Quando Terrence Malick, discreto e renomado diretor de cinema, anunciou no final dos anos 1990 que voltaria a filmar vinte anos depois de “Cinzas do Paraíso”, vários atores consagrados se ofereceram gratuitamente para suas lentes. Sabiam que viria um grande filme. Malick preferiu atores novos e apenas alguns outros mais conhecidos.
Assim nasceu “Além da Linha Vermelha” (1998, sete indicações ao Oscar). Um denso e profundo filme psicofilosófico, assustador e realista, sobre o caos militar e moral que ocorreu no Pacífico entre agosto de 1942 a fevereiro de 1943 na ilha de Guadalcanal, palco de uma das maiores batalhas terrestre e aeronaval que envolveu norte-americanos, australianos e japoneses.
Terrence Malick, além de diretor, é filósofo e grande conhecedor de Heidegger, pensador existencialista alemão que deu aulas à Hannah Arendt e influenciou Sartre. É visível a presença das ideias de Heidegger em “Além da Linha Vermelha”. A imagem do homem sendo medida por suas realizações anteriores, onde seu ser é um “ser que caminha para a morte”, pondo toda a visão e prática de mundo num diálogo permanente entre preocupação, angústia, conhecimento e complexo de culpa na sua existência. Para Heidegger, o homem está sempre impulsionado a dar um salto qualitativo para atingir seu verdadeiro “eu”, libertando-se das aparências cotidianas. “Além da Linha Vermelha” é um exemplo de busca desse “salto”. Um grupo se soldados precisa vencer a qualquer custo uma linha inimiga e também seus dilemas. Ultrapassá-la é o fim do caminho do fim.
Com atuações brilhantes (Sean Penn, Jim Caviezel, Nick Nolte e outros), o filme leva a uma interação quieta e comovente entre o espectador e as reflexões em “off”, subjetivas, dos soldados que sintetizam seus dramas no pandemônio das trincheiras. Após assisti-lo, ficamos numa mística sobre a volatilidade de nossa existência. Mesmo assim, ao invés de vazio, saímos dando uma luz diferenciada, mais intensa, à vida.
Todos nós temos nossas linhas vermelhas a ultrapassar. Elas surgem de vez em quando no amor, na família, no trabalho, na política e em algumas decisões. É quando a prática vem como consequência de um pensar filosófico para a mudança.
Outro dia, conversava com uma universitária sobre ideias importantes de Karl Marx. Naturalmente veio à tona sua célebre frase escrita em 1845 nas Teses sobre Feuerbach: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.” Marx estava, na sua época, em uma digladiação de fundo sobre pensamento e práxis. Mas sua ideia leva à confiança que devemos ter em colocar o que analisamos em favor das modificações no tempo e no espaço.
Daqui a duas semanas estaremos votando e decidindo sobre o destino de nossas cidades. Que rumos elas tomarão? Quais as linhas que devemos ultrapassar para alcançar mais cidadania, justiça, bem-estar, saúde, educação, cultura e trabalho?
A linha vermelha do filme é de um episódio histórico do passado e com algumas licenças poéticas. Mas a que eu quero ultrapassar no dia da eleição é real, presente, palpável e vai ao encontro de ideias a serem fortalecidas e construídas para mais além.
No dia 7 de outubro eu irei dar continuidade aos nossos sonhos de ter uma cidade cada vez melhor e mais justa levando nas mãos uma bandeira sorridente e, obviamente, vermelha…
4 comentários:
Caro Amigo Raimari,
Bela reflexão, quero dizer que leio sempre o que você posta, muito embora não fazendo comentários, mais admiro muito seus "artigos", comentários... Em relação ao escrito já passei muitos momentos da minha vida atrás de ultrapassar a Linha Vermelhas. Mas 07 de Outubro estarei empunhado como muita fé e determinação a "Bandeira Vermelha", tem muito significado na minha vida, vai muita além do projeto. Militando no Partido dos Trabalhadores me conheci como cidadã.
Óla Ramari,
Sei que o artigo do qual fiz comentários e de varadealdeias, mais não inválida o que escrevi sobre seus inscritos.
Um grande Abraço,
Zilah
Companheira Zilah,
Fico grato pelas palavras. Como bem diz nosso grande Marcos Afonso, a despeito das muitas interpretações que tenhamos do mundo, é fundamental que continuemos tentando transformá-lo, sempre para melhor, é claro. Acho que esse pensamento nos é comum, e que continue sendo. E dia depois do dia 7 vamos mostrar que para mudar não é necessário trocar. Um grande abraço.
Meu caro amigão Raimari,achei o texto um pouco interessante como leitor assíduo desse blog sobre a linha vermelha,agora com tantos desmandos,escândalos,mesalões corrupções generalizadas, eu acho que esta faltando mesmo é fazer com que os nossos gonvernantes tenham mais um pouquinho de respeito pela linha verde e amarela que representam nossa Pátria e nossa Bandeira e que o nosso País volte a ORDEM E O PROGRESSO,..Dia 7 de outubro tambem vou lá buscar mudar essa realiadade no meu País,um abraço amigão.
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