Marcos Afonso Pontes
Quando tinha 16 anos eu era proibido de votar.
Não havia internet, e-mail, Facebook, Google, nem computador.
E não havia Liberdade. Nem Democracia. Era uma Ditadura Militar.
Muitos filmes do cinema estavam proibidos e os que passavam tinham várias cenas cortadas. Às vezes eu saía sem entender o enredo.
As músicas também eram censuradas. Conhece aquela: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”? Pois então, as rádios não podiam tocar. E não tinha FM.
As TVs coloridas eram poucas, a maioria em preto & branco e sem transmissão ao vivo, salvo alguns jogos de futebol e só tinha a TV Acre. O Jornal Nacional, por exemplo, passava com um dia de atraso.
CD, MP3, DVD? Era ficção científica. Para ter aquela música preferida, muitas vezes mandávamos buscar o disco de São Paulo, através de um conhecido, com cinco, seis dias de espera pelos correios. E para ouvi-las e dançá-las organizávamos festinhas nas casas dos amigos, porque nem todos tinham acesso.
Não havia estrada até Cruzeiro do Sul. E a que ia para Porto Velho só funcionava no verão e durava um dia inteiro para chegar. No inverno, quando ela fechava, as filas eram quilométricas para comprar gasolina e bujão de gás.
Em Rio Branco, praticamente só havia uma escola de ensino médio, o CESEME, que hoje é o Cerb e os Grêmios estavam proibidos. A UFAC possuía pouco mais de cinco cursos.
Quando eu tinha 16 anos, não havia livros nas escolas e as poucas bibliotecas eram muito ruins e a Xerox, caríssima.
Não havia quase quadras de esporte. As competições e até os shows de música eram todas feitas no Ginásio Coberto, o único lugar que cabia.
Teatros? Usina de Artes? Bibliotecas como a Pública e a da Floresta? Nada disso.
Só duas pontes ligavam nossa cidade: a metálica e a de concreto. A Gameleira era um barranco sujo e o Mercado Velho uma coisa ruim de se ver, porque era uma confusão. O canal da Maternidade era um matagal perigoso. Existiam poucas linhas de ônibus, eles não podiam entrar nos bairros por causa das ruas esburacadas. A energia elétrica às vezes faltava dia sim e dia também.
Se alguém adoecia, nem precisava ser tão grave, era obrigado a viajar de avião para outro lugar. Qualquer cirurgia mais séria só em São Paulo ou Brasília. E tinha que comprar a passagem.
Na nossa cidade só havia mesmo uma praça, a do centro. E muita poeira, porque a imensa maioria das ruas não tinha asfalto ou tijolos.
Já falei que quando eu tinha 16 anos era proibido de votar. Diziam: “Imagina! Um garoto votando?”. Só dois partidos políticos eram permitidos. Era votar nesse ou naquele. A propaganda eleitoral na TV resumia-se a mostrar uma foto 3 por 4, o nome e o número. Músicas, propostas? Nem pensar.
Mesmo assim, eu adorava a minha cidade, o Acre e o meu país...
Tanto, que mesmo bem jovem e quase sem entender muita coisa, compreendi que a Política poderia mudar a história para melhor. Aí, eu fiz parte do movimento estudantil, participei de festivais de música, escrevi poesias, consegui passar no vestibular e me tornei professor (eu amo ser professor). Atuei nos sindicatos, me filiei num partido (PC do B e depois no PT) e me elegi vereador. Cheguei a ser candidato a prefeito de Rio Branco para depois ter a maior votação da história para deputado federal no ano de 1998.
Mas agora é você que tem 16 anos e vai votar pela primeira vez. Percebeu como houve muita mudança e para melhor? Eu quero te falar uma coisa e tenho muito orgulho em dizer isso: para que você hoje vote com liberdade, com tantas novidades, com a nossa cidade mais bonita, saiba que eu e milhares de outros garotos e garotas doamos a juventude inteira fazendo as mudanças políticas que eram necessárias para chegar onde estamos.
E eu me emociono por acreditar que você pode continuar essa luta!
Marcos Afonso Pontes é jornalista, professor e ex-deputado federal. Escreve no blog Varal de Ideias.
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