quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Tudo como dantes?

Ronaldo1

O vereador Ronaldo Cosmo Ferraz (PMDB), presidente da câmara de Xapuri, usou sua conta no Facebook para cutucar os críticos do continuísmo doentio que assola o inerte e clientelista poder legislativo municipal. Comentarei o recado que entendo como endereçado a mim, mas não vestirei a carapuça rota que tenta me imputar. E direi o porquê.

Para começo de conversa, o vereador, como pessoa pública, deveria ser mais claro e direto nos seus comentários e dizer quem o inveja. De minha parte, garanto que não cobiço nada do que ele possua; que não alimento qualquer desejo de ser candidato a qualquer coisa e que não reconheço méritos exacerbados em quem se reelege para esse cargo três, seis ou mil vezes.

Sucessivas ou intercaladas eleições de vereadores em um município com eleitorado pouco superior a 10 mil pessoas, como é o caso de Xapuri, devem ter reconhecido o seu mérito devido, mas estão longe de significar que este ou aquele vereador que consegue tal proeza possa bater na titela e se vangloriar de que detém o apoio da população, se sentando sobre essa convicção.

Tenho algumas matutações sobre a razão de alguns vereadores se reelegerem seguidamente em Xapuri e de outros aqui e acolá retornarem à casa não como filhos pródigos, mas como produto de um sistema político-partidário que não se renova nem a pau, Juvenal, já adiantando uma das “tiorias”. Se os candidatos são sempre os mesmos, o que surgirá de novo senão as mesmas caras cheias de si e eivadas de empáfia?

Mais uma vez, os partidos ou grupos políticos de Xapuri não ousaram apresentar novidades ao eleitor quanto aos quadros para a câmara de vereadores. Quando cito novidades, me refiro a nomes que realmente possam disputar lugar com os dinossauros que dominam o cenário local desde o período jurássico em partidos como o PT e o PMDB, principalmente.

O que surge de novo a cada eleição, salvo poucas exceções, são aqueles candidatos de última hora, que são arregimentados para fazer volume com votações pífias que contribuem apenas para manter o status quo da cacicada. No caso das mulheres, uma raridade na história da câmara, talvez uma ou duas disputou de fato o último pleito municipal.

Então, a coisa funciona na base do “se não tem você, vai você mesmo”. A partir desse momento, entra em cena alguns fatores não menos importantes como família numerosa, o assistencialismo barato e ainda largamente disseminado na cultura política local, bem como a necessidade de poucos votos para se eleger dentro das estratégicas coligações partidárias.

Trezentos e poucos votos elegem um vereador bem situado politicamente, mas estão longe de lhe garantir a fantasiosa e tão propalada representatividade. Na nossa realidade, vereadores são eleitos pelos parentes, amigos, vizinhos e por aqueles a quem se fez algum favor. No nosso caso, o eleitor vota mais por algum tipo de afinidade que por qualquer outra razão.

Sugiro, então, ao presidente da câmara que troque o beicinho e a chorumela por uma auto-análise e ofereça respostas convincentes às críticas que recebe como representante desse Poder, assim como têm feito os demais vereadores quando são confrontados com as opiniões de que a câmara é uma instituição que tem se prestado apenas a defender seus próprios interesses e a abonar os do Executivo, num eterno jogo de toma lá da cá.

Já disse mil vezes e para encerrar o assunto vou repetir: nada de pessoal tenho contra Ronaldo Ferraz, muito menos inveja. Clamo por mudança de atitudes na câmara, o que faço no pleno exercício do direito de expressão, sem ofender moralmente ou macular a honra de quem quer que seja. Atento contra a falta de transparência que tem sido a tônica do legislativo-mirim desde que me entendo por profissional da área de comunicação.

O desinteresse em informar a população sobre as matérias que são aprovadas e esclarecer seus significados práticos tem sido uma das principais marcas das últimas legislaturas da câmara de Xapuri, um lugar onde muitas das decisões são tomadas à portas fechadas e levadas ao plenário apenas para cumprir as formalidades exigidas pelo regimento interno.

O resultado disso tudo foi descrédito e o ceticismo que o povo tem reservado à instituição. Minhas críticas refletem essa realidade incontestável e não apontam para o vereador Ronaldo Ferraz como o único responsável por essa situação, que é devida a todos os que passaram pela câmara nos últimos tempos, inclusive os que, junto com ele, foram reeleitos para mais uma legislatura, que se inicia no próximo mês de fevereiro.

Tenho me posicionado abertamente contra o continuísmo na presidência da câmara por ter a desconfiança de que tudo vai continuar como dantes no quartel de Abrantes. Continuaremos a ver vereadores sentados sobre a comodidade do fisiologismo, reclamando das críticas e empurrando com a barriga as demandas tão importantes para o aprimoramento da gestão municipal. Mas isso é apenas o que penso. 

Espero estar enganado e creio sinceramente que muitos dos vereadores recém eleitos estão imbuídos do objetivo de promover as mudanças que a casa do povo necessita. Não sei se conseguirão, mas o menor esforço para lidar com a opinião pública de maneira decente e equilibrada já será um bom e promissor começo.

3 comentários:

Jé S. disse...

Parabéns, gostei do que disse. Principalmente da parte: "Se os candidatos são sempre os mesmos, o que surgirá de novo senão as mesmas caras cheias de si e eivadas de empáfia?". Sou fã de suas palavras, sempre.

Jé S. disse...

Ao contrário do que vi em um comentário, vc falou muito e falou bonito. Principalmente aqui: "Se os candidatos são sempre os mesmos, o que surgirá de novo senão as mesmas caras cheias de si e eivadas de empáfia?".

Sou fã de suas palavras. Sempre.

cristina disse...

Até onde eu sei, eram mais de 40 canditados a vereadores, Dava pra variar bastante née, Pois ée... mais o povo escolheu ele novamente... Acho que Deu pra perceber que o povo elege aquele que trabalha e em quem eles acreditam.