quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Ainda o curral e o cabresto

Xapuri talvez seja a cidade do Acre onde a concepção política menos tenha avançado desde que o Brasil voltou a ser um País democrático, em meados da década de 1980.

E me refiro à concepção política recorrendo ao sentido mais simplista, mais ordinário de sua significação: a mera maneira do cidadão eleitor pensar a sua relação com os políticos ao seu redor. A mais velha e aboletada de vícios política partidária paroquiana.

Por aqui, ainda é comum se ouvir, em pleno século 21, em tom altamente solene, absurdos do tipo: “voto no partido A porque minha família sempre votou”. Ou então: “voto no candidato B porque foi ele quem me arranjou o primeiro emprego”. Até pouco tempo se ouvia da boca de pessoas com certo grau de instrução que: “o fulano rouba, mas faz”.

O cúmulo da ignorância. Considerando-se que um mandatário honesto já encontra tantas dificuldades para fazer algo de efetivo com poucos recursos, como poderia fazer alguma coisa proveitosa um ladrão do dinheiro público? E o que pode levar uma criatura de Deus a imaginar que por conta de um reles emprego deva ser escravizado ad eternun por um político sacripanta?

Em outros casos, o eleitor se prende a um determinado candidato por pura submissão, por relação familiar, mesmo que distante, por conta de um simples favor, de uma carona ou de uma receita médica despachada na farmácia mais próxima.

Vigora, assim, uma espécie de curral eleitoral moderno, onde um número nada desprezível de pessoas se sente obrigado a manifestar apoio e simpatia a quem, na verdade, não lhe inspira real confiança. É o voto de cabresto do novo milênio, mantido com aquilo que já pertence ao eleitor, mas a que ele não tem acesso: o dinheiro público.

É por conta desse pensamento retrógrado e arcaico que ainda sobrevivem, mesmo que trôpegos e nauseabundos, alguns dinossauros da política local. Espécimes em extinção - mas que teimam em resistir - pertencentes a um dos gêneros mais perniciosos à vida pública que se pôde ter notícia até os dias atuais. São eles do tipo parasitário e nocivo tal qual a pior erva daninha.

Políticos desse tipo, mesmo quando mandados ao purgatório para pagar seus graves pecados, costumam ressuscitar para atormentar os mais destemidos viventes. E isso ocorre porque sempre há quem continue a acender velas por essas almas penadas e a invocá-las para disso tirar algum proveito. A metáfora é um tanto macabra, mas bastante fiel ao real contexto.

A falta de valores nobres na política começa, então, pelo próprio eleitor. Ele nutre esse sistema degenerado dos favores, do compadrio e da marretagem de votos, assim como o viciado em drogas alimenta o tráfico de entorpecentes. É o financiador da corrupção, das negociatas e dos maus exemplos de cidadãos capazes de fazer inveja ao pior dos facínoras.

Se a palavra de ordem é mudança, primeiro deve mudar a concepção política dos nossos aldeões, principalmente na hora do voto. E este é o momento de serem quebradas as argolas que ainda prendem muita gente a tradições políticas estúpidas que já não fazem o menor sentido. Curral não é lugar de gente e nem todo burro deve aceitar cabresto.

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