domingo, 8 de abril de 2007

As máquinas não param

Edmilson Mapinguari (Bacana)

Mais energia pras máquinas!
guincha uma lasca do sol,
lança no estômago das chaminés!
mais adubos de concreto.
cava a cova do edifício.
colhe o pasto arranha-céu.
corta uma fatia da lua.
mastiga com força os pássaros.
esburaca a avenida dos poetas!
mais força!... não fantasia!
os reservatórios têm que transbordar.
deixa o cansaço esquecido.
aciona o botão anestésico.
asfalta a pista dos sonhos.
tijolo com tijolo faz um corpo inteiro...
mãos à merda na sobremesa!
cigarras e formigas no prato do dia.
roncam as máquinas sonhando.
bocejam a ruminar nos campos...
um átomo, dois átomos uma crase...
um hiato, dois versos, uma bomba!
cavalo de lata está à espera...
relinchando roda as patas e voa.
mais uma plataforma no cosmo!
amassa a massa robô.
assenta e senta os vergalhões.
produz guindaste mais ilusão!
as máquinas estão famintas!
mais uma lasca do sol!
uma fatia da luz.
mais força... não fantasia!
extermine o cubículo do poeta!
mãos à merda na sobremesa!
cava a cova erguendo os morros.
edifícios com edifícios fazem catacumbas!
aciona o botão anestésico.
as máquinas precisam sorrir!
as máquinas não podem parar!
um átomo, um verso, uma máquina!
germine a terra com concreto...
as máquinas têm que sonhar.

Figueiredo , José Edmilson Gomes.
Dores perfuradas. Brasília, A. Quicé, 1981. 69 p. ilust.
(Coleção Setestrelo, 1)

Nenhum comentário: