Nader Sarkis
Certo dia, passando pela estrada do entroncamento, logo ali, na saída da cidade, percebi o quanto as pessoas, assim como eu, gostam de contemplar a beleza dos ipês, quando eles estão no ápice da coloração promovendo um contraste sem medida com outras árvores que nesse mesmo período apresentam, devido à falta de chuva, uma coloração acinzentada.
Na verdade, essa contemplação precisa ser feita exaustivamente devido o curto espaço de tempo que os ipês ficam com suas folhas coloridas, irradiando beleza ao longo de nossas florestas. Pois logo as folhas brancas, roxas, amarelas, lilases se vão, sem, no entanto, dizer se voltam amanhã ou depois. Chega deixar saudades, devido a tanta beleza.
Desde aquele dia, me valendo de minha parca subjetividade, tento extrair uma relação entre a formosura dos ipês e os olhares contemplativos com desejo, quase que insano, da maioria dos nossos políticos que nessa época começam suas composições, seus acordos espalhafatosos, uns com alguns adjetivos até favoráveis, outros completamente desprovidos, almejando serem nossos representantes.
Cá com meus botões, essa relação ou comparação se dá da seguinte maneira: os ipês com suas belezas atraindo todos os olhares somos nós, cidadãos, compositores de uma sociedade desejosa de dias mais aliviados. Os olhares contemplativos vêm deles que, nessa época, com a polidez peculiar, entendem que somos extremamente importantes nos seus mirabolantes “projetos políticos”. São capazes de quaisquer coisas para conquistar a simpatia.
A propósito, nossos artifícios de contemplação têm prazo de validade, como, aliás, deveria ter muitas outras coisas. Quando os ipês não exibem cores estonteantes não são da mesma maneira observados pelos olhos aguçados dos seus observantes, ou seja, quase ninguém os vislumbra justamente por não chamarem atenção, suas folhas já não são iguais, ficaram verdes ou acinzentadas como as outras árvores. É ou não é?
Assim, nesse andamento, os anseios da sociedade já não são mais observados com contemplação, com tanto veemência. Pouquíssimo se dá importância aos “pobrezinhos dos ipês”, que já não chamam a atenção. Foi-se o seu encanto.
E os ipês belíssimos? Ficaram para trás? Sim, óbvio, só voltarão a ser imponentes depois de certo tempo.
Certamente os ipês se regozijam quando percebem tanta presença, assim como também são desejosos de que essa namoração seguisse dias a perder de vista. Mas essa, digamos, química, penso que não foi feita pra valer por longos dias, lamentavelmente.
De quem será a culpa? Ora, talvez seja mesmo dos ipês que não cobram um relacionamento mais intenso. Culpados são também porque não rezingam aos seus observadores por não serem apreciados em determinados momentos, justamente naqueles dias em que são acinzentados.
Portanto, definitivamente, está na hora de somente existirem ipês frondosos, roxos, brancos, vermelhos, amarelos, lilases, sei lá, azuis... Que haja sempre arrebatamento dos observadores e que se encontrem nos “pobrezinhos dos ipês”, diariamente, sua importância devida.
Nader Sarkis é professor e radialista.
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