domingo, 29 de julho de 2007

Já vai tarde

Depois do anúncio do retorno do vereador Ronaldo Ferraz ao PMDB, a imprensa noticia agora a saída de Vanderley Viana da agremiação onde já há algum tempo vinha sendo veladamente convidado a pedir a desfiliação e até ameaçado de expulsão pelos seus ex-correligionários desgostosos com o tratamento dado ao partido e a seus representantes após a eleição do prefeito para o seu fatídico segundo mandato. Correndo o risco de não ter legenda para concorrer à reeleição, o prefeito sai em busca de um novo ninho.

A crise de Vanderley com seus colegas de partido começou bem no início da sua segunda malfadada experiência como prefeito. Autoritário e centralizador ao extremo, além de dado a esquisitices e loucuras que até o diabo duvida, logo começou a entrar em atrito com seus secretários, que jamais tiveram autonomia para exercer suas funções com tranqüilidade. Na filosofia administrativa do prefeito seus secretários não o assessoram, mas apenas cumprem ordens como meros subalternos.

Uma matéria jornalística, publicada no Ac24horas na última sexta-feira, diz que o prefeito de Xapuri alega que a falta de apoio do seu partido seria um dos motivos para a sua saída para, provavelmente, aceitar um convite de Márcio Bittar para se filiar ao PPS. A desculpa, se realmente for essa, é esfarrapada e mentirosa. Vanderley sempre recebeu total apoio do seu partido. Não fosse assim, jamais teria sido reeleito prefeito.

Após vencer as eleições, Vanderley iniciou uma verdadeira onda de traições e agressões contra seus aliados de campanha. Era comum ouvir reclamações de pessoas que o apoiaram e que foram simplesmente ignoradas pelo prefeito. Aqueles que passaram a ocupar cargos na administração, nas diversas secretarias, começaram a experimentar do temperamento instável de Viana que, não raro, era flagrado humilhando-os aos berros e, em alguns casos, com socos e pontapés.

Um dos primeiros a abandonar o barco do prefeito foi o seu próprio irmão, Ricardo Oliveira, espancado dentro do prédio da prefeitura, caso que foi parar na justiça em um dos muitos processos movidos contra o prefeito na comarca local por agressões variadas.

O vice-prefeito João Dias logo provou, também, do destempero do Carcará, que exonerou sumariamente a sua filha, Kátia, que ocupava a pasta da educação, pelo fato desta não obedecer a uma ordem de efetuar um pagamento a um empresário vencedor de uma licitação, sem que o objeto da compra houvesse sido entregue à secretaria, de acordo com afirmações feitas na época pelo próprio João Dias. Esse empresário (Pedro Leite Silva), a propósito, é o mesmo que atualmente tem saído vencedor em praticamente todos os processos licitatórios na cidade.

A partir daí, o vice passou a ser boicotado pelo prefeito. Afastado da administração, foi acusado de incompetência por Vanderley, que chegou a designar um secretário para responder pelo município enquanto fazia uma viagem pelo nordeste na companhia de Pedro Leite e um assessor.
Para desmoralizar o ex-aliado, o prefeito ainda disse que o mesmo só teria capacidade para mexer com esterco de vaca. João Dias foi um dos principais responsáveis pela vitória da coligação, uma vez que possuía, como possui, o respeito e a credibilidade da população, coisa que Vanderley não.

A essas alturas, o pai de Vanderley, o ex-deputado estadual Félix do Vale Pereira, que ocupava o cargo de chefe de gabinete, também já havia deixado a equipe por desentendimentos com o filho prefeito. Nesse ritmo, a lista de baixas foi aumentando gradativamente até chegar ao secretário de infra-estrutura, Francisco Damião Bispo, que cansado de ser tratado aos gritos e palavrões em público, resolveu reagir e foi às vias de fato, trocando socos e pontapés com o prefeito em via pública.

Essa briga com Francisco Damião foi decisiva para o futuro de Vanderley no PMDB, pois no ano passado o ex-secretário se elegeu presidente do partido a contragosto do prefeito que tentou de todas as formas (e em vão) tornar sem efeito o processo de eleição partidária. Já não contava com o apoio da regional do partido, muito menos dos caciques Flaviano Melo e Chagas Romão a quem dera as costas nas últimas eleições para apoiar o casal Narciso e Célia Mendes.

Na presidência do partido, Damião Bispo deu início a um trabalho de oposição ao prefeito, deixando claro que Vanderley não teria mais o apoio do partido para a s suas pretensões de reeleição. Chegou a dizer que Viana seria “persona non grata” na sigla e que teria, pelo menos, três adversários na convenção municipal. O desprezo dispensado pelo prefeito para o partido que sempre o acolheu foi o motivo alegado pelo presidente para fechar as portas para Vanderley.

A oposição a Vanderley dentro do PMDB ganhou o reforço do vice-prefeito João Dias, ainda no ano passado, e, agora, do vereador Ronaldo Ferraz, possível candidato a prefeito, que somente apoiava Viana em função da sua ligação com o ex-assessor José Everaldo Pereira, demitido há alguns meses atrás.

O desprestígio do prefeito ocorre também fora do PMDB. Os vereadores que faziam a sua base de apoio na Câmara já não fazem questão de negar que não acreditam mais nele, inclusive o maior de todos, o atual presidente em exercício da Casa, Raimundo Francisco Gondim, que para alguns confidencia que fez muito mal em apostar as suas cartas em Vanderley Viana.

Pode-se notar, pelos fatos relembrados acima, que os motivos da saída de Vanderley do PMDB nada têm a ver com a falta de “apoio logístico” do partido para com ele, e sim com a falta de respeito e lealdade com que vem tratando os antigos aliados nos últimos três anos. Nota-se também que ao partido ele não fará a menor falta, como também não fará falta a Xapuri no momento em que finalmente deixar a prefeitura para nunca mais voltar.

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