domingo, 1 de julho de 2007

Sucupira amazônica

Xapuri teve, no último sábado, mais um dia de fazer inveja à lendária cidade de Sucupira, da telenovela O Bem Amado, produzida pela Rede Globo e exibida em 1973 e que, por causa do sucesso, se transformou em série no início da década de 80. Na fictícia Sucupira, Odorico Paraguaçu, um prefeito corrupto e ardiloso, se utiliza de incríveis artimanhas para conseguir tudo o que deseja. Quando não consegue, manobra a situação de forma que ele sempre se saia bem.

Na bem real Xapuri, a inauguração de uma "Fábrica de Vassouras Ecológicas", foi motivo de muito barulho, palanque e desperdício de dinheiro público em farto e inútil foguetório para chamar a atenção da população, totalmente alheia ao surto empreendedor do prefeito Vanderley Viana, que está sendo pressionado pelos vereadores, inclusive os seus aliados, a se explicar pelo abandono em que se encontra a cidade.

O requerimento convidando o prefeito a comparecer à Câmara, porém, não foi fruto da disposição de quase a totalidade dos ditos representantes do povo xapuriense em forçar Vanderley Viana a se pronunciar sobre a falta de iluminação pública, atraso de pagamento de servidores provisórios, contratação e demissão desses servidores sem nenhum critério transparente e recusa em fornecer informações ao legislativo sobre a execução de projetos e convênios. Foi a pressão popular que levou os vereadores a tomar tal medida.

A população reclama da falta de atenção da atual gestão municipal com relação às ações mais básicas e essenciais. O radialista M. Jota, trabalha em uma reportagem sobre uma senhora, desempregada, que não conseguiu ter atendida no centro de saúde Félix Bestene Neto, uma receita médica que prescreve Metronidazol, conhecido medicamento contra verminose, que o município teria por obrigação oferecer gratuitamente em todos os postos de saúde.

A matéria do radialista deve ir ao ar nesta semana, no programa Nossa Amazônia, apresentado por ele mesmo na Rádio Educadora 6 de Agosto. Por dar espaço aos constantes apelos dos ouvintes por matérias sobre os problemas enfrentados por eles no cotidiano, por conta da total ausência de interesse do poder público municipal pelas questões do município, os profissionais que atuam naquela emissora estão sendo alvos de ofensas morais proferidas pelo prefeito através de um canal de televisão.

Toda a fúria e todo o barulho feito na inauguração à "La Sucupira", no último sábado, não podem esconder uma verdade incontestável: se a última administração, do prefeito Júlio Barbosa, do PT, não terminou bem e desagradou o povo ao ponto do chamado voto de protesto eleger Vanderley para um novo mandato, o resultado dessa democrática decisão popular foi desastrosa. Xapuri é hoje uma cidade jogada para as traças. A principal rua (Cel. Brandão) é uma verdadeira tábua de pirulitos, tantos são os buracos que ali existem, além da total falta de iluminação. As únicas ruas transitáveis são as que foram recuperadas ainda na administração passada, com a ajuda do governo do Estado ou da justiça que reverteu sentença por crime ambiental contra uma empreiteira em asfaltamento de ruas.

Como em Sucupira, em Xapuri o prefeito ressuscitou de um estado de catalepsia política para submeter o município a um dos períodos mais lamentáveis de sua história. Junto com ele renasceu uma maneira ultrapassada de governar e outra mais arcaica ainda de fazer política. Vanderley tem alma de Odorico Paraguaçu. Nada de efetivo se faz, mas sempre há algo, mesmo que inútil, como o tal portal na entrada da cidade, a ser inaugurado com pompa e com discursos demagógicos para reforçar a falsa imagem de que está tudo bem. Não quero afirmar, no entanto, que a tal fábrica rudimentar seja inútil, a idéia, já colocada em prática em várias cidades brasileiras, se levada a sério, é boa sim, o que não significa que dará certo. Sinceramente, espero que dê muito certo e que os seus funcionários recebam seus salários pontualmente, o que não é uma prática comum dessa administração, em se tratando prestadores de serviços.

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