domingo, 11 de setembro de 2011

Esses “carnavais” e “festivais” estão mesmo é fora de época

Sérgio Roberto Gomes de Souza

Soube somente hoje, dia 10/12, o que havia acontecido com o Anderson “Mangaba”. Tinha acabado de chegar de viagem e meu filho me contou.

Procurei informações no Blog do Raimari e fiquei estupefato. Antes de tudo, desejo rápida recuperação e saúde ao Anderson, minha solidariedade ao Jéferson e a Bárbara, e que as medidas legais sejam tomadas contra a TURBA que promoveu o ato.

Um fato, no entanto, tem me chamado atenção: de um tempo para cá, várias são as prefeituras que recorrem a festas, carnavais fora de época, festivais os mais diversos (pirarucu, açaí, abacaxi, melancia) como forma de investir dinheiro público. A justificativa é sempre a mesma: "promover o turismo e gerar renda para o município”. Tenho dúvidas com relação a essas assertivas e também tenho dúvidas com relação ao formato do “entretenimento”.

O formato me parece repetir-se em todos os locais: uma banda ou cantor decadente vindo do cafundó do Judas, desfile com garotas da cidade para escolha da rainha, um festival de som automotivo a “futricar” mesmo os ouvidos mais pacientes e resignados e, como não podia deixar de ser, “cana”, muita “cana”.

Não pensem os “puritanos” que meus questionamentos estão assentes em um discurso moral, longe disso, meus posicionamentos têm um forte conteúdo POLÍTICO.

Investir em eventos onde expressões culturais das mais diversas se manifestem é, sem dúvida, algo interessante e digno de investimento público. Parece-me, no entanto, que esse não é o formato dos eventos que proliferam municípios afora.

No caso específico de Xapuri, penso que uma “agenda cultural” mais diversificada, talvez, tivesse um resultado mais eficaz. Tenho dúvidas se “fazer mais do mesmo” é a alternativa mais viável.

Obviamente não pretendo aqui apontar soluções, isso é por demais arrogante, mas fazer algumas sugestões, ressaltando que estas podem, inclusive, serem vistas pelos moradores da cidade como “sem pé ou cabeça”. Mas, vejamos:

1. Xapuri tem uma forte tradição esportiva, e aí não vou recorrer ao passado, mas vejo frequentemente em minhas idas a cidade, jovens e adultos jogando futebol ou outras atividades esportivas, seja no Ginásio Poliesportivo ou no Estádio Álvaro Felício. Nesses encontros, craques, projetos de craques ou esforçados pernas-de-pau misturam-se em uma representação de respeito à diversidade. São encontros solidários;

2. No Blog “História Multimídia de Xapuri” encontramos trabalhos de participantes de uma Oficina de Artes bem interessantes, feitos por artistas plásticos iniciantes. Nesse caso, faço ainda uma indagação: ainda existe o projeto arte na ruína?

3. Talentos musicais têm para todos os gostos: do bom swing do grupo “Babilônia”, passando pelo harmonioso samba do grupo “Frutos da Terra”, as irretocáveis sanfonas do Juvenal e do Zé da Porca e ativistas culturais como os músicos de primeiríssimo time Magão e Nader Sarkis, para citar alguns.

Como podemos ver, repertório é o que não falta. Mobilizá-los para que expressem essas diversidades de sons, ritmos e, obviamente, modos de vida, parece-me ser o mais difícil. Se mobilizados, poderíamos tornar Xapuri em um polo constante de atração. Uma agenda cultural mensal, discutida com artistas locais, consolidada e bem divulgada, poderia fazer que viajantes tivessem um bom motivo para virar na “manga” do entroncamento. É possível que funcionasse bem melhor que agendas esporádicas.

Óbvio que uma ação como essa precisa de um amplo processo de mobilização. Não se promove eventos culturais apenas com pagamento de cachês, estes são fundamentais, mas não se constituem no “fim”. É necessário que reuniões sejam articuladas, a sociedade e ativistas culturais sejam ouvidos, que a programação seja construída de forma democrática, coletiva, que o poder público, dentro de suas possibilidades financeiras, atue como um parceiro, principalmente através de políticas de financiamento e dê garantia de segurança e uma infraestrutura básica, mas não sendo “promotor de eventos”. Penso que esse não é seu papel.

O artista, precisa se “apropriar” dos projetos culturais e ser um militante efetivo para que esses eventos ocorram, mas não se espere que faça isso sem que participe ativamente da construção de todos os projetos, sem que se constitua em protagonista. Não se pode marcar um evento em Xapuri, motivados pelo fato de que Brasiléia ou Sena Madureira, para citar alguns exemplos – e não de forma pejorativa – já fazem. Um evento na cidade tem que dialogar com a multiplicidade de culturas que se representam na vivência de vários sujeitos e grupamentos sociais que lá residem, seja na cidade ou na floresta, tem que expressar as “várias Xapuris”.

Particularmente, leve-se em conta que não sou referência para coisa alguma e nem para ninguém, firmei posição: sempre estarei longe de carnavais fora de época ou festivais, seja de qual fruta, praia ou animal for. Não por preconceito, mas pelo fato de me sentir excluído, de saber que o “entretenimento” financiado com recurso público não me representa, não me insere, não foi feito para todos.

Sérgio Roberto é xapuriense e professor universitário (Ufac).

3 comentários:

Cleilson ALves Da Silva disse...

Boas ideias são estas citadas...

Respondendo o questionamento sobre o Movimento Arte na Ruína.
NO momento a equipe (no qual eu sou o coordenador geral), está traçando outros caminhos do movimento. No qual ficamos meio abalados pela atitude do dono de destruir o prédio (pra nada ser feito no local), que nos servia de “palco” e palco “psicológicos”. Mas muito em breve estaremos atrás de parceiros e em busca de aprovar projetos culturais para prosseguir com o movimento no qual trouxe grandes feitos para os jovens e sociedade no geral.

Em relação aos esportes, vemos pouco investimento, e o pouco que se investe é limitado em alguns esportes. Xapuri é um celeiro nato de atletas, digo isto porque vivo no meio dessa juventude xapuriense que infelizmente estão indo pra outros caminhos que não vem ao caso de cita neste momento...(Os jovens que fizeram a brutalidade com o meu amigo Anderson “mangaba”, explica o caminho...)

Quando falo que o pouco investimento, e o pouco é limitado, porque faço parte de uma equipe de jiu-jitsu ( que tem grandes atletas ) que há tempos foi esquecido pelos gestores públicos, não só o jiu-jitsu, e outros esportes foram esquecidos... Só lembram do futebol( graças a Deus, pelo menos...).

Sobre o movimento Arte na ruína, espero ter explicado ao professor Sérgio Roberto e aqueles que tinha alguma duvida se tinha ou não acabado este movimento.


ABraços Raimari e leitores!

Clenes Guerreiro disse...

Olá,

Primeiramente bom dia. Realmente essas são ideias interessantes (algumas até já acontecem dentro do município).
Acredito que Cleilson respondeu muito bem sobre a questão do Arte na Ruína - ainda existe, só que sem seu ícone, o prédio abandonado e em ruínas da delegacia (o que não impediu que continuasse, mas novamente estamos procurando espaço).
Creio que cabe salientar que o Arte na Ruína nasceu justamente devido à exclusão pelos gestores públicos, impedindo tal parte da cultura e os artistas de diferentes segmentos de mostrarem sua Arte. Como ficamos sem espaço, passamos a mostrar que a Arte estava em ruínas, utilizamos tal espaço para representar nossos sonhos e angústias juntamente com músicos, atores, contadores de histórias, dançarinos, artistas plásticos e alguns outros profissionais de apoio que estavam tão indignados quanto nós.
A luta pelo prédio e seu terreno se tornou uma constante em nosso caminho, virando uma questão judicial com apoio do Governo do Estado, até que entre uma ganha de causa (antes que fosse recorrido), o atual dono levou ao chão o prédio (em janeiro desse ano) não construindo nada até hoje.
O Grupo não acabou, ficou sob coordenação de Cleilson Alves e seus projetos foram direcionados a outros espaços e (cabe destacar) outros municípios - e nisso a Fundação Municipal de Cultura poderia responder o porquê.
Aqui eu coordeno o Grupo Fuxico de Contadores de Histórias de Xapuri, também atuante e tem também o Grupo Poronga (este ainda é atuante, mas não tenho muitas notícias, me parece que migrou para Epitaciolândia).
O Quadro atual da cultura local com ênfase nas Artes e seus artistas passa, para variar, por um período de abandono - mas seus artistas continuam produzindo. Isso não é uma tarefa fácil mas é necessário continuar lutando, como guerreiros que somos, se queremos que algo mude ou faça alguma diferença em Xapuri.
Questiono o gestor de cultura local que pouco ou nada faz para a continuidade da cultura em Xapuri - como o autor do post muito bem pontua, "cultura não é só eventos".
A nossa parte continua sendo feita - isso pode facilmente ser vista com simples pesquisa no google.
Nossos parceiros, ultimamente são MinC (principalmente através da Funarte), Museu do Xapury, a união entre os Grupos locais, blogs locais, e estamos firmando parcerias com fazedores de Teatro de outros municípios e estados [destaque ao Grupo Floresta) para garantir trabalho.
De todo modo, acredito que podemos fazer a diferença, o que não se constitui em tarefa fácil, para ver se um dia poderemos ver algo de novo em reconfortantes horizontes.

Abraços e muita luz a todos.

Jorgewan Hadad disse...

Caro Sérgio e amigos leitores do blog, acho que qualquer investimento em cultura, esporte e lazer que se faça em prol da população da cidade, principalmente dos mais jovens, é válida e tem de ser comemorada e incentivada. Sergio e amigos contemporâneos que vivemos tempos de glória nos famosos carnavais(de epoca)de Xapuri, certamente não podíamos imaginar que os costumes mudariam tanto.
Não sou contra os carnavais fora de época, desde que se façam com toda segurança e organização necessárias. Evidente que os valores da terra merecem o seu destaque e jamais poderiam ficar de fora. afinal então, porque não juntar vários ritmos, artistas(mesmo os de fora) numa so festa? Pq não aproveitar o evento(ja que atrai tanta gente) e fazer paralelamente uma feira de livros ou festival de dança?....enfim....o esporte que sempre deu muitas alegrias precisa ser explorado também, assim como o artesanato e a luta a favor da preservação da floresta, afinal não podemos desperdiçar o turismo que este tema leva a Xapuri.

No mais Sergio, Parabéns pelo seu brilhante texto.

abs!

Jorgewan Hadad