José Claudio Mota Porfiro
Vou logo dar a mim mesmo os parabéns e um voto de confiança por poder dispor de um veículo de comunicação, como este, onde a livre expressão é respeitada sem maiores restrições. Também, pudera! Um cidadão da minha estirpe não poderia tutelar-se a nenhuma forma de pressão que lhe proibisse escrever o que bem entende. Afinal de contas, duas coisas eu sei fazer razoavelmente bem: textos palatáveis mas corrosivos e crianças inteligentes e bonitas. Graças a Deus!
O sorriso do Jacaré Ferdinandinho é algo enternecedor. Garoto bom tá ali. De boa índole e família ordeira, conheço-o desde menino - nós - nas peladas de rua, e por aí afora. Votei nele por duas vezes. Fiz sugestões e ele me agradeceu quando das épocas do Detran. Discutimos um projeto sobre educação no trânsito que nunca saiu da mesa do bar, antes da lei seca, é claro. Em suma, é aquela estreita simbiose entre o réptil hoje comestível e o homem, que inspiram confiança até em Tomé. Mas não é o lagarto que está a sorrir. É o humanista e o intelectual bem intencionado que dá sinais de que seria um bom dirigente municipal. Lamentáveis, entretanto, são apenas as suas companhias, por quem não pago uma ruela, e em quem não consigo confiar, porque, ao seu lado, nadam de braçada nos pântanos dos narizes crescidos e das cabeças descomunais. Temo pela segurança do Jacaré. Penso que eles podem vir a fazer um guisado da calda do meu bom amigo. Eu me chamo alligator e tenho muito medo do arpão deles!
Então, minha sócia nos empreendimentos conjugais e na empresa de fabricar crianças saudáveis me fez pergunta bisonha sobre as minhas impressões a respeito da professora das pupilas verdes. Fui taxativo:
- A bacaninha fala um português lastimável, apesar dos olhos claros. Um bom revisor - estilo Leopoldo Assumpção - já daria um novo tom à mensagem televisiva... Mas, pensando bem... Ela é uma professora, está acima do bem e do mal, goza de licença poética e pode usar e abusar, na hora que quiser, do velho vernáculo e amarfanhado de tantas rusgas. Ora pois!
E o Alonso! Com relação ao adolescente bombado, respondi com mais detalhes, em que pese ver aquela figuraça como alguém que ainda pode dar certo, talvez, na carreira jurídica...
- O rapagão tem projetos cujos lastros financeiros não são apontados. É fácil para este poeta vão e exagerado dizer que construirei um palácio; difícil é erguer a obra quando se dispõe apenas de cascas de banana e de um terreno em charco. Quem é o maluco do engenheiro que elaborará o projeto de graça, na base do zero oitocentos? De onde sairá o dinheiro para o aterro? Como pagarei a mão de obra e o material de construção? Não basta sonhar e morrer abraçado aos sonhos. É preciso acordar e viver a realidade na ponta do lápis, tecendo um amanhã em valores monetários.
Na roda de bambas, eu em meio a tantas perguntas, respondi a uma do irmão mais velho, aquele que marcou a minha vida em vista do sem número de exemplos, todos, copiados por mim.
- Deixando de considerar a meia dúzia de candidatos a prefeito, em quem você votaria?
- Taí! Pronto! Eu votaria, com certeza, no Peré Vasconcelos, até se ele se candidatasse a papa. Pense num camarada cortês, gentil, bom caráter, competente, dentre outros qualitativos. Sorriso franco e conversa aplumada estão ali embutidos numa alma cheia de bons propósitos. Esse poderia ser o meu candidato... Mas não se candidatou, ainda...
A propósito, digo-vos que jamais votaria no Boca Grande, aquele das Viagens de Guliver. Ele administraria uma prefeitura para gente, enquanto o Angelim faz uma administração para animais, como eu, como a senhora, minha querida leitora dominical. O cara ainda não aprendeu a sorrir. É parente do leão, e não da hiena, cujo sorriso denuncia fome, muita fome, inclusive de um patamar de poder acima do rei dos animais.
Nada interessante é que ele tem como parâmetro de desenvolvimento uma cidade acreana cantada em prosa e verso por ele, apenas por ele, e por mais nenhum habitante deste planeta de Deus meu. O secretário municipal de educação seria diplomado na Essex University,... lá de Acrelândia. O gerente de urbanismo teria diploma da Oxford University,... lá de Acrelândia. O dirigente da saúde seria formado pela Yale University,... lá de Acrelândia... No carnaval, viriam, nus, Adão e Eva, pós-graduados no Paraíso Terrestre, lá de Acrelândia, do mesmo jeito... Aquilo ali mais parece a terra do nunca, aquela que despiu e levou à falência múltipla os órgãos vitais do frenético e apoplético Michael Jackson. É mole?!
Um dia, então, o nosso Quixote dos ventos ululantes foi em passeio desinibido visitar a feirinha de produtos rurais no Bairro da Base. Lá estavam agricultores ribeirinhos de várias colônias. Boca Grande não se fez de rogado e pediu que um dos colonos segurasse uma bandeirinha com fotografia tucana, para que um cineasta genial o filmasse dizendo que aquela feira existia, ali, por obra e graça das aves de narizes muito crescidos, estilo Pinochio, digamos assim. Além do humilde colono se negar a participar da patriotada, ainda disse que tudo aquilo estava ali em vista dos esforços do prefeito Angelim e do Jorge Fadel, secretário municipal de Agricultura.
Não se dando por vencido, Boca Grande foi ter com a presidente da associação dos colonos, que também estava por ali. Esta foi menos sutil e o despachou com as palavras menos amáveis (impublicáveis) possíveis, citando, inclusive, a coroação do êxito do trabalho que significa a implantação do Ceasa de Rio Branco, dentre outros méritos.
- Olhe, seu minino! O senhor tá vendo tudo isso aqui. Tá vendo arroz, feijão, farinha, aves, verduras, hortaliças e muito mais, não tá?... Pois bem! Mas é o senhor mesmo que anda espalhando por aí que acreano não produz nada, não é? É, sim... E como é que você vem pedir voto aqui? Nós produzimos, sim, e vamos produzir muito mais... É só gente como o senhor deixar de atrapalhar.
Em síntese, a líder dos caboclos acreanos passou em bom papel a receita da fantástica mentira fresquinha saída dos fornos das maldades dos mais legítimos coxas brancas.
Depois, ela ainda ficou por lá dizendo que aquele alvoroço todo a fez lembrar muito a turma que deu sumiço no vereador Pinté. Lembrou também aquela turma que pipocou o Chico Mendes. E mais:
- De cara, ele parece com um sujeito, vizinho meu, que diz ser dono de toda a beira do igarapé, mesmo sem dispor de um único documento que o comprove. Esses gostam mesmo é de terra, principalmente, se for grilada do poder público, ou se for tomada de alguém na base da pressão via trinta e oito, completou.
Ah! Os paranaenses serão sempre assim mesmo, grileiros. E aqui não cabem modificações ou reparos nas minhas palavras, posto que a pirataria é genética e está na porra do DNA amaldiçoado.
Então, dia desses, veio falar, a mim e a um grupo de servidores da Ufac, o Marcus Alexandre com um sorriso de menino que acabou de tirar nota cem em todas as matérias da escola. Falou da sua vida e dos seus amores, notadamente, pela família - pai e mãe - em meio a uma história de vida e sacrifícios muito parecida com a minha.
... E a verdade nada paga à bajulação, de modo algum...
Eu sou filho de um estivador e de uma lavadeira. Os pais dele não tiveram qualificação menos nem mais digna. Temos raízes plantadas por famílias pobres, mas cheias de dignidade e perseverantes no futuro dos filhos. Enquanto o Marcus vinha para o Acre, eu estudava em São Paulo. Enquanto ele concluía o Curso de Engenharia Civil, à duras penas, eu concluía um Mestrado na Unicamp na base da pertinácia que nos herda o amor próprio. Enquanto ele viajava de avião para o Acre, sem dinheiro, depois de pagar tudo o que tinha por um excesso de bagagem imprevisto, lá eu me desdobrava para concluir um doutorado cheio de louvores e distinções. Os caminhos agora se cruzam e ele hoje diz agradecer a acolhida em Rio Branco. Eu penso no quanto fui bem tratado pelas pessoas em Campinas e em Mogi Guaçu, onde sou padrinho de casamento e compadre de duas famílias de origem italiana. Cada um da sua parte haverá de sempre ser grato por tudo o que nos foi oferecido um na terra do outro.
E agora, como se não bastasse tudo isso, ainda nos liga mais um elo da corrente dourada que, outra vez, coloca a terra xapuriense no meio. Marcus é uma espécie de filho adotivo, em termos de formação acadêmica, do bom Jairo Salim Pinheiro de Lima, o Jajá para os seus alunos paulistas, meu dileto amigo, engenheiro civil, professor doutor da Unesp - Universidade Estadual Paulista, em Ilha Solteira, um dos nossos meninos que sabe muito bem simbolizar o orgulho maior da velha Xapuri de tantas glórias.
Eu votarei no Marcus Alexandre, sim, por tudo o que o Acre tem dado a mim, um justo, e aos que por aqui chegam com humildade, sem arrogância, sem intrigas, para fazer muito, e fazer bem feito, na Graça de Deus.
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