Reconheço que o prazo de validade do assunto já está bastante vencido e que muitos leitores estão cansados de uma ladainha enfadonha que teima em não cessar. Mas uma espécie de intolerância à hipocrisia e à dissimulação desmedidas não me permite deixar com a última palavra quem insiste em me atribuir adjetivos e comportamentos que considero não possuir.
Em uma “carta aberta” a que tive acesso através do Facebook, o deputado Manoel Moraes (PSB) reacende uma polêmica que ele mesmo criou por conta deste blogueiro haver dito e reafirmado que a inexpressiva votação do candidato de seu partido à prefeitura de Xapuri indica a queda do prestígio político do parlamentar no município que garantiu a sua eleição.
Meu contraponto, porém, não se relaciona ao fato de o deputado exprimir o que pensa sobre minha opinião, o que resulta do direito constitucional mais básico, mas à contumácia com que me nega o mesmo direito. E faz isso não por simplesmente rebater meus “achismos” e “conjecturas”, mas por direcionar à minha pessoa predicados depreciativos e desdenhosos.
Para começar, com o objetivo de me diminuir, o deputado me acusa de “arrogar do status de comunicador”. Ora, recorrendo-se ao dicionário Priberam veremos que o termo arrogar significa: 1. Atribuir a si como próprio. 2. Apropriar. v. pron. 3. Atribuir-se, apoderar-se de, indevidamente. Faço, então, o entendimento de que Manoel Moraes afirma que não sou comunicador, mas apodero-me, indevidamente, de tal condição.
Ora, sou radialista há 25 anos com atuação nas rádios Educadora de Xapuri, como locutor, Difusora Acreana e Aldeia FM, como repórter, função que também exerço na Agência de Notícias do Acre e possuo registro definitivo de jornalista na função de radiorepórter, obtido junto à Secretaria Regional do Trabalho e do Emprego do Acre, sob o número 219.
Se isso não for o bastante para o deputado me considerar comunicador, muito menos será para me acusar levianamente de que assim eu me autodenomino. Sucumbe, o parlamentar, ao erro de tentar combater quem emite opiniões contrárias às suas através do velho e conhecido método da desqualificação. Na falta de argumentos, coloca-se em xeque a legitimidade do crítico.
Também não reconheço arrogância em meus escritos. Entendo arrogância como sinônimo de insolência, presunção ou soberba. Não me considero assim, mas não vejo ofensa nessas palavras, que entendo mais como falta de apego a certas definições. Vejo arrogância na verdadeira acepção do termo em que diz que possui DIPLOMA para ser o porta-voz da população.
A população não elege políticos para ter porta-vozes. O povo fala por si próprio. Ele vota porque é obrigado a eleger representantes que raramente correspondem às suas expectativas. O resultado disso é o desmoronamento do prestígio político que finda por soterrar não somente mandatos, mas também superegos. Foi assim com todos os deputados que Xapuri já teve, foi assim com Júlio Barbosa, Vanderley Viana, Bira Vasconcelos e será assim com qualquer que não entenda que o humor do eleitorado é mais cíclico que o clima.
O deputado afirma que preciso de procuração para falar em nome da população. Ora bolas, jamais tive a pretensão de falar pela população. Falo por mim. Emito minha opiniões e as submeto à apreciação de quem me ouve através do rádio ou lê neste modesto blog. Não necessito de mandato para ser avaliado pela população. Não reconheço qualquer condição superior em políticos eleitos. Com ou sem mandato, não passam de meros servidores públicos, assim como eu. Diferem apenas no salário e nas regalias pagas pelo povo, que avalia a todos, por igual.
Manoel Moraes diz também que seu grupo não se rendeu à subserviência que impera e que não trocou os ideais por cargos de comissão para chefiar departamentos. A assertiva consiste numa indireta a mim, que no seu julgamento sou subserviente ao governo por ocupar o cargo de coordenador da Rádio Educadora de Xapuri. Recomendo aos que estão lendo esta baboseira a leitura do Diário Oficial do Estado do Acre, no que diz respeito ao assunto e aos asseclas do parlamentar.
Outro fato a ser destacado é que o “poder” que o deputado assegura combater e se opor é o mesmo ao qual ele se presta a coadjuvar como um verdadeiro papagaio de pirata nas aparições do governador Tião Viana em suas andanças pelo interior do estado. Já disse aqui e repito: nunca acreditei em quem acende uma vela a Deus e outra ao diabo. Desconfio desse posicionamento e não aposto um tostão furado em quem vomita possuir “postura e atitude”.
Quanto a afirmar que sou pseudo-intelectual, jamais me arvorei a possuir qualquer nível de intelectualidade. Sou apenas um filho de seringueiro, menino buchudo sim, nascido e criado na beira de um barranco do Rio Acre, que teve uma alfabetização razoável e que procura melhorar seu parco conhecimento lendo, pelo menos, um livro por mês. Essa condição não faz de mim sequer um arremedo de intelectual, mas, pelo menos, me permite não grafar o termo alto, antônimo de baixo, com “u” e buchudo, derivativo de bucho, com “x”.
O deputado Manoel Moraes, apesar de não ser dado a reconhecer o direito alheio à opinião, tem aqui neste blog todo o espaço para expressar as suas ideias e pensamentos, mesmo que seu orgulho não o permita solicitar o direito de resposta àquilo com o que diverge. Não concordo com metade das coisas que ele diz, principalmente quando me acusa de coisas que não reconheço, mas lutarei para que tenha o direito de dizê-las, tomando emprestada a máxima de Voltaire, filósofo iluminista que combateu a intolerância de opinião existente na Europa no período em que viveu.
Rogo, no entanto, que a recíproca passe, de agora em diante, a ser verdadeira, em nome do respeito mútuo e dos princípios que devem ser observados por todo aquele que vive sob a égide de um estado democrático de direito. Concluo afirmando que nada de pessoal guardo contra o parlamentar que reconheço como legítimo representante da população xapuriense na Assembleia Legislativa do Acre. Só não creio que este mesmo povo dedique a ele no atual momento da história a mesma credibilidade que depositou há dois anos. A verdade, só o tempo dirá.
Um comentário:
Raimari, quando li seu primeiro escrito acerca do resultado das eleições aqui em Xapuri concordei com seu texto quando abordava o fracasso da coligação do deputado Manoel Moraes, principalmente na chapa majoritária, aliás, não fomos os únicos, muitas pessoas também endossam tal conclusão. São opiniões individuais que ecoaram. E o que há de errado nisso?
Percebe-se que o deputado tem dificuldade de compreender o benfazejo direito da liberdade de expressão quando alguém emite a opinião divergente de seu ponto de vista ou tenha receio que isso possa lhe trazer prejuízos no próximo pleito.
A mim não existe outro ponto de vista se não o declínio do prestígio do deputado se colocarmos o resultado dessas eleições como parâmetro. Como sair-se fortalecido de uma eleição quando seu candidato tem uma votação acanhada depois que todos os esforços foram feitos para que isso não acontecesse? Agora, afirmar que isso terá peso daqui a dois anos é outra situação.
Toda eleição tem sua história, seu momento. Sem análises mais profundas me arrisco dizer que aquela de 2010 quando o deputado Manoel teve uma ótima votação, além da não candidatura do Marcinho que era considerado uma espécie de “bola da vez”, a administração municipal não vivia bom momento, segundo se falava à época, o candidato da frente popular, Ermício Sena não decolou, ou seja, era um candidato que ainda não tinha cargo político contra um candidato de uma administração que, repito, não vivia bom momento.
Daqui a dois anos muita coisa vai acontecer, o deputado como representante de Xapuri vai ter sua avaliação popular, é aguardar o que vai acontecer, mas não nos esqueçamos, assim como o voto a liberdade de expressão é um exercício de cidadania.
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