Teodomiro Braga
A minissérie “Amazônia – de Galvez a Chico Mendes” recebeu este título em homenagem aos dois nomes mais representativos na história do Estado do Acre. Mas poderia chamar-se “Amazônia – de Chico Mendes a Marina Silva” se o tema fosse a luta pela preservação do meio ambiente no Acre e na Amazônia. Como principal líder dos seringueiros nas décadas de 70 e 80, Chico Mendes ganhou projeção mundial por causa de sua luta contra o desmatamento da floresta Amazônica, causa que levou ao seu assassinato em 22 de dezembro de 1988.
Natural do Acre, como Chico Mendes, e ex-seringueira como ele, Marina da Silva levou a sua luta para um novo patamar, ampliando o combate ao desmatamento para a questão mais ampla da preservação do meio ambiente, o que a credenciou para o cargo de ministra do Meio Ambiente. O seu trabalho ganhou ontem o reconhecimento internacional, com a sua escolha para receber o prêmio maior das Nações Unidas na área ambiental, o Campeões da Terra.
A premiação de Marina ocorre num momento crucial da questão ambiental, em que as abruptas mudanças climáticas e estudos alarmantes dos cientistas despertaram lideranças em todo o mundo para as graves conseqüências do aquecimento global. A ocorrência do mês de janeiro mais quente em todos os tempos em vários países da Europa foi uma aterrorizante demonstração de que a realidade está superando as previsões mais pessimistas. Na Alemanha, por exemplo, a temperatura média do mês passado foi de 4,6 graus Celsius – cinco graus acima da média.
As alterações no clima neste início de ano, na Europa, foram apenas uma pequena amostra do desastre que está se desenhando, segundo o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas. O aumento nas freqüências de ondas de calor intenso e fortes tempestades são algumas das alterações climáticas que obrigarão os países e cidadãos a adotar medidas para se adaptar à nova situação.
A Amazônia deverá sofrer um impacto do aquecimento global mais drástico do que no resto do país, com redução de chuvas e aumento de temperatura superior à média mundial. Isto levaria à transformação de parte da floresta em cerrado, segundo previsão do físico brasileiro Paulo Artaxo, um dos autores do IPCC. Ele prevê, também, que em 30 ou 40 anos se iniciará um processo de desertificação no Centro-Oeste, caso não seja interrompido o aumento do cultivo de soja na região.
Tão preocupante quanto estes terríveis prognósticos é a falta de resposta do governo brasileiro, até agora, às várias advertências feitas pela comunidade científica internacional sobre a questão ambiental nos últimos meses e que culminaram com a divulgação deste dramático relatório da ONU, o mais completo e abrangente estudo já feito sobre o assunto até hoje. A ex-seringueira do Acre Marina da Silva merece a premiação pelo seu passado de lutas em favor do meio ambiente, mas é preciso reconhecer que não é pessoa mais indicada para enfrentar os novos desafios que o Brasil tem pela frente na área ambiental. Acorda, Lula.
◙ Teodomiro Braga é colunista do jornal O Tempo, de Belo Horizonte.
- Texto publicado no blog do jornalista Altino Machado no dia 03 de fevereiro de 2007 (leia a postagem original).
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