O vice-presidente da Federação de Trabalhadores Rurais do Acre, Raimundo Mendes de Barros, o Raimundão, classificou como "violência" o cumprimento de um mandado judicial que expulsou famílias de produtores rurais de uma área em litígio no seringal Boa Vista, em Xapuri.
O mandado de manutenção e reintegração de posse, em favor do fazendeiro Antônio Izídio de Souza, foi expedido pela juíza Zenair Ferreira Bueno Vasquez Arantes, da Vara Cível da Comarca de Xapuri. Apesar da revolta dos posseiros, que prometiam resistir à expulsão, a ação de desocupação das terras aconteceu de forma pacífica. No entanto, pelo menos cinco barracos foram destruídos à moto-serra pela Polícia Militar.
Raimundo de Barros reagiu à medida judicial creditando a situação à lentidão com que o Incra está tratando o processo de regularização das terras da gleba Sagarana, área remanescente da Reserva Extrativista Chico Mendes que é palco de problemas gerados pela indefinição de limites há cerca de 15 anos e onde ocorre a disputa em questão. Raimundão acusa ainda a juíza Zenair Ferreira de insensatez na condução da questão.
- Um ato de violência como esse só ocorre por causa da morosidade de um órgão como o Incra e da insensatez de uma magistrada, afirma ele.
Apesar da expulsão, 16 famílias ainda permanecem no local por força de um acordo celebrado em audiência judicial. Esse acordo determina que os posseiros terão apenas que sair do local onde estão e se estabelecer em outro, que foi oferecido por Antônio Izídio, mais ao fundo da propriedade. A resistência das famílias em ir para essa área dá-se, segundo seus representantes, pelo fato do lugar ser ruim de água e longe de vias de acesso e da rede de energia elétrica.
A propósito, a abertura de um ramal e a chegada do programa Luz para Todos nesta localidade foi, de acordo com as lideranças do lugar, o motivo que levou Antônio Izídio a se interessar pela área de maneira especial. Os agricultores não reconhecem o direito de Antônio Izídio sobre a terra. Para eles, o antigo capataz da fazenda Boa Vista, abandonada há mais de 15 anos por seus legítimos proprietários, seria apenas mais um posseiro, como eles, que já havia ocupado a área onde ficava a sede da fazenda sem, no entanto, fazer uso da terra.
Antônio Izídio, por sua vez, alega direito sobre as terras como ressarcimento de dívidas que os legítimos donos têm para com ele. Em 2007, cedeu lotes de 5 hectares para que 16 famílias fizessem uso da terra. Após a chegada dos benefícios citados acima, ele teria resolvido empurrar essas famílias para os fundos da propriedade, o que deu início aos desentendimentos. Para piorar a situação veio a invasão de outras famílias que agora foram expulsas pela justiça.
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