terça-feira, 5 de março de 2013

História de pescador

HISTÓRIA DE PESCADOR<br /> <br />	Já houve um tempo que, em Xapuri, no rio Acre era possível pescar alguma coisa além de Piranambu. Quem morava em suas margens, tinha sempre uma canoa grande o suficiente para poder passar o dia inteiro e deitar-se à noite, nos intervalos entre uma conferida e outra, ao seu espinhel .<br />	O conforto resumia-se a um toldo semicircular, armado com cipós e coberto com palha que fechava a embarcação de um ao outro lado; um estrado de madeira cobria-lhe o fundo e mantinha o pescador a salvo da umidade. As entradas de popa e proa eram vedadas por cortinas, chamadas de sanefas, feitas de maleáveis lâminas plásticas e transparentes para facilitar a visão e a entrada de luz...desses que servem para proteção das tolhas de mesa, em casa que tem criança.<br />	A alimentação era fornecida pelo pescado e preparada em um fogareiro alimentado por querosene. Consistia num tanque de combustível bojudo, com três suportes em forma de varetas verticais que se dobravam acima para formar a grelha. Um queimador central era conectado ao tanque. Na lateral do tanque, havia um êmbolo para injeção de oxigênio e vaporizar o combustível. Era a chamada Gasol.   <br />	Só assim era possível este tipo de pescaria ou ir à busca dos locais menos explorados, como o Novo Catete, o Velho do Mel, Boca do Lago ou as Pedras. Àqueles, o acesso requeria a força motriz de braços e vareijões. À estas, apenas rabetas, davam conta.    <br />Alguns destes pescadores chegavam mesmo a morar dentro seus próprios barcos, como Cambirote. Alguns barcos ganhavam nomes de batismo, como o Morro Velho de Valdir Maciel.<br />Em meio aos mais experientes, pescavam também dois irmãos adolescentes: Paulo e Pedro Cardoso.<br />Para seu barco, escolheram um nome prá lá de pomposo. Era o Domingos Assmar, emprestado de um antigo navio que fazia o transporte de mercadorias e borracha para a Limitada, e do qual haviam apenas ouvido falar. <br />Devido a pouca idade e o medo decorrente, pescavam sempre próximos aos mais experientes, como Lioberto “Malhadeira”, Bito, Cambirote e Chiquinho Calixto. <br />Os dois irmãos, pelo confinamento, brigavam feito cão e gato.<br />E certa vez, enquanto preparavam o almoço, iniciaram mais uma deles e rolaram engalfinhados na areia da praia.<br />E concentrados na briga, esqueceram a panela da caldeirada de mandi sobre a trempe da  Gasol. <br />A brisa do rio soprou e baixou a sanefa de popa que estava suspensa sobre o toldo, fazendo com que esta pegasse fogo e passasse para a cobertura de palha.<br />Em meio à luta, Paulo percebeu o sinistro e fez soar a alarme:<br />- Incêndio, Pedro! Incêndio no DOMINGOS ASMÁTICO !!!<br /><br />Rubinho

Rubens Menezes de Santana, o Rubinho, via Facebook.

Já houve um tempo que, em Xapuri, no rio Acre era possível pescar alguma coisa além de Piranambu. Quem morava em suas margens, tinha sempre uma canoa grande o suficiente para poder passar o dia inteiro e deitar-se à noite, nos intervalos entre uma conferida e outra ao seu espinhel .
O conforto resumia-se a um toldo semicircular, armado com cipós e coberto com palha que fechava a embarcação de um ao outro lado; um estrado de madeira cobria-lhe o fundo e mantinha o pescador a salvo da umidade. As entradas de popa e proa eram vedadas por cortinas, chamadas de sanefas, feitas de maleáveis lâminas plásticas e transparentes para facilitar a visão e a entrada de luz... desses que servem para proteção das toalhas de mesa, em casa que tem criança.
A alimentação era fornecida pelo pescado e preparada em um fogareiro alimentado por querosene. Consistia num tanque de combustível bojudo, com três suportes em forma de varetas verticais que se dobravam acima para formar a grelha. Um queimador central era conectado ao tanque. Na lateral do tanque, havia um êmbolo para injeção de oxigênio e vaporizar o combustível. Era a chamada Gasol.
Só assim era possível este tipo de pescaria ou ir à busca dos locais menos explorados, como o Novo Catete, o Velho do Mel, Boca do Lago ou as Pedras. Àqueles, o acesso requeria a força motriz de braços e varejões. À estas, apenas rabetas, davam conta.
Alguns destes pescadores chegavam mesmo a morar dentro seus próprios barcos, como Cambirote. Alguns barcos ganhavam nomes de batismo, como o Morro Velho, de Valdir Maciel.
Em meio aos mais experientes, pescavam também dois irmãos adolescentes: Paulo e Pedro Cardoso.
Para seu barco, escolheram um nome prá lá de pomposo. Era o Domingos Assmar, emprestado de um antigo navio que fazia o transporte de mercadorias e borracha para a Limitada, e do qual haviam apenas ouvido falar.
Devido a pouca idade e o medo decorrente, pescavam sempre próximos aos mais experientes, como Lioberto “Malhadeira”, Bito, Cambirote e Chiquinho Calixto.
Os dois irmãos, pelo confinamento, brigavam feito cão e gato.
E certa vez, enquanto preparavam o almoço, iniciaram mais uma delas e rolaram engalfinhados na areia da praia.
E concentrados na briga, esqueceram a panela da caldeirada de mandi sobre a trempe da Gasol.
A brisa do rio soprou e baixou a sanefa de popa que estava suspensa sobre o toldo, fazendo com que esta pegasse fogo e passasse para a cobertura de palha.
Em meio à luta, Paulo percebeu o sinistro e fez soar o alarme:
- Incêndio, Pedro! Incêndio no DOMINGOS ASMÁTICO!!!
Rubinho é professor aposentado da Ufac.

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