sábado, 3 de março de 2007

Água para todos

Juliana Miura

Muito se fala em falta de água e que, num futuro próximo, teremos uma guerra em busca de água potável. Mas como está a situação dos recursos hídricos hoje no Brasil? Para o alívio de todos os brasileiros, o Brasil é um país privilegiado, pois aqui estão 11,6% de toda a água doce do planeta. Aqui também se encontram o maior rio do mundo – o Amazonas – e o maior reservatório de água subterrânea do planeta – o Sistema Aqüífero Guarani.

No entanto, esta água está mal distribuída: 70% das águas doces do Brasil estão na Amazônia, onde vivem apenas 7% da população. Essa distribuição irregular deixa apenas 3% de água para o Nordeste. Essa é a causa do problema da escassez de água verificado em alguns pontos do país. Em Pernambuco existem apenas 1.320 litros de água por ano por habitante, e no Distrito Federal essa média é de 1.700 litros, quando o recomendado são 2.000 litros. Mas, ainda assim, não se chega nem próximo à situação de países como Egito, África do Sul, Síria, Jordânia, Israel, Líbano, Haiti, Turquia, Paquistão, Iraque e Índia, onde os problemas com recursos hídricos já chegam a níveis críticos.

Em todo o mundo, domina uma cultura de desperdício de água, pois ainda se acredita que ela é um recurso natural ilimitado. O que se deve saber é que apesar de haver 1,3 milhões de km³ livre na Terra, segundo dados do Ministério Público Federal, nem sequer 1% desse total pode ser economicamente utilizado, sendo que 97% dessa água se encontra em áreas subterrâneas, formando os aqüíferos, ainda inacessíveis pelas tecnologias existentes.

Políticas públicas e um melhor gerenciamento dos recursos hídricos em todos os países tornam-se hoje essenciais para a manutenção da qualidade de vida dos povos, de acordo com Sanderson Leitão, especialista em recursos hídricos e coordenador de projetos de reuso de água. Para ele, a situação da água no Brasil está longe de se tornar crítica. No entanto, se o problema de escassez já existente em algumas regiões não for resolvido, ele se tornará um entrave à continuidade do desenvolvimento do país, resultando em problemas sociais e de saúde, entre outros.

Leitão afirma, ainda, que o país está tomando medidas concretas para impedir esse futuro , entre eles a criação da Agência Nacional de Água, a transposição do rio São Francisco, a adoção de técnicas de reuso de água e a construção de infra-estrutura de saneamento, já que hoje 90% do esgoto produzido no país é despejado em rios, lagos e mares sem nenhum tratamento.

Dessa forma, a situação da água no Brasil poderá se modificar: “Temos condições e tecnologias para resolver os problemas de água que existem hoje no Brasil. Até para o Nordeste, o Brasil tem solução para o problema da seca, que poderá ser resolvido em 25 anos”, diz o especialista. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 50% da taxa de doenças e morte dos países em desenvolvimento ocorre por falta de água ou pela sua contaminação.

Assim sendo, o rápido crescimento da população mundial e a crescente poluição, causada também pela industrialização, torna a água o recurso natural mais estratégico de qualquer país do mundo. Para cada 1000 litros de água utilizados, outros 10 mil são poluídos. Segundo a ONU, parece estar cada vez mais difícil se conseguir água para todos, principalmente nos países em desenvolvimento.

Dados do International Water Management Institute (IWMI) mostram que, no ano de 2025, 1,8 bilhão de pessoas de diversos países deverão viver em absoluta falta de água, o que equivale a mais de 30% da população mundial.

Diante dessa constatação, cabe lembrar que a água limpa e acessível se constitui em um elemento indispensável para a vida humana e que, para tê-la no futuro, é preciso protegê-la para evitar o futuro caótico previsto para a humanidade, quando homens de todos os continentes travarão guerras em busca de um elemento antes tão abundante: água.

Folha do Meio Ambiente. Brasília: mar. 2001, p 7.

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