sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Receita de ano novo

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;

Novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Fluliz Natal

Feliz Natal

Frei Betto

Feliz Natal aos infelizes cativos do desapreço ao próximo, da irremediável preguiça de amar, do zelo excessivo ao próprio ego. E aos semeadores de alvíssaras, aos glutões de premissas estéticas, aos fervorosos discípulos da ética.

Feliz Natal ao Brasil dos deserdados, às mulheres naufragadas em lágrimas, aos escravos do infortúnio condenados à morte precoce. E aos premiados pela loteria biológica, aos desmaquiadores de ilusões, aos inconsoláveis peregrinos da vicissitude.

Feliz Natal aos órfãos do mercado financeiro, pilotos de vôos sem asas e sem chão, fiéis devotos da onipotência do mercado, agora encerrados no impiedoso desabrigo de suas fortunas arruinadas. E também aos lavradores da insensatez espelhada na linguagem transmutada em arte.

Feliz Natal às lagartas temerosas de abandonar casulos, ao desborboletear de insignificâncias cultivadoras de ódios, aos exilados na irracionalidade do despautério consensual. E aos dessedentados na saciedade do infinito, no silêncio inefável, nas paixões condensadas em prestativa amorosidade.

Feliz Natal a quem escapa dos indomáveis pressupostos da lógica consumista, dessufoca-se em celebrações imantadas de deidade, livre do desconforto da troca compulsória de presentes prenhes de ausências. E aos hospedeiros de prenúncios do leque infinito de possibilidades da vida.

Feliz Natal a quem não planta corvos nas janelas da alma, nem embebe o coração de cicuta, e coleciona no espírito aquarelas do arco-íris. E a todos que trafegam pelas vias interiores e não temem as curvas abissais da oração.

Feliz Natal aos devotos do silêncio recostados em leitos de hortênsias a bordar, com os delicados fios dos sentimentos, alfombras de ternura. E a quem arranca das cordas da dor melódicas esperanças.

Feliz Natal aos que trazem às costas aljavas repletas de relâmpagos, aspiram o perfume da rosa-dos-ventos e carregam no peito a saudade do futuro. Também a quem mergulha todas as manhãs nas fontes da verdade e, no labirinto da vida, identifica a porta que os sentidos não vêem e a razão não alcança.

Feliz Natal aos dançarinos embalados pelos próprios sonhos, ourives sapienciais das artimanhas do desejo. E a quem ignora o alfabeto da vingança e jamais pisa na armadilha do desamor.

Feliz Natal a quem acorda todas as manhãs a criança adormecida em si e, moleque, sai pelas esquinas a quebrar convenções que só obrigam a quem carece de convicções. E aos artífices da alegria que, no calor da dúvida, dão linha à manivela da fé.

Feliz Natal a quem recolhe cacos de mágoas pelas ruas para atirá-los no lixo do olvido, e se guarda no recanto da sobriedade. E a quem se resguarda em câmaras secretas para reaprender a gostar de si e, diante do espelho, descobre-se belo na face do próximo.

Feliz Natal a todos que pulam corda com a linha do horizonte e riem à sobeja dos que apregoam o fim da história. E aos que suprimem a letra erre do verbo armar.

Feliz Natal aos poetas sem poemas, aos músicos sem melodias, aos pintores sem cores, aos escritores sem palavras. E a quem jamais encontrou a pessoa a quem declarar todo o amor que o fecunda em gravidez inefável.

Feliz Natal aos ébrios de transcendência e aos filhos da misericórdia acobertados de compaixão. E a quem não se deixa seduzir pelo perfume das alturas e nem escala os picos em que os abutres chocam ovos.

Feliz Natal a quem, no leito de núpcias, promove despudorada liturgia eucarística, transubstancia o corpo em copo, inunda-se do vinho embriagador da perda de si no outro. E a quem corrige o equívoco do poeta e sabe que o amor não é eterno enquanto dura, mas dura enquanto é terno.

Feliz Natal aos que repartem Deus em fatias de pão, bordam toalhas de cumplicidades, secam lágrimas no consolo da fé, criam hipocampos em aquários de mistério.

Feliz Natal a quem se embebeda de chocolate na esbórnia pascal da lucidez crítica e não receia se pronunciar onde a mentira costura bocas e enjaula consciências. E a quem voa inebriado pelo eco de profundas nostalgias e decifra enigmas sem revelar inconfidências; nu, abraça epifanias sob cachoeiras de magnólias.

Feliz Natal a todos que dão ouvidos à sinfonia cósmica e, nos salões da Via Láctea, bailam com os astros ao ritmo de siderais incertezas. Queira Deus que renasçam com o Menino que se aconchega em corações desenhados na forma de presépios.

Arte: Gilberto Zavarezzi, via Blog do Torcedor do Flu.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Então é Natal

John Lennon e Yoko Ono - Versão de Claudio Rabelo

Então é Natal
E o que você fez?
O ano termina
E nasce outra vez
Então é Natal
A festa cristã
Do velho e do novo
Do amor como um todo
Então é Natal
E um Ano Novo também
Que seja feliz quem
Souber o que é o bem
Então é Natal
Pro enfermo e pro são
Pro rico e pro pobre
Num só coração
Então, bom Natal
Pro branco e pro negro
amarelo e vermelho
Pra paz, afinal
Então, bom Natal
E um Ano Novo também
Que seja feliz quem
Souber o que é o bem
Então é Natal
E o que a gente fez?
O ano termina
E começa outra vez
Então é Natal
A festa cristã
Do velho e do novo
Do amor como um todo
Então é Natal
E um Ano Novo também
Que seja feliz quem
Souber o que é o bem
Hiroshima...
Nagasaki...
Mururoa...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ifac/Xapuri

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o ministro da Educação, Fernando Haddad, inauguram o Campus Avançado do IFAC/Xapuri nesta segunda-feira, 27, em solenidade às 15 h (horário de Brasília), no Palácio do Planalto, com transmissão ao vivo pelas TV NBR e TV MEC.

O ato integra, de forma simultânea, a inauguração de 31 escolas federais de educação profissional, contemplando todas as regiões do país. Cerca de R$ 104 milhões já foram investidos na construção das novas escolas, distribuídas entre doze Estados e no Distrito Federal. Estas unidades ofertam 79 cursos com 3.700 matrículas. “Em oito anos mais que dobramos o tamanho e a capacidade da rede federal. Saímos de 140 para 354 escolas e de 140 para 348 mil matrículas. Todas as regiões foram beneficiadas com cursos técnicos e de tecnólogo”, destacou Eliezer Pacheco, secretário de educação profissional do MEC.

Curso superior em Xapuri

Xapuri é o primeiro campus do Instituto Federal do Acre a ser inaugurado. O prédio conta com 12 salas de aulas e uma quadra coberta, sendo 2.500 m2 de área no total. O imóvel foi construído pelo Governo do Estado e doado ao IFAC com a Lei n. 2.394 de 17/12/2010. Através de uma cooperação técnica com a Prefeitura de Xapuri no local continuará funcionando a Escola Municipal de Ensino Fundamental Rita Maia pela manhã, com a oferta de cursos técnicos e superiores pelo IFAC nos períodos vespertino e noturno. “É uma grande conquista Xapuri ser o primeiro campus do IFAC. É o compromisso por aqueles que historicamente lutam pela nossa Floresta Amazônica. Com este espaço, estamos oferecendo os primeiros cursos superiores do município, o tecnólogo em Gestão Ambiental e licenciatura em Ciências Naturais”, explica o reitor Marcelo Minghelli.

O IFAC está instalado em sedes provisórias em Rio Branco, Sena Madureira e Cruzeiro do Sul. Nestes municípios os campus estão em construção. 

Fonte: Agência de Notícias do Acre.

Pane seca na Real Norte

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A sequência de fotos acima evidencia o grau de respeito que a empresa de transportes Real Norte dispensa a seus usuários. Na primeira foto, aparece o carro 9602 da empresa parado, depois de apresentar problemas, a cerca de 1 quilômetro de Xapuri. O veículo vinha de Brasiléia com destino a Rio Branco, fazendo escala na terra de Chico Mendes, na tarde dessa quarta-feira, 22.

Na mesma foto é possível notar que outro ônibus vem chegando para socorrer o que está quebrado. Na sequência, atônitos, os passageiros testemunham o absurdo: motorista e cobrador retiram óleo diesel de um carro para abastecer o outro, que parou por pura falta de combustível.

Alguns passageiros, cujo destino era Xapuri, fizeram o restante do trajeto a pé. Os outros, que iam para Rio Branco, foram obrigados a esperar por horas até que os funcionários da empresa resolvessem por conta própria o problema causado pela irresponsabilidade dos donos da empresa que detém o monopólio desse serviço nesta região do Acre.

As reclamações contra os serviços prestados pela Real Norte não são nenhuma novidade. Sob a alegação de ser prejudicada pela concorrência dos táxis intermunicipais, a empresa deixou de lado a preocupação com a comodidade dos passageiros que, no caso de Xapuri, não dispõem mais de linhas regulares para a capital.

Os usuários de Xapuri, em especial aqueles que não possuem condição financeira para pagar os abusivos preços praticados pelos taxistas, são obrigados a esperar os ônibus que saem de Brasiléia com destino a Rio Branco, situação que gera atrasos e incertezas. Ontem, por exemplo, passageiros que tinham viagem marcada em Rio Branco para outros estados, tiveram que “se virar” para não perder o embarque.

Quanto à pane seca do ônibus, já pensaram se a Real Norte fosse uma empresa aérea?

Hora antiga do Acre é adiada

Do blog do Altino Machado.

Autor do projeto que viabilizou o referendo da hora legal do Acre, o deputado Flaviano Melo (PMDB-AC) disse nesta quinta-feira (23) que a definição sobre quando os acreanos poderão atrasar seus relógios em uma hora em relação à Brasília poderá ocorrer em fevereiro.

Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) homologaram o referendo realizado no Acre em outubro, mas não comunicaram a tempo a decisão ao Congresso Nacional.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), recebeu Flaviano Melo na terça-feira (21). Sem o comunicado do TSE, Sarney disse que não pode assinar o Ato Declaratório que definirá quando o horário antigo entra em vigor.

O TSE também está em recesso até o dia 1º de fevereiro e não existe na corte nenhum pedido de comunicado ao Congresso Nacional sobre a homologação do referendo.

- O presidente Sarney me disse que não pode definir nada sem o comunicado. Ele até aventou a possibilidade de telefonar para o presidente do TSE e pedir para que o mesmo enviasse o comunicado, mas isso não aconteceu. Como o Congresso está em recesso, espero que a definição possa coincidir com o fim do horário verão - disse Melo.

Não, o blog não vai morrer

Questionado por muitos se o Xapuri Agora haveria finado, respondo: não o blog não vai morrer. Reúne forças para sair de um temporário estado de letargia. Planeja se reinventar em 2011.

Tenho recebido mensagens de muita gente boa Acre afora. E de fora do Acre também. Fechando o quarto ano de existência, essa singela página se tornou elo entre xapurienses distantes e a terra natal.

A todos os que por aqui passaram durante todo esse tempo, meus sinceros agradecimentos. Que o Natal seja de paz e tranquilidade, e que 2011 seja de realizações e liberdade, em todos os sentidos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Eternamente campeão

João Marcelo Garcez

O Flu tem dessas coisas. É campeão. Eternamente campeão.

Foi suado. Foi sofrido. Não há conquista sem sacrifício.

Uma torcida fanática, então carente de grandes títulos. Então, escrevi.

Porque, também então, o Flu reencontra seu caminho de glórias.

Glorificado, predestinado a nos emocionar. Assim é o Flu. Como não amá-lo?

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.

Fernando Pessoa, escritor de boa cepa, sabe tudo. E um pouco mais.

Inesquecíveis são eles, os momentos, as pessoas…

Somos nós, torcedores tricolores, escandalosamente campeões.

Temos Conca, o Rei, milhões aos seus pés.

Súditos de sangue, suor e lágrimas.

Nós fizemos o Time de Guerreiros.

O título máximo do futebol brasileiro pode – e deve – ser creditado também à massa pó-de-arroz, guerreira de corpo e alma.

Superação.

O Fluminense resumido em uma palavra.

Não haverá história igual a essa.

O Flu a escreveu, lavrou em cartório e escondeu a chave.

É impressionante, meus amigos!

O Flu tem disso. Mas só o Flu tem disso.

Desafia a lógica, os matemáticos e até o mais criativo dos dramaturgos.

Sobrenatural de Almeida desta vez jogou a favor.

Não é ele o imponderável?

Lágrimas de esguicho.

Não foi chuva que cobriu o Rio após o triunfo.

Foi o choro sagrado de Nelson Rodrigues.

“A verdade incontestável é que ninguém ganha da forma como nós ganhamos. Nossas vitórias vão da extrema falta de perspectiva, do máximo sofrimento, da crueldade, ao êxtase, ao épico, ao apoteótico. Tudo junto, quase sem fronteiras entre esses opostos”.

Assim vaticinou o Profeta, até disso tem o Flu. Desses escritores maravilhosos…

Tem também de Muricys e Cia. Retidão de caráter e de profissionalismo.

Júbilo tricolor. A prometida viagem maravilhosa.

Ave, Cuca! Você também tem tudo a ver com ela.

Com a redenção tricolor, com esta nova era.

O Fluminense é absurdamente apaixonante.

Só sendo pra saber.

“Se quereis saber o futuro do Flu, olhai ao seu passado”.

A profecia foi cumprida.

João Marcelo Garcez é jornalista, publicitário e autor dos livros “Libertadores 2008 – O Ano em que a Magia Tricolor Encantou o Mundo” (2009) e “Epopéia Tricolor – A Conquista do Brasil e a Volta à América” (2008). Em decênio de carreira, estão seus trabalhos na TV Globo (autor-roteirista), nas empresas DM9DDB e 24\7 Inteligência Digital (SP), do Grupo ABC, de Comunicação, e na QJ Comunicações. Tricolor de coração, o carioca João Garcez, entre outros ofícios, foi ainda repórter do Jornal dos Sports e editor-chefe de O Debate, jornal fluminense com circulação em seis municípios.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A Profecia



"A poucos dias da virada da década, o pó oriundo da nobreza cobrirá milhões pela cidade.


Um herói forasteiro, do país ao sul,que esteve em uma grande batalha perdida do passado, será o responsável por trazer a boa nova.


Ele será auxiliado por um guerreiro de saúde frágil, mas de coração valente,homônimo de um grande herói do passado.


Após mais de duas décadas e meia de corações angustiados, os gritos voltarão a ecoar.


Das cidades próximas, uma da terra do café, e outra, do leite,milhões de fiéis se unirão para impedir o triunfo. Em vão.


Preto e o branco, como também o azul, serão cobertos por suor, sangue e lágrima.


E na batalha derradeira, uma tribo, inocente, será dizimada e o engenho será palco da grande celebração aristocrática


Rumo ao Título!!!"