domingo, 22 de julho de 2012

A morte do finado

Rubens Santana de Menezes (Rubinho)

Jurandi Costa

Foto: Jurandir Lima.

E quando em Xapuri, além do centro antigo, só havia a rua da Palha e a Bolívia, nosso universo girava em torno da igreja matriz.

O cinema ficava ao lado e quando era anunciado um filme impróprio para menores de 18 anos, minha imaginação voava distante a supor o que assistiriam de tão escabroso as pessoas que ingressavam na sala de projeção em seus melhores trajes.

A alternativa eram os faroestes de Bob Hope e Hoppalong Cassidy, na matinê dos finais de semana. O calor era infernal, mas o ambiente era de magia.

Lembro que Cipião, em seu uniforme cáqui da Guarda Territorial, incutia-me verdadeiro terror, pelo fato de ter efetuado um disparo que atingiu a perna do “Coqueiro”, um sujeito alto e falastrão. Parecia onipresente: nos arraiais da paróquia, prá onde eu olhava, via o Cipião e sua arma na cinta. Seria bandido ou mocinho?

Os sinos da igreja alertavam para as horas de levantar, comer e da Ave-Maria.

Chamavam aos fiéis, também, para as novenas, missas das 7, das 9 e das 19 horas.

Serviam de avisos para falecimentos: os dobres pausados e graves anunciavam que adultos receberiam as bênçãos de Pe. João Palmieri; os dobres agudos indicavam que falecera uma criança ou “anjo”.

E certa vez, tocou o sino lugubremente e assustou ao “Bacana” que brincava no parque em frente à igreja.

O moleque largou o brinquedo e em desabalada correria dirigiu-se à casa de D. Linda Fonseca, sua avó, lá no início da rua 24 de janeiro.

Chegou esbaforido; os olhos arregalados do tamanho de pires! Com o fôlego de que ainda dispunha, foi logo anunciando:

- Vó... ô, vó...o FINADO MORREU!

Rubinho é ex-goleiro e professor aposentado da Universidade Federal do Acre. 

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