sexta-feira, 6 de março de 2009

Saúde é prioridade

O médico xapuriense Carlos Augusto da Costa Ferreira, 62, o "Dr. Carlos", um dos mais conhecidos cardiologistas do estado, afirmou na semana passada, em entrevista ao site Ac24horas, que saúde pública não é tratada como prioridade no Brasil. Não há nenhuma novidade na afirmativa do médico, mas essa realidade visível e palpável no nosso cotidiano continua a ser negligenciada numa nação que tira o couro do seu povo na forma dos mais diversos tipos de tributos.

O avanço da dengue neste ano de 2009 é uma mostra cabal de como as políticas de enfrentamento aos problemas mais básicos da saúde pública são deixados em segundo plano. O ministro da saúde, José Gomes Temporão, acaba de atribuir aos municípios a quebra do ritmo de combate ao vetor da doença. Em Xapuri, município que está apresentando um número preocupante de casos suspeitos de dengue, o trabalho de combate às endemias foi simplesmente abandonado na segunda metade do ano passado.

A combinação da falta de ação contra o mosquito, o acúmulo de lixo que completava meses sem ser coletado e a chegada das chuvas no início do ano resultaram numa situação que a cidade ainda não havia enfrentado. Nos dois primeiros meses de 2009, a Secretaria de Saúde de Xapuri enviou ao Lacen 44 coletas de sangue de pessoas que apresentaram sintomas da doença. Dessas, apenas 7 foram devolvidas até o momento com a confirmação de 4 casos positivos.

No ano passado, era comum ouvir de representantes da saúde no município que os casos de dengue aqui registrados eram "importados", como se isso fosse motivo para se diminuir a preocupação com o problema. Talvez por essa razão tenham abandonado o setor de endemias à própria sorte, sem veículos, sem um prédio decente para funcionar e até mesmo sem pilhas nas lanternas dos agentes e equipamento para a coleta das larvas do mosquito Aedes aegypti, que aproveitou o desleixo para se espalhar por toda a cidade.

O técnico de entomologia da Funasa, Joaquim Vidal, chama atenção para outro dado preocupante com relação às endemias em Xapuri. O município, segundo ele, é um dos campeões em casos de leishmaniose na Amazônia. No Acre fica atrás somente de Assis Brasil com o agravante de que aqui quase 50% dos casos registrados atingem crianças e adolescentes. Em 2008, por exemplo, foram registrados em Xapuri 138 casos de leishmaniose. Os casos em crianças de 0 a 5 anos correponderam a 34% do total; de 6 a 10 anos, 16%, de 11 a 15 anos, 8%, e 16 acima, 32% do total de casos.


Joaquim Vidal (com a lanterna) fazendo a captura de mosquitos

A falta de apoio da Secretaria Municipal de Saúde foi, até o ano passado, a maior reclamação de Joaquim Vidal, que criou um blog na internet para divulgar informações sobre o combate às endemias no município. "Infelizmente, por falta de apoio e compromisso por parte da secretaria municipal de saúde de Xapuri, não foi possível realizar nenhuma atividade de controle ou combate ao transmissor de leishmaniose. Por esta razão, até o mês de outubro (2008) já superamos os casos positivos do ano de 2007", diz ele.

Vidal denunciou também o desvio de recursos da Funasa destinados ao combate às endemias e lamentou não poder, em razão disto, não poder minimizar o sofrimento das pessoas que são acometidas pela leishmaniose. "Gostaria de poder amenizar o sofrimento destas pessoas que são acometidas por essa terrível doença, mas sem apoio não é possível. Os recursos financeiros repassado pela FUNASA ao município, destinado ao controle de endemias, estão sendo desviado para outros fins que não são saúde pública", afirmou.

O técnico em entomologia diz ainda, em seu blog, que a realidade do município de Xapuri é preocupante por que as pessoas que residem em localidades onde ocorrem casos positivos da doença têm como atividade pro sustento da família a extração de produtos florestais como: borracha, castanha, madeira, caça e pesca. "Quando adentra a mata, invade o habitat do flebotomíneos infectado (zoonose), o homem contrai acidentalmente a doença (antroponose) e infectado será um reservatório da doença no domicilio, passando a infectar possíveis vetores que invadem o âmbito familiar em busca de alimento", explica.

Joaquim Vidal espera que a partir deste ano, com o início da nova administração, as atividades de controle de endemias no município retomem seu ritmo normal. Para ele, uma das prioridades é a contratação de novos agentes de endemias para trabalhar no controle de vetores. "Com apoio das entidades responsáveis pelos recursos, certamente iremos fazer um bom trabalho e dar subsídio para o combate e controle deste grave problema", assevera.

O endereço do blog Entomologia, de Joaquim Vidal, é: http://jotavidal.blogspot.com/

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