terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Os intestinos da imprensa do Acre

Altino Machado

Monografia de conclusão do curso de ciências sociais com habilitação em sociologia, de autoria do ex-repórter Jozafá Batista, se constitui em documento imprescindível para quem quer se informar além do que é publicado pela imprensa do Acre.

"A imprensa acreana na batalha por hegemonia: estratégias de 1969 a 2006", defendida em dezembro, com nota 10, na Universidade Federal do Acre, é o primeiro estudo sistemático sobre os jornais acreanos em circulação na cidade (O Rio Branco, A Gazeta, A Tribuna e Página 20).

Jozafá Batista anexou no final da monografia observações da banca de examinadores, formada pelos professores Nilson Euclides e Letícia Mamed. A orientadora foi a professora Eurenice Oliveira de Lima.

- Informo que a versão física terá um DVD com fotografias em alta resolução das capas dos jornais acreanos entre 1969 e 2006 - promete Batista.

Ele analisa o caráter ideológico da imparcialidade jornalística como ferramenta de produção de consensos dos grupos que controlam os jornais na disputa por hegemonia ao longo da história.

Também analisa a cobertura jornalística dos quatro diários, com ênfase nas campanhas eleitorais, delineando as estratégias adotadas para valorizar grupos políticos e seus respectivos candidatos.

E demonstra como a propaganda se insere socialmente disfarçada de informação objetiva, segundo afirma, utilizando-se do conceito positivista de neutralidade do discurso informativo.

O melhor da monografia são as entrevistas, digamos, bombásticas, entre outros, dos proprietários Sílvio Martinello (A Gazeta), Ely Assem (A Tribuna), Narciso Mendes (O Rio Branco) e Antônio Stélio (ex-Página 20).

Veja o que respondeu um deles quando o ex-repórter perguntou:

- O que são agências?

- De propaganda. Na época do Orleir era a Asa, hoje é a Companhia de Selva. Bem, eles tiram 20% de 2 milhões, por exemplo. São R$ 400 mil. Desses 20% eles dão R$ 50 mil para a agência e o resto é esquema de distribuição. Nas cotas de distribuição para os jornais eles dão, por exemplo, R$ 80 mil para A Gazeta, mas não chega a ser R$ 80 mil, lá chega somente R$ 60 mil. No caminho come-se R$ 20 mil. É a roubalheira que os espertos, os espertalhões da área chamam de “capação”. Vão capando. Capa de um, capa de outro, é assim que acontece na verba de mídia ainda hoje. Capam tanto dos 20% da agência quanto das cotas para os jornais. Nisso eles pagam a mídia e tiram dinheiro para reserva de campanha eleitoral, fundos de campanha eleitoral, tiram dinheiro para pagar deputados, para dar para secretário, para vários esquemas. De modo que a corrupção continuou no governo Jorge Viana, não mudou nada.

Na verdade o entrevistado se equivoca: a Companhia de Selva já era a agência de propagada durante o governo Orleir Cameli, pois havia sido contratada para a campanha eleitoral do então candidato. A Asa, de Minas Gerais, ficou um curto período no primeiro mandato do governador Jorge Viana, que depois contratou a Companhia de Selva, que também é detentora da conta da prefeitura de Rio Branco e faz as campanhas eleitorais do PT.

Clique aqui e leia a monografia, que o ex-repórter poderia ter guardado para mestrado ou doutorado.

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