Mergulhados em uma crise sem precedentes na história do município, situação agravada pela proximidade com a área de livre comércio de Brasiléia e Epitaciolândia, que atrai mensalmente grande parcela da população da cidade em busca de melhores preços e mais variedade de produtos que não são oferecidos no mercado local, os comerciantes de Xapuri buscam alternativas para fugir da pindaíba que atinge àqueles que ainda resistem às dificuldades impostas pela falta de circulação de dinheiro na praça local.
Uma dessas alternativas está na tentativa de criação de uma cooperativa de crédito que ofereça aos empresários locais e população de baixa renda a concessão de crédito e prestação de serviços financeiros de forma mais vantajosa que os oferecidos pelas instituições bancárias, ou seja, emprestando a menores taxas e remunerando aplicações a taxas maiores, com menos tarifas e exigências. Além de empresários, a idéia da criação da cooperativa está sendo apoiada por funcionários públicos.
Iniciada há cerca de 2 anos atrás, a organização possui hoje 34 cooperados e administra um capital pouco superior a R$ 30 mil reais. A intenção da direção da sociedade ainda informal é de que até o final desse ano a cooperativa já possua um número superior a 100 cooperados. No início de 2008, o grupo pretende apresentar ao Banco Central do Brasil o seu projeto de viabilidade econômica para formalizar a cooperativa.
No início desta semana, a Associação Comercial de Xapuri realizou uma palestra com o objetivo de discutir o assunto e levar informações aos interessados sobre o sistema de funcionamento de uma cooperativa de crédito. Para isso, foi trazida a Xapuri a empresa de consultoria NCA Assessoria e Treinamentos Empresariais, que deverá ser a responsável pela preparação da documentação de constituição da cooperativa a ser apresentada futuramente ao Banco Central. Participou, também, da palestra, o presidente da CB-CRED – Cooperativa de Crédito do Corpo de Bombeiros de Rio Branco, com 400 cooperados, que engloba também funcionários do judiciário acreano. Eudemir Bezerra falou da sua experiência de quase dez anos no cooperativismo e das vantagens que a iniciativa pode trazer para comerciantes e funcionários públicos de Xapuri.
Para o presidente da cooperativa de Xapuri, Antônio Pedro Mendonça, a cooperativa de crédito trará enormes benefícios para a sociedade local, pois trata-se, segundo ele, do melhor mecanismo de inclusão econômica e social que pode ser aplicado dentro do sistema capitalista. “A cooperativa de crédito vai fazer com que o nosso dinheiro circule mais dentro do nosso próprio município, gerando mais empregos e criando novas e melhores oportunidades de investimentos empresariais, no caso dos comerciantes, e também pessoais, uma vez que a participação é aberta a qualquer cidadão”, disse ele.
Entusiasmados, também, com a idéia estão alguns empresários do setor agropecuário, principalmente os da produção de leite. O pecuarista Marcinho Miranda saiu da palestra empolgado com as informações que obteve. Ele relatou uma experiência de pecuaristas no Estado de Rondônia, que através do cooperativismo conseguiram construir um grande frigorífico com capacidade de abate de 600 cabeças de gado por dia. Segundo ele, está faltando aos acreanos a cultura do cooperativismo, tão difundida em outras regiões do Brasil. Cerca de 20 produtores de leite estariam predispostos a aderir à cooperativa.
Antônio Maria Alves é empresário do setor de modas, e mesmo estando afastado temporariamente da atividade, é um dos grandes entusiastas da criação da cooperativa de crédito. De acordo com ele, a comunidade local precisa se organizar e apostar numa alternativa para reduzir as dificuldades impostas pela conjuntura econômica que na atualidade não é das mais favoráveis para os xapurienses. “Além de ser um instrumento que facilita o acesso ao crédito com vantagens que não são oferecidas pelos bancos, a cooperativa será responsável por ações de alcance social, através da promoção de programas sócio-culturais”. Segundo Antônio Maria, é importante que os governos se atentem para o apoio ao cooperativismo e participem da iniciativa, juntamente com as demais organizações civis, com o objetivo de promover o desenvolvimento local sustentável.
Associação Comercial acredita no cooperativismo
Outro entusiasta da iniciativa é o presidente da Associação Comercial de Xapuri, o empresário João Honorato Cardoso. Há dois anos à frente da instituição, ele acredita que o cooperativismo seja um caminho promissor para empresários e comunidade. Ele é secretário financeiro da cooperativa e incentivador das ações de divulgação e conscientização de novos cooperados.
“Há que ser feito um trabalho de conscientização da sociedade da importância desse projeto. Não podemos mais aceitar impassíveis as condições adversas, as dificuldades e a burocracia que são impostas pelo sistema bancário convencional”, disse ele.
Cooperativismo de Crédito no Brasil
No Brasil as primeiras cooperativas surgiram no início do século XX, em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Elas são regidas pela lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que define a política de cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas e dá outras providências.
As cooperativas são sociedades civis, compostas por pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, sem fins lucrativos e não sujeitas à falência. Adicionalmente, as cooperativas de crédito são instituições financeiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Por essa razão, seu funcionamento é definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e suas operações fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil, que para tanto emite os atos normativos necessários.
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