Nos dias atuais, ele é conhecido como Pedro Xapuri, na região do Assentamento Boa Sorte, localizado em Restinga–SP, onde é membro da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores sem Terra – MST. O apelido é herança dos tempos de Amazônia, há mais de 20 anos, quando foi um dos principais nomes da resistência social liderada pelo sindicalista Chico Mendes.
No Acre, Pedro Sebastião Rocha, 67, chegou em 1977, mesmo ano da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, onde foi vice-presidente ao lado da Sindicalista Dercy Teles de Carvalho, que hoje preside novamente a entidade símbolo do movimento dos seringueiros em defesa da permanência na floresta cobiçada pelos latifundiários.
Pedro Rocha chegou à região de Xapuri depois de ter migrado de sua terra natal, Quixadá-CE, para São Paulo. Ao desembarcar em Rio Branco, deixou a esposa, Almerinda, numa pensão e foi a Brasileia acreditando que o INCRA estivesse distribuindo terras, um ledo engano. Comprou então uma propriedade de 20 hectares às margem da Estrada Velha de Brasiléia.
Ele lembra que ao fechar o negócio e efetuar o pagamento da terra, o vendedor lhe disse que estava passando a propriedade adiante porque pretendia ganhar dinheiro cortando seringa na Bolívia e que era sabedor que mais tempo menos tempo o Dr. Adalcides Gallo iria tomar todas as terras daquela região sem dar nenhum direito aos posseiros.
- Se o doutor Adalcides fosse dono dessas terras, ele estaria aqui, agora, trabalhando nelas. Para me tomar esse lugar, ele terá que passar por cima de meu cadáver, afirma ter dito ao seu interlocutor, numa demonstração de que mesmo sem ter a menor ideia do movimento do qual viria a ser um dos símbolos, já trazia no sangue o dom de lutar pela terra.
Depois de tornar conhecido, Pedro foi convidado por Chico Mendes para se inserir no movimento sindical de Xapuri. Ele conta que naquela época, o patrimônio que o STRX possuía consistia em uma mesa, algumas cadeiras, um fogão e uma velha máquina de escrever Olivetti. Além disso, algumas centenas de associados, dos quais apenas uns três ou quatro estavam em dias com as contribuições sindicais.
Mesmo com tantas dificuldades, o sindicato foi capaz de melhor se estruturar, construir uma nova sede e mobilizar os seringueiros em torno de uma causa. O empate, segundo Pedro, foi a grande tática que tornou possível a resistência dos trabalhadores, mas que, por outro lado, foi também a grande razão pela qual muitos tombaram, entre eles o homem que personificou toda a luta dos povos da floresta: o seu grande amigo Chico Mendes.
Pedro Rocha deixou Xapuri e retornou para São Paulo meses depois da morte de Chico Mendes, se estabelecendo na cidade de Franca, onde conseguiu trabalho como zelador do Sindicato dos Sapateiros. Envolvido com este sindicato, foi convidado para participar da ocupação da Fazenda Boa Sorte, onde está até hoje.
Na imagem acima, Pedro Rocha conversa com os irmãos Pedro e Dercy Teles na sede do Sindicato de Xapuri, na manhã desta terça-feira (17). Ele acabara de chegar do São João do Guarani, onde a esposa, Almerinda, tinha uma promessa a ser paga. Encontrei-me com o casal por acaso, e aproveitei para fazer esse breve registro de um personagem que tão bem simboliza a história de lutas que provocou grandes transformações na realidade do Acre.
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