“Hoje é o aniversário do senador Jorge Viana (PT). Dele se pode discordar, criticar e divergir politicamente, porém, há que se reconhecer: seu amor pelo Acre, as sementes plantadas e as transformações implementadas. Sua passagem na militância política do Estado está marcada, principalmente, pela reimplantação do estado de direito e pelo resgate da autoestima do acreano”.
A nota acima é da edição desta terça-feira da coluna Poronga, do jornal Página 20. Ela me fez lembrar da imagem acima, que registrei no último sábado quando estive na fábrica Natex acompanhando uma visita de seringueiros da Reserva Extrativista Chico Mendes à indústria estatal de preservativos que, segundo declarações de vários deles, melhorou substancialmente as condições de vida dos que ainda militam na atividade extrativista do Acre.
A seringueira ao lado da placa que indica o seu ilustre plantador não cresceu muito, é verdade; mas foi uma das poucas que vingou entre as dezenas que foram plantadas naquele 7 de abril de 2008, em um terreno compactado por máquinas, quando a fábrica de preservativos masculinos de Xapuri foi finalmente inaugurada enchendo de esperança a vida de centenas, senão milhares, de representantes de uma classe de trabalhadores secularmente marginalizada pela classe política dominante no Brasil até pouco tempo.
Tenho plena convicção de que a Natex não se tornou a redenção da economia extrativista acreana, assim como também acredito que o próprio Jorge Viana possua, em seu íntimo, essa certeza. Mas é fato que a fábrica foi uma das muitas sementes plantadas no chão árido da vida acreana que inegavelmente germinaram em avanços e melhorias jamais vistas na história desse estado, sem querer, mas já parafraseando o ex-presidente Lula.
Eu, que nasci no seringal e lá vivi até por volta dos 10 anos de idade, respeito mas não consigo concordar quando alguém afirma que a vida do homem da floresta é hoje pior que antes. Não tenho dúvidas de que esses bravos indivíduos que se negaram a engrossar os bolsões na cidade passam por inúmeras dificuldades, mas nada é, e espero que jamais volte a ser, como foi antes.
Posso até concordar, em parte, com quem diz que resolveu criar gado porque não dá para viver só do corte da seringa ou da coleta da castanha. Mas devo dizer que o “viver” a que se refere o defensor do argumento é subjetivo. No passado, o seringueiro, explorado pelo patrão, vivia só para trabalhar, comer mal e vestir pior ainda. Hoje, resguardadas as exceções, ele tem energia elétrica, geladeira, antena parabólica, motocicleta e casa de madeira cerrada.
Quero afirmar com isso que esse novo “padrão de vida” tem um custo mais elevado que o anterior, e mesmo que os produtos extrativistas tivessem mais valor do que atualmente têm, a renda do seringueiro continuaria a não dar para ele “viver” como gostaria, assim como não tem dado para viver dignamente o ganha pão da maioria dos trabalhadores brasileiros dos mais diversos campos de atividade, que sobrevivem com algo parecido com o atual salário mínimo estabelecido no país.
Mas isso é apenas uma opinião minha que exponho aqui para ressaltar o pensamento de que a nova condição de vida dos acreanos, a despeito dos muitos e históricos problemas que ainda fazem parte da nossa realidade, não pode ser comparada com a de um passado não muito distante. Também fica difícil de aceitar que alguns valores sejam invertidos, quando se tenta passar a ideia de que, também apesar de a violência continuar a ser uma mazela acreana e brasileira, o Acre tenha voltado a ser o estado do terror.
O fato de hoje ser o dia do aniversário de Jorge Viana não representa muita coisa para mim, afinal de contas não tenho com ele qualquer afinidade pessoal. Mas creio piamente que os avanços resultantes das sementes plantadas por ele continuarão a frutificar no Acre, estado que necessita de mais plantadores, assim como carece também de pessoas cuja esperança e fé em um Acre cada vez melhor sejam tão persistentes quanto a seringueira que o ex-governador plantou no chão batido da fábrica Natex há mais de 3 anos.
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