domingo, 16 de fevereiro de 2014

Jardins de ossos em noites de rocambole

JOSÉ CLÁUDIO MOTA PORFIRO*

Todo dia ela passava pela calçada da mesma rua, o corpo vinha vestido e a alma andava nua. Ele não lhe dava o alimento e muito menos o sustento que à moda do fermento faz o ventre crescer. E a paixão era tanta, crescendo como se fosse planta da tarde ao alvorecer. À porta ela um dia bateu e de lá viu sair o seu Romeu em pijama de cetim. Desconfiada com a doida novidade jamais pensou qualquer maldade, mas pediu explicação.

O Romeu ficou surpreso diante do farto peso daquela interpelação. Não era ela tão inteligente, mas no meio da sua gente bem transmitia  razão. Por mais que o gajo explicasse, ninguém ia entender o disfarce nessa má situação. Foi aí que uma Ametista com jeito de jornalista desfez a tal confusão. O janota era moderno desses que usam terno da cor do pimentão. O sujeito era educado, mas naquele lugar acanhado não valia um tostão.

E por aí vai...

Senhora dona Francisca, peço até desculpas pela firula e também pela brincadeira sem graça que faço com o cordel. Não me leve a mal...

E foi por um desses dias claros que, de repente, não mais que de repente, bem ao meio dia, se fez noite escura e a fúria da natureza redesenhou jardins de ossos em noites enluaradas. Misturaram as bolas e o rocambole. Nasceram meninos quase homens de todos os naipes e estilos, como sequer Deus tenha um dia imaginado. Coisa de louco.

Ocorreu, sim, daí em diante, que umas e outras houveram por bem enfiar os machos da modernidade em gavetinhas diversas, como se todos não houvéssemos sido criados à imagem e semelhança do espírito absoluto. Não entendo porque temos sido classificados em tipos ou espécies. Já tentei me enquadrar em um dos arquétipos e não coube em nenhum, mas em todos, visto ser este poeta, enquanto humano e insano, cheio das melhores e das mais vis qualidades, com certeza.

Daí então, encontrei uma amiga da alta roda, de nome Harriet. Formada em psicologia numa dessas escolas francesas onde se aprende, principalmente, o gozo da vida, a moça conversava pelos calcanhares trepados em saltos da dinastia do rei sol. Cheia das informações, posto residir na França, depois de três ou quatro dedos de prosa, houve por bem pespegar-me mais um dentre tantos rótulos:

- Você é exatamente o que as mulheres modernas chamam homem alfa, sem tirar nem pôr. Já notaste?

Então ela enveredou por uma explicação de onde só consegui tirar uma síntese segundo a qual o macho alfa é o indivíduo dominante e confiante. Tem elevada capacidade de sedução e conquista, e algumas outras características mais.

Mais tarde, em casa, considerei a possibilidade de outros homens terem outros rótulos, como seria normal, porque foram as fêmeas mais seletivas que inventaram o disparate da catalogação dos machos.

Depois, bem depois, em festa quase paroquiana, não fosse o boteco de baixíssimo nível, uma moça de outras viagens, Hollie, amiga colorida em batons vermelhos, ruges carmins e papel de seda, houve por bem catalogar-me entre os machos da plaquetinha beta no meio da testa.

Ela, também muito viajada, rodada mesmo, queria a minha pele para tamborim, a companhia e o meu algo mais. Assegurou-me que este tipo beta é charmoso, carinhoso, atencioso e manda uma mensagem de bom dia, na manhã seguinte àquele jantar incrível. Além disso, sabe cozinhar, tem ótima sintonia com as crianças, não é ciumento e não reclama se a esposa chega tarde da happy hour com as amigas. Para completar, depois do filme acompanhado de brigadeiro de panela, é ele quem enfrenta a esponja e o detergente.

Para fazer um arremate à confusão instalada na minha idéia, uma ex-namorada, Jodie  -  aquela dos anos noventa  -  afirmou pelo facebook que eu merecia ser classificado entre a espécie dos metrossexuais, uma vez que, segundo ela , gosto de me vestir bem e de estar na moda. Invisto em roupas caras e em acessórios sofisticados. Frequento cabeleireiros, institutos de beleza e academias de ginástica. Cuido da pele, uso cosméticos, bons perfumes, e assim por diante... Quase acreditei.

Fiquei estupefato. Perplexo. Passei horas um tanto meditabundo, até descobrir que, depois de ser colocado em tantas caixinhas e taxado com esses adjetivos pós-modernos, há ainda um departamento densamente povoado. Lembrei, então, a existência de um sujeito à frente da nossa era. Um bon voyeur por excelência. Trata-se de Tyler Dreyffus, primo meu querido residente no condado de Climerious.

Depois de uns meses, de tanto ouvir dele falar mal a família, passei a catalogá-lo e enfiá-lo dentro de uma gaveta maior onde se arquivam  -  pelo menos virtualmente, porque cafajeste não se pode guardar  -   os espíritos de porco da novíssima geração cê-vê-éle.

Tyler não é ordinário, é extraordinário, como todos da espécie. Diria ser um cachorro vira lata, ou cê-vê-éle. Acredite se quiser! O tal não liga para as traições de uma ruiva dama de companhia, com ele casada em cartório, de talentos mui especiais, que teve um filho louro e um negrinho, sendo que ele é cafuzo descendente de moicano. Depois de feito o dê-ene-á, então, o Tyler disse que pai é aquele que cria, e ficou por isso. Meses mais tarde, enfim, o mal afamado enfiou dois guris na irmã loura da esposa sacana. Os meninos gêmeos saíram com cara de índio e ele se meteu, agora, com uma rica prostituta de meia idade que lhe sustenta e dá de um tudo.

Pensando nessa merreca toda, lembrei que o Mark Twain escreveu alguma coisa parecida com o aforismo segundo o qual se o homem tivesse criado o homem, teria vergonha da sua própria obra.

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* Cronista nascido sob o sol morno de um abril qualquer do século anterior, no Principado de Xapuri.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Novos professores

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A Secretaria de Estado de Educação empossou, nesta sexta-feira, 14, seis novos professores de um total de sete que foram aprovados no último concurso público para a área. O sétimo classificado não participou do ato, realizado no prédio do CEDUP – Centro de Educação Profissional – porque se trata de um bancário que ainda não fez a opção por ingressar na carreira do magistério ou se prosseguirá no cargo que atualmente ocupa.

Na realidade, os seis empossados na tarde de ontem não são tão novos como sugere o título da postagem. A maioria deles já tem experiência na área, alguns, inclusive, já possuem um contrato com a Educação, uma vez que essa situação é permitida pela lei para algumas carreiras. Outros atuavam de maneira provisória em programas educacionais do governo estadual, como o Asas da Florestania e Ensino de Jovens e Adultos (EJA).

A coordenadora do Núcleo de Educação da SEE em Xapuri, Ziláh Carvalho, afirmou que a posse dos novos profissionais é um ganho grande para o município que tem no ano de 2014, segundo ela, uma meta estabelecida de avanço no IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. “Neste ano, o nosso foco maior será a sala de aula, e a chegada de novos professores, todos com suas licenciaturas, irá contribuir com os nossos objetivos.

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A professora Maria de Fátima da Silva, uma das empossadas, disse que o sentimento de assinar seu primeiro contrato como servidora efetiva da Educação é de muita emoção, mas também de muita responsabilidade. “O momento é de muita emoção, mas também de muito comprometimento com a educação, com os nossos alunos. É uma etapa nova e tenho certeza que aprenderei muito mais e que tudo dará certo”, afirmou.

O ato de posse realizado nesta sexta-feira, foi simbólico. Nos próximos dias, os profissionais estarão assinando toda a documentação referente a seus contratos junto à Secretaria da Gestão Administrativa (SGA). Os novos professores empossados em Xapuri são: Maria de Nazaré Soares Vasconcelos, Maria de Fátima da Silva, Edilúcio Siqueira, Zairinéia Soares, Marilza Rodrigues de Alencar e Waniscléia Nascimento da Silva.    

Boa sorte e sucesso a eles.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Repasses

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A assessoria do prefeito Marcinho Miranda anunciou ontem a assinatura de contratos de celebração de convênios que somam quase R$ 3 milhões para investimentos em Xapuri. As informações estão no quadro acima. Basta clicar sobre a imagem para ampliar. A notícia é muito boa para a população, mas considero desnecessárias as comparações feitas com a gestão passada pelo secretário de gabinete Joscires Ângelo. Para o município já não interessa quem fez menos ou quem fará mais. Na situação de penúria em que nos encontramos, resta torcer para que o dinheiro chegue efetivamente ao seu destino e que as obras sejam bem executadas. É exatamente aí que entra em cena o papel mais importante da Câmara: deixar de lado as intriguinhas e zelar para que as verbas não se transformem em serviço de porco, como tem ocorrido nos últimos tempos na maioria das obras públicas, e em lucro fácil para uma cambada de empresas fajutas.

18h31m - Resposta de Joscires Ângelo, chefe de gabinete da prefeitura de Xapuri, via Facebook:

Caro Raimari, permita-me discordar da sua citação em relação à minha pessoa, já que fui citado na postagem.

1- Não considero desnecessária a comparação realizada pela quantidade de recursos alocados no OGU, até porque a atual administração, por mais de 400 dias de gestão, não respondeu a nenhum ataque, não se apequenou diante das baixarias e ofensas que aos membros dessa gestão foram imputadas, portanto, nada mais normal e justo que iniciar suas divulgações, justamente demonstrando que aqueles que tanto criticam, foram incapazes de assegurar recursos para a municipalidade, inclusive perdendo aqueles que já estavam alocados... vide consulta no Portal de Transparência do Tesouro Nacional.

2- Que me pese, como faço parte de um equipe, devo entre minhas funções, defender quando correto, as ações dessa equipe, e não obstante promovê-la, e foi isso que o fiz na minha página pessoal do Facebook.

3- Causa surpresa e estranheza, a repercussão da celebração dos Termos de Convênios, como se politiqueiros de plantão estivessem torcendo contra o desenvolvimento de Xapuri, e acredito que mesmo não sendo sua intenção quando citou-me na postagem, da forma como está, somente fomenta comentários maldosos e de intenções ambíguas.

4.Independentemente do que terceiros, possam achar, já que possuem esse direito, também exercerei com afinco o meu direito de apresentar à população xapuriense, situações grosseiras que a gestão anterior, deixou para a atual... não podemos assumir integralmente uma herança maldita nessas proporções.. temos o dever de resolvê-las, mas o crédito da burrada, tem sim que ser dado a quem a gerou.

5- No mais estamos à disposição, para dirimir quaisquer dúvidas.

Quem disse que estou certo?

Um paspalho anda ladrando pelas esquinas de Xapuri que me vendi ao prefeito Marcinho Miranda. Daí a razão de eu haver parado de atualizar o blog por alguns meses. Para não ser cobrado a criticar o atual administrador e não mostrar a situação lastimosa em que, segundo alguns, o município se encontra. Sugiro que retire o jumentinho da chuva quem pensa que pode me induzir a escrever aquilo que deseja ler. A estes recomendo que aprendam a escrever a criem seu próprio blog. É fácil e gratuito.

É evidente que a grosseria acima não destina aos queridos leitores que mesmo sem encontrar aqui atualizações diárias, como estavam acostumados, não desistiram de acessar esta paginazinha modesta e mal escrita. Esses, com certeza, se lembram que antes de parar de atualizar o blog expliquei minhas razões. As ações na justiça foram o principal motivo da parada. Não por medo ou falta de convicção quanto ao que escrevia, mas por cansaço de ser tão mal compreendido e desrespeitado no meu direito de se expressar.

Mas devo dizer que além das famigeradas demandas no Juizado Especial Cível – todas elas julgadas improcedentes, diga-se de passagem – também tive outras motivações para dar um tempo na escrita sobre os fatos e ideias do universo xapuriense. Quanto à essas, quero resumir dizendo que não sou palmatória do mundo e que não estou ideologicamente a serviço de quem quer que seja. Todos em Xapuri sabem em quem eu voto, mas ninguém pode me acusar de puxa-saquismo ou conivência com a filosofia de grupelhos políticos.

Quanto ao Marcinho Miranda, sou tão amigo deste atual prefeito quanto do anterior, Bira Vasconcelos. A amizade com o primeiro vem dos tempos de colégio, quando ensaiamos na militância estudantil. Com o segundo, da militância pelo Partido dos Trabalhadores, quando considero que humildemente contribui nos momentos de vitória e de derrota. Jamais espezinhei Bira neste blog e jamais o farei com Marcinho. Não em razão da amizade, mas simplesmente por uma questão de ética e de coerência profissional.

Quanto a Xapuri, não estou satisfeito com a situação do município nas várias últimas gestões que por aí passaram. Desde que me entendo por gente, tenho visto de tudo na nossa prefeitura. De prefeitos capazes, com enorme disposição e boa vontade, a doidos ensandecidos. Mas a grande verdade é que estamos há décadas parados no tempo. Estamos patinando na lama nesta e em outras administrações. Nem a aclamada “alternância de poder”, tem sido capaz de fazer Xapuri avançar.

Tivemos momentos bons em todas as administrações. Júlio Barbosa, no seu fantástico primeiro mandato. Wanderley, apesar dos pesares, também teve boas coisas em seu tempo como prefeito. Palavra que estou sendo sincero. Bira organizou, até certo ponto, um município em frangalhos. E Marcinho apenas começa seu segundo ano como prefeito e está prometendo avanços. Acho que é questão de justiça dar tempo ao menino sorriso, é óbvio que sem abrir mão de se cobrar de maneira pontual o que deve ser cobrado.

A responsabilidade pela situação estrutural de Xapuri é mais complexa do que se pensa. Não é fácil apontar culpados, mas infelizmente é essa a única coisa que tem se sabido fazer com maestria nos últimos anos. Um atirando a culpa sobre o outro, fórmulas mágicas que sempre cumprem bem o seu papel, uma vez que não existem, e o foco sempre direcionado para o próximo pleito eleitoral em detrimento da preocupação com os reais problemas que crescem de maneira diretamente proporcional ao sofrimento da população.

Bem, isso é apenas o que penso, e como bem diz meu letrado e ilustre conterrâneo Carlos Estevão, quem disse que estou certo?

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Marcinho Miranda

Conversei durante cerca de 30 minutos, na manhã desta quinta-feira, 13, em frente ao Centro Administrativo de Xapuri, com o prefeito Marcinho Miranda. Perguntado sobre as críticas que tem recebido, principalmente com relação aos comentários de que anda sumido da cidade, respondeu: “Enquanto isso fui duas vezes a Brasília e estou com mais de R$ 6 milhões empenhados para obras em Xapuri”. O prefeito prometeu conceder uma entrevista à Rádio Educadora 6 de Agosto na próxima semana para fazer um balanço de sua administração e para esclarecer a denúncia de que teria viajado neste início de ano sem autorização da Câmara. A conversa acontecerá no programa Bom Dia Cidade, apresentado por este blogueiro, ou no Espaço do Povo, de Nader Sarkis.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Manga azeda

Sergio Souza, via Facebook, sobre a postagem Nebulosa e esquisitona:

“Prezado Raimari Cardoso, penso que as instituições sofrem no Brasil uma profunda crise de representatividade. Parte disso é possível que decorra das benesses que alguns acessam. Vejamos: um vereador em Xapuri trabalha efetivamente um dia na semana, durante pouco menos de duas horas. Mesmo assim seu salário é superior a de um professor com formação superior em área de licenciatura plena. Chupa essa manga”.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Poesia na Varanda

Por Cristina Marrero*

Poesia de novo? vocês dirão e eu direi: Poesia toda hora, todos os dias dias. Poesia sempre! Porque ela, a poesia, tem lugar cativo na nossa imaginação, ela preenche todos os cantos do nosso coração. Ela está até… na varanda! Poesia na varanda? quem diria… Sonia Junqueira encontrou a poesia lá, numa varanda, numa noite de luar, numa gatinha amarela, na chuva, no choro.

Este livro é delicioso para crianças e adultos, as palavras nos remetem às coisas simples e que podem nos proporcionar tanta alegria. Porque no fundo, todos nós sabemos que é na simplicidade da vida que encontramos as maiores alegrias. Algumas poesias parecem engatadas com músicas da nossa infância, eu lembrei de um certo alecrim dourado logo na primeira página. E a música “Atirei o pau no gato” parece estar escondidinha entre os versos da segunda página, ou será mera coincidência o fato da gatinha amarela e macia chamar-se Chiquinha? Ah, mas ninguém vai duvidar que “a poesia na forma de uma canção que falava de uma rua com pedrinhas de brilhantes” não é a mesma rua que faz parte de uma das cantigas mais doces da infância.

Sonia Junqueira nasceu em Três Corações, Minas Gerais, para mim uma cidade com esse nome já é meio caminho para a poesia… Foi professora de Português e hoje se dedica à Literatura Infantil e Juvenil como autora e editora. Desde pequena gostava de brincar na chuva e guarda lembranças lindas dessa época, talvez por isso no livro a chuva também está presente, com cheiro doce e pingos grossos molhando e inundando tudo com poesia.

As ilustrações do livro são de Flávio Fargas e casam direiinho com a leveza das palavras. As imagens tem textura, parece até que podemos sentir a maciez da gatinha, o conforto da menina deitada num belo tapete, o brilho da lua cheia. Todo esse colorido leva o pequeno leitor a um mundo de cores, enfeitado com palavras melodiosas que brincam e dançam. Ah, que delícia a vida assim, numa varanda que pode estar numa fazenda, numa casa, num apartamento, dentro da sala, do quarto porque o lugar é o de menos quando a poesia nos invade o coração e nos faz sorrir.

Do site Brasileirinho.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Editorial do Jornal Nacional sobre a morte de Santiago

Não é só a imprensa que está de luto com a morte do nosso colega da TV Bandeirantes Santiago Andrade. É a sociedade.

Leia também: Carta de despedida de Vanessa Andrade, filha de Santiago.

Jornalistas não são pessoas especiais, não são melhores nem piores do que os outros profissionais. Mas é essencial, numa democracia, um jornalismo profissional, que busque sempre a isenção e a correção para informar o cidadão sobre o que está acontecendo. E o cidadão, informado de maneira ampla e plural, escolha o caminho que quer seguir. Sem cidadãos informados não existe democracia.

Desde as primeiras grandes manifestações de junho, que reuniram milhões de cidadãos pacificamente no Brasil todo, grupos minoritários acrescentaram a elas o ingrediente desastroso da violência. E a cada nova manifestação, passaram a hostilizar jornalistas profissionais.

Foi uma atitude autoritária, porque atacou a liberdade de expressão; e foi uma atitude suicida, porque sem os jornalistas profissionais, a nação não tem como tomar conhecimento amplo das manifestações que promove.

Também a polícia errou - e muitas vezes. Em algumas, se excedeu de uma forma inaceitável contra os manifestantes; em outras, simplesmente decidiu se omitir. E, em todos esses casos, a imprensa denunciou. Ou o excesso ou a omissão.

A violência é condenável sempre, venha de onde vier. Ela pode atingir um manifestante, um policial, um cidadão que está na rua e que não tem nada tem a ver com a manifestação. E pode atingir os jornalistas, que são os olhos e os ouvidos da sociedade. Toda vez que isso acontece, a sociedade perde, porque a violência resulta num cerceamento à liberdade de imprensa.

Como um jornalista pode colher e divulgar as informações quando se vê entre paus e pedras e rojões de um lado, e bombas de efeito moral e bala de borracha de outro?

Os brasileiros têm o direito de se manifestar, sem violência, quando quiserem, contra isso ou a favor daquilo. E o jornalismo profissional vai estar lá - sem tomar posição a favor de lado nenhum.

Exatamente como o nosso colega Santiago Andrade estava fazendo na quinta-feira passada. Ele não estava ali protestando, nem combatendo o protesto. Ele estava trabalhando, para que os brasileiros fossem informados da manifestação contra o aumento das passagens de ônibus e pudessem formar, com suas próprias cabeças, uma opinião sobre o assunto.

Mas a violência o feriu de morte aos 49 anos, no auge da experiência, cumprindo o dever profissional.

O que se espera, agora, é que essa morte absurda leve racionalidade aos que contaminam as manifestações com a violência. A violência tira a vida de pessoas, machuca pessoas inocentes e impede o trabalho jornalístico, que é essencial - nós repetimos - essencial numa democracia.

A Rede Globo se solidariza com a família de Santiago, lamenta a sua morte, e se junta a todos que exigem que os culpados sejam identificados, exemplarmente punidos. E que a polícia investigue se, por trás da violência, existe algo mais do que a pura irracionalidade.

Zé Tôco

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Vasculhando meu arquivo fotográfico, deparei-me com esta imagem cuja data em que fiz não me vem à memória. Na foto, uma das figuras mais populares de Xapuri na atualidade, Zé Tôco ou Bebê, na sua indefectível camisa rubro-negra, batendo um papo em algum ponto da cidade. Cheio de argumentos e respostas prontas para todo tipo de gozação que fazem contra o seu Flamengo, o sujeito é mesmo uma figuraça. Chama a atenção o carrinho de salgados equipado com espelho retrovisor.  

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Entroncamento

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Entroncamento da BR-317 com a Estrada da Borracha, porta de entrada para Xapuri. Fotografia feita do pátio da fábrica de pisos de madeira.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Nebulosa e esquisitona

O ano mal começou e as velhas polêmicas da política paroquiana já tomam conta do eixo Prefeitura-Câmara. Os quatro vereadores do Partido dos Trabalhadores, Eliomar Soares, mais conhecido como Galêgo, Chiquinho Barbosa, José Cecílio e Eudes Severino acusam o eterno presidente do Poder Legislativo Municipal, Ronaldo Cosmo Ferraz, do PMDB, de boicotar o reinício dos trabalhos da Câmara.

De acordo com os vereadores, uma lei aprovada por unanimidade, em outubro do ano passado, reduziu o recesso da Câmara para apenas um mês. Segundo eles, os trabalhos da Casa deveriam ter recomeçado no dia 21 de janeiro, uma vez que pela nova regulamentação o período de recesso na passagem de ano deveria ocorrer entre 20 de dezembro e 20 de janeiro e não mais entre 15 de dezembro e 15 de fevereiro.

Os petistas reclamam de que desde a data em que as sessões deveriam ser reiniciadas tentam voltar ao trabalho, mas que são impedidos em razão da Mesa Diretora não comparecer. Eles afirmam ainda que nos dias em que as sessões deveriam ser realizadas os equipamentos necessários para a realização dos trabalhos, como os microfones, por exemplo, não estavam no plenário da Câmara.

Ronaldo Ferraz, o presidente, desmente a versão da bancada petista. Segundo ele, a lei que altera o período de recesso ainda não existe. Ferraz diz que o projeto ainda não foi sancionado e que por se tratar de uma matéria que trata de proposta de mudança à Lei Orgânica pode passar até 90 dias sendo analisada pela comissão de Constituição e Justiça. Para ele, as sessões na Câmara recomeçam apenas a partir de 15 de fevereiro.

Pelo visto, a Câmara de Xapuri insistirá em sua natureza desde sempre nebulosa e esquisitona. As afirmações dos vereadores do PT e do presidente da Casa não deixam claro para a população o que realmente está acontecendo. Há uma lei aprovada com relação à redução de período de recesso ou a lei ainda não está mesmo aprovada? Trata-se de mal entendido ou de má vontade de alguma das partes? Expliquem-se melhor.

Quanto ao Poder Executivo, as informações confirmadas pelo próprio presidente Ronaldo Ferraz são de que o prefeito Marcinho Miranda viajou em férias sem autorização dos vereadores e de que o vice-prefeito Ailton Menezes estaria exercendo o cargo sem ter sido empossado pela Câmara. “Eu acho que o Executivo está desrespeitando o Legislativo”, limitou-se a dizer Ferraz em entrevista na emissora de rádio local.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

E foi a primeira vez...*

CLÁUDIO MOTTA

Na distância, as luzes tremeluziam e traduziam a poesia do velho esteta, indiscreta, como a alma do suarento poeta, nas mais variadas cores, revolvendo velhos amores, que passaram tão rapidamente e, consequentemente, deles já sequer ficou a semente da idade que roubou um tanto de emoção que sucumbiu no choque com a razão e quase morreu, mas não feneceu. Ontem mesmo floresceu. Uma beleza!

Pois bem. É como nas histórias de uma outra época. Ele viveu a realidade da infância da única forma honesta, que é tomando-a como uma fantasia. Não mentiu, não burlou, não enganou, mas se encantou plenamente, docemente, como não seria impossível.

Observei-o, em outro dia, na rua das mangueiras, ainda na pouco distante terra querida. Escassa idade. Dezesseis voltas, talvez. Exalava verdor, fervor quase infantil, débil, pálido. Falava pelos calcanhares e pelos cotovelos. Dizia-se ter estrela própria e depender de poucos para conseguir da vida o que queria. Deixei-o lá, entre os que o ouviam, talvez um ou dois transeuntes. Ele não me viu e eu sequer o cumprimentei. Mais tarde, concluí as minhas impressões sobre a arrogância para o estalajadeiro boquiaberto. Disse-o, à moda do Eugênio Andrade, pensador português, que, quando se é muito jovem, é quase impossível não ser pretensioso. Nem eu acreditei no que acabara de falar ao sábio homem. Ele muito bem compreendeu e até me aplaudiu. Que coisa!

Na adolescência é mesmo assim, ou foi quase dessa maneira, como se os pássaros todos fossem azuis, ou verdes claros. Como se as lampadazinhas da idade todas ofuscassem de tanto brilho e tanto piscar, e as águas do seu riacho interno borbulhassem ininterruptas de tanto frescor, de tanta harmonia em seu vir sempre contra a ravina do tempo inconstante, inconsistente, inocente da vida em fase inicial de mil esperanças. Ah, menino!

Foi quando um novo personagem do tempo cruel das folhas secas  -  um certo herói da mais tenra infância  -  fez pergunta escorregadia, ou quase:

- Meu bom garoto! Você é tão sabido... E já namora? – Ao que o menino bebê de nove ou dez voltas respondeu:

- Oh, tio! Sim, eu tenho namorada.

- E quem é a sua namorada?

- O nome dela é Lucy e também mora na mesma minha rua das caramboleiras, mas já de ladeira acima no rumo do campo de gado.

- Oh! Que menino!... E vocês namoram na escola? Não é proibido?

- As freiras podem nos castigar e, por isso, namoramos na praça, depois da aula, ou à noitinha.

Ironia do destino social aí se firmou. A antropologia do machão latino americano, que foi o pai, lhe falou mais alto: o homo sapiens por aqui nascido nesses confins amazônicos é exatamente assim. Mesmo inocentemente, vai treinando para mentir cada vez melhor com a finalidade de enganar a si próprio e, depois, às circundantes fêmeas que rondam ao redor. Uma lástima. Elas já não acreditam num teu único ponto e vírgula, porque apenas os homens mais sensíveis para com as causas femininas usam este apetrecho da escrita com alguma competência.

E foi a primeira vez.

E depois, então, um pouco mais tarde, já se havia ido a última quimera, e o resto de inocência também. Enfileirou corações ávidos pelo amor de um insensível e insaciável. Fizeram dele, ao mesmo tempo, herói e anti-herói de alcovas cheirando a alfazema ou patchouli. E o janota fez e desfez e garantiu sedução a todas quantas o viram na galeria, ou em banho de cuia no igarapé. Ainda acorrentado a costumes de outrora, prometeu amores e felicidades de que não dispunha ou jamais dispôs em momento algum. Pulou janelas, silenciou portas, mordeu zíperes, abriu botões, rasgou lençóis, quebrou cristais e se enfiou onde não devia.

Um dia, então, quando vivia a flor da boemia e da vida noturna serena e voraz ao mesmo tempo, houve por bem acompanhar-se de uma linda flor primaveril de apenas dezesseis voltas. Mais uma loucura dentre toda uma vida cheia delas.

Romântico foi demais. Havia um jambeiro. Chuva fininha. Corpos sem roupa desmesuradamente mais ávidos que felizes. A luz da lua misturava-se aos reflexos da artificialidade vinda de uma luminária próxima, o que, aos olhos humanos entorpecidos, tornava de prata as gotas que caíam sobre ancas juvenis, mas possantes. Ah! Eis a libido em chamas e a alma que pulava doida em vista da aventura rocambolesca em que o corpo vil houvera por bem meter-se. Enfim, o vermelho carmim borrou os lençóis inexistentes. Talvez fosse já a hora do adeus ou do até nunca mais. Ledo engano.

Romance barulhento de poucas luas. Uma vela ou lamparina acesa na chuva fininha houvera por mal testemunhar o pecado que deixara um hímen arrastar-se na lama débil. Um escândalo, um alvoroço na freguesia ainda em estado de província, onde um troteador não podia fazer das suas e já a opinião popular o queria casado em tinta preta passada em papel branco. Ô povo triste!

Por do sol nos corredores da avenida e o mundo inteiro já sabia que um playboy bon vivant havia feito desabrochar menina meiga e bela da rua dos jambeiros. Também, logo a autoridade se fez ciente. Bem mais grave: era dela tia avó, e juíza da comarca da cidade de Eleutério. Uma bomba!

Veio a formatura. Ele se fizera doutor não-sei-lá-das-quantas. Lá estava presente a mocinha bela na sua adolescência roubada. Casaram-se, em seguida, por um contrato celebrado em cartório, que durou três longos meses, para ambos.

O casório forçado não daria certo nem entre um monge e uma monja. Alguém enjoou a convivência mínima atroz. Foi aí que ele empreendeu fuga planejada, premeditada. Voou para Belém de Judá. De lá, fez telefonema alegando que nunca mais voltaria. Para a mocinha, tudo se fez noite sem festa. A vida murchou. O colorido acabou. Desfez-se, enfim, o seu mundo encantado de quem seria feliz para o resto da vida.

Passados meses, reataram o romance por uma noite, e foi apenas isso. Não. Nunca mais! O fogo fátuo arrefecera...

Para ele, arrependimento vão, inócuo, descabido. Um saltimbanco interiorano  -  disseram à época  -  havia se aproveitado da inocência de uma menina antes feliz. Oh, sim! Os provincianos tinham toda a razão do mundo. Houve excesso de confiança por parte dela e exagero de ilusionismo da parte do bardo pilantra.

Enfim, já acima da meia idade, aperfeiçoando-se na arte de bem seduzir, ele passou a fazer versos porque começou a acreditar no Fernando Pessoa, segundo quem o poeta é um fingidor; finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.

Depois do quinto decênio, sobre a arte do ilusionista, então, infelizmente, foi o anjo torto obrigado a registrar que, cá entre eles mundanos desprezíveis, as ilusões são como a luz do dia; quando se apaga, com ela tudo desaparece.

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*Crônicas poéticas dadas à luz por um vate nascido sob o sol morno de um abril qualquer do século anterior, no Principado de Xapuri.

Eden Barros na Ameripol

O xapuriense Eden Barros Mota, Agente de Polícia Federal, será o próximo Oficial de Ligação na Comunidade de Polícias das Américas – AMERIPOL - em Bogotá/Colômbia. Ele representará o Brasil na entidade até o ano de 2015.

Nesta quinta-feira, 6, Eden me enviou a seguinte mensagem:

“Caro Raimari, quero te agradecer por tudo e dizer que sempre que somos atacados ou menosprezados Deus tem algo muito melhor para nós. Poucas são as pessoas com quem ainda tenho algum tipo de contato em Xapuri, e uma delas é você, garoto que nasceu pobre, assim como eu, mas que com conhecimento chegou até onde se encontra. O que nós levamos de melhor na vida é a amizade e o respeito que temos pelas pessoas. Obrigado por tudo”.

O policial federal se refere a quatro ações cíveis movidas contra ele por alguns vereadores, na legislatura passada, em razão de críticas feitas em um blog contra a atuação da Câmara de Xapuri. Eden obteve resultado favorável em todos os processos, mas prometeu nunca mais comentar ou discutir os assuntos de sua terra natal.

Abaixo, a íntegra da portaria através da qual o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, designa o xapuriense para a função de Oficial de Ligação na Ameripol.

PORTARIA Nº 295, DE 31 DE JANEIRO DE 2014

O MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA, no uso de suas atribuições e tendo em vista o disposto no art. , inciso IV, da Lei nº 5.809, de 10 de outubro de 1972, e no art. 8º, inciso III, do Decreto nº 71.733, de 18 de janeiro de 1973, resolve:

Art. 1º Designar EDEN BARROS MOTA, Agente de Polícia Federal, Classe Especial, matrícula 7245, para exercer a função de Oficial de Ligação na AMERIPOL em Bogotá/Colômbia, em sucessão ao Agente de Polícia Federal Ionaldo Carlos Gonçalves Silva.

Art. 2º A missão será realizada com mudança de sede, transporte de mobiliários e bagagens e com acompanhamento de dependentes, com retribuição calculada com base no índice "76" da Tabela de Escalonamento Vertical da LRE e no índice "60" da Tabela 1 -Escalonamento Vertical de Indenização de representação no exterior, nos termos da Lei nº 5.809, de 10 de outubro de 1972 e dos Decretos nº 71.733, de 18 de janeiro de 1973 e nº 72.021, de 28 de março do mesmo ano.

JOSÉ EDUARDO CARDOZO.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Adote um bandido!

LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil.

Essa é a campanha lançada pela infeliz jornalista Raquel Sheherazade (SBT), depois que um grupo de bandidos de classe média, no Rio de Janeiro, chamados “Bairro do Flamengo”, prenderam, espancaram e amarraram em um poste um jovem “criminoso” ou “possível criminoso” (O Globo 5/2/14, p. 8). Justificativa: o Estado é omisso, a Justiça é falha e a polícia não funciona. Tudo isso é verdade, mas o Estado democrático de direito não permite a “solução” encontrada: justiça com as próprias mãos! Quem faz isso é um bandido violador do contrato social. Quem se entrega lascivamente à apologia do crime e da violência (da tortura e do linchamento) também é um bandido criminoso (apologia é crime). Se isso é feito pela mídia, trata-se de um pernicioso bandido midiático apologético. Para toda essa bandidagem desavergonhada e mentecapta a criminologia crítica humanista prega a ressocialização, pela ética e pela educação. Leia mais em Instituto Avante Brasil.