O professor Ecio Rodrigues, doutor em Desenvolvimento Sustentável pela UnB e professor da Ufac, mostra porque, com uma variada gama de projetos de manejo florestal certificado, a região de Xapuri e Brasiléia, no Acre, está se tornando o principal lugar da sustentabilidade amazônica.
Ecio Rodrigues
É bem provável que nenhuma outra região da Amazônia tenha sido palco de tamanha gama de experiências produtivas, ditas sustentáveis, que a região do Alto Acre, no estado de mesmo nome. De Capixaba a Assis Brasil, todos os cinco municípios, em maior ou menor grau, sediou projetos destinados tanto a minimizar os impactos da expansão agrícola e pecuária, quanto para oferecer alternativas competitivas oriundas do setor florestal.
Identificar e diagnosticar as razões para que isso ocorresse, ainda é uma lacuna que a academia deveria se ocupar. Algumas monografias e dissertações de mestrado seriam necessárias para explicar essa concentração de alternativas produtivas. Se, por um lado, a total falta de acesso rodoviário a esses municípios, à época da instalação desses projetos, desestimularia a opção por essa região, por outro, o trabalho de lideranças expressivas, como Wilson Pinheiro e Chico Mendes, trouxe um estímulo importante para optar por ela. Sem embargo, um olhar mais acurado, seguramente, apontará outras razões que precisam ser melhor conhecidas.
Mas o fato é que para a sociologia, economia, engenharia florestal e outros campos da ciência, o Alto Acre é um laboratório precioso para se compreender a realidade atual da Amazônia.
Afinal, foi ali que o movimento dos seringueiros, representado por suas associações de produtores, rurais e extrativistas, com o imprescindível apoio de um agente financiador recém criado, o Ministério do Meio Ambiente (sobretudo por meio do Programa Piloto, Projetos Demonstrativos - PD/A, Fundo Nacional do Meio Ambiente - FNMA e a Secretaria de Coordenação da Amazônia), promoveu a execução de várias experiências de produção que, atualmente, possuem seu enquadramento nos ideais de sustentabilidade facilmente reconhecido.
Ocorre que, durante a década de 1990, a Amazônia se viu impregnada de vários projetos comunitários destinados à adequação da produção primária na região. E foi no Alto Acre que se conceberam e criaram as primeiras unidades de Reservas Extrativistas, ainda com a denominação inicial de Projeto de Assentamento Extrativista e inserido no Programa Nacional de Reforma Agrária. Foi ali, também, que se instalaram os primeiros açudes de piscicultura associados ao plantio de sistemas agroflorestais, sistemas esses com o maior nível de diversificação de espécies florestais já vistos.
Projetos como o de manejo de taboca para produção de móveis em Assis Brasil, de manejo comunitário de madeira para produção de móveis finos no seringal Cachoeira, em Xapuri, (já certificado com o selo verde do FSC), de sementes florestais de Brasiléia, de manejo florestal de uso múltiplo do seringal São Luis do Remanso em Capixaba (único no país com certificação do FSC para uso múltiplo) e de castanha em Epitaciolândia, somente para citar alguns, demonstram que os ideais de Chico Mendes, de uma Amazônia conservacionista, foram bem assimilados por sua base sindical.
Não foi sem razão que essa região tem recebido atenção especial nesses últimos oito anos. Seguindo a experiência dessas iniciativas foram instaladas indústrias florestais de grande porte no Alto Acre, como a de pisos de madeira e a de preservativos masculinos, além das duas usinas de castanha.
Com pavimentação, pontes e a regularização no fornecimento de energia elétrica o Alto Acre está pronto para deslanchar. Em um futuro próximo, será possível saber, se a mão invisível do mercado pendeu para a floresta ou para o agronegócio.
(*) Ecio Rodrigues é Professor da Ufac, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela UFPR e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela UnB.
Publicado pela agência de notícias Kaxiana em 11 de dezembro de 2006.
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