Carlos Estevão Ferreira Castelo, via Facebook.
Estava eu caminhando pelas ruas do bairro Isaura Parente no final da tarde de ontem (Isaura para os residentes) quando, de "supetão", escutei: "Baratinha...você é o Baratinha, não é?"
Rapidamente olhei para trás e vi um senhor bastante sujo, magro, com um saco nas costas e vestido com roupas rasgadas. Olhei fixamente para seu rosto e reconheci: era "Babá, um dos grandes amigos de infância em Xapuri. Falei: sim, sou o Baratinha. E você é o Babá, não é? Da família Fadul?
Não respondeu. Simplesmente veio ao meu encontro e abraçou-me demoradamente.
Perguntou por minha mãe, meu pai, meu irmão e minha irmã. Sem me largar.
Eu fui respondendo... Perguntou pelo Claudinho, um primo meu, também de Xapuri.
Nada comentou sobre sua vida. Mas percebi que o vicio tinha ganho a parada. Na sua mão percebi restos de comida em um saco sujo.
Babá é um pouco mais novo que eu, portanto deve ter uns 40 e alguns... Mas sua aparência atual é de um homem de 60 anos ou mais. Provavelmente mora nas ruas de Rio Branco. Fiquei sem ação.
Quando me recuperei tentei argumentar, mas Babá se afastou assustado... Não deu tempo para nada.
Alguma coisa "está fora da ordem..."
Comentário do blog: Lembro-me bem de Babá. Era um sujeito irrequieto, cheio de espertezas e malandragens, que participava de tudo o quanto era atividade praticada pela meninada de Xapuri lá pelos anos de 1980.
Guardo dele uma não muito boa lembrança infantil. Em uma determinada ocasião, se aproveitando da maior força física, o safado me tomou, sob a ameaça de alguns “cocorotes”, um álbum de figurinhas prestes a ser preenchido.
Colar figurinhas era uma das febres da época e algumas delas eram tão difíceis de ser encontradas que não eram poucos os álbuns que ficavam incompletos na busca pelos prêmios que seu preenchimento dava direito.
Os bônus geralmente eram irrisórios, como uma bola “dente de leite”, por exemplo. O dinheiro gasto para completar um álbum muitas vezes era suficiente para se comprar três bolas iguais àquelas da premiação.
Não cheguei a concluir o preenchimento de meu álbum, não ganhei a tão desejada bola, mas escapei de pegar uns “cascudos” do Babá. Algum tempo depois, mais crescidos, ríamos juntos desse episódio, por mim então já superado.
Pena que o destino o tenha arrastado para essa triste e degradante condição atual. Babá é apenas um dos muitos moleques travessos de Xapuri que foram postos “fora da ordem” pelas circunstâncias da vida.
Que Deus o ilumine.
Carlos Estevão Ferreira Castelo, o Baratinha, é professor de Teoria Econômica da UFAC.
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