e isso é certo, esse abandono já começa em vida para se estender pela viagem mais longa e desconhecida para a qual todos os seres humanos têm bilhetes garantidos, mas apenas não sabem o dia do check-in.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

“Instituição xapuriense”

Juvena

Há cinco anos, mais precisamente no dia 19 de janeiro de 2009, durante um evento musical intitulado “Forró no Seringal”, que era realizado na praça São Gabriel, fazendo parte da programação dos 107 anos da Festa de São Sebastião, padroeiro de Xapuri, o sanfoneiro Juvenal Aquino se apresentou ao lado de outro tocador chamado Teté, de Rio Branco. Ao meu lado, na plateia, alguém sussurrou: “Juvenal é uma instituição xapuriense”.

Juvenal Aquino nasceu no seringal Apodi, nas margens do rio Xapuri, sendo o único xapuriense de nascimento em uma família de 12 irmãos. Seus pais, Teodoro Rodrigues da Silva, cearense de Sobral, e sua mãe, Rita Tomás de Aquino, paraense de Castanhal, vieram para o Acre nos anos de 1940. Na dura viagem de barco entre Castanhal e as matas de Xapuri, morreram três dos 11 filhos que traziam.

Conheço o sanfoneiro desde os tempos em que meu falecido pai adotivo, Antônio Firmino, era comboieiro nas matas dos seringais Novo Catete, Albrácia, Sibéria e outros. Quando vinhamos à cidade, era inevitável aquela visita ao “Remanso” para ouvir o Juvenal tocar sucessos de artistas renomados. Trio Nordestino, Luiz Gonzaga, Zé Calixto e Noca do Acordeon eram presença garantida no repertório do artista popular xapuriense.

Remanso era o nome dado a um pequeno beco localizado na área central da cidade, onde hoje estão erguidas as drogarias Paraná e Drogamira. Ali, se acotovelavam pequenos comércios e botequins, point da boemia desabastada da cidade. Era um lugar por demais animado, onde figuras famosas como os bêbados Adauto e Dico, entre muitos outros, protagonizavam comédias hilárias.

Num desses frequentados botequins, em um tempo em que o centro de Xapuri possuía uma doce agitação, tão diferente dos dias atuais, Juvenal Aquino fazia sua sanfona atrair a atenção de “doutores” e matutos. Membros da segunda categoria, eu, ainda criança, e meu pai sempre parávamos ali para ouvir, meio abestalhados, a melodia saída dos 48 baixos daquele instrumento que encantava os ouvidos.

A paixão pela sanfona nasceu por volta dos 20 anos de idade, quando resolveu pedir a ao pai, Teodoro, que comprasse para ele um instrumento de fole. Dos irmãos homens, Juvenal conta que todos tocavam alguma coisa, mas que o pai, mesmo tendo possuído um acordeão, jamais conseguira extrair dele um único acorde, motivo pelo qual resolveu vendê-lo. Daí a resistência do velho em adquirir a tão sonhada sanfoninha de 8 baixos dos sonhos de Juvenal, que terminou por ser comprada algum tempo depois.

Em 1968, Juvenal deixou o seringal e veio para Xapuri, onde se inspirou num tocador chamado Mundico Agostinho, a quem considera seu grande mestre, e comprou uma nova sanfona, essa de 24 baixos. No ano seguinte, vendo que o filho levava jeito para a coisa, o velho Teodoro resolveu presenteá-lo com um instrumento maior: uma sanfona de 48 baixos com a qual o sanfoneiro começou a animar festas por vários lugares do município.

Juvenal conta que nessa época ouviu muitas piadinhas e críticas vindas de quem não acreditava em seu talento para tocar sanfona. Certa vez, quando foi contratado para animar uma festa de casamento em um seringal, o pai do noivo foi questionado sobre a escolha do sanfoneiro. Naquele tempo, casório sem forró não tinha prestígio. E se o sanfoneiro fosse ruim, podia até voltar para casa com a sanfona quebrada.

- Chico Afonso, em Xapuri não tem mais tocador, não? Perguntou um parente da noiva ao anfitrião.

- Por que a pergunta? Devolveu o seringueiro, que desejava festejar o casório do filho ao som de uma boa sanfona, instrumento impreterível nos regabofes daquele tempo.

- Se tu foi a Xapuri contratar um tocador e trouxe o Juvenal Aquino, é porque lá não tem mais sanfoneiro, emendou o chato de plantão.

- Vou fazer o casamento de meu filho, quem vai tocar é Juvenal Aquino e vem na festa quem quiser, pôs fim à conversa o enjoado Chico Afonso.

Alguns anos depois, quando já era um tocador conhecido e que animava forrós em vários lugares do município, o mesmo crítico do diálogo acima se dirigiu a Juvenal para parabenizá-lo por sua sanfona atrair tanta gente às festas nas quais tocava.

- Nunca esmoreci com isso, não. Tocador não pode ter rancor, filosofa o sanfoneiro.

Há mais de 32 anos, Juvenal Aquino mantém a casa de festas que se tornou famosa em Xapuri e conhecida em todo o estado, o Forró do Juvenal, que há alguns anos foi restaurada com apoio da prefeitura. Pelo fato de possuir público fiel e estar sempre lotada nos dias de sábado, a casa de forró ganhou um apelido – Espoca Chato - que, por considerá-lo pejorativo e indecoroso, Juvenal nunca o aceitou com bom humor.

- Muita gente de bem deixa de vir à festa por causa desse apelido indecente, reclama.

O sanfoneiro Juvenal Aquino, 67 anos, é de fato uma instituição xapuriense. Exemplo vivo da nossa riqueza cultural e das figuras marcantes da história da cidade que nem sempre recebem o merecido reconhecimento. Este texto é uma forma de homenagear essa pessoa querida que tão bem representa a história da arte e da cultura da nossa terra.

Xapuri possui muitos Juvenais, modelos de vida e de coragem que, apesar das muitas adversidades lhes impostas, optaram por produzir e deixar como herança algo de bom para as novas gerações.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Regime Jurídico do Estágio Profissional

*Por Fernando Borges Viera

A Lei 11.788 de 25 de setembro de 2008 disciplina o regime de estágio profissional, definindo-o logo em seu artigo 1º como ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos.

O estágio, que pode ou não ser obrigatório dependendo das diretrizes curriculares das Instituições de Ensino e se requisito para aprovação e obtenção do diploma, tem por objetivo o aprendizado de competências características da atividade profissional e contextualização acadêmica.

O número máximo de estagiários em relação ao quadro de pessoal das entidades concedentes de estágio deverá atender às seguintes proporções: (i) de 1 (um) a 5 (cinco) empregados,  1 (um) estagiário; (ii) de 6 (seis) a 10 (dez) empregados; até 2 (dois) estagiários; (iii) de 11 (onze) a 25 (vinte e cinco) empregados; até 5 (cinco) estagiários; e (iv) acima de 25 (vinte e cinco) empregados; até 20% (vinte por cento) de estagiários.

Por lei, o estágio não cria vínculo empregatício de qualquer natureza, desde que observados três requisitos: (i) matrícula e frequência regular do educando em curso de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e nos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos e atestados pela instituição de ensino; (ii)  celebração de termo de compromisso entre o educando, a parte concedente do estágio e a instituição de ensino e (iii) compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelas previstas no termo de compromisso.

Contudo, o descumprimento de qualquer destas obrigações contidas no termo de compromisso caracteriza vínculo de emprego do educando com a parte concedente do estágio para todos os fins da legislação trabalhista e previdenciária e é muito importante que o empresário atente aos limites legais.

Ao início, o empresário há de: (ii) celebrar termo de compromisso com a instituição de ensino e o educando, zelando por seu cumprimento; (ii) oferecer instalações que tenham condições de proporcionar ao educando atividades de aprendizagem social, profissional e cultural; (iii) indicar empregado de seu quadro de pessoal, com formação ou experiência profissional na área de conhecimento desenvolvida no curso do estagiário, para orientar e supervisionar até 10 (dez) estagiários simultaneamente; (iv) contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais, cuja apólice seja compatível com valores de mercado, conforme fique estabelecido no termo de compromisso; (v) por ocasião do desligamento do estagiário, entregar termo de realização do estágio com indicação resumida das atividades desenvolvidas, dos períodos e da avaliação de desempenho; (vi) manter à disposição da fiscalização documentos que comprovem a relação de estágio e (vii) enviar à instituição de ensino, com periodicidade mínima de 6 (seis) meses, relatório de atividades, com vista obrigatória ao estagiário.

A jornada de atividade em estágio será definida de comum acordo entre a instituição de ensino, a parte concedente e o aluno estagiário ou seu representante legal, devendo constar do termo de compromisso ser compatível com as atividades escolares e não ultrapassar (i) 4 (quatro) horas diárias e 20 (vinte) horas semanais, no caso de estudantes de educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional de educação de jovens e adultos e (ii) 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) horas semanais, no caso de estudantes do ensino superior, da educação profissional de nível médio e do ensino médio regular.

Importa salientar que a duração do estágio, na mesma parte concedente, não poderá exceder 2 (dois) anos, exceto quando se tratar de estagiário portador de deficiência e que o estagiário poderá receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser acordada, sendo compulsória a sua concessão, bem como a do auxílio-transporte, na hipótese de estágio não obrigatório.

De se ressaltar, a eventual concessão de benefícios relacionados a transporte, alimentação e saúde, entre outros, não caracteriza vínculo empregatício e poderá o educando inscrever-se e contribuir como segurado facultativo do Regime Geral de Previdência Social.

Ainda, é assegurado ao estagiário, sempre que o estágio tenha duração igual ou superior a 1 (um) ano, período de recesso de 30 (trinta) dias, a ser gozado preferencialmente durante suas férias escolares, sendo que os dias de recesso serão concedidos de maneira proporcional, nos casos de o estágio ter duração inferior a 1 (um) ano; havendo tal recesso ser remunerado quando o estagiário receber bolsa ou outra forma de contraprestação.

Por fim, registre-se que ao estagiário estende-se a legislação relacionada à saúde e segurança no trabalho, sendo sua implementação de responsabilidade da parte concedente do estágio.

*Fernando Borges Vieira é sócio titular da banca Fernando Borges Vieira – Sociedade de Advogados.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Corrente da Ignorância

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Muita gente que se diz instruída tem entrado na onda de uma corrente propagada há anos na internet contra o auxílio-reclusão, o benefício pago pelo governo aos dependentes dos segurados do INSS que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto.

Se buscassem se informar melhor antes de compartilhar todas as bobagens que veem no Facebook evitariam contribuir com a difusão de mais uma das muitas propagandas falaciosas que permeiam a grande rede.

O governo não está dando nada a ninguém ao pagar o auxílio-reclusão aos presidiários, muito menos a população está sendo garfada em razão dele. Recebe o benefício aquele que contribuiu com a previdência social antes de ir para o xilindró.

Outra lorota é que o valor do “auxílio” – cujo teto corresponde a R$ 1.089,72 – seja multiplicado pela quantidade de filhos do preso. A família do beneficiário recebe o valor único que é suspenso com a progressão para o regime aberto ou em caso de fuga. Dados do INSS de abril de 2010 apontam que o valor médio recebido por família é de R$ 580,00 por mês. Em janeiro de 2012, esse valor médio foi de R$ 681,86.

Também é lenda urbana que todos os presidiários do país sejam beneficiados pelo “bolsa-bandido”. De acordo com Ministério da Justiça, das 549.577 pessoas que encontravam-se detidas em julho de 2012, apenas 35.937 recebiam o benefício.

Isso quer dizer que, ao contrário do que pensa grande parte da população, o auxílio-reclusão é pago a apenas 6,5% dos presos brasileiros. Não é pouca gente, mas não chega perto daquilo o que as tais correntes levam os incautos a acreditar.

Se o auxílio-reclusão é justo ou não é uma outra questão a ser discutida, mas combatê-lo com base na desinformação certamente não é o melhor caminho. Por enquanto, no que pesem as tentativas derrubar o benefício, ele continua um direito legítimo a ser exercido.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Do Novo Catete a Xapuri

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O aceiro do campo de capim nativo que findava com o começo da mata bruta, fechada e misteriosa era o limite de um pequeno mundo chamado Novo Catete, margem do Rio Acre, a uma hora de barco abaixo de Xapuri. Cheguei ali por volta dos 9 meses de idade, depois que minha jovem mãe, desamparada do mundo, separada do marido, desprezada pela família e sem possuir condições para me prover o sagrado sustento, entregou-me àqueles que vieram a ser, efetivamente, os pais que tive na vida: Ricarda Figueiredo e Antônio Firmino da Silva, um casal guerreiro a quem tudo devo.

Costumo dizer que afetivamente tive quatro pais, já que os biológicos, Raimundo Cardoso, o popular “Carne Bife”, e Maria Virgínia, apenas os conheci depois de adulto, quando ambos passaram a ocupar seus devidos lugares na história da minha vida, que se parece com aqueles filmes de roteiro bastante complexo, com idas e vindas, cheia de equações que talvez eu jamais consiga resolver. A despeito disso tudo, me considero uma pessoa realizada. Certamente nem tanto no aspecto material, mas naquele que faz com que qualquer vivente se sinta em paz com a vida e com sua própria consciência. Mas tudo começou naquele pequeno mundo, chamado Novo Catete.

Minha infância se deu naqueles campos, em meio a animais de carga, embarque de borracha e castanha que saíam para os armazéns da Casa Kalume e desembarque de mercadorias que de lá vinham para ser levadas ao centro do seringal. O Novo Catete era como se chamava a sede do seringal Porto Franco, localizada à margem direita do rio, em frente a uma imensa curva que formava uma extensa praia de areia branquíssima, um pouco acima da localidade chamada Mucuripe. No mesmo local, no lugar em que a água barrenta formava um grande remanso, acreditava-se ser a moradia de uma cobra grande que por muito tempo habitou o meu imaginário e que me fazia manter, para a tranquilidade de minha mãe, certa distância daquele “poço”.

Lembro-me que tinha um medo insano e injustificável de chuva. E que adorava tomar banho de igarapé e procurar ninhos de passarinhos na vegetação que se formava na parte mais alta da barranca do rio. Recordo-me também que gostava de navegar na água represada pela enchente de um dos igarapés que cortavam o Novo Catete em uma pequena canoa que foi rebocada por meu pai quando esta baixava o rio depois de haver “fugido” numa noite de tempestade. Era assim que se referiam os caboclos daquela época às pequenas embarcações que eram arrancadas dos locais onde estavam atracadas pela força dos repiquetes.

Morávamos num velho barracão de madeira cujos cômodos se resumiam ao armazém, onde eram estocadas as mercadorias que meu pai comercializava nos seringais; uma sala de estar que muitas vezes era transformada em dormitório para os visitantes; um quarto, que o casal muitas vezes era obrigado a dividir com os filhos; e a cozinha que dava de fundos com o caminho que ia até o igarapé que nos abastecia de água fresca e cristalina. A uns 15 metros da casa, ficava um velho paiol com uma cocheira, onde os burros eram arreados e alimentados. Um pouco mais adiante, havia um inesquecível pé de fruta-pão em cuja sombra quantas vezes me refugiei do mundo para minhas brincadeiras de criança.

O barracão distava cerca de 300 metros da escola Epaminondas Martins, onde lecionava o professor Fernando Dantas, o popular Fernandão, hoje aposentado. Ele morava na própria escola com a esposa Maria Rodrigues e o casal de filhos: José, hoje folcloricamente conhecido como “Zezão”, e Maria Lúcia, uma garota franzina e conversadora que um dia vi com um osso de um dos braços exposto depois de uma queda no barranco do igarapé. Tiveram mais duas filhas mulheres depois que saíram do Novo Catete para Xapuri. No espaço entre as duas construções haviam cerca de cinco frondosas mangueiras que além de fornecer sombra farta e frutos deliciosos guardavam histórias de mistérios e assombrações que brotavam da mente fértil dos moradores do local.

Adiante da escola, quase no começo do varadouro que levava seringal adentro, vivia minha avó paterna, Nazaré, e o último dos seus esposos, o tio Moreira. Dali, daquele velho terreiro, guardo uma das mais antigas e dolorosas recordações da minha infância, quando, por volta dos 4 anos de idade, corri para abrir uma daquelas porteiras de quatro paus comuns no seringal e agarrei em cheio, com a mão direita, um enorme piolho de preguiça, espécie de lagarta gigante e peluda que causa forte queimadura na pele de quem incorre no descuido de tocá-la. Com extrema habilidade, tio Moreira queimou os pelos do inseto que ficaram grudados em minha mão sem que o fogo chegasse a me ferir. Era um grande conhecedor da vida na mata.

Do outro lado de um igarapé que cortava o campo, vivia uma tia, irmã de meu pai. Chamava-se Adelaide. Seu marido, Martinho Lopes, era um sujeito carrancudo, mal humorado e metido a durão. Lembro-me que certa vez obrigou minha irmã Francisca das Neves a apagar com os pés um princípio de incêndio no campo da propriedade que fora iniciado por ela mesma com uma bituca de cigarro que teimava em fumar às escondida na companhia de sua melhor amiga, chamada Mercedes, filha de um sujeito fantástico chamado ‘seu’ Braulino, que vem a ser pai do comerciante João Cardoso, proprietário do “Bazar Cardoso”, em Xapuri.

Meu pai queria resolver o caso com um velho trabuco enferrujado que guardava em casa, mas pessoa de paz e de bons princípios que era, logo esfriou a cabeça e entregou o caso para o maior de todos os Juízes. O ano eu não me recordo, mas era a segunda metade da década de 1970, um tempo em que parafernálias como televisão e telefone eram novidades conhecidas por pouquíssimas pessoas no Acre. Veículo de comunicação e entretenimento apenas o rádio, uma grande paixão do meu velho, que era fã de Luís Gonzaga, o rei do baião. Histórias do velho Lua como Samarica parteira e a Apologia ao jumento faziam a alegria daquele homem rude e sem escolaridade que fazia cálculos inacreditáveis “de cabeça”.

Mas apesar de ter uma espécie de adoração por Gonzagão, as músicas preferidas de meu pai eram uma valsa chamada Lúcia, do Mestre Cupinjó, e o choro Saxofone, porque choras, de Jararaca e Ratinho. Na Rádio Nacional da Amazônia, nos poucos momentos de folga e lazer, o velho se deleitava com os programas apresentados por Edelson Moura e Márcia Ferreira, que foi a primeira comunicadora brasileira a falar no transmissor de maior potência da América latina, com 250 quilowatts em Ondas Curtas de 25 metros, com uma programação pioneira, voltada para a Região Amazônica. Era o ano de 1977, quanto tinha eu apenas 6 anos de idade e começava a me fascinar por esse veículo de comunicação que mais tarde seria tão importante em minha vida.

Minha mãe, que me pegou ao colo aos 9 meses de vida, era aquela tradicional dona de casa  de seringal, que gostava de cozinhar tudo o que combinasse com leite de castanha. Batizada com o pomposo nome de Ricarda Castelo Figueiredo, era conhecida mesmo como a dona Zizi do Novo Catete, ou simplesmente a Zizi do Antônio Firmino. Era a mais velha dos 10 filhos que se criaram do casal João e Maria Figueiredo. Ele, nordestino do Rio Grande do Norte, e ela descendente direta de índios da região do alto rio Xapuri. O patriarca da família Figueiredo morreu no ano de 1973. Vó Maria faleceu em 1984, numa pequena casa localizada na rua Floriano Peixoto, onde hoje vive o filho mais novo, Pedro Figueiredo e a esposa Delzira.

Dona Zizi foi a única que optou por continuar na vida simples do seringal depois que seus irmãos foram para a cidade estudar e trabalhar com a ajuda dos parentes mais abastados. E da lá só saiu quando já tinha quase 50 anos de idade. Em Xapuri, trabalhou na antiga Biblioteca Pública Municipal, tendo sido contratada pelo ex-prefeito Antônio Farias, num tempo em que concurso não era exigência legal para se adentrar no serviço público. A vinda para a cidade se deu mais pela necessidade de eu e minha irmã Francisca estudarmos. De fato, ela nunca deixou o Novo Catete, que por sua vez habitou dentro dela até os instantes finais de sua vida.

Viúva ainda jovem de um farmacêutico chamado Guimarães, que era alcoólatra, casou depois de algum tempo, a contragosto do pai, com aquele seringueiro de personalidade forte e de poucas palavras que cortava seringa na distante e temida colocação Cova da onça, onde viveram e geraram minha irmã Francisca. Depois de algum tempo, com a velhice e a doença do patriarca, o casal veio para a margem, onde Antônio Firmino passou a trabalhar como comboieiro para o sogro, que era dono do seringal que mais tarde viria a pertencer ao empresário e político Jorge Kalume, que tempos depois se tornaria governador e senador da República.

Antônio Firmino jamais deixou o seringal. Continuou lá depois da vinda da família para Xapuri, no ano de 1978, onde comprou dois terrenos na rua Deocleciano Lago. Na verdade, naquela época a rua ainda não existia. Havia ali apenas uma casa em meio a um imenso matagal, onde morava a dona Raimunda Galdino, esposa do Emídio, um senhor de uns cinquenta e poucos anos, dado ao vício da bebida, com quem ela afirmava abertamente que “não fazia mais vida”. Dona Raimunda era benzedeira famosa na cidade e muitas mães de família chegavam até sua casa em busca de cura para males como “mau olhado”, “quebranto” e “vento caído”.

Meu pai trabalhava no seringal durante toda a semana e vinha no fim dela ficar junto com a família. Havia construído um modesta casa em um dos terrenos adquiridos e deixou o outro para quando a filha casasse. Cavou um poço, botou luz elétrica e comprou uma geladeira a querosene, um ventilador movido a pilhas, um sofá vermelho e uma televisão em preto e branco da marca Telefunken, de 24 polegadas, adquirida na loja TV Lar. Naquele tempo não havia entrega em domicílio e o velho chegou em casa com aquela caixa esquisita às costas. Foi uma das poucas coisas que ele aproveitou da cidade enquanto viveu.

Chegou a botar uma pequena mercearia na rua Cel. Brandão, em frente à entrada da rua do campo de futebol, mas ficar sentado atrás de um balcão definitivamente não combinava com o seu modo de vida. Amava o seringal, adorava lidar com os animais, burros de carga a quem tratava como se fossem pessoas. Sua inseparável montaria se chamava Boneca, uma mula antipática e cheia de mimos. Minha mãe costumava dizer, brincando, que a burra era melhor tratada que ela mesma. Lembro-me de um burro velho, já no fim da vida, que foi batizado de Januário, em homenagem ao pai de Luís Gonzaga, o Rei do Baião. Vi Januário morrer depois de cair do barranco em frente ao portão que dava para o barracão. Já não enxergava mais e seu andar era trôpego.

Fomos - eu, minha irmã e nossa mãe - nos acostumando com a nova vida. Meu pai, não. Morreu lá, nos campos do Novo Catete, no ano de 1982, num lugar de onde não imaginava sair para viver na cidade. Era um hóspede dos finais de semana. Voltou para o Novo Catete, seu verdadeiro lar, onde tombou no meio do campo, quando apanhava o comboio de burros para mais uma viagem ao “centro”. Mas deixou um legado fortíssimo de ética e honradez. Homem simples, iletrado e bastante rude, a quem jamais vi alguém advertir ou mesmo admoestar. Uma cruz no meio do que hoje é apenas capoeira marca o último momento daquele que foi a minha maior referência de vida, moral e caráter.

Não nos deixou com posses, mas com uma herança que dinheiro nenhum substitui. Orgulho do que e de quem éramos foi a base com a qual dona Zizi deu, apesar do duro e eterno luto, seguimento à minha educação. A irmã Francisca já casara quando ele se foi. E prosseguimos vivendo naquela rua onde moram hoje o Rivando Mota, o Iran Mendonça e o Nader Sarkis. Este último uma das grandes testemunhas de parte de minha história de vida. Ainda hoje, quando visito um desses amigos, volto no tempo, a lembrar daqueles tempos vividos, e percebo que o tempo nos leva muitas coisas, mas há outras que nem ele nem as pessoas, por mais mesquinhas que sejam, nos conseguem tirar.

Naquela região da cidade, se iniciou mais uma etapa da minha vida simples de menino criado no seringal. Logo comecei a estudar e uma das primeiras grandes felicidades foi a experiência de envergar meu primeiro “kichute”, comprado na Casa Portuguesa, com cadarços amarrados à canela fina e cinzenta escondida por um obrigatório par de meias brancas. As calças e a camisa eram de tergal e o cabelo era cortado ao estilo Recruta Zero, pelo saudoso barbeiro Antonino, o que me fez tomar muitos “filés” na cabeça pelada até que minha mãe desistisse daquele hábito que visava economizar dinheiro e evitar os malditos piolhos.

Pretendo continuar contando aqui algumas histórias tão intensamente vividas. E terminar por lembrar e valorizar muitas personagens comuns dessa tragicomédia chamada vida, da qual sou apenas mais um coadjuvante. Peço perdão por qualquer pieguice, mas impossível que qualquer memória não seja permeada de amor e saudade. Talvez o que vivemos e aprendemos de bom sejam realmente as únicas verdadeiras riquezas que adquirimos nesse mundo. São coisas que ninguém nos toma. Nem à força e muito menos pela tentativa de nos negar aquilo que a nossa própria existência é a maior certificadora. E a vida continua seguindo sua rota, alheia aos dramas e tragédias, inexorável, como o tempo, sem esperar por ninguém.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Trabalho Novo

Paolo Ameida

O cantor xapuriense Paolo Almeida lançará o seu novo trabalho – Paolo Almeida Acústico - na terra natal no próximo dia 31 de janeiro. Paolo faz música desde criança, aprendeu seus primeiros acordes no violão com o músico Carlinhos Castelo e teve influência de outros grandes músicos de Xapuri, como Antônio Magão, Nader Sarkis, Eden Mota e outros.

O artista começou tocando bateria na igreja do Evangelho Quadrangular, em Xapuri, no início dos anos 2000, quando se mudou para Brasiléia com a finalidade de trabalhar. Na fronteira, o xapuriense lutou muito para conseguir sobreviver fazendo o que gosta até chegar à gravação de seu primeiro trabalho, o CD “Não abro mão de Deus”, em 2012.

Apesar de evangélico, Paolo faz questão de enfatizar que sua música é para todos os públicos. “Fazer música faz parte da minha essência, é um dom que Deus me deu”, afirma o cantor que apesar de ser evangélico faz questão de deixar claro que seu trabalho é direcionado a todos os públicos. “Minha música é para o povão”, diz.

Pesquisador cataloga museu informal

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Com o apoio financeiro da Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour – FEM - do Governo do Acre, por meio do Edital de Pequenos Apoios e Intercâmbio Cultural 2014, o pesquisador xapuriense Jefferson Saady, 22 anos, realizou catalogação de todos os objetos e documentos presentes no museu informal do Sr. Antônio Assad Zaine, o popular “Prezado”, entre os dias 19 e 21 de janeiro deste ano.

Sobre a catalogação, o historiador explica:

“No acervo foram identificados diversos tipos itens, desde fotografias à cadeiras e espadas; criamos um código para cada um dos mais de 300 objetos que agora estão em um banco de dados, com descrição detalhada, fotografados e em qual estado de conservação se encontram. Este banco irá ajudar a compor uma espécie de catálogo trazendo todos estes objetos para que se tenha conhecimento do que pertence ao acervo, ao museu particular de seu Antônio, e principalmente algo que eu já observei no modo como o colecionador age, ele a cada instante ou oportunidade encontra um novo objeto e quando este precisa de um toque especial ele o dá e logo em seguida encontra um lugar para esse novo item. O acervo é mutável, é dinâmico, é reelaborado sempre pelo desejo de ampliar o sentido histórico que seu colecionador lhe quer empregar”.

Leia mais no Blog do Jonathan Matheus.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Devaneios sobre Xapuri

Carlos Estevão Ferreira Castelo

Antes mesmo de explicar o porquê da utilização da expressão devaneios utilizada no título deste post, devo alertar a todos que decidirem dedicar parte de seus preciosos tempos para a leitura do mesmo (de preferência até o final), que não tenho intenção nenhuma de me candidatar a nada. Principalmente ao glorioso cargo de Prefeito Municipal de Xapuri. Faço essa afirmação logo na partida com o claro objetivo de evitar ruídos e comentários desnecessários, mesmo sabendo que irão acontecer.

Informo ainda que as propostas aqui apresentadas (provavelmente apresentarei mais em outros escritos que produzirei nesse espaço democrático) são simplesmente DEVANEIOS. Devaneios sobre o município onde nasci e residi por cerca de 30 anos - de 1966 até o ano da graça de 1996.

São devaneios (agora explicando o termo), pois as reflexões destacadas não são contra ou a favor de nada e/ou ninguém. Devaneios também porque não pretendo ensinar nada, nem apresentar verdades absolutas sobre qualquer coisa. Por isso mesmo, procurei falar de cada um deles sem se prender a regras preestabelecidas, apenas deixando fluir o pensamento, sem censuras ou amaras. Por isso, peço que entendam cada devaneio como uma conversa comigo. Afinal estamos conversando mesmo.

E se alguém se interessar pelos devaneios, podem utilizar sem pedir licença.

DEVANEIO 1 – UM ANO DE FLORES.

Um ano todo plantando flores em Xapuri. Flores que atingiriam em cheio a autoestima da população, que anda um tato quanto baixa. Eu plantaria flores em toda a cidade, durante um ano inteiro. Plantaria “mermo”.

Canteiros e mais canteiros de flores de cores variadas. Faria, inclusive, um belo portal na entrada da cidade. Na chegada em Xapuri, os carros passariam por dois canteiros floridos de um lado e outro da pista.

Também faria uma “rua coberta”, como a que existe em Gramado/RS. Talvez escolhesse a rua entre o “Grupo Escolar Plácido de Castro” e a quadra da rodoviária. Uma “rua coberta” com “trepadeiras e flores”. Com a rua pronta, iniciaria um processo de relocalização dos vários empreendimentos comerciais de alimentos que já existem espalhados desorganizadamente pela cidade (sorveterias, pizzarias, bares, etc.). Como a faturamento deles com certeza aumentaria, a resistência não seria tão grande. Teríamos uma importante atração turística. Aí quem sabe o turista de final de semana passasse a pensar assim: “Vou a Cobija/BO comprar baboseiras, mas antes vou entrar em Xapuri para umas fotos e almoçar na “rua coberta”.

Dinheiro não precisaria tanto, pois existe “pé de flor” que nasce quando se enfia um pedaço do galho da planta na terra. Sementes também não custam tal caro assim. O que seria vital mesmo nesse processo seria uma boa equipe de jardineiros capacitados para colaborar na tarefa. Mas isso também não seria difícil construir. Eu utilizaria os próprios quadros da Prefeitura onde deve ter gente ociosa e disposta a trabalhar. A capacitação da “galera” poderia ser realizada através de parceria com alguma Prefeitura brasileira com experiência ou quem sabe através do Parque Zoobotânico da UFAC.

Uma alternativa seria bancar o “floriamento” (não sei se a palavra existe) do Município com dinheiro proveniente de projetos do SEBRAE, que possui tanta grana que não sabe como e onde gastar. Para isso, seria necessário certa habilidade e iniciativa da Prefeitura (do Prefeito, é claro), que construiria o projeto durante um dos diversos Planos Plurianuais - PPA´s - do SEBRAE, com o “auxilio luxuoso” do Governo Estadual que é quem realmente manda naquela Instituição.

DEVANEIO 2 – PLANTANDO PROJETOS.

Eu também escreveria projetos e mais projetos. E um pouco mais de projetos. Para “arrancar” o dinheiro existente em vários Ministérios (Das Cidades, Turismo, etc.). Edital é que não falta. Iniciaria os projetos seis meses após as flores serem plantadas. Para isso, solicitaria ajuda da “Associação dos Prefeitos”, do “Escritório Técnico do Governo Estadual”, e, principalmente, da Universidade Federal do Acre, onde existem diversos professores com habilidades e competências no tema e, também, alunos de economia ansiosos para aprenderem, na prática, como fazer um bom Projeto Público. Faria um convênio com a UFAC (eles entrariam com o pessoal e a Prefeitura com a Estadia e alimentação). Batata.

Nesse processo a famosa “bancada de Brasília” seria acionada para abrir as portas dos ministérios. E ai deles se “fizessem corpo mole”. Talvez um convênio com a UNINORTE também pudesse ser viabilizado para construção dos planos. Inclusive, a feitura dos projetos poderia ser viabilizada financeiramente por instituições privadas. O Banco Itaú, por exemplo, financiaria cursos e iniciativas nesse sentido. Os jovens estudantes xapurienses necessariamente estariam envolvidos.

DEVANEIO 3 – CONSTRUINDO A VISÃO DE FUTURO

Com as flores crescendo, antes de iniciar a construção dos projetos eu chamaria a população para construir a VISÃO DE FUTURO DO MUNICÍPIO. Não é possível planejar se não se sabe onde chegar. Então, seria preciso definir o ponto de chegada, o norte. Como Xapuri gostaria de ser vista daqui a uns 20, 30, 50 anos? O processo aconteceria alí na “Praça da Igreja”, na rua “mermo”. Talvez pela noite, para o sol não esquentar o “minhocário” da população. Também para permitir a participação dos que trabalham duro duramente o dia. Essa visão seria decisiva. No início, a participação seria tímida, quase inexistente, mas com os primeiros resultados aparecendo a coisa mudaria com certeza.

DEVANEIO 4 – RECONSTRUÇÃO DAS RUAS

Não tem como escapar, a cidade precisa de reconstrução quase que total de sua infra. Então, um dos projetos, não sei se um dos principais, seria o de reconstrução da infraestrutura urbana. Ruas principalmente. Todas as transversais e principais precisariam de uma “cara nova”. Poderia ser com revestimento asfáltico ou outro material. Esse desafio exigiria muito esforço e ação/iniciativa do Prefeito e da população. Mas nada impossível. O Governo Estadual seria decisivo no processo. Viagens e mais viagens para Brasília precisariam ser feitas, utilização de emendas parlamentares (se possível), etc. O extremo seria a população fechar a BR-317, alí no entroncamento. Eu seria favorável a fazer um barulho tremendo se o Governo não colaborasse (Federal e Estadual). Mas isso não seria necessário. Quando os “caras” percebessem a cidade planejando, se mobilizando, percebesse um Prefeito com iniciativa fazendo as coisas diferentes logo se mobilizariam para fazer suas partes. Acho que com três ou quatro anos teríamos as ruas todas recuperadas. Com as flores é claro.

O que o Governo gastou para duplicar a BR-317 do Quinari até o Posto Policial onde, vez por outra, o “baculejo” nos traficantes de cigarros da Bolívia acontece, daria para asfaltar toda Xapuri. Porque não, então.

DEVANEIO 5 – CRIANDO ATRAÇÕES

Como não existem muitas saídas econômicas, Xapuri precisaria dedicar-se ao turismo. É isso o que me parece. Entretanto, seria a construção da visão de futuro citada antes que nortearia. Eu particularmente penso que Xapuri deveria manter sua pecuária (que já está estruturada, mas não gera empregos e a renda fica concentrada nas mãos dos fazendeiros). Também manter, ou se possível aumentar, os atuais níveis da extração de látex e castanha. O látex continuaria abastecendo a NATEX e gerando alguma renda para os extrativistas. Madeira manejada e crédito de carbono sou definitivamente contra, mas ninguém é obrigado a concordar comigo.

No caso das alternativas para a população “seringueira”, que vive nas Reservas e PAE`s, meus devaneios estão mais, digamos, elaborados, em minha tese (quem desejar conhece-los melhor é só ler a pesquisa).

Sigamos: para Xapuri se transforma em “cidade turística” seria então preciso criar atrações (hoje quase inexistentes). Observo que já teríamos a “rua coberta” e as flores.

Eu colocaria um teleférico cruzando o Rio Acre alí na rua Major Salinas. Faria um restaurante em cima do morro que se “avista” do outro lado do rio. O teleférico, simples, ligaria a rua da Major, berço do samba e dos bambas xapurienses, até o restaurante no alto do morro. Choveria de turistas no final de semana para visitar a atração. R$ 30 reais seria o passeio sobre o rio. Bingo. Nada com o um bom projeto, “nemermo”?.

No Brasil existem centenas de cidades com esse tipo de atração. Que com certeza cederia suas experiências para Xapuri. Desculpem amigos, mas eu sempre creio que o impossível é não fazer.

Em junho eu potencializaria os festejos do “Santo da Floresta”: São João do Guarani. Organizaria a comunidade do Guarani em torno dos festejos. De modo que todos ganhassem. Se os evangélicos de lá permitissem, é claro. Acho que permitiriam sim, pois a maioria é adepta da famigerada “teoria da prosperidade”. Mas o ponto central seria uma espécie de trenzinho (sem trilhos – um ônibus adaptado), que transportaria os romeiros e turistas até o local da festa (uma semana de festejos por lá). É claro que uma bandinha de forró tocaria em todo o percurso animando os visitantes. O “trenzinho do forró de Xapuri”. Já vi isso no nordeste e até no trem que leva os turistas até o cristo redentor, no Rio de Janeiro. Juvenal e sua turma agradeceriam muito.

O “vinte de janeiro” seria um pouco diferente do que acontece hoje. Afinal essa é nossa única (talvez) atual “vantagem comparativa turística”. Eu não concordo com os usos e os abusos do nome de Chico Mendes. Então, de cara, transformaria a procissão em um espetáculo (de fé, e de espetáculo mesmo), como Canela/RS e Gramado/RS fazem com o “Natal Luz”.

A procissão iniciaria 17 horas. E chegaria na Igreja São Sebastião à noite. Alí da esquina da rua major salinas até a igreja tochas de fogo estariam acessas, de um lado e outro da rua, iluminando os caminhos. O som seria de primeira qualidade, por todo o trajeto (qual a dificuldade de fazer isso mesmo?). A sonorização é importantíssima para emocionar os romeiros e pagadores de promessas, como eu. Cantores afinados poderiam colaborar. Eu disse afinados.

Na saída do santo, um corredor de crianças jogando flores ou mesmo papel picado nos caminhantes. Da igreja até a casa da dona Nadir. Cordas poderiam separar os pagadores de promessas para destacar melhor. Devaneios, devaneios.

Durante os 10 dias de novenas atrações diversas aconteceriam na cidade. Tudo previamente planejado e divulgado nos meios de comunicação, principalmente em Rio Branco. Shows musicais, recitais, alvoradas, queima de fogos. Eu criaria inclusive a “taça São Sebastião”. Um torneio de futebol envolvendo as equipes profissionais de Rio Branco, que sempre estão em preparação para a “Copa do Brasil” nesse período. Estadia e alimentação para as equipes seriam o suficiente. Claro que times de Xapuri poderiam e deveriam participar. Tudo bancado pela inciativa privada, através de parcerias bem construídas. Nada como um bom planejamento e certa dose de iniciativa.

Os tradicionais marreteiros seriam organizados em local adequado. Com custos bancados por eles mesmos. E não seria permitido que carros estacionassem nas ruas onde a procissão fosse passar. Falando em carros, eu cobraria R$ 10 reais, como taxa turística, devidamente aprovada na Câmara Municipal, de cada carro que entrasse na cidade para os festejos e cuja placa não fosse de Xapuri. Afinal, os turistas também provocam “externalidades negativas” (sujeira, etc.). Claro que no início não seria uma taxa obrigatória, para não assustar. Primeiro se organizaria a “bagunça boa” atual, depois a taxa seria implantada. Várias cidades fazem isso hoje no Brasil. Em Bombinhas/SC, cobra-se R$ 30,00 reais por carro dos visitantes, pessoas que chegam em busca das famosas praias. Ônibus por lá paga R$ 10,00. Mas isso é um processo de construção.

No final da procissão, depois da benção, uma queima de fogos de 10 minutos. Show.

Aproveitando a janela de oportunidade gerada pelo Governo do Acre, que não realiza mais o carnaval da capital no “Arena da Floresta”, eu criaria o melhor carnaval do interior em Xapuri. Claro com atrações diferentes e sem seguir o padrão atual da maioria das cidades. No Nordeste vi uma cidade do tamanho de Xapuri triplicar sua população com turistas com um tal de “carnaval do mela-mela”. Uma espécie de racho, com brincantes se lambuzando de farinha de trigo. Simples assim.

Devaneios, devaneios...

Carlos Estevão Ferreira Castelo é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da UFAC. Publicou este posto na página Xapuri: memórias e histórias, do também xapuriense Sérgio Roberto Gomes de Souza.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Um tributo a Xapuri

Cá estou eu a saborear mais uma obra do filho do Gibiri

Capa-

“O Inverno dos Anjos do Sol Poente foi escrito levando em consideração alguns pontos de vista. Primeiro, a criação ficcional é algo que me conquistou há muito tempo e me domina desde sempre. Gosto de contar histórias desde a mais tenra infância. Depois, trata-se de um romance memorialístico porque as histórias aqui contadas têm como base as minhas recordações de infância, inclusive e principalmente, a respeito de tudo o que me dizia a minha avó cearense. Por último, tenho um grande apreço pelos nossos antepassados xapurienses de origem sírio-libanesa, portuguesa e sertaneja. Esses homens e mulheres fizeram uma obra estupenda. O meu romance também é uma forma de prestar homenagem justa a essas pessoas que me foram muito caras, com certeza”. Cláudio Motta.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Fé e festa em Xapuri

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Em Xapuri, uma coisa não desvanece: a força da fé da população católica no seu santo padroeiro - São Sebastião. Em nenhum outro lugar do estado uma manifestação religiosa possui dimensão semelhante, seja pelo fato de mobilizar toda uma comunidade ou pela maneira como interfere em vários aspectos da vida desta mesma comunidade independentemente do credo religioso de cada um de seus membros.

A história da Festa de São Sebastião se confunde com a história de Xapuri e acompanha, incólume, a trajetória de glórias que fazem parte da vida da cidade no decorrer de mais de 100 anos de existência. As origens da devoção xapuriense são incertas, mas relatos antigos dão conta de que meses antes de estourar a Revolução Acreana, que faria o Acre brasileiro, os nossos antepassados seringueiros já haviam elegido o soldado romano que deu a vida pelo Cristianismo como seu eterno patrono.

Neste ano, em que pese ter caído em uma terça-feira, a festa novamente demonstrou a sua força. Mostrou também que a mudança na rotina dos visitantes, que atualmente estão deixando para chegar um pouco mais tarde à cidade, não produz nenhuma interferência no espetáculo de fé e devoção a São Sebastião que se torna amplamente visível durante o percurso pelas principais ruas de Xapuri, no evento da grande procissão.

São Sebastião é realmente dono de uma força incrível. Energia espiritual que movimenta e fortalece a fé e a esperança dos xapurienses em dias melhores, em mais um ano de lutas, batalhas e realizações positivas. E que elas venham. O grande compositor e intérprete Zé Geraldo diz em uma de suas canções que “o povo que vive sem fé é um povo abandonado”. Esse, definitivamente, não é o caso do povo de Xapuri.

Procissão

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Multidão segue a imagem de São Sebastião no início da procissão. Apesar de o céu ter permanecido encoberto durante todo o dia, não chove no início do cortejo. Temperatura inferior aos 29º graus está agradando os romeiros acostumados a enfrentar forte calor em outras edições do evento. Fiéis percorrerão pela 113º vez as principais ruas de Xapuri.

Santo Combativo

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Fiéis tocam a imagem de São Sebastião, padroeiro da cidade de Xapuri, um santo combativo com profundas raízes na devoção popular brasileira.

Convite irrecusável

113 anos da Festa de São Sebastião em Xapuri

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Cláudio Motta

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Visita de xapuriense ilustre na Rádio Educadora 6 de Agosto, na tarde desta segunda-feira, véspera de mais uma Procissão de São Sebastião. O assunto foi o lançamento do romance O Inverno dos Anjos do Sol Poente, marcado para a noite do mesmo dia, no Campus da Ufac, que terminou por não acontecer devido a um imprevisto.

José Cláudio Mota Porfiro é filho de Raimundo Porfiro Soares, apelidado Gibiri, que era estivador nos portos e armazéns de borracha e castanha da cidade natal. Francisca Mota Porfiro, a mãe, apelidada Nenem, era costureira e profissional do lar. Com a ajuda de bolsas de “favor oficial” estudou o ginásio em um colégio particular, o Divina Providência, católico, da Ordem das Servas de Maria Reparadoras, onde cursou também o ensino médio.

Mota Porfiro é formado em Letras Português/Inglês pela Ufac. Mestre e Doutor em Filosofia e História da Educação pela Unicamp – Universidade Estadual de Campinas. É cronista assíduo de jornais do Acre, GAZETA e Página 20, há vinte e seis anos. Foi professor de Língua Portuguesa, Literatura e Redação do Colégio Estadual  Barão do Rio Branco, de ensino médio, por trinta anos.

Hoje, é diretor de desenvolvimento de recursos humanos dos quadros da Universidade Federal do Acre, onde trabalho há 36 anos.

Segue um pouco de Cláudio Motta por ele mesmo:

“Não dispunha de brinquedos em casa. Não me era permitido participar de brincadeiras que excedessem os domínios do meu quintal. Podia ir para a aula, sim. E ia à Missa, como ainda hoje o faço. No colégio onde estudei havia uma biblioteca de pequeno porte, com livros arranjados de doação, em outros estados brasileiros, pelo Padre José. Entre os treze e os dezessete anos, ali eu ficava das nove às onze e meia, ou mais. Li boa parte dos clássicos da literatura à disposição. Havia alguns universais, mas havia os nossos interessantíssimos romancistas brasileiros. Não manuseava livros que tivessem a ver com as ciências exatas. Na falta de algo mais interessante, findei por ler boa parte da Enciclopédia Mirador Internacional.

Meu pai não sabia ler, mas sabia que se tratava de algo bem importante. Um dia, nas férias, ele perguntou se eu nada tinha para estudar. Respondi que não; que houvera passado em todas as provas com notas muito boas, ao que ele retrucou:

– Ah, é? Então vá estudar o dicionário.

Fiquei prolixo e na minha cidade alguns me achavam um pouco esnobe. Não era nada disso. Era, sim, um garoto pobre, mas habituado às boas leituras.

Observo que as minhas influências vêm de alguns mais velhos, como Miguel de Cervantes, Erasmo e Dante. Mas vêm também de José de Alencar, Machado de Assis e Lima Barreto, antes; e João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Vinícius de Moraes, dentre outros, agora por último.

Trago ainda influências de três mulheres muito especiais. Minha mãe, a primeira delas, era uma pessoa que via muito longe e sempre trouxe consigo a certeza de que os estudos ainda me deixariam numa posição muito confortável. E foi o que aconteceu. Ainda leio alguns livros por ano.

Uma outra mulher, de nome Orfisa Camelo Bacelar, me ensinou a trilhar o bom caminho pautando-me pela disciplina. Depois, observei que foi com ela que aprendi a ser objetivo, a ter foco.

Uma terceira mulher, a professora Euri Gomes de Figueiredo, me apresentou à poesia de Carlos Drummond de Andrade e à melodia de Chico Buarque, dentre muitas outras apresentações fantásticas no mundo das letras. Foi esta que me ensinou os rudimentos da escrita. Elas foram também influências muito marcantes.

Certa ocasião, um amigo, o Francisco Dandão, pediu a mim que redigisse um texto para o jornal A GAZETA, em 1987. Foi o que fiz. Ele andou aparando algumas arestas, mas pediu que eu fizesse outro e eu sai fazendo muito mais. Esse moço também me influenciou bastante.

O Inverno dos Anjos do Sol Poente foi escrito levando em consideração alguns pontos de vista. Primeiro, a criação ficcional é algo que me conquistou há muito tempo e me domina desde sempre. Gosto de contar histórias desde a mais tenra infância. Depois, trata-se de um romance memorialístico porque as histórias aqui contadas têm como base as minhas recordações de infância, inclusive e principalmente, a respeito de tudo o que me dizia a minha avó cearense. Por último, tenho um grande apreço pelos nossos antepassados xapurienses de origem sírio-libanesa, portuguesa e sertaneja. Esses homens e mulheres fizeram uma obra estupenda. O meu romance também é uma forma de prestar homenagem justa a essas pessoas que me foram muito caras, com certeza.

Com relação ao meu relacionamento com a ciência e a literatura, falei algo meio picaresco.

Escrevi em texto bem humorado que estava prestes a desmanchar o meu caso de amor com uma concubina antiga, a ciência, posto que ela até hoje me alimentou através do pagamento de um salário que, com a aposentadoria, ficará cada vez menor.

Arranjei, agora, uma prostituta que pulula pelos salões da nobreza, a literatura, porque atentei para a realidade segundo a qual o literato de ofício não recebe salário, mas ganha dinheiro farto, senão vejamos o caso do José Saramago, do Paulo Coelho, do Luís Fernando Veríssimo, do Ediney Silvestre, da Patrícia Melo, e assim por diante”.

Maiquele

Maiquely rosto

Completaram-se nesta segunda-feira, 19, dois anos do assassinato brutal da garota Maiquele Nonato de Oliveira. O crime deixou cicatrizes fortes na comunidade xapuriense. Foi um dos primeiros casos policiais conduzidos pelo delegado Antônio Carlos Marques Melo, que também viria a ser vítima de um homicídio de grande repercussão.

Esse crime absurdo cometido contra uma menina de apenas 4 anos nos acareou com as atrasadas e benevolentes leis penais brasileiras, que com o princípio de recuperar indivíduos irrecuperáveis findam por contribuir para que pessoas inocentes sejam barbarizadas por criminosos que deveriam estar atrás das grades.

Jaisson Moreira de Moura, o famigerado Pitbull, não era detento beneficiado por indulto nenhum, mas já tinha estuprado uma criança em Brasiléia e duas em Xapuri. Já havia ficado preso durante três anos. Se a lei fosse mais dura com bandidos dessa natureza, certamente a pequena Maiquele ainda estaria brincando com os colegas de sua rua.

Coincidentemente, recebi hoje, na Rádio Educadora 6 de Agosto, uma equipe liderada pela secretária municiapal de Assistência Social, Elisângela Horácio, divulgando trabalho de abordagem contra o abuso sexual de crianças e adolescentes e trabalho infantil. Esforço necessário, mas nem sempre suficiente para se evitar tais barbaridades.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Se essa rua fosse minha, eu a emborcaria...

CLÁUDIO MOTTA PORFIRO*

Ao Marcus Alexandre Médici Aguiar Viana da Silva

Chama-se Via da Felicidade, mas ela não é apenas minha, infelizmente. É de mais outras tantas almas infelizes que por aqui vivem e gravitam às topadas e escorregões, ou comendo poeira, ou matando ratos originários de um terreno baldio que foi projetado para ser uma área verde, este um nome bacana que escolheram para logradouros públicos destinados ao deleite... E que desfrute!

Antes de chegado a este pedacinho de chão benfazejo, houve por bem residir em vivenda adquirida pelos pais em cercania próxima, mas desassistida. Não sei se era um bairro ou um encadeamento de pessoas pobres misturadas às suas boas intenções.

Veio logo o verão e nós passamos a ir à praia. Mas chegou o inverno duradouro e cáustico, como é comum desde que a Amazônia foi implantada acima do trópico de capricórnio ou quase rente ao equador... A lama ia pelo meio da canela.

Naquele tempo, bastava ser amigo do alcaide, e nós o éramos... Uma carta manuscrita pelo meu pai estivador, já aposentado à época, fez apelo veemente e, já na segunda próxima, lá estavam os homens e as suas enxadas, picaretas, tijolos, cimento, areia e barro vermelho. Tudo foi feito em uma semana porque o prefeito libanês xapuriense era chegado do povo lá de casa, apesar de nunca termos votado nele, um ex-senador que um dia me presenteou com um paletó de linho cinza em tempos de formatura.

Hoje, não basta ser amigo dos maiorais. Eu até o sou e faço campanha em épocas de eleições. Voto neles a cada pleito porque os vejo enquanto grandes obreiros, notadamente, ao nível do social. O trabalho, segundo analiso, é de alegrar os olhos, em todos os lugares, menos na minha triste e feia Rua da Felicidade, Residencial Petrópolis.

Quando apareceu o projeto Ruas do Povo, por aqui todos nós nos alegramos muito. Com o advento do engenheiro verão a minha via infeliz seria beneficiada, mas não foi e talvez não venha a ser nunca, porque o plano não é destinado a beneficiar ruas de bacanas, segundo o meu amigo e mandatário mor, com quem aplumamos os músculos às seis da manhã em uma academia cheia de classe.

Aceitei o argumento, sim. Enfim, tudo deve ser feito em prol do social e eu sou um socialista teórico e prático meio abalizado segundo os ideais de Platão, Karl Marx e Jesus Cristo, porque os demais filósofos, todos, escrevem apenas notas de pé de página, como eu e como o Janine. (Só que este último, meu professor em tempos de doutorado, não pode saber que, da mesma forma que eu, ele também não vai muito além dos meros rabiscos acerca das graves ponderações dos pensadores acima citados.)

Aí, então, num sábado manhãzinha, fui em passeio aqui pelos bairros que circundam a minha viela parca. Andei pela Europa, pela Primavera, pela Mariana, Palmeiras e Paz, dentre outros logradouros onde os residentes estão entre a classe média e a média alta. Só bacanas.

É verdade, meu bom alcaide - o bom garoto de Ribeirão Preto e Ilha Solteira!  -  os arredores da Rua da Felicidade estão impecáveis. Tem até rede de esgoto. Um luxo só!

E eu desfiaria aqui um rosário de histórias deste meu pedacinho de chão, como as que seguem. Mas o espaço que me concede este diário é mínimo.

Então, o prefeito pescador não veio, não viu e se foi para uma pescaria no seringal Iracema, onde nasceu. O prefeito bancário, substituto do homem da bengala, fez mais ou menos o mesmo, ou como faria o próprio Flaviano, um homem que nunca enganou a mim, mas a todos que o queriam enquanto prefeito por alguns anos. A ambição falou mais alto e o salário de senador urrava, gritava, uivava... Outros quinhentos!

Veio, então, um dos meus melhores amigos, quase um ângelus, em bom latim, hoje deputado federal eleito, inclusive, com uns trinta votos dentre os meus chegados de casa e os da casa da sogra, dona santinha, a íntegra...

Ângelus se fez administrador da urbe, para o meu orgulho. Aí foi que eu esperei com vontade mesmo. O homem é meu leitor assíduo há dois séculos. Cabra de confiança. Ou vai, ou racha, ou arrebenta a tampa da caixa. É agora ou nunca... Foi o que eu pensei em conjunto com os meus vizinhos tão infelizes quanto eu.

Certo é que nós o ajudamos a eleger-se novamente prefeito. O homem magro foi agraciado com o título honorífico de melhor prefeito do Brasil em 2012. Porém, dos trinta de existência, mais oito anos se passaram e nós, mais uma vez, ficamos cheirando a vara do batista que é pra limpar a vista – como diria o filósofo lá de casa, o meu estivador e pai dos melhores.

Por último, chegou a hora e a vez deste moço do interior de São Paulo  -  aluno de Jajá Salim!  -  sobre quem dizem maravilhas que são muito verdadeiras. Ele mediu e planejou e mensurou a rua umas três vezes ou mais; tanto que a trena enferrujou e nada foi feito depois de passados dois anos da sua estupenda administração... Tudo isto é verdade, eu registro e dou fé.

Doído é ver, da mesma forma que em anos anteriores, os homens que zelam os logradouros. Eles passam ao largo, lá na avenida, viram a cara com nojo, torcem o nariz rombudo e nem olham para o nosso porto solidão.

Daí, eu encontro a cozinheira morta de cansada aos trinta e poucos. É que ela já não aguenta tirar o barro seco ou molhado das áreas da vivenda cheia de estilo... Coitada da Net!

Em verdade vos digo  -  homem de Deus!  -  que quem paga o moço da faxina da nossa praça somos eu e o vizinho arquiteto. Nós o fazemos não porque somos limpinhos, mas porque gostamos das nossas vidas que perigam ante o fato de as cobras e outros venenosos adentrarem sem permissão as nossas residências... Quase nos comem vivos, apesar das dedetizações constantes. Bom é observar que a senhora dona mãe dos meninos daqui de casa, além de destruir os caramujos (transmissores de doenças) na base do sal, veio a se tornar uma exímia exterminadora de serpentes de todos os naipes usando desde o atear fogo até a paulada na cabeça da bicha... Ou é assim ou nós não escaparemos... Só não sei até quando!

Numa análise rápida e rasteira, há quatro vizinhos comerciantes ricos, cinco funcionários públicos da esfera federal, dois fazendeiros de posses, um arquiteto de sucesso, seis advogados, três engenheiros, três médicos e eu, um escritor de letras malacabadas. Todos saldam o famigerado imposto predial e territorial urbano a preços altíssimos... Seria talvez a hora de devolver em benefício os trinta anos que vimos pagando à prefeitura. São vinte e cinco residências apenas.

Pensando melhor ainda, aqui nesta corruptela sobrevive, ou supervive, uma classe média que pensa ter algum prestígio, mas não o tem, porque moureja em meio a buracos, lama, poeira, serpentes e roedores, apesar do uso diuturno dos melhores perfumes comprados quando das suas viagens anuais ao país de Charlie Hebdo.

Como dizia Tácito, historiador, orador e político romano, o prestígio aumenta com a distância. No nosso caso, ruim mesmo é saber quem tem mais importância, se nós ou os prefeitos, posto que a separação entre uns e outros aumenta a cada ano e a merreca continua a mesma.

Vinde a nós Senhor Prefeito!

*Autor de Janelas do tempo, livro de crônicas, de 2008; e O inverno dos anjos do sol poente, romance, de 2014, à venda na Livraria Nobel do Via Verde Shopping.

Brasileiro executado na Indonésia

Não sou defensor da pena de morte, mas não consigo me indignar com a sentença imposta ao traficante brasileiro Marco Archer, executado neste sábado (17), na Indonésia. Também não faço coro com as reclamações do governo brasileiro por não ser atendido ao pedir clemência em favor do condenado que durante a maior parte de sua vida apenas se dedicou a servir de mula para o narcotráfico internacional.

Archer, que começou a traficar aos 17 anos, nunca trabalhou. Vivia como um nababo, frequentando os melhores lugares do planeta, sempre cercado de mulheres, até seu mundo cair quando tentou entrar no país asiático com cerca de 13 quilos de cocaína. Sabia dos riscos que corria, mas achava que jamais seria pego. Depois de preso acreditou que a diplomacia daria um jeitinho em sua situação. Ledo engano.

É evidente que o castigo foi muito duro. Os quase 12 anos que o brasileiro passou encarcerado nos cafundós da Ásia já seria uma pena bem maior do a que ele pegaria na sua terra natal pelo mesmo crime. Ocorre que diferentemente da terra brasilis, na Indonésia, país de maioria mulçumana, o narcotráfico é punido com extremo rigor e o máximo que se pode fazer com relação a isso é discordar e lamentar.

sábado, 17 de janeiro de 2015

São Sebastião

Xapuri se prepara para mais uma grande festa

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A movimentação em Xapuri já é intensa para a realização de mais uma Festa de São Sebastião. As vagas nos poucos hotéis e pousadas já estão praticamente esgotadas. Os pontos disponibilizados pela prefeitura para a instalação das barracas para os comerciantes ambulantes também já estão quase todos reservados.

Na igreja de São Sebastião o trabalho de organização de festa também é grande. Tanto a equipe que cuida da parte litúrgica das celebrações, quanto àquelas que organizam os bingos e leilões se esforçam para que tudo aconteça segundo o planejamento. A paróquia de Xapuri ainda disponibiliza aos romeiros o serviço de restaurante popular, servindo comida regional a preços convidativos.

As novenas iniciaram no dia 11 e se encerram no dia 19, véspera da grande procissão. Todas as noites, após as novenas, são realizadas várias rodadas de bingos e leilões. As prendas são doações feitas por fiéis do santo em todo o município. A programação da paróquia de Xapuri prevê também, para o próximo dia 18, a apresentação de um musical retratando o martírio de São Sebastião. A peça teatral terá como palco o Painel dos Mártires, localizado ao lado da igreja matriz.

A estimativa do município é receber entre 10 e 15 mil romeiros para a procissão, no dia 20.

História e fé se unem em uma das maiores manifestações religiosas do Acre

Seis meses antes que Plácido de Castro tomasse Xapuri, que até então se chamava Mariscal Sucre, controlada pelos bolivianos, no dia 6 de agosto de 1902, dando início à Revolução Acreana, um grupo de cem pessoas saiu em procissão pelas ruas do vilarejo. Começava assim uma das mais importantes manifestações religiosas do Acre: a festa de São Sebastião, o santo padroeiro de Xapuri.

Não existem registros documentais das origens da procissão de São Sebastião na cidade. As informações são baseadas em depoimentos de pessoas da época que foram sendo repassadas às novas gerações. A História conta que a imagem do santo chegou a Xapuri em 1912, vinda da Itália. Antes de ser embarcada para o Brasil foi saudada pelo poeta e escritor Gabrielle D’Annunzio, autor do livro “O Martírio de São Sebastião”.

No decorrer de 112 anos de realização ininterrupta, a festa do santo padroeiro de Xapuri cresceu e extrapolou a esfera religiosa. Os dias de janeiro que antecedem a data da grande procissão são marcados pela chegada de uma grande multidão de romeiros, turistas e comerciantes à cidade que, por vezes, triplicam o número de habitantes da zona urbana.

A foto é de Gleison Miranda.

Café da Manhã

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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Aragens estivais

CLÁUDIO MOTTA PORFIRO

As chuvas torrenciais

Em grandes mananciais

Molhavam os destinos

E os mil desatinos

Dos que habitavam aquelas zonas ressequidas

De corações e vidas partidas

Com muito sal, muito mal

E sem nenhum mel

Ou tão somente fel.

Pássaros tortos ou mortos

Chocavam-se contra as vidraças

De um futuro quase inexistente,

Feito penitente, onipresente.

Vendavais arrancavam árvores

E florestas, sem aparar arestas

De almas entregues ao desamor

E ao distanciamento

Não sem algum fingimento

De um para com o outro.

Recordavam-se, sim,

Durante todos os infinitos segundos

De todos os dias rotundos

Das suas infelizes vidas vencidas

O quão haviam sido felizes

Apesar dos tantos deslizes

Sem nenhuma sombra de dúvida,

Isto, há muito pouco tempo

Ou por apenas alguns dias

Em tardes e noites frias,

Bem antes de acordar.

__________

*José Cláudio Mota Porfiro foi dado à luz do sol morno de um abril qualquer no Principado de Xapuri.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Liberdade de Cultos

João Baptista Herkenhoff

A primeira lei garantindo, no Brasil, a Liberdade de Cultos foi sancionada e publicada em sete de janeiro de 1890. A proposta foi uma iniciativa de Demétrio Ribeiro.

A Constituição Federal de 1946, que restabeleceu no país o regime democrático, após a queda do Estado Novo, garantiu a liberdade de consciência e de crença e assegurou o livre exercício dos cultos religiosos, salvo aqueles que contrariassem a ordem pública ou os bons costumes.

A vigente Constituição Federal de 1988 declarou inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurou o livre exercício dos cultos religiosos e garantiu a proteção aos locais onde os mesmos são realizados.

A Constituição do Estado do Espírito Santo não precisava ter assegurado a liberdade de crenças, pois o preceito federal tem vigência em todo o país. Entretanto tem valor simbólico que a Lei Maior capixaba abrigue expressamente a franquia. Isto porque no Espírito Santo ergue-se o Convento da Penha, que é um templo católico. Milhares de pessoas sobem a colina para prestar culto a Nossa Senhora. Quem não partilha dessa devoção não faz o trajeto mas respeita quem faz. Da mesma forma quem faz respeita quem não faz.

A consagração constitucional e legal da liberdade de ter esta ou aquela convicção religiosa e de exercê-la em plenitude tem tradição, em nosso país, desde a Proclamação da República.

Não se trata apenas de uma franquia da Constituição. É mais do que isto. O respeito de todos pelo credo de cada um faz parte da cultura brasileira, é característica da alma nacional, segundo avalio. Integra o catálogo de nossas virtudes.

Há passos adiante no que se refere à liberdade de cultos. Trata-se, além do respeito recíproco, de um esforço para: a) entender a crença daquele que não partilha de minha crença; b) dar a mão ao crente que diverge de minha crença sempre que for possível realizar ações em comum para construir um mundo melhor; c) praticar o Ecumenismo com todas as forças da alma. Caminham nesta direção o Papa Francisco e outros líderes religiosos do mundo contemporâneo. Infelizmente, no arraial católico, há oposições ao comportamento de Francisco e até mesmo frontal contestação ao que ele diz e faz, conforme podemos acompanhar através do noticiário. Também em outras sedes religiosas há suspeição condenando os que se aproximam do Bispo de Roma.

É assim mesmo que o mundo caminha. Há tropeços no percurso. Mas os tropeços, longe de trazer desânimo, devem revigorar a luta.

João Baptista Herkenhoff é magistrado aposentado (ES), professor e escritor.

Revista do Mandato

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Amigos,

Hoje, dia 15 de janeiro, quinta-feira, às 18h, no Casarão, lançarei a revista de prestação de contas dos meus mandatos como Deputada Federal.

As nossas Bandeiras, as nossas Batalhas e as nossas Conquistas. Estivemos de 2003 a 2015 presentes na defesa das causas do Acre e dos acreanos.

O nosso mandato sempre foi um ouvidor dos sons das ruas. Sempre esteve conectado com a população do Acre.

A sua participação é muito importante para mim.

Um abraço da companheira:

Perpétua Almeida

Em Xapuri do Acre

Conviva

Leitura obrigatória para todo xapuriense que se preze. O lançamento na terrinha ocorrerá na próxima segunda-feira, 19, no Campus da Universidade Federal do Acre. Você que já adquiriu o seu exemplar, leve-o para ser autografado durante o evento. 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Janeiro

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A imagem é do ano passado, mas é certo que se repetirá neste. A cidade se movimenta fortemente para mais uma edição de sua festa maior. Aproveito a data para, timidamente, reativar as postagens no blog. Pretendo publicar ao menos um texto por dia. Para isso, necessito contar com os colaboradores. Esse espaço é de todas as pessoas que nutrem sentimento bom por Xapuri, vivam aqui ou não, mas que se preocupam com o seu futuro. Conto com suas leituras, seus comentários e sugestões.