A recente licença concedida pelo ICMBio para que 63 famílias de extrativistas da Resex Chico Mendes explorem madeira de forma manejada na área de conservação gerou um interessante debate de xapurienses no Facebook.
Carlos Estevão Ferreira Castelo
Penso que os xapurienses devem refletir criticamente sobre essa tal economia verde, explicitada, em grande medida, no manejo de madeira. Em minhas andanças nos seringais este ano, vi alguns "estragos" que o manejo está fazendo no PAE Cachoeira.
Sem dúvidas, o manejo está gerando aumento na renda para alguns, mas acho que isso é temporário.Todos os seringueiros do PAE Cachoeira que entrevistei mostraram-se preocupados com o manejo, mas a força do Governo e seus colaboradores é violenta na região, a favor da atividade.
Eles afirmam que não tem mais caça e por aí vai. "Só no fundo da reserva". O pessoal da Resex "ali pelos lados da Sibéria" é contra, mas não resistirão, principalmente se a ponte for construída. Um senhor me afirmou: "essa ponte vai tirar meu sossego”. Só vai beneficiar essas empresas que querem nossa madeira.
Os seringueiros do PAE Cachoeira são conscientes dos prejuízos que o manejo tem causado. E que quem ganha mesmo são as triunfos da vida. Mas a TV potencializa os desejos da cidade. Para satisfazê-los precisam de dinheiro e, atualmente, o modo mais fácil de conseguir é com a madeira e com o gado. É preciso refletir criticamente sobre essas coisas.
Cientificamente, há modelos eficazes. Mas se estás a se referir sobre a sua aplicabilidade, também tenho receios. Enfim, em frente caminhamos.
Carlos Estevão Ferreira Castelo
Os seringueiros do PAE Cachoeira são conscientes dos prejuízos que o manejo tem causado. E que quem ganha mesmo são as triunfos da vida. Mas a TV potencializa os desejos de cidade. Para satisfaze-los precisam de dinheiro e, atualmente, o modo mais fácil de conseguir e com a madeira e com o gado. É preciso refletir criticamente sobre essas coisas.
Estive no seringal Rio Branco neste final de semana. Ouvi algo preocupante: os jovens residentes na RESEX não sabem cortar seringa. E nem mesmo locomover-se dentro da floresta.
Carlos Estevão Ferreira Castelo
Também constatei isso na minha pesquisa.
Esta constatação preocupa em qual sentido?
A atividade extrativista preserva a floresta, seus habitantes e seus serviços, Isto é claro. As atividades e ocupações da população estão sob risco de desaparecer logo no momento em que a extração do látex, dentro da Resex e arredores, ganha novo impulso com a absorção da borracha produzida. A NATEX dobrará sua capacidade de produção em breve! Apenas nesta atividade, um seringueiro consegue renda mensal próxima aos R$ 1.000,00.
Êita, conterrâneos. Acho que estamos precisando nos debruçar sobre informações reais e realistas e vermos que o mundo mudou, os costumes mudaram, a forma de pensar das pessoas mudou e os modelos de desenvolvimento mais ainda. Acho que precisamos parar de achar que tudo vai ser consumido pela corrupção, pelo descaso e partirmos para uma visão macro economista, baseada nos princípios de respeito à natureza, mas explorando-a como fonte de grandes riquezas que ela é.
O que se deve evitar no Acre é o modelo de exploração de manejo rondoniense. Lá é em moldes empresariais e a posse de autorização virou mercadoria vendável nas esquinas. Qual o compromisso que um comprador terá com o projeto original.
Sem entrar no mérito da viabilidade ou não do manejo, lembro-me de como era a realidade de algumas décadas atrás. A madeira era explorada de maneira violenta e criminosa. Árvores inteiras eram vendidas para as serrarias por alguns minguados tostões. Uma dúzia de tábuas de segunda categoria era vendida a peso de ouro. Em suma, com manejo ou sem manejo a madeira vai continuar saindo da floresta. Acredito que mesmo sendo imperfeito, o manejo é um sistema mais equilibrado que gera maior ganho para o extrativista e que raciona a extração de árvores, nada muito além do que isso. Carlos Estevão está certo. Há que se refletir criticamente o assunto, mas a afirmação de que a ponte da Sibéria causa preocupação a alguém daquele lado do rio e a de que não existe mais caça em razão do manejo, não passam de mitos que não contribuem em nada com a discussão. Acredito que a madeira deva ser explorada da maneira mais correta possível, causando o menor dano, vendida a preço justo, chegando também de maneira acessível à comunidade local que precisa construir suas casas e suas esquadrias com matéria-prima de qualidade. Como isso será plenamente possível, não sei responder.
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