quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O Tacacá da Natália

Natália Alves dos Santos, 58, tem quase a metade de sua vida dedicada ao ofício do tacacá, a iguaria amazônica que é unanimidade entre os acreanos.

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Viúva há cerca de 25 anos, essa senhora simples, simpática e de sorriso fácil nunca teve emprego público nem trabalhou no setor privado; também não cursou nenhuma faculdade, mas criou e educou os sete filhos produzindo e vendendo sua arte culinária no centro de Xapuri, onde se tornou uma das principais referências da cultura popular na atualidade.

De origem pobre, filha de pai maranhense com mãe acreana, Natália Alves dos santos, 58, nunca teve vida mansa, mas jamais lhe faltou disposição para o trabalho. Quando perdeu o marido, em meados da década de 1980, resolveu vender doces com a ajuda dos filhos para dar conta do sustento da família. Mas descobriu que o tacacá era mais rentável e passou a se dedicar ao aprendizado da iguaria de origem indígena.

Natália conta que começou a fazer tacacá depois de receber convite de uma amiga, Carminha Veloso, que possuía um conhecido restaurante de comida caseira na Rua 17 de Novembro, em frente à Casa Portuguesa, de propriedade do casal Luís Morte da Costa, o “Luiz Gallo”, e Liet’s Arruda. Carminha também não dominava completamente o preparo do tacacá, mas incentivou Natália a prosseguir com a ideia.

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Naquela época, os conhecimentos sobre a produção do bom tacacá eram monopolizados por algumas poucas mulheres, entre elas a saudosa Nena do Coco, que também ficou famosa pelo preparo do pato no tucupi mais saboroso do Acre. Mas Nena, afirma Natália, não gostava de ensinar os detalhes mais minuciosos do preparo do tacacá.

“O jeito então foi aprender fazendo”, diz ela. Na prática, os ingredientes e temperos foram se ajustando com o passar dos anos e o sabor do tacacá de Natália passou a agradar um número cada vez maior de pessoas. “No começo eu colocava o alho, a chicória e a pimenta de cheiro e depois coava o tucupi. Descobri que o segredo era fazer exatamente o contrário”, explica.

Natália faz questão de demostrar o orgulho e felicidade que tem com o ofício do tacacá. Para ela, a iguaria representa muito mais que um simples alimento ou um meio de subsistência. “O tacacá é a minha realização de vida. Sinto prazer em trabalhar com uma coisa que agrada tanto as pessoas independentemente da idade ou da classe social”, diz.

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Faz 23 anos que Natália vende seu tacacá no Palanque Municipal, na Rua 6 de Agosto. Sua maneira de trabalhar continua sendo a mesma durante todo esse tempo: do modo mais artesanal possível e sem necessitar de nenhuma sofisticação. Foi assim que conquistou sua clientela, construiu sua casa e se tornou uma das pessoas mais conhecidas da cidade.

Um carrinho simples de madeira, que serve como transporte do tacacá de sua casa até o local de venda, também é o suporte para os molhos de pimenta bem temperados, a goma de mandioca, o camarão seco e o sal, para que o apreciador desse caldo fantástico dê o último retoque no sabor, segundo a preferência e o gosto de cada um.

O Tacacá da Natália, sem desprezo com o trabalho de outras pessoas que sejam do ramo, é um patrimônio xapuriense que precisa ser valorizado pelos nativos e conhecido pelos visitantes. Sua dedicação a esse ofício serve de exemplo para aqueles que mesmo com as facilidades do mundo atual não se ocupam em produzir qualquer coisa de boa ou de útil.

Um comentário:

Alarice Botelho disse...

Amigo Raimari...
Fiquei muito feliz de ver em seu blog esta materia, que possui como tema O Tacaca da minha querida tia Natalia.
Parabéns pela homenagem que você fez a ela. Tenho certeza que ela esta muito feliz e orgulhosa.
Realmente, ela merece...