domingo, 15 de julho de 2007

O menino do sax

Estudante espera ser mais um xapuriense a fazer sucesso em âmbito nacional.

Leonildo Rosas

Aos 11 anos de idade, Jardel Elias Moreira de Matos resolveu aprender a tocar saxofone. Hoje, dois anos após ter tomado a decisão, o menino é conhecido pelo seu talento por toda a população de Xapuri, município localizado a 180 quilômetros de Rio Branco, capital do Acre.

Jardel encontrou inspiração dentro de casa. Seu avô, o aposentado Casimiro José Matos, 72, sempre foi um amante da música. Começou a tocar saxofone aos 20 anos. Parou porque, segundo ele, hoje lhe “falta pulmão”. O pulmão que falta hoje fez de Casimiro Matos um tocador famoso nas festas dos seringais na região.

Mas, para atingir a fama, o artista não encontrou facilidades. Morava numa colônia distante 12 quilômetros do centro de Xapuri. Uma vez por semana vinha até a cidade tomar aulas com o maestro da banda Dona Júlia Gonçalves Passarinho, o tenente da antiga guarda territorial Rui Francisco de Melo.

“Comecei a tocar primeiro clarinete. Mas achei o som do saxofone bonito e decidir aprender a tocá-lo”, revela Casimiro. A opção de trocar de instrumento custou caro para o colono. Para adquirir o seu primeiro saxofone, economizou em casa e vendeu os legumes produzidos na sua propriedade. Foi um ano nessa luta para conseguir juntar 200 cruzeiros.

“Valeu a pena economizar. Consegui tirar o dinheiro rapidinho tocando nas festas nas colônias e nos seringais”, afirma.

Aos 60 anos, Casimiro parou de tocar. Hoje mora no centro de Xapuri com Luzia Barroso Marques, 65, sua companheira há 48 anos. Nenhum dos oitos filhos do casal optou pela música. Preferiram outras profissões, como policial ou professor. O talento musical da família veio aflorar somente no menino Jardel, que passou a treinar sozinho em casa com o velho saxofone do seu avô. “Eu sonhava em ser músico formado, mas não tive condições. Acho que o meu sonho pode ser tornar realidade por meio do Jardel”, comenta com olhar esperançoso Casimiro.

Jardel é uma criança tímida, típico de quem tem origem humilde e mora no interior. Estuda pela parte da tarde na 7ª série da Escola Anthero Gomes Bezerra e se vangloria das notas que consegue. “Só tiro de oito para cima”, garante.

O menino é fruto de um relacionamento de uma das filhas do casal e mora com os avós desde os primeiros dias de nascido. É tratado como uma jóia pelos pais adotivos porque também começa a ter rendimento financeiro próprio por meio da música.

“O Jardel tocou a primeira vez em público no lançamento da minha candidatura a deputado estadual. Conheci-o por meio do meu sogro José Peres, o Prego, que é seu professor. Desde então, é sempre chamado para tocar em eventos”, revela o cientista político e professor universitário Ermício Sena.

Depois da primeira apresentação, Jardel precisava de um novo instrumento. Somente há três meses, Casimiro, mais uma vez, juntou dinheiro da sua aposentadoria para comprar o saxofone. A aquisição foi feita na cidade boliviana de Cobija, por R$ 1.170. “Paguei à vista. Economizei até o meu décimo terceiro salário para poder comprar o saxofone. Valeu a pena”, festeja o avô.

Mas a história do menino-músico xapuriense ainda está começando. Aos 13 anos de idade, ele dá demonstração de que sabe que não será fácil vencer na vida por meio da música. Sonha em ser famoso, mas não deixa o estudo de lado. Como muitos dos seus conterrâneos famosos, sonha em sair de Xapuri para tocar em outros Estados do Brasil e do mundo. Por enquanto, ele mescla os sonhos juvenis com a realidade dura. Treina em casa sozinho e, como o avô, é integrante da banda Dona Júlia Gonçalves Passarinho, que era mãe de um xapuriense ilustre, o ex-ministro Jarbas Passarinho.

“O Jardel ensaiava em casa. Depois, viram que ele tinha talento e levaram-no para a banda. Com isso, foi necessário que passasse a estudar à tarde”, explica a sua avó Luzia Barroso Marques.

É mesclando muito ensaio com o talento inato que o menino carrega a esperança dos seus avós, esperando que sua vida e de seus familiares mudem por meio das notas tiradas do seu instrumento.

“Sei que é muito difícil vencer. Sou pobre. Mas muitos xapurienses conseguiram fazer sucesso fora do nosso Estado. Quem sabe eu não seja um deles no futuro”, comentou o menino instantes após executar o Hino Acreano na abertura de uma solenidade promovida pela Assembléia Legislativa do Acre.

Jornal Página 20 (domingo, 15/07/2007)

Um comentário:

Wania Pinheiro disse...

Olá Raimari,

Parabéns pelo belo espaço que você criou para divulgar as notícias da terra do nosso herói Chico Mendes. Quero agradecer a divulgação da visita que fiz recentemente com o deputado Gladson Calei a essa terra maravilhosa e te convidar para o Festival do Mandi. Não deixe de me procurar, caso decida ir a Sena.
Beijos!

Wania Pinheiro