O ambientalista Fábio Feldmann, advogado e ex-deputado federal, afirmou na semana passada, em entrevista à revista Veja, que o Brasil não faz a lição de casa quanto à adoção de medidas para controlar a poluição. Segundo ele, sob o pretexto de não afetar o seu crescimento econômico, mecanismo fundamental para reduzir a miséria, o país não se enquadra nas mesmas metas impostas aos países desenvolvidos. O resultado, para Feldmann, é que o país segue cobrando dos outros, compromissos que teria a obrigação de assumir para si, uma vez que o Brasil é um dos quatro países do mundo que mais emitem gases do efeito estufa.
Pois bem, trazendo o assunto para um nível mais local, essa conduta política do país reflete a tendência cultural da própria sociedade brasileira em acreditar que problemas tão anunciados e iminentes, como o efeito estufa e a escassez de água no planeta, estejam tão distantes de nós quanto os horrores da guerra no Iraque ou a fome na África subsaariana. Somos imediatistas, pensamos a curto prazo (e localmente, ou simplesmente não pensamos) e não nos atentamos para os efeitos que estão por vir daqui a 30, 40, 50 ou 100 anos à nossa frente. Em vez de seguirmos o lema "Pensar globalmente, agir localmente", não conseguimos sair sequer do 'pensar'. A teoria, tantas vezes ensinada e utilizada como parâmetro para medir capacidade de ação, precisa ser transformada em prática efetiva. Os discursos vazios e idéias obsoletas tem de dar espaço ao pensamento novo, criativo e eficiente.
Precisamos, cada um de nós, fazer o nosso dever de casa. E podemos fazer isso a partir da adoção dos hábitos mais simples no nosso dia-a-dia, como não desperdiçar água, economizar energia elétrica e evitar as queimadas urbanas e rurais; não jogar lixo no chão, não poluir o Rio Acre e o igarapé Braga Sobrinho. Todos nós escutamos essas regras elementares diariamente, pelo rádio ou pela televisão, mas não seguimos à risca essa cartilha básica como procedimento obrigatório a ser incorporado na nossa vida cotidiana. Temos que, pelo menos, ter competência para cuidarmos de coisas simples como, por exemplo, o destino do lixo doméstico e hospitalar da nossa pequena cidade. Nesse ano, a prefeitura foi denunciada pelo abandono temporário do aterro sanitário. Foi preciso a Câmara denunciar e o Ministério Público ameaçar para alguma coisa acontecer.
Nenhum conhecimento teórico sobre política, ciências, ecologia e problemas sociais, vai servir para nada se não fizermos algo para provocar mudanças. A transformação da realidade começa primeiro em nós próprios, na nossa casa, na nossa cidade e, depois, no nosso país. Muitas vezes deixamos de participar da vida comunitária, das decisões acerca dos problemas comuns ao nosso grupo social e depois colocamos a culpa no vizinho, no prefeito ou no governador pelas dificuldades que afetam a todos. Temos que propor, acima de tudo, sugerir, reivindicar, apontar erros e denunciar sempre que não formos ouvidos, afinal de contas fomos nós que elegemos o prefeito e o governador. Mas, temos que fazer a nossa parte primeiro. Deixar de lado a arrogância e a prepotência e nos colocar a serviço do todo.
Não podemos, sob nenhuma justificativa, exigir dos outros, compromisso maior que o nosso. Com nós mesmos, com a nossa cidade, com o Estado, com o país. Nenhum desenvolvimento econômico e avanço tecnológico vão adiantar se isso não fizer com que a vida seja melhor mais adiante. E com certeza, se as questões ambientais com seus efeitos assustadores que se avizinham não forem tratadas como prioridade, se os problemas locais mais simples como a melhoria do saneamento básico e a correta destinação do lixo não forem solucionados, as ações básicas de saúde pública e a educação não forem melhor assistidas, a perspectiva é de que a qualidade de vida seja bem mais baixa em um futuro bem próximo.
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