A cozinheira mais ilustre de Xapuri teve uma despedida digna de celebridade, na tarde da última sexta-feira, no cemitério São José. E ela realmente foi e continuará sendo uma grande celebridade. Não dessas que surgem repentinamente em qualquer “reality show” ou “soap opera” da vida irreal. Vicência Bezerra da Costa, retirante nordestina e seringueira acreana, é uma notoriedade do verdadeiro e nada glamoroso espetáculo da vida real.
Saída de Alto Santo, no semiárido cearense, no ano de 1943, empurrada pela seca e pelo medo dos pais de terem os filhos homens convocados para a guerra, chegou ao Acre aos 14 anos de idade. Sua família veio misturada a muitas outras em uma das várias levas de nordestinos que embarcavam nos navios da Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, durante a Segunda Guerra Mundial. Aportou nesse recanto longínquo da Amazônia e se tornou parte intrínseca dele.
Ainda menina, se incorporou ao novo espaço geográfico, tão diferente, bem mais abundante e, talvez, mais adverso que a própria caatinga de onde saiu. No nordeste, Vicência viveu a tragédia da seca e de lá fugiu em busca de um futuro “incerto e assustador”; no Acre, viu seringueiros morrerem de malária, serem explorados pelos patrões e esquecidos pelo governo federal que os arregimentou para o “esforço de guerra” que era o corte da seringa.
No seringal São Francisco do Iracema, onde viveu por 34 anos, cortou seringa, limpou roçados, caçou bicho do mato para a alimentação, aprendeu a cozinhar eximiamente, casou e teve quatro filhos. Viúva, já na cidade, usou a habilidade de cozinheira para montar a “pensão da tia Vicência”, onde se tornaria uma das figuras mais conhecidas e queridas de Xapuri, não apenas pelo sabor de seus pratos, mas sobretudo pela maneira como soube divulgar sua própria história.
Tia Vicência não era diferente das muitas outras pessoas que como ela ajudaram a compor esse tipo humano amazônico que é o imigrante nordestino. O que fez dela uma celebridade regional foi a empatia que desenvolveu junto ao variado público de seu famoso restaurante. A comida caseira “com gosto de seringal” era servida como se aquilo fosse um almoço de seringueiros depois de um “adjunto”, que era um mutirão realizado entre vizinhos próximos para serviços de plantação ou colheita dos roçados.
A galinha caipira à moda do seringal era comumente acompanhada da visita de Vicência a cada uma das mesas para conferir se o cliente estava satisfeito, se desejava um ovo estalado ou uma pimentinha para temperar melhor. Em seu restaurante nunca houve qualquer tipo de formalidade, a comida era servida como nos almoços de família. Lá também nunca houve self-service. O contato direto com as pessoas que frequentavam o lugar era uma questão de necessidade para Tia Vicência, que exalava sabedoria e história.
Aquelas mesas simples, de madeira rústica, acomodaram muita gente. Pessoas comuns, políticos, artistas, jornalistas e profissionais de diversas áreas e vindos de vários lugares do Brasil e do mundo. Para cada um dos fregueses, Vicência tinha sempre algo a dizer ou uma história para contar. Impressionava pela maneira como divulgava e valorizava a sua gente, a sua terra e o seu trabalho como seringueira, como “soldada da borracha”. Gritou, à sua maneira, o descaso oficial para com aqueles que, como os heróis de guerra, costumam mesmo ser esquecidos.
Vicência é, indiscutivelmente, uma celebridade. Atuou no palco da vida com a graça de uma verdadeira estrela hollywoodiana. Encantou a plateia com a franqueza de suas falas e conquistou uma legião de admiradores com a autenticidade do único e mais que suficiente papel que representou em sua longa trajetória: o da guerreira Vicência: mulher, seringueira e cozinheira que conseguiu transformar um roteiro simples e tão comum em uma belíssima história de vida. Aplausos justos e merecidos para ela.
Um comentário:
REVOLTANTE,POIS O MEU VELHO FALECIDO PAI, TAMBEM FOI VÍTIMA DO DESCASO DESSE GONVERNO CORRUPTO QUE SOBREVIVE EM CIMA DA DESGRAÇA DOS OUTROS, O LULA PERDEU UM PEDAÇO DA UNHA DA MÃO, JA VIVE APOSENTADO COM UMA APOSENTARIA MILIONÁRIA,A DÍLMA ASSIM QUE ASSUMIU TRATOU LOGO DE ASSEGURAR SUA APOSENTARIA E INDENIZAÇÃO PELO QUE ELA DIZ QUE SOFREU NA DITADURA,ESSES COITADOS DOS SOLDADO DA BORRACHA, QUE FORAM ARRANCADOS DO SEIO DE SUAS FAMILIA NO CEARÁ A BASE DE MENTIRAS DO GONVERNO, ESTÃO SE ACABANDO AOS POUCOS SEM TER OS SEUS DIREITOS RECONHECIDOS, TEM DINHEIRO PRA TUDO NESSA PORCARIA,O GONVERNO VIVE JOGANDO BILHÕES NO ALIMENTO DA CORRUPÇÃO NO PAÍS E NÃO TEM DINHEIRO PRA PAGAR OS TRABALHADORES QUE DE FATO E DE VERDADE TEM DIREITOS A RECEBER DA UNIÃO,,,, ISSO É UMA VERRRRRGONHAAA.
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