sexta-feira, 20 de abril de 2007

Lembrança aos Flintstones

Luis Carlos Moreira Jorge

A experiência me ensinou a escutar primeiro antes de me posicionar. Por isso, durante este período em que se discute a iniciativa do senador Tião Viana (PT) de trazer a pesquisa de petróleo para o Acre me reservei a não escrever de imediato um artigo a respeito. Queria conhecer os argumentos contrários. Talvez, quem sabe, até pudessem me convencer de suas convicções.

Mas depois que assisti o debate partindo para o achincalhe pessoal, para o ataque rasteiro, deixando de lado o cerne da questão, decidi ser esta a hora correta para entrar na discussão. As teses defendidas pelos que são contra a prospecção vão do hilário ao jurássico radicalismo, dignas da pré-história. Passando pelo misticismo aos ideais da TFP.

Um deles fez uma convocação cívica supimpa: defendeu que se alguém cavasse um poço e brotasse petróleo, que tapasse imediatamente, porque "petróleo é coisa suja". Outros mais açodados se posicionaram na defesa das terras indígenas. Sugeriram até uma "rodada de mariri" envolvendo todas as aldeias numa grande assembléia. Temiam que fossem devastadas. E as áreas sagradas dos seus cemitérios profanadas. A ânsia de ser contra por ser contra os impediu de buscar esclarecimentos. Se assim o fizessem, saberiam que a Constituição Federal proíbe pesquisas em áreas ocupadas pelos índios. Um terceiro teve uma visão de defensor da moral e dos bons costumes, bem ao estilo da TFP - Tradição Família e Propriedade, alertando que se óleo ou gás fossem descobertos perto de algum município, a prostituição iria grassar e liquidar o equilíbrio familiar.

Uma outra corrente, dos inocentes úteis, não apresentou argumentação. Apenas é contra.
Recentemente, surgiu mais uma ala: a dos jurássicos contemplativos. Defende que todo mundo vá morar nos seringais, onde se pode, segundo sua profecia, viver em comunhão com a natureza, esquecendo a vida moderna e seus males.

Em comum, todos têm o mesmo mote: defender o modo de vida dos seringueiros.
Eu poderia concordar com todos eles se fossem na prática, o que são na teoria. Se morar no meio da floresta é o Nirvana tão procurado, porque estão morando nesta sociedade devastadora, podre, que liquida o meio ambiente, que polui?

Gostaria de ver esta turma que é contra o progresso indo morar em seringais no alto rio Gregório, no alto rio Muru, nas cabeceiras do Envira, em suma, em lugares bem distantes da vida moderna. Onde não tem supermercado, energia elétrica, hospitais, carros, escolas; curtindo no verão os enxames de meruins e piuns, e no inverno, as esquadrilhas de mosquitos transmissores da malária, enfim flanando na natureza.

O problema é que todos eles querem distância destes lugares.

Se fosse a oitava maravilha do mundo residir nestes locais, algum deles ainda estaria na cidade?

É exatamente por esta falta de coerência que as suas posições não merecem ser levadas a sério. Nem respeitadas, porque dizem uma coisa e praticam outra completamente diferente.

O que o senador Tião Viana (PT) incentivou foi apenas que fosse trazida a prospecção de petróleo para o Acre. O Acre não tem um parque industrial pujante, patinamos numa economia incipiente, que vive praticamente do que as prefeituras e o estado jogam todo mês no mercado com o pagamento de salários.

E ainda não se tem que buscar alternativas para trazer o progresso para o Acre?

Os que são contra porque acham que ser contra dá ibope, não dizem que hoje a tecnologia permite que uma área, onde se descobrir o óleo e o gás, pode perfeitamente ser explorada sem causar danos ao meio ambiente. O projeto Urucu, da Petrobrás, no meio da selva amazônica, é um exemplo que isso é perfeitamente possível. Para se ter uma idéia, o desperdício previsto na exploração é de apenas 40 litros por ano. Exatos 40 litros.

Em todas suas falas o senador Tião Viana (PT) ressalta que sua preocupação com a pesquisa está ligada a cuidados para evitar a devastação florestal.

E foi mais além: abriu um debate com todas as correntes. Só que esta sua posição democrática não foi entendida pelo radicalismo de uma minoria. Chegando a ser vítima de ataques pessoais gratuitos. Agindo desta maneira, qual a contribuição que estão dando?

Ser contra é fácil. Ser contra com argumentação sólida, e não com ilações, é outra história.

Entraram até por bobagens infantis como sugerir ao Senador tomar Daime e a vacina do sapo Kampô para se iluminar.

É exatamente a falta de uma base científica para contrapor a pesquisa, que se emite esta pérola de sugestão. O que era para ser uma discussão pelo bem, entrou para o terreno fértil da baixaria. Por isso, fico com a proposta do senador Tião Viana (PT) de se pesquisar combustíveis fósseis no Acre; e estes sendo encontrados, se cercar de meios para evitar danos à biodiversidade. No mais, é voltar à idade da pedra lascada.

Quem quiser voltar, que volte.

Ia me esquecendo: levem minha lembrança aos Flintstones.

E um beijo na testa dos dinossauros.

Blog do Crica

Nenhum comentário: