segunda-feira, 4 de março de 2013

“Plebeus e descamisados”

Os “sans cullotes” de uma “princesa má”

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Morador da Reserva Extrativista Cachoeira. Local: Xapuri - AC

Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural – FEM

Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico – FEM

Sérgio Souza

Muito interessante e lúdico o artigo do Xapuriense José Cláudio Mota Porfiro. Os relatos, muito bem construídos, abordam fragmentos das vivências de xapurienses de muito “boa cepa”, personagens que, por um motivo ou outro, destacaram-se em seus afazeres e ofícios e merecem grande respeito por parte dos xapurienses. Mas, existem outros atores sociais que constroem/construíram a história do município. O problema, é que dificilmente lhes é dada a visibilidade devida. Distantes dos relatos de uma historiografia oficial vivem/sobrevivem seus cotidianos, assentes em tradições construídas e reinventadas a partir de suas relações com os territórios sociais onde habitam (periferias, seringais, colônias etc.) e com os quais desenvolvem uma relação de profundo afeto, são guardiões de diversas e ricas memórias sobre Xapuri. A questão parece-me ser quem valoriza esses outros saberes, no geral, constituídos a partir de relações empíricas, de “aprender fazer fazendo”, resultante de trocas de informações por séculos seguidos que lhes possibilitam distinguir, em meio à maior biodiversidade do planeta, a planta que cura determinada moléstia e outra, de aspecto físico bem semelhante, que envenena o desavisado que a utilize.

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Aspectos do cotidiano dos moradores da Reserva Extrativista Cachoeira. Local: Xapuri - AC

Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural – FEM

Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico - FEM

Não é segredo que refuto com veemência o tal título de “princesa do Acre” que “outorgaram”, no início do século XX, a Xapuri. Penso que esse “enobrecimento” forçoso da cidade veio junto com a sacralização/dogmatização de uma memória e de alguns personagens que tentam personificar, como se fosse possível, toda a multiplicidade de vivências e saberes existentes no lugar. É neste cenário que os comuns e suas histórias e memórias desaparecem, reaparecendo apenas em momentos vagos, no geral exóticos, ou para reafirmar determinadas assertivas, coisa do tipo: “lembro do fulano de tal nos idos dos anos passados...”, e fica só nisso.

Este curto relato é, na verdade, uma homenagem aos “comuns”, mas, ao mesmo tempo, uma forma de tornar visíveis anônimos que a historiografia oficial tratou de colocar no mais profundo limbo. São heróis que travam, todos os dias, uma batalha contra a fome e por uma vida melhor. A estes “plebeus descamisados”, minhas reverências.

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Aspectos do cotidiano dos moradores da Reserva Extrativista Cachoeira. Local: Xapuri - AC

Acervo: Patrimônio Histórico e Cultural – FEM

Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico – FEM

Sérgio Souza é professor da Universidade Federal do Acre.

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