quinta-feira, 30 de abril de 2015

A VILA

CLÁUDIO MOTTA PORFIRO*

Ali amanheciam sempre dias cinzentos, sombrios, tristes de fato. Ao sol não era permitida a entrada. Vida miserável que se iluminava por lamparinas à querosene, fumegantes, doentias. Homens e mulheres trajavam roupas rotas, quase andrajosas. Os aposentos eram abafados, fétidos, sem janelas. As esperanças de todos se limitavam à possibilidade ou à impossibilidade de, mais tarde, ou no outro dia, quem sabe, terem algum alimento para saciar-lhes a fome implacável. Os mais velhos, aqui e acolá, morriam de inanição, de fraqueza, sim. As crianças não iam às escolas, embora elas existissem quase na biqueira da vivenda prestes a cair. As mulheres traziam olhares sem brilho, perdidos num ontem que também não fora tão farto, ou num amanhã que, certamente, não seria dos mais ditosos. Os homens iam e vinham. Do mercado ou da rua do comércio, quase nunca traziam um quilo de feijão sequer. Todos haviam saído da pobreza dos velhos seringais que, por aqueles dias, já começavam a ser transformados em pastagens. A insanidade dos endinheirados via que a pata do boi marcava, a ferro quente, o coração e a alma de pessoas sem passado e sem futuro.

Um francês, Émile Zola, escreveu textos assim, como Germinal. A realidade nua e crua de uma humanidade em ruínas. No Brasil, segundo o ponto de vista de muitos, alcançaram destaque maior Aluísio de Azevedo com O cortiço e Casa de Pensão, e Júlio Ribeiro, com A carne,romances marcantes que desenham em traços drásticos as mazelas humanas em tonalidades tão reais que gritam aos ouvidos dos líderes maiores. Estava inaugurado o Realismo literário. O lirismo dos amores ternos e as relações acaloradas muito próprias dos românticos cediam lugar para uma ficção focada na realidade mais cortante, mais pulsante, mais áspera.

Então, do lado da minha casa ficava a Vila Natal. Nós éramos pobres; eles, miseráveis. Comíamos carne de boi ou de caça, e feijão e arroz e verduras retiradas da nossa horta do fundo do quintal. Eles praticamente não comiam, mas vegetavam e procriavam como as centenas de ratos e urubus alimentados pelos excrementos da Vila.

Chegaram a sobreviver, ali, às vezes, mais ou menos cinqüenta pessoas, incluindo as crianças. Na realidade, tratava-se de um imenso casarão de zinco e madeira, dividido ao meio por um corredor cujos dois lados repartiam-se em quinze aposentos, a maioria de uma porta apenas. No pequeno quintal, havia dois sanitários sem porta e sem descarga ou fossa, um para os homens, outro para as mulheres. As necessidades fisiológicas eram ali supridas, mas o banho parco era tomado nos próprios aposentos de assoalho de madeira por debaixo dos quais passava um esgoto infestado de ratazanas e baratas. Nas paredes internas, havia brechas entupidas de papel para que uma família não visse a miséria ou a promiscuidade da outra. O telhado era cheio de buracos e, um dia, aí pelos treze anos, fui chamado por uma moça da vida para tapar uma goteira que quase chovia sobre os lençóis úmidos da sua cama às vezes até bem freqüentada. Era uma da tarde e grande parte dos sobreviventes pegava a sesta. Lá de cima, então, por intermédio de um dos orifícios do zinco, eu a vi despida, sobre a cama, acenando para que logo descesse... Fiz sexo pela primeira vez, com uma prostituta experiente, de dezesseis anos...

Com raríssimas exceções, aquele era o último refúgio depois do inferno dos seringais. Eles não tinham mais forças para o trabalho na seringa. Também não tinham qualquer aptidão para os afazeres ou ofícios da pequena cidade. Uma parte fazia pequenos mandados para os bacanas de então. Outra, limpava os quintais ou carregava água para os banheiros e cozinhas dos mais abastados. Alguns pagavam um mísero aluguel. Outros, não tinham como fazê-lo e viviam de favor a sua desventura.

Uma alma compadecida, de vez em quando, doava miúdos de boi e alguma carne. Uma ou outra vez, eu o vi distribuir entre os miseráveis um garrote inteiro. Era Elias Fadul, um misto de pequeno fazendeiro e magarefe, carrancudo e mal humorado como a maioria da gente síria.

Papai e mamãe logo se fizeram padrinhos de alguns meninos. Lembro de quando um senhor de meia idade, recentemente tornado compadre dos meus pais, foi acometido de hidropisia, ou barriga d’água. O homem passou noites e noites gemendo de dor. Quando numa manhã levaram-no ao médico, já era tarde. À noitinha, apareceu o padre italiano e lhe fez a extrema-unção. “O homem tava só esperando”, disseram alguns. É que, em dois minutos, e não mais que isso, o cumpadi Chico já tinha atravessado pro lado de lá. Palmieri, o religioso d’Itália, fez uma careta de asco e se foi pensando ter cumprido o dever. Neste tipo de reunião de pobres, onde não havia bastante comida para encher a imensa barriga do glutão, ele não permanecia, como lá em casa, de onde, nos aniversários, saía com os bolsos da batina cheinhos de quitutes.

Aí, todos se reuniram ao redor do corpo agora prostrado sobre uma velha mesa. Mamãe cedeu um lençol branco, já usado, para cobrir o cadáver. Mais tarde, um besouro mangangá dos grandões, sem que ninguém o percebesse, entrou por debaixo do lençol e foi alojar-se nos dedos dos pés do defunto. Daí começou a se mexer e a debandada dos vivos foi geral. Todos pensaram que o homem queria voltar de onde não queria ter ido. Manhãzinha, papai e mais três estivadores enrolaram o homem no lençol, colocaram-no em uma velha rede cearense e rumaram para o campo santo localizado a uns dois quilômetros da Vila, acompanhados da esposa chorosa e dos filhos menores. Lá, jogaram o fardo num buraco, cobriram com muito barro e nenhuma cruz. Só dias depois é que o arranjo cristão foi colocado sobre a sepultura, sem nenhuma inscrição.

Um dia, já à tardinha, no meio da poeira de agosto, chegaram uns quatro ou cinco burros vindos lá das bandas do Riacho de Areia, Rio Caramano. Traziam um senhor de uns oitenta ou mais anos, um rapaz mais velho e um outro que não sabia se tinha dezessete anos. Alojaram-se num dos cubículos sem janelas. O velhinho tinha barba comprida, branca, não enxergava e portava um cajado comprido à moda mais antiga. As roupas dos três, pouquíssimas, sempre da cor cáqui. A comida rala era feita pelo cego (!) em um fogareiro que enchia todo o quarto de fumaça. As panelas eram antigas latas de banha ou de goiabada. Não havia pratos ou colheres. (Até há pouco tempo, no seringal, as pessoas comiam com as mãos.) O seu Duca, sergipano, ia cedinho pedir esmolas no mercado. O menino mais velho trabalhava nas colônias dos arredores de Xapuri e só aparecia aos sábados. O mais novo, Sebastião, era doido, mas vivia capinando as ruas da cidade em troca de uns dinheiros quaisquer com os quais comprava alguma comida, perfume Desejo e botas sete léguas. Deste, lembro-me que levou uma furada de prego em cima do pé. Ele, então, com um canivete afiado, furou um buraco na parte superior da botina, de forma a deixar livre o ferimento. Uns vinte dias depois, já com a ferida sarada, foi que oBastião descalçou a bota já muito fedida.

Num domingo depois da missa das nove, espalhou-se uma notícia triste. O mais velho havia amanhecido morto. Papai depois me disse que ele morrera de tiriça preta, hoje conhecida como hepatite do tipo C.

Certa vez, o velhinho se acercou da nossa calçada, onde conversávamos à noitinha. Ele me disse:

- Menino Gibiri? É o Zé Claudi, né?

- Sou, sim senhor.

- Você vai ser muito feliz. Tudo o que você quiser Deus vai lhe dar.

Depois, recitou, de cor, o longo Romance da Princesa da Pedra Fina, de cordel... Esta é a minha última lembrança dele.

Sebastião, hoje, apesar da saúde mental fragilizada, é vigia de uma escola e encarregado de tocar os sinos da matriz de São Sebastião nos horários de praxe, sempre sem nenhum atraso.

Morava por lá um moço, muito tranqüilo e caladão. Um dia, depois de muito esforço, conseguiu comprar uma canoa pequena e passou a sobreviver da pescaria de espinhel. Numa noite, ele foi para o rio Acre corrigir os anzóis, mas teve um desfalecimento e tombou para fora do barco. Sofria de uma doença chamada epilepsia. Só dois dias depois é que o meu tio José Maciel achou o corpo, já completamente putrefeito, enganchado em alguns balseiros. Saíram-lhe peixinhos das entranhas através da boca do defunto. E fomos então enterrá-lo. A barriga estava inchada de tanta água. Aí, um torrão maior de barro foi jogado por alguém e o ventre do cadáver estourou e aspergiu uma água fétida distribuída entre todos que estavam à beira da cova, inclusive eu.

No passado dama da noite, Donana, de uns setenta anos, morava na Vila, de graça, acometida de Alzheimer, à época popularmente chamada caduquice. Como na poesia, a carne mais barata do mercado é a carne negra. Por isto, estava morrendo à míngua num quarto que só tinha um velho catre, umas latas de flandres onde fazia alguma comida num fogareiro, e um quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Um dia, ela amanheceu morta em meio a um monte de fezes.

Um outro personagem desta minha história real e macabra é Maruíla, cuja esposa o abandonou assim que soube que ele tinha um câncer no estômago, fruto de uma alimentação de péssima qualidade e do uso freqüente do álcool e cigarros tipo porronca. Numa rede, em um dos pouquíssimos aposentos que tinham janela, permaneceu o indigente com a barriga muito inchada por meses a fio, gemendo de tanta dor. Mamãe ou vovó lhe traziam uma sopa ingerida com muita dificuldade. Ao final, estava pesando apenas uns vinte quilos. Morreu abandonado no fundo de uma rede e teve enterro idêntico aos demais miseráveis da Vila.

Maria Galvão era mãe de uma garota de oito e de um garoto de uns seis anos e tinha um amante que era gerente de seringal e a visitava talvez mensalmente. Um certo dia, eu a vi ser agarrada, aos gritos e palavrões sem tamanho, sob os olhares dos vizinhos, por três homens grandões, e ela se soltava sem maiores esforços... A moça tinha um encosto.Um espírito mal houvera se apoderado do corpo dela.

Os velhos cearenses lá de Xapuri sempre diziam que atrás dos mais pobres anda um bicho da boca grande e dentes podres, a fome... As histórias desses infelizes ainda hoje fazem parte dos meus sonhos mais tristes.

___________

*Publicado originalmente em outubro de 2008.

domingo, 26 de abril de 2015

AO POINT DO PATO, UM POEMA NOTÍVAGO

CLÁUDIO MOTA PORFIRO*

Um poema para a boemia talvez jamais venha a ser cartesiano, exatamente, pelo pouco equilíbrio constante, já, a partir das próprias palavras trôpegas de quem o engendrou em meio a talagadas generosas de uma caipirinha de kiwi. Mas aqui, neste caso, o René Descartes vai ter que dançar o tango no compasso que eu quiser. Foi esse francês fenomenal que deixou um mimo mais ou menos parecido com as frases que seguem. Os homens que se emocionam com as paixões são capazes de ter mais doçura na vida. Muito provavelmente tudo isto foi dirigido a mim... Saúde!

E sobre as paixões, pensando bem, há homens que se apaixonam unicamente por uma ou muitas mulheres. Ao par destes, observo aqueles que são apaixonados por certos lugares. Eu, cá de minha parte, também fico extasiado ante o belo sexo, todos os dias, ainda cedo, quando abro os olhos e os esfrego pensando ser miragem a musa que está ressonando ao meu lado. Tudo isto, sem falar dos meus amores platônicos pelamaravilhosa cidade de São Sebastião, lá na velha Guanabara.

Mas eu preciso ir além sempre, muito mais adiante. Em verdade vos digo que há certos botecos que foram marcando, indelevelmente, a minha alma fugaz pela vida afora. Eles, cada um ao seu tempo, são a minha cara, dependendo da época desta existência descuidada e marota.

Por último, há uns doze anos, tenho ficado e gostado bastante desse tal Point do Pato, depois de perambular feito andarilho em busca do algo melhor que muitos encontram em poucos locais que lhes agradam deveras. Enfim, achei o meu ninho, a paz de um boteco generoso que me faz degustar a cerveja numa temperatura entre o ponto de bebericar e o de congelar. Uma beleza!

Lá estou sempre às sextas, depois de percorrer nove quilômetros entre a minha vivenda e o boteco amado. Uma viagem feita em ansiedade, posto que todos os pecadores que conversam com a cerveja, nesta dada hora e neste justo momento, já se encontram aflitos ou com água na boca à procura de algo muito óbvio que lhes refresque a goela e aguce o pensamento e o sentimento e as ações que estreitam cada vez mais um convívio de alguns dos mesmos, inclusive, um que propõe seja formada a Confraria do Point do Pato. Dá-lhe, garoto!

Enquanto outros recintos do gênero abrigam uma clientela bem diversificada, em termos de origem natural, lá, a acreanidade lateja, é pulsante, reverbera, brilha nos olhos de tantos quantos se cumprimentam e, neste momento, perguntam sobre como estão os familiares, os amigos mais antigos, os velhos professores, os locais e as relações de trabalho, dentre outras indagações.

Como parte das obrigações do agente de desenvolvimento de recursos humanos na Ufac, tenho a função de dar as boas-vindas a todos quantos são contratados pela Casa, ou vou mandando bem de cicerone dos que nos visitam em viagens de trabalho ou estudo. Se a minha argúcia observa que o cara pálida é do ramo das espumosas, entre uma vírgula e outra, já o convido para conhecer um boteco com a cerveja mais gelada do mundo e música de altíssimo nível, na sexta, é claro. Como o cidadão tem, no mais das vezes, a cara e o jeito de inteligente, a ele digo que lá há um camarada meu que se auto adjetivou enquanto um chicólatra. Aí, nós já estamos a caminho, às vezes, inclusive, com a esposa e os filhos a tiracolo. Vá entender!

O moço do violão, sim, é um capítulo à parte. Nada que lembre uma toada sertaneja ele terá vontade de tocar. Tudo o que remeta a Chico, Gil, Caetano e Fagner ele faz questão de colocar o seu talento e o seu bom gosto nas notas sempre muito bem arranjadas no instrumento.

Manobreiro de palavras, escrevinhador de rotinas, esquadrinhador de frases, metido a artista em prosa e verso sou eu. Por isto, fico de queixo caído com a habilidade musical do mago do violão, que não sabe se é do Maranhão, do Pará ou do Acre. A ele, aplausos mui demorados e de pé. Bravo!

Dias desses, então, encontrei um bom homem no supermercado. A mim ele perguntou se eu ainda andava no Point do Pato. Ao que assenti. Daí ele foi adiante e indagou sobre se ainda lá estava o mesmo Galvão, se o Lima ainda cantava a mesma Valsinha, do Chico Buarque, se a cerveja ainda habitava a casa dos três graus, e assim por diante. Eu disse que sim. É já tradição. Tudo ainda acontece como na época em que ele era um dos partícipes do convívio etílico-gastronômico-musical. Por isto é que é bom.

Mas houve um certo desrespeito. Advogo que estamos tratando de um local onde a cultura acreana se faz efervescente. Por isto, exijo que o poder público tenha um pouco mais de carinho para com o meu boteco. É um erro crasso da autoridade que lá chegou e já foi aplicando uma pena segundo a qual o Pato cerraria as portas. O correto seria, antes, apenas uma recomendação e, em quinze dias, tudo estaria acertado. Não há nenhum prazer em gerar prejuízo para quem não merece. 

Não, irmão bacana! Eu não tenho a necessidade nem de comprar fiado. Sou do tempo em que comida e bebida devem ser compradas à vista, no cache. A minha intenção não é obter privilégios como uma cerveja de brinde. Jamais. Afianço-te que crônica como esta existe porque se trata de um retrato da minha boemia e um esboço de uma das partes mais deliciosas da minha vida. Ademais, uns poucos homens e mulheres de bom coração até já notaram que cometo alguns exercícios bem pródigos nas artes da literatura. É isso o que dá!

Os mais sensíveis hão de notar que os humanos que praticam as coisas com carinho desmedido têm sempre o prazer de fazer bem feito, ou pelo menos do jeito que a maioria gosta. Bom é ouvir, então, o que um dia me disse a senhora Jorge, minha amiga, proprietária daquela casa de deleite intenso:

Há dezessete anos, surgia o Point do Pato. Já no início, se fez muito bem frequentado. Tornou-se ponto de encontro de empresários, jornalistas, médicos, escritores, dentre outros. Em suma, o Pato tornou-se o Point de todos. Quando a questão turística começou a ser tratada por aqui, o Point virou um polo de turismo gastronômico. Daí vieram os prêmios, como os do Guia 4 Rodas. Depois, fui entrevistada pela revista Gula. Em seguida, dei entrevista para o programa Mais Você, da Ana Maria Braga. Enfim, ganhei vários prêmios, certamente porque coloco o ingrediente insuperável que é o amor à arte de bem atender.

            Por tudo isto e por muito mais, grafei em bom papel os versos toscos abaixo. Esta, sim,  uma irresistível vontade de demonstrar o meu afeto de homem da noite por todos os que por ali pululam.

UM POEMA NOTÍVAGO

Viola feita do pinho,

Só mesmo muito carinho,

E um talento afinadinho,

Para fazê-la chorar.

Uma canção gota a gota,

Entre uma nota e outra,

A vida corria solta,

Nos acordes do Ademar.

Meia noite, lua a pino,

Discutíamos o destino

Daquele sertão menino,

Desta terra, deste lar.

Ali, quase atei a rede,

Era muita a minha sede,

Em casa era como estar.

Depois do último solfejo,

Ainda mandei um beijo,

Só pra matar meu desejo

E um poema pra embalar.

Daí a noite se fez fria

E a rua ficou vazia

Antes de raiar o dia

Em casa me vi chegar.

__________

*Autor de Janelas do tempo, livro de crônicas, de 2008; e O inverno dos anjos do sol poente, romance, de 2014, à venda na Livraria Nobel do Via Verde Shopping.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

AMIZADE SEM FRONTEIRAS

1-P4230092

As pimentas de variados sabores são um presente especial de um admirador do trabalho que faço neste blog desde o ano de 2007. O senhor Antônio Pinto Filho mora em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, de onde acompanha há algum tempo as postagens do Xapuri Agora!.

Pai do juiz de direito Luís Gustavo Alcalde Pinto, titular da comarca de Xapuri, passou a buscar na internet informações sobre a cidade para a qual o filho veio trabalhar, em outubro de 2011, tendo em suas pesquisas encontrado esse modesto espaço de informações e ideias sobre a Princesa do Acre.

Há algumas semanas, Luís Gustavo me transmitiu um recado do pai manifestando um sincero desejo de conhecer o autor deste modesto diário, assim como a Rádio Educadora 6 de Agosto, emissora em que trabalho há quase 27 anos. Antônio Pinto esteve no Acre neste mês de abril, mas não foi possível vir até Xapuri.

De Rio Branco, enviou pelas mãos do filho magistrado, o agrado que trouxe de São Paulo para este blogueiro junto com a carinhosa carta que segue abaixo. Para mim uma prova de que não existem fronteiras nem distâncias que impeçam as manifestações de respeito e admiração entre as pessoas.  

Novo Documento 5_1

Ao meu irmão Antônio Pinto Filho os votos do mais profundo agradecimento pelo carinho e a manifestação de minha recíproca intenção de em um dia breve poder conhecê-lo e abraçá-lo fraternalmente. Que o Grande Arquiteto do Universo esteja sempre a inundar sua vida de todas as vibrações positivas.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

VARA CRIMINAL DE XAPURI MANTÉM PRISÃO DE ACUSADA POR TRÁFICO DE DROGAS

1-P4080018-001

O juiz titular da Vara Criminal da Comarca de Xapuri, Luís Gustavo Alcalde Pinto (foto), julgou improcedente o pedido de liberdade provisória formulado pela defesa Lenira Diogo da Silva, 20 anos, presa no último dia 21 de março, no entroncamento das rodovias BR-317 e AC-485 (Estrada da Borracha), quando, em companhia de Deusenir da Silva Sena, 24 anos, transportava 200 gramas de cocaína que teriam como destino bocas de fumo existentes na cidade.

O que diferenciou a apreensão das muitas que rotineiramente ocorrem naquela localidade, foi o fato de que as acusadas traziam consigo cinco crianças no táxi em que viajavam, sendo que uma delas tinha, na oportunidade, apenas 15 dias de nascida. Lenira é mãe de uma das crianças e Deusenir do restante. A polícia acredita que as mulheres levaram as crianças como maneira de facilitar o crime.

A decisão do magistrado, publicada no Diário da Justiça Eletrônico nº 5.380, à folha 95, no começo desta semana, salienta a necessidade de manutenção da ordem pública, bem como a presença dos requisitos autorizadores da segregação cautelar da acusada, mantendo sua prisão preventiva pela prática dos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico (arts. 33 e 35 da Lei nº 11.343/2006).

“A prisão preventiva da acusada se justifica pela garantia da ordem pública, uma vez que, como sabido, o comércio de drogas é responsável por severos danos à sociedade, já que corrompe a juventude, prejudica a saúde pública e quase sempre, é a causa de diversas outras espécies de delito”, anotou o juiz na sua decisão.

Em razão da confissão espontânea de Deusenir da Silva Sena, e sendo esta mãe de uma criança recém nascida, a prisão em flagrante foi homologada pelo juiz de Direito Luís Pinto somente em relação à acusada Lenira Diogo, devendo a primeira responder em liberdade pelos crimes cometidos.

“A flagranteada colaborou com o trabalho da polícia do Estado do Acre, confessando, com riqueza de detalhes, o modus operandi do crime, em tese, praticado, fato que deve ser levado em seu benefício”, assinalou Luís Gustavo Alcalde Pinto.

Segundo a polícia, a apreensão do material entorpecente e a prisão em flagrante das acusadas ocorreram depois do recebimento de uma denúncia, que ainda informava que a substância ilícita teria sido adquirida na cidade de Brasiléia, tendo como destino a cidade de Xapuri, onde seria revendida. Lenira Diogo é mulher de Luciano Pinheiro da Silva, condenado no dia 12 de abril do ano de 2012 a cumprir uma pena de 8 anos de reclusão pelo crime de tráfico de entorpecentes.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

DESABRIGADOS COBRAM MORADIAS EM XAPURI

image

A convivência entre as 23 famílias desabrigadas pela enchente do rio Acre que ainda estão alojadas no ginásio de esportes de Xapuri começa a dar sinais de que está se tornando insustentável. Na manhã desta terça-feira, 21, duas faixas com os dizeres: “Não aguentamos mais. S.O.S” e “Queremos moradia”, denunciavam a insatisfação dos ocupantes do abrigo, além da pressa por uma solução.

Entre os problemas relatados pelos desabrigados estão desentendimentos entre vizinhos de boxes, já tendo sido registrado um caso em que uma pessoa chegou a puxar uma arma branca contra outra, além de uma série de furtos. A limpeza e a manutenção do espaço, que são de responsabilidade dos ocupantes, também têm sido motivos de discórdia, segundo explica a faxineira Andréia Rodrigues.

“A convivência nesse lugar está muito difícil. Além das brigas e de gente puxando faca e terçado dentro do abrigo, se uma pessoa que limpeza no local duas não querem. A única coisa da qual não podemos reclamar é do atendimento que recebemos. Aqui nunca faltou o que a gente comer, mas o que precisamos mesmo é ter novamente um lugar para recomeçar a vida”, desabafou.

As famílias que ainda estão no abrigo são aquelas que tiveram suas casas perdidas após a alagação. Elas dependem das ações de governo voltadas para a construção de unidades habitacionais que sanem ou minimizem o déficit provocado pelo desastre natural. Os recursos destinados ao pagamento do aluguel social ainda não foram liberados pelo governo federal.

Diante da situação, o prefeito Marcinho Miranda resolveu tomar uma medida emergencial. Discutiu com os governos federal e estadual a criação uma bolsa moradia transitória a ser paga com os recursos próprios do município às famílias que ainda estão no abrigo, enquanto se aguarda a liberação do recurso federal. O Ministério Público deu seu aval à prefeitura quanto a legalidade do ato.

Ainda na  manhã da terça-feira, o prefeito, acompanhado do secretário de Assistência Social, Juarez Maciel, e do presidente da Câmara de Vereadores Gessi Capelão, se reuniu com os desabrigados e anunciou o pagamento do auxílio, que deverá ocorrer até o fim do mês de abril. O valor da ajuda será de R$ 350,00 e a própria família buscará um imóvel para alugar.

A medida, no entanto, não tem a garantia de promover a solução para o problema da permanência das famílias no abrigo. É que dificilmente todas elas encontrarão imóveis disponíveis para alugar. Andréia, a faxineira, sabe disso, mas não desanima com a realidade. Entregou à fé o fim do seu sofrimento e daqueles que dividem com ela o inadequado espaço do abrigo de Xapuri.

“Temos que acreditar em Deus e nos nossos governantes”.

terça-feira, 21 de abril de 2015

EMPREENDEDORES

Marceneiros vivem novo momento no Parque Industrial de Xapuri

1-P4160077

Quase dois anos depois de saírem da informalidade dos fundos de quintais de suas residências para ocupar as novas estruturas do Polo Moveleiro, instaladas pelo governo do estado no Parque Industrial de Xapuri, os marceneiros da cidade estão comemorando um novo momento de uma atividade que, segundo eles próprios, sempre foi subvalorizada no Acre.

Organizados em cooperativa e com suas empresas devidamente licenciadas e registradas nos órgãos competentes, eles já participam de processos licitatórios para a venda de seus produtos ao governo, por meio do Programa de Compras Governamentais, que prioriza a movelaria acreana, e se tornaram geradores de emprego e renda em um setor cada vez mais profissionalizado.

A nova realidade de centenas de marceneiros em todo o Acre teve início com o Programa de Fortalecimento do Setor Moveleiro/Marceneiro do Acre, que construiu galpões padronizados em 10 municípios com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social que totalizaram R$ 17 milhões em investimentos. Em Xapuri, foram construídos nove galpões, que se somaram a dois que já existiam e passaram a ser o novo local de trabalho de cerca de 50 marceneiros, entre patrões e empregados.

No fim do ano passado, cada uma das marcenarias de Xapuri recebeu do governo do Estado um kit composto por várias máquinas portáteis no valor de R$ 18 mil. O apoio governamental se dá também na forma de capacitação profissional, por intermédio de parceiros como o SEBRAE, SENAI e o Instituto Dom Moacir. Alguns marceneiros que trabalham no Polo Moveleiro de Xapuri já viajaram à Itália para participar de curso na renomada Escola de Designer de Milão.

Diferentemente de um passado recente, os marceneiros agora se orgulham da profissão que possuem. Aldenor Ferreira é um dos que comemoram a nova situação. Segundo ele, os profissionais de Xapuri foram beneficiados com uma condição de trabalho marcada, antes de qualquer outra coisa, pela dignidade.

“Agora temos a alegria de divulgar um endereço que não seja o fundo de nosso quintal, trabalhando em galpões de 300 metros quadrados que nos oferecem todas as condições de conforto e segurança na produção de nossos móveis. Esse foi um dos melhores investimentos que o governo fez em favor de uma atividade que sempre foi marginalizada aqui no Acre”, afirmou.

A reunião de todos os marceneiros de Xapuri no Parque Industrial resultou também na definição de um padrão de produção voltado para a atenção com as normas de segurança do trabalho, qualidade dos produtos oferecidos ao consumidor e utilização de madeira certificada como matéria-prima, através de convênio firmado com a empresa Cooperativa dos Produtores Florestais Comunitários (Cooperfloresta).

1-P4160073

Ampliação do Parque Industrial

Renato Farias, coordenador da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (SEDENS), diz que com a consolidação do Polo Moveleiro, o governo pretende expandir o Parque Industrial de Xapuri, através da disponibilização espaços para a implantação de novas indústrias no município.

“Temos o objetivo de em um prazo de um a dois anos atrairmos para cá novas empresas para gerar emprego para a nosso população. Criar novos postos de trabalho é o grande objetivo do nosso Parque Industrial”, destacou.

No Polo Industrial de Xapuri já está estabelecida a usina de beneficiamento de castanha da Cooperacre – Cooperativa Central de Produção Extrativista do Acre.

domingo, 19 de abril de 2015

INFECÇÃO

Francisco Braga

Quem sabe é Deus e eu não quero (quem iria querer?) que ele venha me dizer pessoalmente que chegou a minha hora, mas se for, que seja. Porém eu peço ao meu absoluto Senhor que me conceda pelo menos, o tempo necessário para eu completar este texto. Bem, os planos de Deus são inescrutáveis, os meus, coitados, inexecutáveis como este de passar mais cinquenta e dois anos para concluir e dar o derradeiro ponto final em minha última crônica.

Não sou sujeito de chorar à toa não. Só quando alguma mulher me larga, me penabundeia com chifres e tudo, ficando com a caução do aluguel e eu só de calção, de bunda pro céu. Também quando levo uns bem merecidos tabefes de algum de meus queridos “melhores amigos” de boteco, quando sou achincalhado, roubado, pernapassado e humilhado... Enfim, chorar tem o seu valor, mesmo que lágrimas secas jamais levantem os sorrisos por onde passaram.

Quando sinto muita dor eu não choro não. Escorrer uma ou duas lagrimazinhas, quando o dentista sacode a tua cabeça pra lá e pra cá, agarrado com um alicatezão destamãe, no teu derradeiro ciso inflamado, até sacá-lo fora e distanciá-lo para sempre da tua saudosa rapadura, isso não é chorar é? Mas eu estou, neste exato momento, quase chorando por conta de uma brutal infecção intestinal.

O plantonista do hospital foi quem disse que é infecção intestinal, eu mesmo acho que é uma infecção tudal, porque me dói a barriga inteira, os peitos, as canelas, a coluna e o pé da orelha. Meu couro cabeludo arde, meu cabelo palpita. Apareceu até caspa na sola do meu pé. Me perguntou sobre meus modos alimentares e como pra médico, nem padre (só pra juiz federal) não se pode mentir, eu disse que bebo muito e como bem pouquinho. Tô preocupado. Acho que, daqui para frente terei que comer mais.

Eita! Meu estômago acaba de trocar de lugar com a pleura! A barriga se mexe tanto que tô me sentindo como aquela mulher grávida de sêxtuplos. Aiiii! Tô sentindo cólica até no sovaco. Pior de tudo isso é que ainda estou gripado. Cada espirro, outra cueca. Que vexame! Chega dá vontade de chorar. Com licença, vou ali, na casinha e volto já... Acredite, é uma fração de segundo!

Terminei ainda não, Senhor!
Ah, o Senhor já sabe né...
Benza-me, Deus!

Francisco Braga é jornalista, cartunista, cronista, poetista e o escambau a quatro.

CANTATAS AO RELENTO EM SOL MAIOR SUSTENIDO

CLÁUDIO MOTA PORFIRO*

Caminhei por atalhos densos, escusos, íngremes mesmo, por pântanos a perder de vista. Passeei pela vida afora assobiando ao vento, com as mãos nos bolsos da jaqueta bem talhada, sempre coçando alguns ou muitos vinténs que nunca me faltaram. Depois, passei a velejar por mares ainda mais remotos, tendo como orientação o velho astrolábio deixado pelo meu avô Belizário da Conceição Oeiras, o marinheiro.

Ainda subia a ladeirinha da telefônica quando, de repente, um vento frio me bafejou as fuças prazenteiras. Ergui as vistas e divisei a alma penada predileta que, à minha frente, cerca de dez passos, corcoveava sobre pernas invisíveis e parecia dançar algo como o flamenco. Passei então a caminhar bem devagarinho, mas a imagem do além túmulo não se fez de rogada e ficou a me esperar. Cumprimentou-me efusivamente, fez mesuras de um mundo e de uma época que já vão longe, festejou mesmo, uma vez que nos avistamos a cada dois ou três meses, há dez anos. Já somos bem conhecidos e quase amigos, é certo.

Como ele sabe já das minhas preferências literárias, passou a recitar, em forma de poema, o parágrafo lá de cima, dando ênfase teatral quando citou o nome do avô morto, no Brasil, em combate, na guerra contra os paraguaios.

Na parada de ônibus, então, uma velha matrona ficou espantada e fez o sinal da cruz e persignou-se, quando me viu e ouviu falar de mim para mim mesmo, uma vez que me dirigia à alma do outro mundo, invisível aos olhos dela, uma mera mundana insensível, no bom sentido, é claro:

- Meu boníssimo Astrogildo Berimbau... Sujeito dos cacetes! Vossa Mercê e as suas ponderações acerca da alma humana. Sempre muito brilhante. Prossigamos!

Como sempre, ele me fez companhia até a entrada do mercado dos peixes da estação. Era segunda-feira madrugadinha, ainda sem sol. Havia feirantes e fregueses tagarelando para todos os lados. Dona Máxima, a simpatia e simplicidade em pessoa, fez cumprimento sorridente. Como sempre, de saída, já não vi o espírito sacana que me faz companhia, mas vim para casa com a sacola de tambaqui nas mãos e remoendo as palavras do doido mais transversal do mundo dos sensitivos.

E agora, pensando na inteligência e na argúcia do Astrogildo Berimbau, percebo não saber como é que o sujeito morre na Espanha, a tiros, num beco escuso da Rambla, em Barcelona, e vem bater aqui, nos confins da Amazônia, já na subida dos Andes, enquanto ser espiritual, para tornar-se o meu melhor amigo das nuvens. Certo é que eu me afeiçoei a ele e às suas tiradas sempre jocosas que aliam o fervor dos espanhóis com a tagarelice e a pabulagem dos nordestinos do Brasil.

Foi aí que o doidivanas pontuou Aristóteles que dizia algo parecido com o aforismo segundo o qual a música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição.

Segundo o senhor Berimbau, o avô, cearense de Aracati, pertencia à marinha mercante e ancorara em portos do mundo inteiro. Como homem do Ceará, exagerava nos relatos rocambolescos em meio aos lençóis e fronhas e alcovas e puladas de muro por aí afora. Ficava acordado e dormia e sonhava e arrochava laços de prazer com mulheres dos mais variados matizes e culturas diversas.

Pinga fogo que era, em Marselha, uma vez, se encantou por uma moçoila morena trigueira de vinte e poucos anos. Ela nascera ao norte da França, mas, de origem humilde, trabalhara, desde criança, nos olivais da região de Alsácia e Lorena.

Depois, vivera enquanto criada nos arredores de Paris, quando aprendeu a ler, na Malmaison, onde ainda viviam alguns descendentes de uma antiga proprietária, Josephine, a crioula da Martinica que botou chifres homéricos em um marido efeminado, nada mais nada menos que Napoleão Bonaparte.

De tanto ouvir ao gramofone enquanto zelava os aposentos de uma madame qualquer, aprendeu a cantarolar com alguma qualidade modinhas trazidas da infância em meio aos vinhedos.

Foi com a base assim bem calculada que Théréza se tornou afinada e afamada cantora de baladas na região do porto de Marselha. Segundo o Astrogildo, lembrando essa paixão frugal, mas não passageira, o seu avô sempre cantarolava Vous Qui Passez Sans Me Voir, de Jean Sablon.

Ao redor das penteadeiras de Madame Julie Clary, em Malmaison, Théréza ouviu falar nos perfumes tão bem elaborados em Paris. E foi assim que ela partiu para o trabalho de cantora. Era preciso algum dinheiro. Roupas, calçados e perfumes sempre são muito caros. Se aparecesse alguém que lhe bancasse pelo menos parte de todo esse gasto, a vida, enfim, voltaria a lhe sorrir, como na infância.

Não sei ao certo como uma moça pouco atirada poderia ter ensandecido as saliências e a libido do marinheiro Oeiras. Lembro, enfim, ter o Berimbau dito mais ou menos que um dia chegará a hora de separar as meninas das mulheres, da forma mesma como são separados os homens dos garotos.

Um certo livre pensador português relata-nos que uma aventura vale na medida em que é perigosa. Por conta da cantora, Belizário se meteu em muita pancadaria, onde a capoeira dava o tom dos seus golpes sempre muito violentos e bem aplicados.

O lirismo da música na voz da francesa tornava o ar muito mais respirável, pelo menos enquanto ele ficava em Marselha, às vezes, por semanas, enquanto o navio era carregado e/ou descarregado no porto mais movimentado da época.

Problema único a resolver foi que o odor próprio dela era mais forte que os mais fortes perfumes de toda a perfumaria francesa. Fazer o quê?

Até que uma vez, limões taitianos passaram a ser usados nas axilas, dia sim, dia não, em casa. No intervalo, sabão puro era empregado durante toda a tarde. Certo é que, em uma semana de terapia intensiva, o bom marinheiro tinha nas mãos a moça mais cheirosa de toda a França continental.

Numa das suas tiradas mais sarcásticas por mim anotadas, em resumo, o bom Astrogildo Berimbau acrescentou algo parecido com a assertiva a seguir:

- Menina é menina e não cheira, mas também não fede, ou pode até ter maus cheiros debaixo dos sovacos, aos vinte e poucos anos, porque ainda não é mulher o suficiente. Ao contrário, as damas cheiram porque os seus princípios femininos assim o exigem. Elas misturam um certo odor feminino natural pós-banho com os mais variados perfumes de todas as origens, e tudo fica angelical. Considere-se, por outro lado, que há algumas mocinhas de pouco mais de quinze voltas que cheiram encantadoramente, isto porque já nasceram com a alma de madame. Uma verdadeira maravilha!

Pela falta de um grito se pode perder toda uma boiada. Um bom brasileiro arranjou um jeitinho a mais. Foram felizes, sim. Théréza veio para o Brasil e aqui permaneceu por apenas três meses, no Recife. Foi quando Belizário, aos quarenta anos, se viu na obrigação de alinhar-se ao exército de Tamandaré e Caxias.

Uma pena! O marinheiro foi atingido por um projétil na Batalha do Riachuelo, na confluência do rio Paraguai.

__________

*Autor de Janelas do tempo, livro de crônicas, de 2008; e O inverno dos anjos do sol poente, romance, de 2014, à venda na Livraria Nobel do Via Verde Shopping.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

CASA DE CHICO MENDES CONTINUA FECHADA

xapuri_agoraRC_xapuri_alagada

Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN - em 2008, a casa em que viveu o líder seringueiro Chico Mendes não tem data para ser reaberta ao público. A previsão da superintendência do IPHAN é de que isso ocorra apenas no segundo semestre de 2015, depois de passar por um processo de restauração cujo projeto havia sido concebido antes mesmo da alagação.

Com o evento do desastre natural, o estado da Casa de Chico Mendes foi agravado, apesar da estrutura não ter sofrido forte abalo , segundo explica a coordenadora do espaço, Caticilene Rodrigues. “Foram apenas dois barrotes que baixaram e com isso a parede também cedeu dificultando a abertura e o fechamento de portas e janelas. Quanto ao acervo, nada foi perdido”.

Deyvesson Gusmão, superintendente do IPHAN no Acre, diz que um novo dignóstico foi solicitado à empresa que já havia iniciado o projeto de restauração. “Com a enchente, foi necessário um novo diagnóstico do estado pós-cheia fosse realizado para que o projeto seja adequado à nova situação”, disse. Ainda segundo ele, o trabalho deverá ser iniciado ainda em 2015.

Enquanto a casa não é reaberta à visitação pública, o acervo que conta a história da vida e da luta de Chico Mendes está exposto no Museu do Xapury, localizado no prédio da antiga prefeitura da cidade. Quanto ao entorno da casa, que reúne espaços como a Fundação Chico Mendes, a Casa do Artesão, o Café Regional e a Casa do Seringueiro, o governo do estado avaliando a situação.

PNEUMOTÓRAX

Manoel Bandeira

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:

— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

ARCO-ÍRIS

1-P4160089

A natureza sempre a nos brindar com suas maravilhas.

PONTE MÓVEL ENTRE XAPURI E SIBÉRIA

Governador Tião Viana se reuniu com ministro da Defesa e garantiu a construção de ponte que é reivindicação antiga da população de Xapuri

1-IMG_7302

Leonildo Rosas, de Brasília

O governador Tião Viana se reuniu nesta quarta-feira, em Brasília, com o ministro da Defesa, Jaques Wagner, para tratar, entre outros assuntos, da instalação de uma ponte móvel em Xapuri.

A ponte ligará o município ao bairro da Sibéria e garantirá o escoamento da produção dos moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes. Os serviços serão realizados em parceria com o 7º Batalhão de Engenharia e Construção (BEC).

O ministro Jaques Wagner garantiu ao governador que todos os esforços para garantir a ponte sobre o Rio Acre serão feitos, haja vista que essa é uma reivindicação justa, por atender aos verdadeiros guardiões da floresta, que são os extrativistas que trabalham com manejo.

Tião Viana frisou que o compromisso do governo do Estado com os extrativistas é permanente. “Agradeço a sensibilidade do ministro Jaques Wagner. Ele compreendeu a necessidade da ponte, que atende aos anseios dos extrativistas e dos demais cidadãos de Xapuri”, comentou o governador Tião Viana.

Em 2014, último ano do primeiro mandato de Tião Viana, o governo investiu R$ 28,5 milhões em todas as reservas do Estado e em projetos de geração de renda, mantendo a floresta preservada.

Leonildo Rosas é porta-voz do governo do Acre.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

SETUL AVALIA DANOS A PONTOS TURÍSTICOS

image

A Secretaria Estadual de Turismo e Lazer está visitando os municípios que, além da capital, Rio Branco, sofrem as consequências da maior cheia da história do Acre, ocorrida no início desse. Os impactos do desastre natural também podem ser notados em vários atrativos turísticos dessas cidades. Uma equipe técnica coordenada pela turismóloga Silmara Lima está fazendo um levantamento dessa situação com o objetivo de mapear e diagnosticar o estado desses patrimônios.

Nesta quarta-feira, 15, equipe da Setul visitou pontos referenciais de Xapuri, como o centro histórico da cidade, a Casa de Chico Mendes, a Casa Branca e a Casa Kalume, cujo guardião, o senhor Antônio Zaine, faleceu na semana passada. Também foram visitados os hotéis e os restaurantes localizados na região da cidade atingida pela enchente, como o tradicional restaurante Tia Vicência, cuja proprietária, Vicência Bezerra, outro nome marcante da história da cidade, faleceu em 21 de março de 2013.

O trabalho realizado pela equipe vai embasar a Secretaria de Turismo na busca por recursos para desenvolver projetos de recuperação do que foi destruido ou danificado nas cidades acreanas afetadas pela enchente. A Setul aproveitou a visita ao interior para divulgar a campanha #PartiuAcre, lançada no dia 1° de abril, com o objetivo de incentivar e promover o turismo interno, haja vista que muitos acreanos ainda não conhecem os potenciais turísticos do estado.

image

Funcionários da Secretaria de Turismo fazem selfie em frente a tradicional Casa Kalume, um dos pontos turísticos destruídos pela enchente.

MEMÓRIAS DO TEMPO DE IR ADIANTE

CLÁUDIO MOTTA PORFIRO*

Primeiro, fizeram de mim um menino tímido, como hoje ainda o sou, embora ninguém acredite, ninguém veja. Viajei, é certo, por mares nunca d’antes navegados e, em viagem, depois dos dez dias fora de casa, sentia saudades da mãe e, à noite, de olhos fechados, a via passar as mãos na cama de modo a fazê-la mais confortável para o meu deleite. Era a emoção viva e pulsante da velha alma infanto-juvenil.

Depois, em palavras bem estudadas, disse poesias que não escrevi, aos ouvidos do belo sexo, ainda que nem estivesse apaixonado. Penso que, a partir de meados da segunda década, fazia esse exercício ilusionista muito mais enquanto ensaio para quando as coisas se fizessem realmente difíceis, como nem sempre foram. Casei de verdade aos trinta ponto cinco, como vovó planejara. Bem feito! Quem mandou se meter a malabarista?

Não. As características donjuanescas jamais fizeram parte do rol das manias da minha alma sacana. Não iludi, não menti, não trapaceei. Apenas omiti detalhes às vezes um tanto sórdidos, escabrosos, o que quase sempre dá no mesmo, é a mesma coisa. O pecado é grave da mesma forma. Os versos eram abstratos, mas as segundas intenções estavam sempre à flor da pele ou ao redor de uma despercebida vírgula recheada de duplo sentido. Se escorregar, é melhor cair…

E fui por aí, vivendo a vida leve e folgazã, uma vez que o soldo republicano o permitia. Ganhava realmente muito bem para um moço de vinte e pouquinhos anos. Inspirava-me, e muito e sempre e tanto, no Vinícius de Moraes, o poetinha da fidelidade.

Ademais, o que fiz além de sonhar com as divas do meu tempo – Caroline de Mônaco, Sônia Braga, Brooke Shields, Lucília Parra… – foi a compra de um carro um tanto luxuoso para a minha província e para aqueles tempos de devaneio. Como dizia de mim mesmo à época, fui levando uma vida de pequenos deslizes, crimes mínimos, pecados hediondos, furtos insidiosos em que corações foram arrancados de peitos arfantes e juvenis, aos pulos. No mais, nada demais. Julguei a mim mesmo sempre um inocente que deixava um olho acordado enquanto o outro dormia a sono solto.

Passei então a viver pensando que os que têm alma não têm calma. Aí foi que me iniciei no mundo das emoções. Cheio de raça e fímbria desde a medula, matei a pau. Estudei o suficiente para tornar-me, um dia, um homem feliz, um sujeito realizado, em que pese as minhas limitações marcadamente humanas. Fui aprovado em tudo quanto me meti, só não em concurso de beleza, posto que a minha maré nunca esteve pra tanto peixe assim, e Deus achara demais da conta me ofertar além do merecido quinhão. O Divino acertou quando me deu de presente o amplo tirocínio.

Certo é que, a ferro e a fogo, gravaram em mim a tatuagem indelével e fria da impetuosidade. Quase me tornei uma máquina programada para ir sempre em frente. Só mais tarde é que deixei de correr atrás, porque já havia alcançado tudo, ou quase tudo. Hoje, de carro, ando a sessenta quilômetros horários no máximo, porque aprecio a paisagem enquanto dirijo e, de quebra, ainda olho para quem me olha da beira da calçada. Nunca se sabe. É ela aos trinta. Vai que cola!

Num dos meus dias de adolescente, ainda imberbe, começaram a brotar as primeiras paixões avassaladoras, cáusticas, lacrimejantes, fúteis, como é tão natural entre a maioria dos que têm idade reduzida e pouco aprendizado, muito embora as lágrimas não tenham caído dos olhos, mas molhado quase por completo a alma medonha.

Namorei uma mocinha que nunca soube ter sido eu um dia namorado dela. Se soubesse, daria por concluído o namoro. Isso tudo só para dizer a um tio meu que era um principiante cheio de qualidades. Tudo mentira tosca. Só macaquice. Coisa de iniciante.

Hoje, a família primeira ainda me dá asas aos sentimentos. É emocionante pensar nas dificuldades passadas e sentidas no decorrer de uma viagem do sertão do Ceará até o Acre, em busca do pouso seguro e nunca encontrado, feito o pote de ouro.

Os ancestrais guerreiros foram heróis que ajudaram a conquistar esses ermos em tempos de Galvez e Plácido. Os pais e os avós são lembrados e têm as suas memórias guardadas, sim, porque este poeta insano e bobo é ainda cronista que traz a história no quengo e faz remendos em vista da memória fotográfica que, com algum exagero, ainda chega aos anos cinquenta, pratrasmente.

Ah, os filhos! Eles também ainda me emocionam e não o deixarão jamais. Também me causa algum sentimento ver a fímbria da sócia no empreendimento de fazer crianças. Ela é fera. Parte dela o zelo pelos bens conquistados com esforço. É tarefa que lhe cabe ainda ver preço a preço e a data de vencimento e a consistência e a qualidade de um rol de cem produtos no supermercado todos os meses.

Às vezes, como em algumas madrugadas semanais, quando fico a rabiscar garatujas nessa máquina de fazer doido – o computador – bate-me uma boa saudade dos irmãos que ainda estão por aqui para me ajudar a contar as nossas histórias desde a origem nas terras dos xapuris. Tenho, a essas horas silenciosas que nos propicia o sol escondido por trás da Terra, ainda anseios por ouvir relatos encantados dos dois que se foram em busca de outros mundos e de outras glórias superiores às nossas de terráqueos urbanos fúteis e pecaminosos.

Outro dia, vi um menino ainda quase menino. Ele ganha a vida esmurrando os outros dentro de um tal octógono e fazendo-os desmaiar, se possível. Dizia o rapazola ao repórter que matara a unha um leão por dia, comera o pão que o diabo amassou, dormira no chão duro e suado de uma academia de pugilistas, morava de favor num cubículo cedido por um amigo quase irmão, foi alvo de muitos favores, mas sempre lutou bravamente para, quem sabe, um dia…, um dia… comprar uma casa bacana para a sua mãe, em Manaus… É o Zé Aldo bom de porrada. Emociona muito porque tudo parece comigo. É medida grande para o meu encantamento humano ver um menino pobre que vence pensando em ajudar os pais.

Lembro depois os que não são bem sucedidos, aqueles que não venceram como gostariam, como aquele que queria ser igual ao Pelé, ou aquele que se comparava ao Zico. Estes não têm sequer a oportunidade de contar as suas historinhas de vida acabrunhada… Dá pena.

Um dia, já em idade bem madura, escrevi sobre as razões da emoção. Desfiei um rol delas. Talvez até esteja aqui repetindo algumas. Em verdade vos digo que, naquele tempo, eu ainda era pleno de sentimentos e escalava todo o time do Fluminense do Rio. Sabia-o de cor.

E agora, José Cláudio? Numa paráfrase ao Drummond, as luzes não se apagaram e, ao contrário, estão bem acesas, mas as emoções se tornam rarefeitas, desde alguns anos. Muito daquilo que me emocionava já não me emociona. Fiquei, parece-me, um tanto áspero com o passar dos tempos e, como as velhas árvores, tenho morrido a partir dos galhos mais altos.

É assim que acontece quando a razão começa a tomar o lugar da emoção. O raciocínio pode tornar-se lento, mas fica muito mais eficaz, com certeza. Já não se acredita em gnomos. O sol é um astro apenas com autossuficiência em eletricidade. A lua já não é a namorada dos sonhos, mas o satélite da Terra que jorra uma luz fria e serve para alimentar os sonhos de conquista dos americanos.

Tudo é muito claro. Escuros são apenas alguns pensamentos de muitos que sonham com o dia da batalha final entre um coração fantasioso que jamais deixará de pulsar e o outro que para de bater e deixa a matéria a decompor-se e a desaparecer para todo o sempre.

Tenho uns amigos que choram e têm insônia quando o Fluminense deixa de ganhar. Eu, de minha parte, já não sofro destes males escabrosos. Tenho filhos para criar. Eles todos querem ser engenheiros e os meus camaradas tricolores querem que eu seja ainda um fanático pelo futebol. Já não o sou. Já não suporto sê-lo, apesar de nutrir as simpatias por este clube tantas vezes campeão.

Tento explicar que já não tenho idade espiritual para fanatizar as minhas parcas emoções. Alguns menos inteligentes desaprovam as minhas atitudes racionais por não verem que a idade me fez pensar mais claramente, que alguma leitura de livros aos milhares me fez ver que é de pão, sim, que o homem vive, e não das migalhas que caem das mesas dos mais apaixonados.

Na verdade, o Fluminense já é um entusiasmo tênue. Estive lá, na primeira quinzena do janeiro último. Fotografei o irmão apaixonado na sala de troféus e no bar. Voltei muitos anos na minha história de torcedor antes fanático. Mas já não sou o mesmo. Já não respiro o império dos sentidos. Já não me tocam as paixões avassaladoras da primeira idade, embora o tilintar de copos, à noite, ainda me deixe um tanto perplexo ante a visão da vida noturna que se renova a cada bom trovador que ouço na Lapa ou no Paço, em Vila Isabel ou no Point do Pato.

Mais um chope à nossa saúde! Viver é bom demais. Ser feliz é melhor ainda…

*Autor de Janelas do tempo, livro de crônicas, de 2008; e O inverno dos anjos do sol poente, romance, de 2014, à venda na Livraria Nobel do Via Verde Shopping.

terça-feira, 14 de abril de 2015

A MÁQUINA DO MUNDO

Carlos Drummond de Andrade

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.

Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,

convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas,

assim me disse, embora voz alguma
ou sopro ou eco o simples percussão
atestasse que alguém, sobre a montanha,

a outro alguém, noturno e miserável,
em colóquio se estava dirigindo:
“O que procuraste em ti ou fora de

teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,

olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,

essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo

se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste… vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo.”

As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge

distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos

e tudo que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber

no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar
na estranha ordem geométrica de tudo,

e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que tantos
monumentos erguidos à verdade;

e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa,

tudo se apresentou nesse relance
e me chamou para seu reino augusto,
afinal submetido à vista humana.

Mas, como eu relutasse em responder
a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,

a esperança mais mínima — esse anelo
de ver desvanecida a treva espessa
que entre os raios do sol inda se filtra;

como defuntas crenças convocadas
presto e fremente não se produzissem
a de novo tingir a neutra face

que vou pelos caminhos demonstrando,
e como se outro ser, não mais aquele
habitante de mim há tantos anos,

passasse a comandar minha vontade
que, já de si volúvel, se cerrava
semelhante a essas flores reticentes

em si mesmas abertas e fechadas;
como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,

baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.

A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,

se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mão pensas.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

FRENTE A FRENTE

1-P4080040

Um momento forte da audiência de instrução e julgamento do processo penal do homicídio praticado contra o delegado Antônio Carlos Marques Mello, realizada no último dia 8 na sala das sessões do Fórum de Xapuri. Antes disso, havia sido realizada a audiência referente ao crime praticado contra a estudante Janaína Nunes, assassinada barbaramente ao tentar defender sua mãe.

Quase três meses depois de efetuar o disparo que levou o delegado à morte depois de lutar pela vida durante 25 dias, Elivan Verus da Silva, o acusado dos crimes, votou a se encontrar com o policial civil Eurico Feitosa, que efetuou disparos contra ele no começo da noite do dia 14 de dezembro do ano passado, momentos depois de Antônio Carlos ser alvejado com um tiro de espingarda.

Mesmo sendo baleado na perna e na barriga, Elivan conseguiu fugir do cerco policial e apenas foi preso no dia seguinte, depois de uma mega-operação ser mobilizada para a sua captura. Perante a justiça, Elivan se manteve de cabeça baixa. Algemado nas mãos e nos pés, afirmou não se lembrar dos crimes cometidos contra a adolescente e sua mãe, assim como o delegado.

Nos próximos dias 17 de junho e 1º de julho estará frente a frente com 7 jurados do conselho de sentença do Tribunal Popular do Júri, que serão sorteados minutos antes do julgamento em meio a uma lista de 21 nomes. Será a hora de a sociedade reafirmar que não aceita crimes dessa natureza e que se recusa a conviver socialmente com indivíduos desumanos ao ponto de cometê-los.

domingo, 12 de abril de 2015

BATER DE ASAS

CLÁUDIO MOTTA PORFIRO*

De repente, o estágio inicial do conhecimento
Da busca da melhor escola é chegado o momento.
O futuro exige siso, sonhos, planos e atitude
Assim é a parca vida e que Deus te ajude
Afinal, é só a esperança que nos faz sonhar.

Todos os esforços são feitos por anos a fio
A atenção integral na busca do bom perfil
Afinal são os filhos o nosso maior fruto
Neles a confiança é o grande reduto
Já não mais é tempo próprio de esperar.

Enfim, os ícaros oriundos das nossas entranhas
Buscam no horizonte azul forças estranhas
E batem asas lépidos, fagueiros, confiantes,
Rumando para o devir que sonhamos antes
É este um tempo de muito e muito voar.

Então o sol é bem forte e lhes derrete a cera
Até do que prevíamos pouco ou nada se perdera
Agora eles voam muito alto, quase inatingíveis
Os donos dos nossos sonhos quase impossíveis
Chegaram, enfim, onde não conseguimos chegar.

Voam muito eles agora de par em par com o vento
Nos pais deixam dias sombrios tempo cinzento
A saudade se faz crua atroz e agora é tormento
O amor vive dias, meses, anos e a todo momento
A vaga certeza de que um dia ele voltará.

*Autor de Janelas do tempo, livro de crônicas, de 2008; e O inverno dos anjos do sol poente, romance, de 2014, à venda na Livraria Nobel do Via Verde Shopping.

sábado, 11 de abril de 2015

O SONHADOR ANTÔNIO ZAINE

1-Rádio 004

“Há homens que nunca deixam de ser criança. E esses são assim porque nunca abandonam seus sonhos, suas crenças, suas alegrias, seus amigos, sua família e suas aspirações mais nobres. Esses homens são necessários para a revolução da própria sociedade em que vivem e em que labutam – assim foi o sonhador Antônio Zaine, pois ele chegou por aqui como um lutador e continuou lutando até o fim. Mas sua luta, sua lida foi para não perder o ontem e garantir que o passado não se perca na ambição do futuro”. Adaptado de Brava Gente Acreana Vol. 1.

 

A DESPEDIDA DO HOMEM-MEMÓRIA DE XAPURI

Zaine_prezado

Da Assessoria do senador Jorge Viana

Xapuri e o Acre estão mais tristes hoje. Perdemos o verdadeiro homem-memória da Princesinha do Acre. O homem que encantava a todos os que iam a Xapuri ao contar com seu jeito feliz e delirante as coisas antigas do Acre enquanto mostrava os milhares de objetos que ele reunia em sua loja, ultimamente, mais museu do que comércio.

Na última segunda-feira, o senador Jorge Viana esteve em Xapuri e, como sempre fez, logo perguntou notícias de Seu Antonio Zaine que já andava adoentado há algum tempo. Ontem mesmo, assessores do senador, que estão em Xapuri e Brasiléia para auxiliar às prefeituras na reconstrução das cidades, conforme prometido pelo próprio senador, constataram o estrago enorme que a Casa Kalume, tão alegremente administrada por décadas por Seu Zaine, sofreu com a grande alagação histórica que atingiu aquela parte da cidade e a urgente necessidade de uma ação emergencial para a recuperação desse patrimônio histórico de todos os acreanos.

Seu Antonio Zaine, primo de Jorge Kalume, apesar de descendente de sírio-libaneses e de ter nascido no interior de São Paulo, se tornou um dos maiores acreanos de todos os tempos. Porque poucos amaram tão profundamente essa terra e a história desse povo que se fez brasileiro as custas de muitas lutas e sacrifícios.

Nossos sentimentos à sua esposa Dona Déia, aos seus filhos César e Terezinha e a todos os seus netos.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

MORRE ANTÔNIO ZAINE, O “PREZADO”

XAPURI_AGORA-006R_CARDOSO4

Morreu na manhã desta sexta-feira, 10, aos 87 anos, depois de sofrer uma parada cardíaca, o senhor Antônio Assad Zaine, o Prezado, como era popularmente conhecido. Paulista de Corumbataí, Antônio Zaine chegou ao Acre no dia 09 de julho de 1954, para se tornar um dos personagens mais marcantes da história de Xapuri, onde gerenciou por muitos anos a tradicional Casa Kalume.

Segundo ele mesmo contava, veio ao Acre para pescar, a convite de seu primo Jorge Kalume, ex-governador e senador do Acre. Ao chegar a Xapuri se apaixonou pelas belezas da região e logo adotou a cidade como a sua terra de coração, onde constituiu família, casando-se com a professora Déa Gomes, com quem teve dois filhos, o ex-vereador César Zaine e a professora Terezinha Zaine Sarkis.

Antônio Zaine se tornou muito conhecido em Xapuri e no Acre por ter transformado a antiga Casa Kalume em um museu informal onde reuniu com muito trabalho e dedicação elementos diversos da vivência do povo acreano, que organizados de forma cronológica, retratavam a trajetória histórica da cidade, desde a ocupação pelos primeiros nordestinos que aqui chegaram, passando pela Revolução Acreana, até os acontecimentos mais recentes do cotidiano social e político.

Enquanto seu estado de saúde permitiu, Antônio Zaine lutou para conseguir apoio das autoridades estaduais para formalizar o seu museu. Ele tentava restaurar e adequar o espaço da antiga casa aviadora, que considerava inadequado para guardar tantos elementos relacionados à história de Xapuri e do Acre. O acervo, recentemente catalogado pelo historiador Jéfferson Saady, terminou por ser parcialmente destruído pela última enchente do Rio Acre.

Além da esposa e dos dois filhos, o prezado deixa os netos Haroldo, Elias Antônio, Cesinha, Gabriel, Matheus e Aron e o bisneto Nader, filho de Haroldo. O velório está sendo realizado na Loja Maçônica Bandeirantes do Acre Nº 01 e o sepultamento ocorrerá no começo da manhã deste sábado, 11. Ao blog resta prestar solidariedade à família e agradecer pelo legado deixado por esse paulista de coração acreano à nossa terra.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

ELIVAN VERUS IRÁ A JÚRI POPULAR

Se for condenado por todos os crimes denunciados pelo MP, a pena do acusado de matar estudante e delegado poderá passar de 60 anos de reclusão.

RAIMARI_CARDOSO4080052

Elivan Verus da Silva, 33 anos, acusado de matar a estudante Janaína Maria Nunes da Costa e o delegado de polícia civil Antônio Carlos Marques Mello, o Carioca, foi pronunciado pela justiça em audiências de instrução e julgamento realizadas nesta quarta-feira, 8, na sala de sessões do Fórum de Xapuri, e irá a júri popular nos meses de junho e julho deste ano pela prática dos crimes.

Além dos homicídios consumados contra a adolescente e o policial, Elivan também foi pronunciado pelos crimes de tentativa de homicídio contra a mãe da jovem, Nágila Maria Nunes de Souza, e de sequestro contra Maria de Fátima de Abreu Sarkis, ambas suas ex-namoradas. Quanto ao porte ilegal de arma de fogo, o Ministério Público desistiu da denúncia e solicitou sua impronúncia.

Ao todo, 14 testemunhas arroladas por acusação e defesa foram ouvidas durante a realização das duas audiências que se estenderam por toda a tarde. Em seus interrogatórios, o acusado se limitou a afirmar não possuir lembranças de haver cometido os crimes contra ele imputados, causando a revolta do promotor de justiça Bernardo Albano, responsável por sustentar a acusação.

Os crimes contra Janaína e sua mãe ocorreram no dia 26 de novembro de 2014, tendo a garota falecido na mesma data. O atentado contra o delegado Antônio Carlos, aconteceu no dia 14 de dezembro, durante uma operação policial que tentava prender o acusado. O delegado, que levou um tiro no abdômen durante ação, morreu em Rio Branco no dia 8 de janeiro deste ano.

Elivan foi pronunciado conforme requereu o Ministério Público em sua denúncia. Ele vai ser julgado por homicídio qualificado na forma consumada contra o delegado e a estudante, e na forma tentada contra Nágila Nunes, além do sequestro contra Maria de Fátima de Abreu Sarkis. Todos os crimes, segundo o promotor Bernardo Albano são considerados hediondos.

O primeiro julgamento a que Elivan Verus será submetido é o referente ao homicídio praticado contra Janaína e ao tentado contra sua mãe, Nágila. A reunião do Tribunal do Júri foi marcado para o dia 17 de junho próximo. 14 dias depois, em 1º de julho, o acusado sentará novamente no banco dos réus para responder pelo assassinato do delegado e pelo sequestro de Fátima Sarkis.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

AS MUITAS MORTES DE CHICO MENDES

Sérgio Roberto Gomes de Souza

Foi uma decisão até certo ponto abrupta, talvez tenha sido decisivo para tomá-la, a vontade de passar os festejos natalinos ao lado de parentes e amigos. O certo é que, quatro dias após minha esposa Danielle Azevedo ter quebrado o pé, partirmos para Xapuri, devidamente acompanhados pelo Nilton Miranda. No decurso da viagem fui tomando ciência das “novidades”, com meu informante fazendo questão de expor fatos diversos e algumas vísceras, diga-se de passagem.

A chegada a Xapuri deu-se no final da manhã. O cenário que, gradativamente, conformava-se em nossa frente, confesso, foi ficando cada vez mais desalentador. Ruas esburacadas, lixo espalhado, espaços públicos decadentes, destruídos. Nada, no entanto, que impedisse de desfrutar o prazer de chegar à cidade onde cresci.

Véspera de natal, ceia programada na casa da tia Euri, comida farta, conversa boa, não poderia ser melhor. Até então, nada fugia do roteiro de um desses finais de ano onde tudo da certo. No dia 25 de dezembro, porém, ao dar uma breve circulada por Xapuri, com a cidade praticamente vazia e com a sensação de que era o único ser vivente a aventurar-se pelas ruas, após o empanturramento de comida e bebida da noite anterior, deparei-me com uma cena absolutamente inesperada. Um grupo de pessoas realizava uma confraternização na entrada do cemitério. Servia-lhes de mesa o túmulo do líder sindical Chico Mendes, onde dispuseram comida, bebida e copos. Alguns tijolos foram devidamente acomodados em torno do local, servindo-lhes de assento.

Foi então que constatei o descaso com o qual o espaço é tratado. De imediato veio-me a mente a resistência que boa parte dos habitantes da cidade de Xapuri expressa, quando menciona-se o nome de Chico Mendes, talvez este fosse um dos motivos pelo qual seu túmulo havia sido transformado em mesa.

Observe-se que, no geral, as memórias que explicitam-se, quando se trata do mencionado líder sindical, pouco se referem a sua trajetória de lutas, centradas na organização dos movimentos dos trabalhadores rurais, especificamente seringueiros, que opunham-se a expropriação de suas propriedades, bem como de suas tradições, pela frente pecuarista em expansão, a partir da década de 1970.

Percebi nas conversas que mantive com moradores, a quem narrei o que tinha presenciado, que o Chico Mendes questionado e até mesmo tripudiado por parte dos habitantes de Xapuri, constitui-se em uma invenção do poder, foi criado pela historiografia oficial, com objetivo de “emprestar” legitimidade a um projeto de governo que apoia-se em discursos pautados pelo “ambientalismo” e a “sustentabilidade”. daí a dificuldade em identificá-lo com o Chico Mendes que morava no final da rua Floriano Peixoto, em uma rústica casa de madeira, sem nenhum tipo de luxo. Perdeu-se o líder democrático, virtuoso, solidário. Em seu lugar, instituiu-se um Chico personalista, que parece ter construído todo o movimento sem contar com apoio/colaboração de outros personagens, tão importantes quanto ele.

Este “outro Chico” é representado de maneira tangível em ruas, avenidas, parques, onde transeuntes apressados circulam sem vincular o nome do local à resistência dos seringueiros, ao desenvolvimento dos empates, a criação de reservas extrativistas. Este “Chico deformado” foi transformado em um instrumento do poder. Uma possibilidade é de que, ao não identificá-lo com o Chico do Sindicato, das conversas informais, dos jogos de dominó, parte da população o trate com profundo e lamentável descaso, mas isso é só especulação.

Mas também é importante observar que, mesmo com Xapuri e Chico Mendes sendo constantemente utilizados como referência, a ausência de investimentos públicos, federal, estadual e municipal, é visível. Além de ruas esburacadas, como já frisado anteriormente, percebe-se escolas com estrutura física precária, espaços de memória deteriorados, inexistência de bibliotecas, praças destruídas, rodoviária intermunicipal fechada, economia precária e, o que me parece ser o maior problema, uma absoluta ausência de mobilização social.

O descaso, com que os poderes públicos tratam Xapuri, parece refletir-se no desgaste da imagem de Chico Mendes. A perspectiva é de que o nome do município, assim como o movimento dos seringueiros, foi utilizado para promover projetos políticos, sem, no entanto, proporcionar retornos efetivos à sociedade. A impressão que fica, cada vez que vou a Xapuri, é de que Chico Mendes foi morto várias outras vezes, principalmente quando representações foram constituídas e dogmatizadas, com o intuito de viabilizar o acesso e a permanência ao poder. Pela sua dedicação, luta, solidariedade e desprendimento, tenho certeza que Chico Mendes merecia algo bem diferente.

Sérgio Roberto Gomes de Souza é professor de História da Universidade Federal do Acre.

ASSASSINATO DE ESTUDANTE E DELEGADO EM XAPURI

Justiça realiza audiências de instrução referentes aos crimes de homicídio praticados por Elivan Verus da Silva contra a estudante Janaína Nunes e o delegado Antônio Carlos Marques Mello, o Carioca.

RAIMARI_CARDOSO_AUDIÉNCIA_ELIVAN_10

O juiz da comarca de Xapuri, Luís Gustavo Alcalde Pinto, está presidindo, nesta quarta-feira, 8, as audiências de instrução relativas aos assassinatos da estudante Janaína Maria Nunes da Costa, 15 anos, e do delegado de polícia Antônio Carlos Marques Mello, o Carioca, 32, mortos por Elivan Verus da Silva, em um dos casos policiais de maior repercussão dos últimos anos no estado do Acre.

O acusado foi denunciado pelo Ministério Público pela prática de homicídio qualificado, por motivo torpe e emprego de recurso que dificultou a defesa das vítimas, e ainda pela tentativa de homicídio qualificado, por motivo torpe, da mãe da menor, Nágila Maria Nunes de Souza, e do sequestro de Maria de Fátima de Abreu Sarkis, além de porte ilegal de arma de fogo.

Os crimes contra a jovem e sua mãe ocorreram no dia 26 de novembro do ano passado, tendo a garota falecido na mesma data. O atentado contra o delegado, aconteceu no dia 14 de dezembro, durante uma operação policial que tentava prender o acusado. Carioca, que levou um tiro no abdômen durante ação, morreu em Rio Branco no dia 9 de janeiro deste ano.

1-P4080013

No dia 26 de novembro de 2014, durante uma discussão com a mãe de Janaína, Elivan assassinou a garota a golpes de faca, depois que a adolescente tentou defender a mãe, Nágila Maria, de agressões físicas desferidas pelo acusado. Após cometer o crime, Elivan fugiu da cidade, na tentativa de evitar a prisão, tendo permanecido nas cercanias da cidade por vários dias.

Segundo a denúncia do Ministério Público, no dia 14 de dezembro do ano passado, após adquirir uma espingarda na fronteira entre o Brasil e a Bolívia, o acusado retornou a Xapuri e sequestrou Maria de Fátima em uma propriedade rural do município.

Após serem informados do sequestro, o delegado Antônio Carlos e o agente Eurico Feitosa saíram em diligência para efetuar a prisão de Elivan. No entanto, ao ser abordado, o acusado desferiu disparos de espingarda contra o delegado e, em seguida, se evadiu do local. Ele foi preso no dia 16 de dezembro de 2014, sendo que o delegado faleceu 25 dias depois do crime.

No caso da morte do delegado, o acusado foi denunciado pela prática de homicídio qualificado, por sua realização para assegurar a impunidade pelo crime anterior, visto que ele pretendia continuar a escapar da punição pelo homicídio e pela tentativa de homicídio que havia praticado contra sua enteada Janaína e Nágila, sua ex-companheira. Ele foi denunciado, também, pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e sequestro.

O acusado está sendo defendido pelo advogado dativo Enoque Diniz, enquanto a acusação é sustentada pelo promotor Bernardo Fiterman Albano. São sete testemunhas arroladas por defesa e acusação para cada um dos processos, somando um total de 14 que serão ouvidas até o fim das audiências. Caso seja pronunciado, Elivan poderá ir a julgamento ainda este ano.

1-P4080018_RAIMARI_CARDOSO

O juiz Luís Gustavo Alcalde Pinto preside as audiências.