quinta-feira, 3 de maio de 2007

O possível, em novo relatório do WWF

Maria Eduarda Mattar

A Rede WWF divulgou hoje, 3 de maio, um relatório internacional que mostra alternativas de sucesso consideradas exemplares para frear as alterações no clima. Chamado "Deter as mudanças climáticas é possível!", o documento é divulgado na véspera da aprovação de mais um estudo do Painel Intergovernamental da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC), cujos membros estão reunidos na Tailândia para lançar o terceiro volume - que fala sobre formas de mitigação do aquecimento global - do 4º Relatório de Avaliação. Este vem sendo divulgado em etapas desde fevereiro e acordou o mundo para a necessidade urgente de reduzir o ritmo das mudanças climáticas.

E é justamente isso que quer ressaltar o WWF com este novo documento: formas inteligentes e viáveis de agir para reduzir os impactos. "Muito da discussão do Grupo de Trabalho 3 [que produziu o terceiro volume do relatório do IPCC] é sobre custo. É claro que custará dinheiro mudar o sistema global de energia para fontes limpas. É necessário um esforço considerável de governos, empresas e indivíduos para tornar essas mudanças realidade nas próximas duas décadas. Esse esforço é cheio de oportunidades de empreendimentos instigantes, positivos e construtivos. E é, sim, possível financeiramente", vaticina o relatório do WWF em sua introdução.

O texto argumenta ainda que o custo de fazer nada será "desconcertante" e que todos os tipos de infra-estrutura terão de ser reconstruídos. "Estradas e ferrovias seguras contra enchentes e tempestades; mover assentamentos [humanos] para longe de rios e costas vulneráveis a enchentes; proteger de tempestades prédios e construções, linhas elétricas e fábricas" são alguns dos exemplos dados pelo relatório, que relembrou e classificou o furacão Katrina - que devastou a cidade de Nova Orleans (EUA) em agosto de 2005 - como um pequeno antepasto do que realmente vai significar a necessidade de adaptação. "Adaptação não vai ser um gradual aprender a conviver, mas sim uma luta por sobrevivência - em países industrializados e também nas nações em desenvolvimento", avisa o WWF.

O relatório traz uma lista não muito extensa de exemplos de atitudes, iniciativas de políticas públicas, esforços de negócios e ações de pessoas, que tenham recebido de alguma forma a ajuda ou a interferência por parte do WWF. As ações são divididas e organizadas nas seguintes categorias: "WWF promove propostas de políticas para ação"; "Empresas e indústrias se aliam ao WWF para reduzir emissões de carbono" e "VOCÊ pode fazer - WWF inspira cidadãos a agir". Há ainda um item extra chamado de bonus track, que fala sobre o Protocolo de Quioto e afirma que o acordo - já alvo de críticas de pouca legitimidade - é, sim, um sucesso.

Os exemplos retratados vão desde uma política pública de aumento da produção de energia renovável na Tailândia, que nasceu a partir de uma proposta apresentada pela ONG, até a criação de um clube de compartilhamento de carro, na Suíça, projeto que contou com a parceria da companhia de trem do país e no qual os membros combinam o uso em conjunto de ônibus, trens, carros e bicicletas, sem de fato serem proprietários dos veículos. Há também a diferente iniciativa proveniente da Holanda, na qual um cartão de crédito lançado pelo principal banco do país, o Rabobank, ajuda a medir a "pegada de carbono" (ou seja, o rastro de emissões) de cada compra. O cartão é utilizado atualmente por 1,1 milhão de holandeses.

A maioria dos exemplos vem de países desenvolvidos, mas há boas iniciativas retratadas em Filipinas, Índia, China e, claro, Brasil. O exemplo verde-amarelo do relatório refere-se a um estudo do próprio WWF - Agenda Elétrica Sustentável 2020 - lançado no ano passado e que mostra que uma legislação adequada poderia ajudar a economizar cerca de U$ 15 bilhões em investimentos em energia e criar 8 milhões de novos empregos até 2020. Como? Cortando desperdício de energia, promovendo inovação tecnológica e aumentando a parcela de energia sustentável para até 80% da matriz energética. Tudo isso - ainda segundo o estudo do WWF Brasil - poderia levar a uma redução de até 413 milhões de toneladas de CO2. Como o governo brasileiro se comprometeu a levar o estudo em consideração na elaboração do novo Plano de Energia para os próximos dez anos, a iniciativa é considerada um bom exemplo de ação que ajuda a frear as mudanças climáticas.

Todos os exemplos que figuram no relatório são apresentados objetivamente, com exposição da iniciativa, explicação breve sobre como ela foi posta em prática, comentário de um membro do WWF internacional sobre a atividade retratada e indicação de formas de contato e fontes de pesquisa sobre o assunto. O relatório completo, em inglês, está disponível no site do WWF Internacional.

Maria Eduarda Mattar é jornalista da Rits - Rede de Informações para o Terceiro Setor.

Um comentário:

Editor disse...

Raimari, em nome do bom debate. Publique no seu blog. Ajude o movimento pela informação transparente.

Um abraço e parabéns pelo excelente trabalho.



Carta aberta ao governador Binho

Educadores em luta exigem liberdade para pensar e produzir

Edinei Muniz

O atual movimento grevista da educação, imposto a contragosto das direções sindicais, está servindo para mostrar, sem máscaras, e o que é pior, sem preocupações com pudores, o nível de atraso e de entrega vivido pelos movimentos sociais do Acre e as manobras golpistas da secretaria de educação para atingir os trabalhadores e a própria educação.

Os sindicatos hoje, só tem servido para uma coisa, encher dos piores vícios da política as pseudo-lideranças que lá estão. Está longe de ser a melhor escola de formação política. Os sindicatos não formam, ao contrário, deformam, aviltam, empobrecem o debate, e o que é pior, não unem. Sindicato que não une os seus, pode ser tudo, menos sindicato. É preciso uma reflexão profunda que encaminhe a superação da atual etapa.

A situação é de absoluta barbárie ética e de intransponível miséria moral. É triste, dói ter que relatar tudo isso, mas infelizmente é a verdade. Não há por parte dos dirigentes os menores resquícios de preocupações com o que efetivamente é a proposta do conjunto da categoria, o que tem contribuído perigosamente para a perda de legitimidade dos movimentos. Devemos lutar e resistir às manobras governistas de desmoralização das lideranças sindicais. Um novo sindicato, moderno, eficiente e independente precisa surgir.

A atual relação imposta pelo governo, transformou os sindicatos em estruturas corruptoras do sentido concreto dos próprios valores, só isso e nada mais. O batismo do movimento sindical, nos moldes da atual conjuntura, é um banho deletério na própria consciência. Tudo se dá por uma razão simples: Não há valor ético e moral que sobreviva às imposições do poder autoritário.

É aí que reside a parcela de culpa do governo, e que talvez justifique a reação através da greve. É por isso que reafirmamos: Respeito é a nossa maior exigência. Inclusive, infinitamente maior do que todas as demais demandas reivindicadas.

Entendam, senhores do governo, a greve é por dignidade, não é por salário. É fácil atendê-las, basta que reformulem o modelo de gestão impositivo e sem conteúdo que está em vigor. Tratar a educação como se fosse propriedade de “grupelhos” politiqueiros, esfacela a rede e empobrece a qualidade da educação. É uma pena que os senhores não percebam o que é tão óbvio.

O que os professores querem é dignidade para pensar e produzir e não ter se submeter o tempo todo ao comando de figuras carimbadas que não pensam nada e só servem para atrapalhar. A secretaria não ouve o chamado das boas idéias, o que faz é enclausurar e isolar a boa vontade dos educadores. Não há uma rede de ensino com trânsito de boas idéias. É sempre a politicagem que dá o tom. Chega! Respeitem a educação!

Na Secretaria de Educação exigimos a presença de quem pensa e vive a educação. Está faltando, todos sabemos, magnetismo por parte da secretaria para atrair os melhores quadros. Isso se dá porque certos partidos acabaram se encastelando na estrutura de poder, ao mesmo tempo que foram se afastando do compromisso por uma educação melhor para todos. É gente que trata a educação com feudo. É uma pena, governador, que a secretaria tenha que ser burocrática e cartorial. Não é por outra razão que está chovendo no molhado, oscilando numa margem de avanço insustentável que não empolga. Faça da melhoria da educação uma meta de governo. Avançar, até avançamos, porém, não tem sido um avanço consistente. É débil e facilmente recuará.

O que queremos, senhor governador, é um choque de boa vontade e de inovação na condução dos rumos da educação do Acre. Será que não dá para que pelo menos a secretaria de educação seja menos politiqueira?

Parem com esse desrespeito absurdo de ficar tratando todos como se os senhores fossem detentores do monopólio da razão. Se ninguém tem coragem para dizer, eu digo: Os senhores estão longe de serem senhores da razão. Onde fica o pluralismo tem necessário no debate?

O que queremos governador, é criar um clima amistoso. Queremos tão somente o direito de contribuir. Não se faz educação de qualidade sem que haja uma canal de diálogo permanente com quem pensa e vive a educação diariamente. A mão que dar o salário, melhor do Brasil, como vocês dizem, deve ser a mesma que agora é cobrada par dar a auto-estima.



Edinei Muniz é professor