sábado, 6 de março de 2010

Diógenes, o cínico

O cinismo foi uma corrente filosófica fundada por Antístenes, um discípulo de Sócrates, mais ou menos a 400 anos antes de Cristo. O mais famoso dos cínicos se chamava Diógenes de Sínope, um sujeito que ficava dentro de um tonel ou vaso funerário, e que durante o dia vagueava com uma lanterna acesa a procurar homens virtuosos.

Uma história famosa de Diógenes é a de que certo dia, quando estava tomando sol, chegou inesperadamente o todo poderoso imperador Alexandre Magno e lhe disse: “Pede-me o que quiseres” e o cínico lhe respondeu: “Desejo apenas que te afastes do meu sol e não me faças sombras.”

A resposta ilustra bem o pensamento cínico. Diógenes não desejava nada a mais do que o que tinha à sua disposição e estava feliz assim. Desejava apenas que seu sol fosse desbloqueado. Assim, o objetivo essencial dos cínicos era a conquista da virtude moral, que somente seria obtida eliminando-se da vontade todo o supérfluo, tudo aquilo que fosse exterior.

Nos tempos modernos, o termo cínico se refere àquelas pessoas desavergonhadas, impudentes, que desdenham dos escrúpulos alheios, que se mostram atrevidas ou descaradas ao seguir seus impulsos ou interesses. Segundo o jornalista, crítico e filólogo americano H.L. Mencken, o cínico é o homem que quando cheira uma flor olha ao redor procurando o caixão do defunto.

Os parágrafos acima são baseados numa crônica de Rubem Fonseca, que já postei aqui no blog. Retornei a ela empurrado pelo comportamento de alguns personagens da vida xapuriense, que em seus “discussos” abusam do cinismo na sua acepção moderna e se distanciam anos-luz do sentido primordial do termo, que é sinônimo de virtude e de humildade.

A empáfia de alguns sujeitos nos mostra que homens como Diógenes já não existem, e aqueles a quem procurava com sua lamparina acesa à luz do sol cada cada vez mais difíceis de se encontrar. No lugar deles estão os indivíduos cuja alma foi corroída pela vaidade cega e pela arrogância desmedida que não se amparam em conteúdo cultural ou intelectual algum.

Talvez por essa razão vivamos na situação lastimosa de então e sem expectativas de mudança a curto prazo. Pessoas consumidas pela soberba e narcisistas desvairados cuja grande e única arma é uma combinação de dissimulação e prepotência não podem contribuir com o debate democrático tão necessário para que as mudanças que almejamos possam um dia se concretizar.

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