Altino Machado
O PT, no Acre, controla a mídia, a prefeitura de Rio Branco, o governo estadual e conta com apoio irrestrito do governo federal.
Apesar disso, o partido, que tem como principal cabo eleitoral o governador, não consegue varrer do mapa uma oposição desorganizada, fracionada, sem dinheiro, e, como dizem os petistas, sem projeto.
Dos 21 municípios do interior, a coligação Frente Popular do Acre (FPA), comandada pelo PT, conseguiu eleger neste domingo (7) apenas nove prefeitos nas menores cidades.
A FPA perdeu em Cruzeiro do Sul, que é o segundo maior colégio eleitoral do Estado, além de quatro cidades (Brasileia, Xapuri, Assis Brasil, Epitaciolândia) do Vale do Acre, com a agravante de que concorria à reeleição em duas delas.
Em Rio Branco, o candidato Marcus Alexandre (PT) vai disputar o segundo turno eleitoral com Tião Bocalom (PSDB), o "Davi" que veio de Acrelândia para atormentar a força política dos irmãos Jorge e Tião Viana.
Para equilibrar a força de votos no Estado, o PT tentará derrotar a qualquer preço o adversário tucano. Do contrário, há quem diga que a reeleição do governador Tião Viana estaria comprometida. Isso pode ser relativo.
Contar com uma oposição ocupada com uma prefeitura sem muita condição de trabalhar, dispor de alguém para culpar por não ter cumprido promessas eleitoreiras, também é um cabo eleitoral forte.
Para o cientista político Nilson Euclides, professor da Universidade Federal do Acre, uma vitória pode esconder situações graves em política.
- Às vezes, uma derrota pode dar ao derrotado uma saída ou alguma perspectiva dentro de um quadro de disputa tão acirrada quanto a que estamos experimentando em Rio Branco. A vitória do Marcus Alexandre é uma vitória do marketing e da máquina governamental. Por trás dessa vitória estão ocultos problemas ou fissuras dentro da Frente Popular.
Nilson Euclides avalia ainda que, no decorrer dos próximos dois anos, uma eventual vitória do PT em Rio Branco, no dia 28 de outubro, pode comprometer o projeto de reeleição do governador Tião Viana.
- Uma vitória de Marcos Alexandre não vai apagar os grave problemas de democracia interna, de falta de diálogo que o governo atual tem demonstrado em relação a setores importantes da sociedade acreana. O programa Ruas do Povo pode ter sido suficiente para levar o Marcus Alexandre ao segundo turno, mas pode ser insuficiente para assegurar a reeleição de Tião Viana.
E a oposição desorganizada, fracionada, sem dinheiro e sem projeto para o Acre?
- A derrota no primeiro turno pode significar um aprendizado, exigir organização e engajamento. Também pode ser pedagógica para que entendam que não cabe mais aventuras de candidatos diante da hegemonia política da Frente Popular, que, apesar de tudo, ainda existe. Ela precisa aprender a caminhar coesa e articulada, a ampliar o diálogo com setores mais populares e com formadores de opinião - assinala Nilson Euclides.
Fora do Acre, o desempenho do PT na capital foi interpretado por alguns analistas como surpreendente, em virtude da força política que a família Viana mantinha até então.
Altino Machado é jornalista e blogueiro.
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