A líder sindical Derci Teles de Carvalho é um dos exemplos positivos dos avanços da participação da mulher nos movimentos sociais do campo em Xapuri nos últimos 30 anos. Aos 53 anos de idade, Derci é um marco histórico no sindicalismo brasileiro, ela foi a primeira mulher a presidir um sindicato de trabalhadores rurais no Brasil, no início da década de 80.
A segunda mulher a ocupar a mesma função foi Margarida Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, assassinada covardemente em 1983, na frente do filho de apenas 10 anos de idade. O nome de Margarida Alves inspirou o movimento que levou milhares de mulheres trabalhadoras rurais do Brasil às ruas de Brasília, em 2000 e em 2003, na Marcha das Margaridas em defesa da ampliação dos direitos e conquistas das mulheres trabalhadoras rurais do país.
De volta à presidência do Sindicato dos trabalhadores Rurais de Xapuri depois de 25 anos, Derci Carvalho trabalha na reorganização da instituição e na regularização das pendências deixadas pela direção anterior. Em pouco mais de um ano de trabalho as dívidas com encargos sociais já foram quitadas e o sindicato tenta agora regularizar a situação do CNPJ da entidade, bloqueado por problemas na prestação de contas de um convênio firmado junto ao Fundo Nacional do Meio Ambiente.
Na manhã deste Dia Internacional da Mulher, a presidente do sindicato me recebeu e em uma rápida entrevista falou sobre os avanços obtidos pelas mulheres no movimento social e afirmou estar se desiludindo com a atuação dos partidos políticos no processo de construção de uma sociedade melhor. Leia a seguir um resumo da entrevista.
Xapuri Agora – Derci, como começou a sua trajetória como militante do movimento social em Xapuri?
Derci - Minha participação nos movimentos sociais teve início a partir das Comunidades Eclesiais de Base, através da Teologia da Libertação, como monitora de um grupo de evangelização na minha comunidade. Posteriormente surgiu a idéia de se criar na mesma comunidade uma delegacia sindical, então fui indicada como delegada sindical e a partir daí fui me inserindo no movimento até chegar à direção do sindicato substituindo o presidente-fundador, Luís Damião, que foi deposto do cargo por uma assembléia geral.
Xapuri Agora - Como foi para você, como mulher, ocupar o cargo de presidente do sindicato em uma época em que imperava o medo e a ameaça contra as lideranças rurais?
Derci – Para mim representou, acima de tudo, a quebra de um tabu social, pois cargos como esse eram tradicionalmente ocupados somente por homens. Depois foi uma experiência que possibilitou à mulher mostrar a sua capacidade de também se colocar com eficiência à frente de funções antes consideradas exclusivamente masculinas, mesmo havendo o risco, que era grande, dos presidentes de sindicatos serem assassinados e, devo confessar que muitos tinham medo de se expor naquela época.
Xapuri Agora – Como você avalia os avanços obtidos pela mulher nos últimos 30 anos no movimento social do campo?
Derci – As mulheres do campo ampliaram sim a participação nos movimentos sociais nas últimas três décadas, no entanto elas continuam pouco politizadas e essa participação ainda é tímida, apesar de quase metade de nossa diretoria ser composta por mulheres. As lideranças femininas são apenas meia-dúzia e não está havendo investimento na formação de novas lideranças entre as mulheres, como era feito pelas comunidades eclesiais, através da tese da Teologia da Libertação. Hoje as organizações falham nessa formação e o movimento social perde muito com isso. A informação é importante e sem ela o movimento não avança nem conseguimos mudar as coisas.
Xapuri Agora – Você se filiou ao Partido Verde no ano passado em um momento de reorganização do partido. Como você está vendo neste momento a movimentação dos partidos políticos de Xapuri rumo às eleições deste ano?
Derci – Eu não acredito nas mudanças sociais a partir dos partidos políticos, necessariamente. As transformações significativas estão sendo conseguidas através da organização da própria sociedade independentemente dos partidos. Estou me desiludindo com os partidos e não pretendo mais participar de discussões nesse sentido.
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