domingo, 20 de maio de 2007

Velozes, perigosos e impunes






Os dois acidentes ocorridos neste final de semana em Xapuri (clique aqui e leia), que poderiam ter resultado em duas grandes tragédias, chamam a atenção para uma situação preocupante que está se repetindo rotineiramente na cidade, sem que as autoridades responsáveis se atentem para os fatos recorrentes que estão tornando as nossas ruas extremamente inseguras de se andar. Como nas cidades maiores, Xapuri experimenta os efeitos de uma combinação explosiva que comumente termina, na melhor das hipóteses, em grandes prejuízos materiais e ferimentos graves, quando não em dor pela perda de vidas humanas.

Essa mistura, cujos ingredientes são o álcool, a imperícia ao volante e a irresponsabilidade da grande maioria daqueles que se envolvem em acidentes, é responsável por números, que mesmo não tendo sido até hoje informados pelas autoridades policiais como forma de alertar a população para um perigo crescente, são considerados muito altos para uma cidade do porte de Xapuri, que possui apenas duas ruas e algumas travessas. Por vários finais de semana consecutivos, salvo raras exceções, nos últimos meses, são registrados acidentes envolvendo principalmente motocicletas.

São batidas, atropelamentos e outras ocorrências que na sua grande maioria são tratadas como fatos corriqueiros, sendo, muitas vezes, resolvidos entre as partes envolvidas ali mesmo, no local, para se evitar a presença da polícia, pois são raros os casos em que a embriaguez alcoólica não seja a principal responsável pelos acidentes. O trânsito em Xapuri é uma verdadeira zona, pois não há fiscalização. A realização de blitz é caso raro, restrita apenas a algumas datas importantes em que a cidade recebe a visita de pessoas de outros locais do estado. Por isso, principalmente nos finais de semana, motoristas bêbados tomam conta das ruas, muitos, inclusive, sem sequer possuir carteira de habilitação.

Aos ingredientes anteriormente citados, soma-se a impunidade. Rememorem-se as vítimas fatais no nosso trânsito e procurem alguém que tenha recebido uma reprimenda exemplar da justiça. Parece que as autoridades incorporaram a convenção preconceituosa de que o culpado é sempre o pedestre ou o ciclista, que andam pelo meio da rua, espaço considerado restrito aos veículos automotores em uma cidade que não possui calçadas e ciclovias. Aliás, algumas autoridades são as primeira a dar o mau exemplo da irresponsabilidade ao volante.

Desde a criação do Real, advento que trouxe estabilidade econômica ao país, a frota de veículos de Xapuri cresceu infinitamente. Há cerca de 10 anos atrás havia alguns poucos carros na cidade, exclusividade de fazendeiros, comerciantes e alguns poucos funcionários públicos. De lá para cá, tornaram-se perigosamente incontáveis, pois a cidade não evoluiu junto com o poder de compra da população de comprar um carro. As poucas ruas, estreitas e mal conservadas, são disputadas por pedestres, ciclistas e veículos, sendo que os dois primeiros possuem a cultura de andar pelo meio da rua atrapalhando o caminhos dos últimos, cujos condutores parecem haver esquecido que um dia também foram pedestres e/ou ciclistas.

Como a estrutura das vias públicas não vai mudar da noite para o dia, é preciso que ocorra urgentemente uma atitude por parte da polícia, da justiça e da sociedade com relação ao crescimento da insegurança no trânsito dessa pequena cidade. A fiscalização tem ser constante e a punição, mesmo nos casos mais simples, não pode deixar de acontecer. A sociedade, por sua vez, deve cobrar as atitudes das autoridades e denunciar os infratores e aqueles que se omitirem à sua responsabilidade. Não podemos mais presenciar abusos de motoristas irresponsáveis e deixarmos a nossa indignação presa até que alguém perca a vida como já aconteceu com o José Marcílio e a Raimunda da Eletroacre, entre outros tantos que não precisam ser lembrados para chegarmos à conclusão de que em Xapuri ninguém está seguro ao andar pelas ruas da cidade.

Os dois últimos acidentes mostraram que nem mesmo aqueles que optam por estar dentro de suas casas estão livres de morrerem atropelados. No primeiro caso, o trabalhador autônomo Elias Simões escapou por milagre da morte. A caminhonete dirigida pelo filho do vice-prefeito João Dias, Tiego, que não bebe e deve ter sido vítima da inexperiência associada a uma certa dose de imprudência, destruiu quase que completamente o quarto em que o negociante de gado, de 32 anos, dormia. Certamente esse acidente não acabou em tragédia pelo fato da velocidade em que o veículo estava, no momento do acidente, não ser muito alta, de acordo com testemunhas.

O segundo acidente teve maior gravidade. Élber Mota, irmão do ex-vereador e, ironicamente, representante do Detran em Xapuri, Eriberto Brilhante da Mota, sofreu ferimentos graves e precisou ser transferido para Rio Branco com suspeita de fraturas em uma das pernas e no tórax. Élber, que dirigia um veículo do tipo GOL, bateu violentamente contra a frente da Papelaria Benigno. A violência do choque derrubou o portão e uma das colunas de sustentação da parede frontal do prédio. Pela situação em que ficou o volante do carro, o motorista não usava o cinto de segurança. Na parte detrás da loja, dormia o irmão do proprietário da papelaria junto com sua família.

O trecho formado pela continuidade das ruas Cel. Brandão, desde a entrada da cidade, rua do Ibama e 24 de Janeiro, até o centro comercial, é o único em Xapuri com asfalto em boas condições, além de possuir mais de dois quilômetros de extensão nessas condições. É nesse percurso que acontecem a maior parte dos acidentes e, por isso, merece maior atenção da polícia. Se a fiscalização nesses locais for intensificada e a legislação colocada em prática, muitos condutores serão presos e perderão suas licenças para dirigir. Muitos desses, recém saídos da auto-escola, não possuem as mínimas condições para dirigir um carro, assim como outros tantos veteranos do volante. Uns são os famosos "barbeiros"; outros, psicopatas do volante.

A despeito do título deste artigo, devo dizer que o mesmo não tem o objetivo de condenar os dois jovens que protagonizaram esses dois últimos lamentáveis incidentes. É possível que ambos não se enquadrem nos casos de abuso da velocidade e embriaguez ao volante. Acidentes acontecem. Mas isso deve ser investigado pela polícia e devidamente esclarecido à população. Que pelo menos sirva de exemplo para aqueles que, rotineiramente, em flagrante desrespeito à lei e à vida, fazem dos seus carros, ameaçadoras máquinas de matar. Que Deus ilumine suas mentes insanas e proteja suas vítimas potenciais, ou seja, todos nós.

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