*JOSÉ CLÁUDIO MOTA PORFIRO
É preciso, antes, deixar claro que o mal não deve ser imputado apenas àqueles que o praticam, mas também àqueles que poderiam tê-lo evitado e não o fizeram. Por tudo o que for escrito nas linhas abaixo, também eu devo ser responsabilizado, sim, porque nem sempre tenho emprestado o meu voto a pessoas de bem, aos que realmente realizam a defesa dos direitos do povo. Boa parte dos sanguessugas de Brasília se acovarda ou esquece a finalidade daquilo que deveria ser o seu trabalho.
Tenho, ao longo dos anos, percebido que aqueles que se auto proclamam agentes da defesa dos direitos do povo, especificamente os que compõem o parlamento brasileiro - uns talvez inadvertidamente, por burrice até - a partir do momento em que passam a praticar o mal, este passa a surgir como uma espécie de dever de ofício. A maioria deles tem uma forma de obrigação para com a prática de certas coisas ruins.
Bondosas senhoras. No Brasil, o que vem para prejuízo do povo é logo aprovado no Congresso Nacional, uma vez que a superior maioria dos nossos parlamentares sequer entende no que ou em quem está votando.
Os que sabem a respeito do que estão votando aliam-se ao que ditam os dirigentes maiores e passam a ver o mundo sob a ótica dos que gostam apenas de subtrair o dinheiro de quem já não o têm.
Já não basta o imposto de renda que me agride e leva nacos bem generosos das minhas economias em prejuízo da sobrevivência normal da família segundo o que ganho, que não é real, é fictício, pelo menos em parte. Isto porque todos os meses há sempre um ladrão-leão-filantropo-pastor com os olhos postos nas minhas finanças organizadas, sim, a partir de esforços pela manhã, à tarde e à noite, trabalhando com afinco.
Insisto. Com o imposto que pago, a educação das minhas crianças poderia ser fomentada pelo governo, mas a qualidade da instrução oficial é de uma mediocridade a toda prova e, por isto, matriculo-as no colégio particular. A assistência à saúde é uma mixórdia e, assim, sou obrigado a pagar um plano de saúde que me adoece só de pensar todos os meses na qualidade do serviço que eles prestam apesar dos altos custos. Devo pagar também o sujeito da motocicleta que passa a cada hora da noite pela frente da minha casa, para que eu não seja assaltado, como se isso valesse alguma coisa. (Experimente dar um telefonema para a Polícia e hás de ver que a chegada dos homens da lei ocorrerá daí a cinco ou seis dias.)
É essa turminha da extorsão legalizada, agentes do executivo e do legislativo, que ilude o povo todos os dias, dizendo, inclusive, agora por último, que baixou o preço da energia elétrica quando, na verdade - na surdina - aumentou o preço do combustível... E o prejuízo ficará ainda maior se tudo for colocado no papel. Sacanagem demais. Agora, eles também maquiam uma baixa de preços na cesta básica, ao mesmo tempo em que aumentam os preços dos remédios. Um insulto aos mais inteligentes como eu, ou como o pé de mamão do fundo do meu quintal.
Apreciemos, então, como ficou a última tabela do imposto de renda. O número dos que recebem devolução foi reduzido drasticamente porque, por exemplo, dinheiro gasto com remédio não entra nos cômputos do que é gasto com a saúde. Qual foi o deputado que notou merda deste tamanho? Nenhum. O leão agora come não apenas o filé que já não existe no meu derriére, mas enche a barriga com as tripas arrancadas destes pagadores de impostos abandonados e sem defesa por uma classe política nefasta e arredia aos interesses dos que financiam o desenvolvimento nacional.
Alguém mais esperto já notou que as dívidas do governo federal, por exemplo, para com o funcionalismo público - chamadas precatórios - antes, quando saudadas, eram pagas à vista; mas agora está já quase instituído que o pagamento deverá ser feito em parcelas ao longo de quinze anos. Os da minha geração, certamente, não viverão para ver. É ou não é sacanagem, meu nobre deputado Rufião?
Enquanto isso, uns poucos saldadores de impostos já perceberam que o pagamento de fiança, notadamente nos casos de crimes de corrupção, pode chegar à casa dos dez milhões de reais. É a institucionalização do roubo, posto que apenas os detratores do bem público têm dinheiro suficiente para tal empreendimento em favor de si mesmo e das suas viagens pelos cofres nacionais. (Faz-se um desvio de 50 milhões de reais, paga-se uma fiança de 10 milhões e os 40 milhões serão o saldo de um investimento extremamente rentável... Mas quem é o corrupto idiota que quer ganhar só isso?)
Por isto, há sempre uma alma insana que envereda no mundo da contravenção penal e do crime. Esse tipo de parasita social está certo de que terá plenas condições de pagar a fiança. Irá ao Uruguai comprar chocolates e, de volta, o seu competente advogado já terá liquidado a caução em juízo, tudo em nome do poder público.
É, senhoras. A classe média financiadora das firulas políticas - tanto da elite quanto da neo-esquerda - já não aguenta mais a embromação de uma gorda maioria de políticos e dirigentes nacionais que dá com uma mão e tira com a outra.
A Lei Seca, então, é mais uma forma de o Estado brasileiro extorquir - roubar mesmo - o cidadão que não pode tomar um copo de vinho, em família, fora de casa, no aniversário da concubina. Aí, o respeitável cidadão será algemado na frente dos seus, irá para a cadeia e, depois, pagará dois mil réis para quem?... Para o poder público, é claro.
Nenhum parlamentar terá coragem de proferir um discurso a partir de um texto como este. Uns porque estão comprometidos com o poder, outros porque não entendem absolutamente o que cá está escrito.
Deputados e senadores - com exceções raras - poderiam fazer um estudo mais aprofundado do Código Penal brasileiro de forma a torná-lo mais atual, uma vez que ele data ainda dos anos 40 do século passado. Até fariam, sim, se tivessem inteligência suficiente para tal empreendimento.
Eles veriam que se as penas forem realmente sérias, pesadas mesmo, não haveria a necessidade de formar verdadeiras quadrilhas de policiais quase inocentes que ganham muito pouco, mas trabalham madrugada adentro com a finalidade de extorquir o dinheiro dos menos avisados que se arriscam a um gole de vinagre além do permitido.
Ora, senhores! O cidadão que fosse flagrado, pelo bafômetro, em delito, teria as chaves do carro apreendidas e as teria de volta em vinte e quatro horas após a ocorrência. Mas não é o que ocorre. O Estado brasileiro, dito de direito, prefere arrancar à unha o dinheiro de pessoas que tomam uma cerveja a mais, mas voltam para casa a quarenta quilômetros horários, isto, com o fito de não prejudicar ninguém.
Meditemos, pois. O inocente guardinha manda parar o agora marginal (eu) e nota algo de anormal na voz, no andar, nos olhos. Ele, como a não querer prejudicar, ou como a não querer apenas extorquir o meu dinheiro, bem poderia consultar o sistema contran, ali mesmo, para benefício daqueles que bebem e não espalham o terror em via pública. Bastaria puxar a folha corrida do suposto infrator e lá observar que há muitos e muitos anos o cidadão de cinquenta ou mais primaveras deixou de causar problemas no trânsito. Façam a pesquisa e verão que noventa e cinco por cento dos provocadores dos acidentes não são os mais velhos.
Alguém pensou nisso? Não. Ninguém pensou nisso porque ninguém é pago para pensar em porra nenhuma, muito menos em favor dos pagadores de impostos que sustentam a pouca vergonha nacional.
É claro que eu não sou a favor dos bêbados ao volante. Mas daí a soçobrar o direito de ir e vir de quem anda devagar porque já teve pressa, é sacanagem. É o roubo praticado por um sistema que diz trazer benesses sociais ao povo quando, na verdade, só sabe extorquir das formas mais vis e sacanas possíveis. Ademais, observemos um dado a mais: a economia que gira em torno dos negócios noturnos, bares, restaurantes e similares, está prejudicada porque a liberdade de ir e vir foi tolhida pelo poder público que quer apenas engordar contas bancárias aqui e outras acolá.
Pior é que poucos reclamam ante tanta incoerência. Um que se indigna é visto como o indivíduo que quer levar os demais ao estado de baderna. É preciso reagir, certamente. Todavia, os donos do poder já têm percebido, infelizmente, que aquele que não dá pela falta da coisa furtada é porque não foi roubado em nada.
Eu desafio um parlamentar que, em Brasília, tenha coragem de fazer deste texto um discurso em plenário. Homem ainda existe. Macho é que é difícil.
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*Cronista, articulista jornalístico e Diretor de RH/Ufac: www.claudioxapuri.blog.uol.com.br - Comente!
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