domingo, 4 de março de 2007

Mentiras anônimas

Pegando uma carona na idéia da criação do diário virtual Xapuri Agora, um grupo de anônimos colocou na rede um esboço de um blog, sem assinatura, cujo teor faz referências a valores como a verdade, a ética e a moral. Numa das poucas postagens, o autor, de identidade oculta, invoca a figura do ministro da propaganda nazista, durante a 2ª Guerra Mundial, Joseph Paul Goebbels, para fazer comparações levianas contra esse radialista. O editor procura mostrar que tem "intelecto", virtude rara entre os sectários de determinado grupo político de Xapuri, onde, certamente, estão escondidos os responsáveis pela produção do material.

Se o objetivo dessa publicação é mostrar a verdade, por que motivo, então, não é assinada? A Constituição Brasileira - Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, Inciso IV – garante a liberdade de manifestação do pensamento, mas veda o anonimato. A internet é um universo novo que possibilita a qualquer pessoa veicular e acessar informações de maneira fácil, rápida e democrática em rede mundial. Mas, como resultado dessa facilidade, o conteúdo que vaga na rede mundial nem sempre é seguro e confiável. Por isso, mesmo que não hajam, ainda, sistemas rigorosos de controle sobre o que circula nesse ambiente, o mínimo que se pode e se deve exigir, da parte de quem utiliza os serviços, é um comportamento minimamente ético, principalmente tratando-se de pessoas ligadas ao poder público que devem se responsabilizar pelo que publicam.

De qualquer forma, pessoas tão "cultas", a ponto citar figuras célebres, mesmo que de desgraçada lembrança, como Goebbels, deveriam assumir publicamente suas idéias, por mais cretinas que elas sejam. Não deveriam ter medo. Escancarar seus já conhecidos repertórios de safadezas e maledicências não vai assustar ninguém. Nada é mais surpresa nesta terra dominada por traficantes, viciados e corruptos profissionais de extenso currículo. A propósito, citar o nazismo foi uma idéia muito oportuna. O que se vê atualmente, no semblante do povo e, principalmente, de servidores públicos, é uma imagem de desânimo, desesperança no futuro e, até mesmo, um clima de suspense, quase terror, que lembra os judeus do holocausto.

Recentemente, o delegado de polícia de Xapuri, Alex de Souza Cavalcante, afirmou que a cultura da emboscada, artífício através do qual se mata uma pessoa sem que ninguém saiba quem foi, tem que ser exorcizada, como maldição, do seio da sociedade. Ele se referia às muitas mortes perpetradas nessa cidade, ao longo da história, por meio desse expediente. Isso me fez refletir que o gosto pelas emboscadas ou tocaias, não está restrito somente à ação de homicidas, mas, também está ligado, de certa forma, a ataques morais, à honra e a liberdade de expressão das pessoas por meio de ameaças veladas, de comentários maldosos e caluniosos que são semeados como verdades absolutas. Tudo isso de maneira anônima, sem que ninguém possa provar a autoria, apesar de se conhecer os responsáveis.

É mais uma maldição que tem quer exorcizada: A mentira escondida sob o escudo da covardia.

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