Como prefeito

Carlos Estevão Ferreira Castelo, via Facebook.

Este ano pela primeira vez na vida não votei, apenas justifiquei. Motivo justo: encontro-me estudando em São Paulo. Acordei cedo, como sempre faço em dias de eleições em Xapuri. Um banho rápido e 9h já estava na rua vendo a movimentação. Muita sujeira na ladeira onde fica a república que estou residindo, até dezembro. Santinhos para tudo quanto é lado. Mas pouca gente. Alguns moradores das redondezas caminhando. Alguns com titulo na mão.

Um senhor idoso se aproxima e pergunto onde poderia encontrar um posto de justificativa. Ele me informa, gentilmente, que “na escola localizada na Av. Nossa Senhora de Assunção”. É para lá que eu vou, então. Desejei naquele momento está indo para a Assemux em Xapuri, onde o “esporão de galo” costumeiramente preside a seção 11. Desde 1986 voto pertinho da casa de minha mãe, em Xapuri. Meu primeiro voto nunca esqueço: Chico Mendes para Prefeito.

Vou caminhando e recebendo dos “cabos eleitorais” santinhos e mais santinhos. Antes da escola passo em frente de uma das Igrejas Universais do Reino de Deus. Muita movimentação, pessoas simples entrando e saído. Pensei: devem está acontecendo algum culto. Engano meu.

Vou até a escola e logo localizo a sala da justificativa. Entro, preencho o requerimento e escuto um “barulhinho bom”, aquele característico da urna eletrônica. Acontecia votação na sala ao lado. Aumenta a vontade de votar, mas infelizmente nesse ano não será possível.

Eu gosto de eleições desde pequeno, gosto de ir para comícios, de escutar as falas. De acompanhar as apurações. Divirto-me muito. Lembro que em Xapuri de meus verdes anos ia para frente do fórum acompanhar a “marcha das apurações”. Com meu caderninho para anotar o votos do MDB e da ARENA. Sempre torcia pelos candidatos do MDB, talvez por influência de meu avô Guilherme Ferreira.

Lembro-me que sempre um locutor ficava anunciando: “Wilde Viana das Neves (ARENA), número 1111, 30 votos...Felix do Vale Pereira (MDB), 50 votos. Oscar Passos (MDB), 40 votos. Jorge Kalume (ARENA)...” E eu anotando. Quando passei a morar em Rio Branco a “Difusora” passou a ser minha companheira na contagem de votos. Nos últimos pleitos tenho acompanhado pela net. Sem dúvidas a melhor eleição foi a de 89. LULA X COLLOR. Um clássico. Como sofri naquele ano. Até punição no BANACRE tive por fazer, abertamente, campanha para o “LULA lá” em pleno horário de expediente. O Lula perdeu, por pouco, e o chororô foi grande.

Entrego minha justificativa de voto e decido voltar caminhando pela Av. N.S de Assunção. O Movimento na Igreja Universal está maior. Paro e fico observando. Não era culto não. Era um tremendo “curral eleitoral” do tal de Russomano e de um candidato pastor a vereador. Os evangélicos entravam, recebiam a orientação, e iam votar como cordeirinhos. Assim como entregam seus parcos recursos para deleite do Edir Macedo. Como é triste a relação promiscua entre Religião X Politica. Certamente o Vereador será eleito. Vou acompanha logo à noite. Quando ao Russomano não sei. Denunciar para quem? Como? Estou numa megalópoles e nem sei onde fica um cartório. Só conheço o caminho da República até a USP. Vou para casa aproveitar o resto do dia para estudar. E a noite estarei, como sempre, ligado na net, aguardando noticias de Xapuri, Princesa querida que um dia colocarei tudo que aprendi nessa vida em favor dos “de baixo”. Como Prefeito.

Carlos Estevão Ferreira Castelo é professor da Ufac.