terça-feira, 3 de março de 2009

Abismo profundo

Apreensão de drogas em Xapuri já não causa mais surpresas a ninguém. A cidade, afastada 12 quilômetros da BR-317, se tornou uma espécie de entreposto do tráfico de entorpecentes, atividade que se tornou meio de vida de muita gente. Gente que rapidamente muda de vida, adquire bens que não correspondem aos ganhos lícitos e que finda por cair nas mãos da polícia para uma boa temporada no presídio estadual.

Muitas vezes, essas pessoas não possuem o menor traquejo para o tráfico nem para a bandidagem, mas são levadas a mergulhar de cabeça nesse mundo por uma série de fatores que vão desde uma simples curiosidade inicial, passando pela influência de verdadeiros bandidos que não deveriam estar soltos, e chegando à dependência de continuar traficando para manter um padrão de vida ilusório obtido de forma ilegal.

Foi isso o que aconteceu com o funcionário da Secretaria Estadual de Saúde e ex-assessor do prefeito Vanderley Viana, na administração municipal passada, Jean Carlos da Costa Ferreira, preso na noite da última segunda-feira, no entroncamento de Xapuri, por uma guarnição da Polícia Rodoviária Federal, portando cerca 6 quilos de entorpecentes, junto com uma segunda pessoa, Sidney Vasco.

Jean, 37 anos, é um sujeito que nunca levou o menor jeito para o crime. Filho da professora Eulália Ferreira e do popular Zé Bobó, conhecido fazendeiro de Xapuri, sempre teve o comportamento de uma pessoa de bem, jogador de futebol, dono de muitas amizades e figura muito conhecida na cidade por ser membro de família muito tradicional. É mais um jovem xapuriense, filho de pessoas idôneas, que é empurrado no funesto mundo do dinheiro fácil.

Na manhã desta terça-feira, havia um clima de tristeza na cidade, quase de consternação, de amigos incrédulos com o fato que era enfadonhamente comentado nas esquinas e nos bares. Confesso que também me entristeci ao receber a notícia. Sou colega de infância de Jean, jogamos bola no Centro Social e estudamos juntos na escola Divina Providência. Não somos tão próximos hoje, mas nos respeitamos muito, como herança do velhos tempos.

O irônico é que apesar da certa distância que mantemos há algum tempo, até mesmo por questões de posicionamento político paroquiano nos últimos anos, quando Jean foi assessor do último prefeito, declarado desafeto meu, passamos a tarde da última terça-feira de Carnaval juntos numa feijoada regada à cerveja gelada na casa de sua mãe, professora "Laia".

Em determinado momento, entre goles de cerveja e tira gosto de caldo de feijão, tive uma rápida vontade de chamá-lo para um canto e dizer a ele dos muitos comentários propagados pela cidade de que a polícia já estaria de olho nas suas ações; pedir para que, caso verdadeiros os boatos, largasse essa atividade criminosa antes que fosse tarde. A distância e o medo de uma reação negativa fez com que eu ficasse no meu lugar, calado, preferindo apostar na improcedência daquilo que parecia ser óbvio.

Se condenado por tráfico de entorpecentes, Jean deverá passar um bom tempo privado dos seus maiores bens: a liberdade e o convívio com os familiares e amigos. Mas que desse episódio triste e lamentável, fique o exemplo e uma grande lição para os jovens de Xapuri que como ele não possuem a menor tarimba para o crime ou para a bandidagem, mas que por um simples descuido podem ser puxados para um abismo profundo do qual muitas vezes pode não haver volta.

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