João Baptista Herkenhoff
Há cincoenta anos celebra-se na Quaresma a Campanha da Fraternidade, sob a égide de um tema e a bandeira de um lema.
A CNBB, que é um organismo da Igreja Católica, teve sempre o elogiável cuidado de escolher temas que unem as Igrejas cristãs, evitando temas que pudessem dividir. Graças a esse zelo, a Campanha da Fraternidade conta com o apoio dos cristãos das várias denominações, além da simpatia de um diversificado leque de opiniões presentes na sociedade brasileira.
Durante este meio século os temas escolhidos foram, dentre outros: a vida, a comunidade, a família, o mundo do trabalho, os migrantes, os doentes, os idosos, a mulher, o negro, os comunicadores, os desabrigados, os desempregados, os encarcerados, os povos indígenas, os deficientes.
Neste ano o grupo humano destinatário da Campanha da Fraternidade é a Juventude.
Por que justamente neste ano elege-se a Juventude como tema para reflexão, debate e ação?
As palavras Fraternidade e Juventude pedem um olhar fraterno dirigido aos jovens. O apelo a esse olhar fraterno parece-me bastante oportuno quando muitos, consciente ou inconscientemente, aceitam ou apóiam um olhar de ódio, incompreensão, criminalização apontando para os jovens ou, pelo menos, para uma parcela de jovens.
Por que foi escolhido como lema uma frase do Profeta Isaías? “Eis-me aqui, envia-me” é o versículo 8 do capítulo 6.
Isaías foi um profeta intrépido. Sua mensagem de denúncia e advertência foi inflexível. Não transigiu com meias palavras, motivo pelo qual foi martirizado. Diz-se que seus lábios foram queimados na brasa para significar que nem o poder, nem o martírio, nada devia calar sua voz. A defesa da juventude, nos dias atuais, exige atitudes corajosas porque enfrenta os interesses do lucro. O lucro não tem ética e, em benefício do lucro, a juventude pode ser corrompida por instrumentos muito mais sofisticados do que aqueles do tempo do Profeta Isaías.
A Campanha da Fraternidade coloca um tema e um lema, mas o debate, em torno do tema e do lema, é livre.
É convocada a consciência de cada pessoa individualmente, para refletir no íntimo da alma, e é sugerido que se faça o debate em grupo. No grupo partilham-se percepções e experiências.
No grupo é licito e mesmo esperado que os participantes coloquem suas próprias preocupações individuais: os pais revelando os problemas que estão tendo com a educação dos filhos, a mãe dando seu testemunho de sofrimento com o filho que está se drogando.
Se Cristianismo não é partilha, o que é Cristianismo, o que sobra do Cristianismo?
João Baptista Herkenhoff é membro emérito da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Vitória, professor itinerante e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
Homepage: www.jbherkenhoff.com.br
Curriculum Lattes: http://lattes.cnpq.br/2197242784380520
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